sexta-feira, 26 de março de 2010

São Francisco Coll

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Por Prof. Pedro M. da Cruz

Francisco Coll veio ao mundo em Gombrén, Espanha, aos 18 de maio de 1812. Filho de pais piedosos, teve a graça altíssima de ser batizado já no dia seguinte ao seu nascimento. Com apenas dez anos decide-se pela vida sacerdotal. A partir daí sua trajetória será num crescente constante, rumo ao cumprimento das palavras proféticas de sua mãe que lhe dizia: “Filho, oxalá arrebentes de amor de Deus.” Belo exemplo para algumas famílias dos tempos atuais, que, tantas vezes, afundadas no materialismo, auguram para os seus um futuro marcado pela mediocridade e mesquinharia.
No seminário de Vic, apesar das muitas dificuldades, pois era um estudante pobre e a instituição não lhe oferecia alojamento, Francisco soube seguir firme em seu chamado vencendo todas as tribulações. Ali, teve contato com pessoas providenciais; era a mão de Deus a moldar-lhe lenta e gradativamente a personalidade. Em seu primeiro ano escolar (1822-1823) vê assassinado o bispo da cidade, Dom Ramón Strauch, conservador declarado, morto pelos liberais. Eram tempos difíceis, de intensa perseguição à Igreja de Cristo... conhecera também o futuro Santo Antônio Maria Claret - do qual se tornará grande amigo e colaborador - o renomado pensador Jaime Balmes, além do Beato Pedro Almató, dominicano e mártir. Deus, porém, ainda lhe reservava outras surpresas...
Certo dia, andando pela rua, encontra-se inesperadamente com um desconhecido: “Tu Coll, deves ser dominicano.” Aquelas palavras ficaram profundamente gravadas em seu coração e nunca mais se apagariam. Após este episódio misterioso e providencial, Francisco Coll baterá à porta do convento de São Domingos em Vic, lugar este em que tantas outras vezes acorrera para obter por caridade um prato de sopa quente, o mesmo que fazia no convento das monjas de Santa Clara. No entanto, ali não iria permanecer, pois era muito pobre e não possuía recursos para arcar com os gastos do noviciado. Aconselharam-lhe, então, o convento dominicano de Gerona, onde, com a ajuda bondosa de mais um ilustre desconhecido, pôde ingressar entusiasmado tornando-se noviço em 1830.
Durante sua estada em Gerona Maria Santíssima o viria visitar, e os primeiros sinais do aroma sobrenatural que acompanhará sua missão começara a ser percebido pelos demais. Em 1835 é ordenado diácono na Igreja de Nossa Senhora das Mercês, Barcelona, poucos meses antes dos tristes acontecimentos causados pelos liberais que viriam a resultar na expulsão violenta de religiosos e seminaristas de suas casas eclesiásticas. Em muitas regiões espanholas houve devastações e saques de conventos; muitos sacerdotes e consagrados foram assassinados, como, por exemplo, nos tristes fatos ocorridos em 25 de julho de 1835. Francisco Coll, que havia profetizado todos esses acontecimentos, será ordenado somente um ano depois, em 28 de maio de 1836, como um exclaustrado pelo ódio anticlerical.
Doravante, o Padre Coll surgirá ante os olhares admirados de milhares de pessoas como um pregador incansável da palavra de Deus. Juntando-se ao zelo admirável de Santo Antônio Maria Claret, na chamada “Irmandade Apostólica” arrastará incontáveis almas para a penitência e a mortificação. Andará a pé, de localidade em localidade, preocupando-se, tão somente, com a salvação das almas e a propagação do reinado de Cristo sobre o mundo. Foi, de fato, um homem de Deus, um herói, um santo! Belíssimo exemplo de missionário e evangelizador ardoroso, grande defensor da doutrina católica.
 
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Disse Santo Antônio M. Claret (foto): “Onde eu predico o Pe. Coll pode respigar, mas onde ele predica nada fica para recolher”
 
