quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

SOBRE A POSSIBILIDADE DE CONHECER À LUZ DA METAFÍSICA DE ARISTÓTELES

Aristóteles
 

Por R. G. Santos                                                                                            

INTRODUÇÃO
No início do livro I da Métafísica vemos um abordar didático da temática do conhecimento. É nesse sentido que já em suas primeiras linhas assevera o Filósofo que “todos os seres humanos naturalmente desejam o conhecimento” (980 a 22).
Tal é, portanto, o objetivo do texto que se segue: compreender e explicar as etapas do ato de conhecer em Aristóteles. Para isso iremos descrever e comentar as subdivisões ou etapas da epistemologia aristotélica para que, ao fim e ao cabo, tenhamos instaurado um entendimento coerente do assunto.
CONHECIMENTO DOS PARTICULARES
Primeiramente, faz-se necessário estabelecer uma primeira subdivisão, suscitada pela leitura do fundador do “peripato”.
Existem dois parâmetros norteadores para a intelecção do conhecer no nosso autor. Uma classe de conhecimentos é agrupada no âmbito dos particulares, por dependerem mais diretamente do contato com o objeto na sua realidade singular. Outra já considera, feitos os progressos e as abstrações necessárias na sensibilidade, os universais no que se referem aos conceitos.
No primeiro parâmetro, a saber, no “universo” das etapas do conhecimento que dependem proximamente do contato com os entes particulares, temos os níveis da sensação, da memória e da experiência.
Na sensação, ou seja, no contato direto com o objeto particular que se apresenta diante do sujeito, temos uma primeira instância de conhecimento. Nela consegue-se captar as impressões sensíveis das coisas. Tal captação se dá ao nível dos sentidos e é possível aos seres animados. O “estagirita” aqui dá ênfase à mediação do sentido da visão, quando faz sugerir que a mesma é condição mais propícia para o conhecimento[1].
Na memória, segunda etapa para a aquisição do conhecimento, se dá a retenção vinda da impressão sensível ou do contato com dado ente na realidade. Tal capacidade já é inerente a um grupo mais reduzido de seres animados. Dessa forma, se lê na Metafísica que somente são capazes de aprender aqueles animais que possuem sentidos anexos à faculdade de reter da memória[2].
Outra etapa diz respeito à experiência. Ela se constitui como degrau no processo de conhecimento em dependência da “ação” da memória. Afinal de contas, “(...) as numerosas lembranças de uma mesma coisa acabam por produzir o efeito de uma única experiência”(980 a 1).
CONHECIMENTO DOS UNIVERSAIS
A partir da experiência podemos ascender a níveis mais “rebuscados de conhecimento. E aqui passamos a tratar de outra instância epistemológica: a referente aos conhecimentos dos universais.
Na relação de muitas e semelhantes noções de experiências formadas pelas “retenções” feitas pela Memória de impressões sensíveis tem-se a arte. Esta, na concepção aristotélica, “(...) é produzida quando a partir de muitas noções da experiência forma-se um só juízo universal relativamente a objetos semelhantes” (981 a 6).
No vértice de tudo o que mencionamos, tem-se a ciência como instância máxima de conhecimento. Ela transcende a arte e a técnica que são assimiladas pela mera repetição, dando explicações plausíveis e nítidas dos fenômenos da experiência. A ciência dá a razão de ser das coisas e dos fatos. Assim sendo, o cientista (ou sábio) está para além dos outros níveis por conseguir inteligir “certos princípios e causas” (982 a 2).
São estas, portanto, as considerações que julgamos relevante pontuarmos nestas linhas. Tal exposição nos permite compreender e perceber a originalidade da idéia aristotélica do conhecimento.
Afinal, rompendo com o modo platônico de pensar, ele valoriza a acesso aos sentidos como condição legítima para a aquisição do conhecimento, isso sem descurar o aspecto supra-sensível do mesmo. Nele, percebemos ainda um maior vínculo entre imanência e transcendência no processo epistemológico.

Maria Santíssima, Rogai por nós.

Referências
ARISTÓTELES. Metafísica. Trad. Edson Bini. São Paulo: Edipro, 2006.



[1] Cf. 980 a 26
[2] Cf. 980 b 25

3 comentários:

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  2. Só Deus para fazer os homens pensarem profundamente como pensaram esses homens do passado, a igreja catolica é mesmo maravilhosa.

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  3. Caríssimo Abel,

    Em virtude da inexistência do link postado, preferimos excluir. Temos políticas definidas para permissão ou não desses acessos.

    Obrigado pela contribuição.

    Fraternalmente,

    Moderador.

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