Uma geração candidata a objeto sexual
Extraído do "Washington Post"
Por Patricia Dalton
Minha filha de 23 anos disse: "Vocês não vão acreditar como a Victoria's Secret está estranha: toda em vermelho e preto, com um monte de manequins que parecem estrelas pornô." Alguns vendedores ficaram tão ofendidos com a vitrine que ameaçaram boicotar a loja; outros somente torceram o nariz. Tenho escutado variações sobre esse mesmo tema cada vez mais freqüentemente no meu escritório. As mães se dizem incomodadas com as roupas ousadas que suas filhas adolescentes e pré-adolescentes estão usando, dentro e fora de casa. Na verdade, conflitos sobre a vestimenta é o que os leva a ir para a terapia familiar. As próprias filhas podem ser imperiosas ou mal-humoradas, mas quase todas empregam a desculpa de que "todo mundo faz isso". E realmente uma grande quantidade de meninas está fazendo isso. Antes, as mulheres reclamavam de serem reduzidas a objetos sexuais. Hoje, suas filhas estão se candidatando a ser objetos sexuais. E apesar de os pais demonstrarem desaprovação, normalmente eles não conseguem tomar nenhuma atitude. Com isso, eles colocam inadvertidamente as mulheres em risco ao permitir que pulem a "meninice". Quando uma filha sai dessa fase diretamente para a fase mulher, ela está interpretando um papel em vez de aprender gradualmente a viver sua própria vida. Essas meninas podem parecer completas, mas não são. Muitas vezes, há uma menina perdida ali. Quem defende estilos provocativos de se vestir pegou carona na mensagem liberal dos anos 60 e a levou um pouco além. Eles vêem quem demonstra não gostar do sexualmente explícito como repressores e antiquados. Uma jovem mulher me disse: "É quase politicamente incorreto dizer que algo é inapropriado." Uma das visões mais irritantes hoje em dia é a de garotas com biquínis pequenos na piscina, ou andando por aí com calças de cintura baixa e tops, ou de salto e vestidos provocativos, às vezes completas com maquiagem e jóias. E isso não acontece só nos recitais de dança. Pode ser visto diariamente. O tempo passou, hein? As Lennon Sisters e Gidget - grupos adolescentes americanos dos anos 60 - da nossa meninice estão a anos-luz das atuais Britney Spears e Lindsay Lohan, dois atuais ícones femininos da música e do cinema. A ponte entre essas duas gerações de estrelas foi Madonna - antes de ela ter filhos e dar um jeito nas suas apresentações. Em algum momento das décadas passadas, enquanto nós, adultos, não estávamos olhando, a classe sumiu e a vulgaridade assumiu. Volte algumas décadas atrás (se você tem idade o suficiente) até o surgimento da pílula, o primeiro método confiável de controle de natalidade. O que testemunhamos hoje em dia é o desmoronamento da subseqüente revolução sexual. Foi-se o medo da gravidez indesejada. Em conjunto, veio a assimilação de que problemas sexuais eram o resultado da repressão e que relaxar as restrições e a estrutura permitiria a todos viver em uma espécie de utopia sexual. Bem, a chamada utopia está aqui e as mulheres mais velhas têm razões para ficar alarmadas com os perigos que as jovens mulheres estão trazendo para si mesmas. Essas garotas certamente são tratadas como objetos assim como em qualquer geração anterior. É um tratamento pré-liberação disfarçado de pós-liberação. "Voltem antes que seja muito tarde!", queremos alertá-la. Porque o que as espera com este comportamento não é o Príncipe Encantado. O mais provável é que se encontrem solitárias e arrependidas. Por alguma razão, no entanto, muitas mulheres adultas não conseguem seguir os instintos nos quais confiaram durante séculos para se protegerem e às filhas. Não há mais padrões comuns de vestimenta e comportamento que os pais, as escolas e a sociedade costumavam fortalecer em conjunto. Na minha faculdade, por exemplo, usávamos uniforme; a saia tinha que tocar no chão quando nos agachávamos - e os professores verificavam! Deixaram os pais sozinhos para discutir isso, da cabeça aos pés, com suas filhas adolescentes. As mães que vêm ao meu consultório muitas vezes expressam dúvida sobre seu próprio julgamento, sem saber onde colocar limite quando suas filhas se vestem de forma provocativa. Enquanto isso, as meninas admitem abertamente que apenas reproduzem o que vêem na mídia. Uma jovem me disse que adorava o seriado da televisão Sex and the City, mas sabia que ele "contribuía" para o problema. Outro seriado, Desperate Housewives, também. Quando vejo crianças vestidas como "vamps", lembro das palavras da escritora Marie Winn no seu livro de 1981, Children Without Childhood (Crianças sem Infância): "A idade da proteção acabou". Ela descreveu a pesquisa do especialista austríaco em comportamento animal Konrad Lorenz sobre o que ele chamou de características neotênicas nos jovens de várias espécies e o objetivo a que servem. Nas crianças, essas características englobam cabeças e olhos desproporcionais e proporções corporais pequenas e arredondadas. Lorenz supõe, por hipótese, que essas características funcionam como "mecanismos de liberação" internos. Elas provocam ou nutrem respostas protetoras dos adultos. Os pais - às vezes, sem perceber - colocam suas filhas em risco quando camuflam essas características ao permitir que se vistam como adultos. Esse tipo de vestimenta leva a criança a imitar comportamentos da mulher adulta que ela ainda não entende. Isso pode causar um curto-circuito no desenvolvimento normal. Pode também encorajar crianças mais velhas e adultos a se relacionar com essas jovens como seres sexuais, às vezes, com conseqüências trágicas.
*Patricia Dalton é psicóloga em Boston - Estados Unidos
Fonte: http://www.acea.org.br/verartigo.php?id=10
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