Por Prof. Pedro M. da Cruz.
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“Se há quem fala em línguas, não falem senão dois ou três, e cada um por sua vez.” (I Cor. 14,27).
“Como então todos nós os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?” (At.2,8)
“Ouvimo-los publicar em nossas línguas as maravilhas de Deus” (At.2,11)
Autores embasados afirmam categoricamente que a Igreja, desde os tempos mais remotos, sempre ensinou que o “Dom das línguas” consiste no ato de falar idiomas estrangeiros, [C1] pela graça do divino Espírito Santo.
Sendo assim, estão enganados aqueles que identificam este dom com a simples emissão de sons estranhos e ininteligíveis. Este erro tem se dado, por exemplo, nas seitas pentecostais e, inclusive, na chamada Renovação Carismática Católica (RCC). O que é de se estranhar...
O próprio Santo Tomás de Aquino (Séc. XIII), respeitadíssimo entre papas, filósofos e teólogos é prova cabal de nossa assertiva. Escrevera[C2] :
“... o Senhor deu-lhes o dom de línguas, para que a todos ensinassem, não de modo que falando uma só língua fossem entendidos por todos, como alguns dizem, mas sim, bem literalmente, de maneira que nas línguas dos diversos povos, falassem as de todos. Pelo qual disse o apóstolo: Dou graças a Deus porque falo as línguas de todos vós...”.
Pensadores como Santo Agostinho de Hipona (muitas vezes mal interpretado em alguns de seus escritos), Santo Irineu de Lião, São João Crisóstomo, São Gregório Magno, João Paulo II (citado tão tendenciosamente por espíritos pouco esclarecidos), Adolf Tanquerey, e o atual soberano Pontífice, Bento XVI, são outros tantos autores que validam o sobredito.
Portanto, torna-se criticável a afirmativa de alguns cristãos que defendem a “oração em línguas”, (simples variação do “Falar em línguas”) num sentido totalmente estanho ao que se dá no catolicismo. Apresentar este dom como um mero balbuciar desconexo de sílabas soltas e confusas é romper com o ensino constante da Tradição; macular-se com erros funestos do pentecostalismo protestante; e, com isso, desprezar o testemunho das Sagradas Escrituras sobre a questão.
É por colocarem-se orgulhosamente num lugar que deveria ser ocupado, tão somente, pelo Magistério Eclesiástico, que, muitos leigos, e, inclusive, sacerdotes (para não citarmos bispos que mais parecem haver rompido com o papado), caem em erros gravíssimos. De fato, tem se tornado muito comuns casos gritantes de má interpretação dos textos bíblicos.
Vários coordenadores de “Grupos de Oração”, seguindo por este mesmo caminho de equívocos e incoerências, chegam a ensinar verdadeiras heresias aos seus seguidores. Baseiam-se, inúmeras vezes, nas próprias cartas de São Paulo. Ora, sobre estas já nos referia o apóstolo Pedro[C3] : “Nelas há algumas passagens difíceis de entender, cujo sentido os espíritos ignorantes ou pouco fortalecidos deturpam, para sua própria ruína, como o fazem também com as demais escrituras”.
É provável que alguns indivíduos ao lerem este pequeno artigo façam a seguinte observação: “Não concordo com este blog, porque a RCC é um movimento da Igreja e tem feito muito bem a várias almas”. Ora, se a RCC tem feito algum bem às pessoas, louvado seja Deus! O que não podemos permitir é que erros doutrinais sejam “levados no embrulho”. Por isso, os Bispos do Brasil chamaram a atenção do movimento carismático quanto a muitos aspectos discutíveis de suas práticas. No mais, só adotamos um sábio conselho bíblico que nos diz: “É melhor a correção manifesta do que a amizade fingida.” (Pro. 27,5)
Finalmente – reconheçamos - determinadas práticas da “Renovação Carismática” sempre causaram estranhamento nos espíritos mais esclarecidos. Recordamo-nos agora de um interessante testemunho do eminente teólogo e antigo Jesuíta, Malachi Martin. Em certo livro seu[C4] , quando nos fala de “elementos bizarros” e da “euforia perturbadora” surgida como forte rajada de vento na década de 60 (séc. XX) não deixa de citar traços da RCC. Com efeito, ele vivera numa época em que a Igreja de Cristo já se encontrava assolada pelos “violentos furacões” do período pós-conciliar. É, portanto, um nome confiável para descrever-nos o “cenário fantástico e surrealista” que surgiu logo após o término do Concílio Vaticano II:
“E, como se isso já não desorientasse o bastante, um tom quase maníaco, num volume que quase chega à histeria, penetra de vez em quando na vasta confusão, quando homens e mulheres, alegando o dom de línguas do Espírito Santo, começam a emitir sons sem sentido com rapidez. ‘Ik bedam dam bula’ – ou coisa parecida – ouve-se um cardeal católico romano dizer extasiado, garantindo a confusão no mais alto posto. Gloriosa confusão. Eufórica confusão.”