Certa feita, vindo de um povoado, encontrou-se pelo caminho com um condutor de mulas, e este, vendo o servo de Deus a pé e tão humildemente vestido, com toda zombaria e gesto sarcástico perguntou-lhe se queria confessar os animais. O Pe. Coll, dissimulando o insulto e ardendo de amor por aquela alma, disse-lhe com doçura: “Seria melhor que você se confessasse, pois há vinte anos que não o faz.” O moço, maravilhado e tocado pela graça de Deus, ajoelhou-se ali mesmo, e com os olhos cheios de lágrimas e o coração contrito, confessou seus muitos pecados.
Em 15 de agosto de 1856, Deus pede mais uma missão ao humilde dominicano pregador do Evangelho: fundar uma nova congregação religiosa. E assim ele o fez! Surge então as Irmãs Dominicanas da Anunciata, sempre prontas para espalhar, segundo a vontade de seu fundador, “o perfume da verdadeira doutrina” por todos os lugares por onde vierem a passar. De acordo com o Pe. Coll, suas religiosas deveriam ser mulheres idôneas para o ensino, brilhantes estrelas, à imitação de seu pai São Domingos, para iluminar com sua doutrina as inumeráveis crianças pobres que caminhavam nas densas trevas da ignorância. São Francisco Coll, realmente, muito amava às crianças!
Assim foi, grosso modo, a vida heróica deste católico exemplar. O que explica nele tanta fortaleza e entusiasmo pelas coisas de Deus? A resposta é muito simples: sua profícua vida espiritual! O que nos faz entender, por exemplo, o fato de haverem encontrado entre seus objetos pessoais até mesmo cilícios e disciplinas, todos eles vermelhos de sangue. Sabe-se, ademais, que desde seu tempo de seminarista sempre destacou-se pela oração e terna devoção a Nossa Senhora. De fato, não há santidade verdadeira sem uma intensa vida espiritual, fora disso tudo é pieguice, enganação e fingimento. Este modelo de virtudes morrerá santamente aos 2 de abril de 1875, com 62 anos de operosa vida apostólica.
Poderíamos destacar muitos fatos pitorescos da vida íntima de São Francisco Coll, a fim de melhor conhecermos os aspectos de alma deste missionário incansável, porém, este pequeno artigo não nos empresta espaço suficiente. Entretanto, citemos alguma coisa para satisfazermos uma santa e eficaz curiosidade. Conta-nos um seu biógrafo que no processo canônico que precedeu sua Beatificação foram recolhidos numerosos testemunhos de fenômenos sobrenaturais que acompanharam a atividade apostólica do Pe. Coll, como profecias, curas milagrosas, êxtases ... um dos fatos deste gênero que aparece como primordial é o de Barcelona: o Pe. Pablo Coma, do Oratório de São Felipe Neri, afirma que quando o Pe. Coll pregou uma novena na Igreja de Monte Sião, ele, espiando-o em seu quarto, o viu levantar extraordinariamente acima da terra enquanto orava, até chegar ao alto e beijar piedosamente a imagem da Virgem Maria pendurada na parede. Veja, caro leitor, que amor indescritível alimentava este homem pela Mãe de Deus! Possamos também nós, tão mesquinhos em nossa vida espiritual, alcançar de São Francisco Coll uma sempre maior devoção pela Santíssima Virgem Maria!
“O Rosário foi sua oração preferida. A alguém que lhe perguntava onde adquiria os profundos e convincentes argumentos que expressava em suas pregações, ele respondia: ‘ O Rosário é meu livro, é tudo para mim...’”
“A oração mental e a vocal são as duas asas que o Rosário de Maria oferece às almas cristãs.” (S. Francisco Coll)
“O Santo Rosário com seus quinze mistérios nos quais se faz memória e medita a reconciliação da natureza humana com Deus, é a escada para subir aos céus.” (S. Francisco Coll)
“Demorava-se em dar uma resposta, mas tinha-se a impressão que depois de dá-la, nunca mais voltaria atrás, apesar de ser muito humilde.”

Referência Bibliográfica
FORALOSSO, M. Pedra Viva de Cristo, Francisco Coll. Trad. Carlúcia María Silva, O.P. 171 pgs.
GONZÀLEZ, M. Otília González. Francisco Coll i Guitart, fundador da congregação das irmãs Dominicanas da Anunciata. Dominicanas da Anunciata, 2008. 50 pgs.

segunda-feira, 22 de março de 2010

A vida não tão bela dos norte-coreanos e a Copa do Mundo

João S. de Oliveira Júnior

 

image Dirigido e protagonizado por Roberto Benigni, o filme A Vida é bela é uma premiada produção lançada no ano de 1997. Seu enredo se passa em meados dos anos 40, na Segunda Guerra Mundial, quando Guido (Benigni) é levado com seu filho pequeno para um campo de concentração nazista. A fim de proteger o pequeno da violência e do terror que os cercam, Guido usa de sua criatividade para convencer a criança de que tudo era apenas um “jogo”. Mais informações sobre este bom e elogiado filme aqui. O recomendo.

Poucos meses para um dos maiores eventos esportivos do planeta, o mundo vive a expectativa de assistir ao espetáculo da Copa do Mundo de futebol na alegria de uma boa e sadia competição. Recordando que dia 15 de junho a seleção Brasileira enfrenta a da Coréia do Norte, país que também é apaixonado por esse esporte e retorna ao mundial depois de 44 anos quando disputou a copa na Inglaterra em 1966.

Pergunta-se, e daí? O que uma coisa tem a ver com a outra?

Bem, a Coréia do Norte vive a décadas uma ditadura comunista, considerado o país mais fechado do mundo, não verá os jogos da própria seleção ao vivo. Poderá apenas assistir as reprises das vitórias e triunfos, caso houver.coreiadonorte-kimjongil_narrowweb Essa condição é imposta por seu ditador Kim Jong-Il (de óculos escuro na foto ao lado). Uma vez que  ele, cumprindo as régias do totalitarismo comunista, acredita que deve ser transmitida a população norte-coreana apenas àquilo que poderá convergir para o patriotismo (iludido) da Coréia do Norte. O país não poderia, nem por TV, ver outros “mundos” (como torcedores de outros países) ou acompanhar a própria seleção competir porque uma possível derrota “abalaria” a nação (dominação). Isto na cabeça do kim Jong-Il.

Então, estaria eu comparando o ditador Kim ao personagem Guido (do filme apresentado)? Necessariamente, não. Na verdade, quando conferi a notícia, inevitavelmente me recordei do filme e vi o antagonismo das situações. Acompanhem:

 

No Filme – A Vida é Bela (ficção)

A Copa do Mundo norte-coreana (realidade)

O terror do Nazismo na 2ª guerra mundial no início dos anos 40. A euforia e expectativa da Copa da África do Sul em 2010 depois de 44 anos.
O protagonista é um pai dedicado, carismático e protetor. O responsável é um ditador, o “Senhor” do Estado, conhecido como um “fanfarrão”.
Uma criança de 6 anos que está começando a ver a vida num lugar extremamente desumano. 23 milhões de norte-coreanos, que mal podem conhecer a realidade e verdade do local e do mundo onde vivem.
O regime Nazista, totalitário, um antigo, mas extinto vilão. O regime Comunista, tão totalitário e vilão, contudo, existente até hoje.
Mesmo em meio a tristezas da guerra e do genocídio humano, o filme mostra que é possível sorrir.

Mesmo na alegria da confraternização que a Copa do Mundo pode proporcionar para uma nação, há motivos pra lamentar antes mesmo dela acontecer.

O fim estimado dos personagens é a tão sonhada liberdade a ser alcançada. Esta querida liberdade mal pode ser desejada e conhecida pelos norte-coreanos, vítimas do Regime.

 

Esta querida liberdade mal pode ser desejada e conhecida pelos norte-coreanos, vítimas do Regime.

norte-coreanos reverenciam a estátua de Kim Il-sung, pai do ditador Kim Jong-Il Lembro que é sempre típico dos sistemas Totalitários a doutrinação ideológica, a propaganda do governo, meios de manipulação da massa, a privação de Liberdades(1) e o emprego da violência para os fins a serem alcançados pelo Estado. Vendo um documentário jornalístico sobre a Coréia do Norte e notícias como esta, misturam-se sentimentos (pensamentos) de pena e solidariedade para com o povo norte-coreano e ao mesmo tempo “bate” um alívio por estar num país em que, embora com adversidades, podemos desfrutar da individualidade. Expressar, poder manifestar nossa fé e ter opções de escolha para o bem dos nossos entes.

Não assistir a Copa por capricho ou vaidade estatal é cômico, entretanto, é apenas um “pedaço do iceberg” de privações que o totalitarismo Comunista pode impor. Fica o aviso para o Brasil: Cuidado! Com a Coréia do Norte no jogo do dia 15/06? Não, que vença o melhor e confesso que poderei estar torcendo pro time coreano nesta partida. Porém, atenção para com o fantasma do totalitarismo que vez ou outra sonda nossa querida América Latina. Afinal, a vida é bela, mas haverá lugares em que ela é sempre mais sofrida, os norte-coreanos que o digam.

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(1) Vide Catecismo da Igreja Católica, parágrafos: 2211 (Liberdade da família), 2304 e 2498 (liberdade de informação e comunicação).