Que Nossa Senhora possa tocar os corações dos filhos da Igreja que se encontram enganados em tantos pontos. De que nos adiantaria jurar amor eterno à Esposa de Cristo, se desprezássemos seus ensinamentos? Amar a Igreja Católica implica fidelidade à sua Doutrina. É confiando na bondosa intercessão da Virgem Maria que esperamos o momento em que os líderes da RCC já não identificarão mais seu método de oração com o “Dom das Línguas” de que nos falam as Sagradas Escrituras, mas explicá-lo-ão como uma mera forma interna de oração do movimento, se assim o quiserem.
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Referência bibliográfica:
LIMA, Prof. Alessandro. O Dom Das Línguas. 1 Ed. Edições eletrônicas Veritatis Splendor, 2008. 44 pgs.
MARTIN, Malachi. Os Jesuítas. Trad.: Luiz Carlos N. Silva. Rio de janeiro: Record, 1989. 463 pgs.
[C1]LIMA, Prof. Alessandro. O Dom Das Línguas. 1 Ed. Edições eletrônicas Veritatis Splendor,2008. Pg. 22.
[C2]Idem. Pg. 22
[C3]Conf. II Pdr. 3,16
[C4]MARTIN, Malachi. Os Jesuítas. A Companhia de Jesus e a Traição à Igreja Católica. Trad.: Luiz Carlos N. Silva. Rio de janeiro: Record, 1989. Pg. 222
Deixo aqui as palavras de Dom Alberto Taveira a respeito da oração em línguas, repouso no Espírito e inspirações particulares: http://www.portalcarismatico.com.br/menu/formacao/formacao002.htm
ResponderExcluirConfio no que a Igrja fala.
Obrigado, caríssimo irmão por corrigir a RCC. Agora acho que vai ter um pouco mais de trabalho para convencer os que disseram as afirmações abaixo... tenho a vaga impressão de que eles não acham que seja uma Renovação Carismática CAÓTICA:
ResponderExcluirEm 1992 João Paulo II disse aos líderes da RCC:“Na alegria e na paz do Espírito Santo, dou as boas vindas ao Conselho Internacional da Renovação Carismática Católica. No momento em que comemorais o 25° aniversário de fundação da Renovação Carismática Católica, uno-me de bom grado a vós, na ação de graças a Deus pelos inúmeros frutos que ela deu à vida da Igreja.
Quero dizer aos fiéis, aos bispos, aos sacerdotes, que não tenham medo. Desconheço por que há medo. Talvez em alguma medida porque esta experiência começou entre outras confissões cristãs, como pentecostais e protestantes. Contudo, o Papa não tem medo. Falou dos movimentos eclesiais, inclusive da Renovação Carismática, como de sinais de uma nova primavera da Igreja, e muito com freqüência faz referência na importância disso. E Paulo VI afirmou que era uma oportunidade para a Igreja. (Entrevista com Fr Raniero Cantalamessa sobre a RCC - Fr. Raniero Cantalamessa, Franciscano Capuchinho, foi ordenado sacerdote em 1958. Doutor em teologia e em literatura, foi professor de história das origens cristãs na Universidade Católica de Milão e diretor do Instituto de Ciências Religiosas.)
O Papa Bento XVI também ama a RCC; ainda como cardeal e Prefeito da Congregação da Fé, em entrevista ao jornalista italiano Vitório Messori disse: “Certamente [a Renovação no Espírito] trata-se de uma esperança, de um positivo sinal dos tempos, de um dom de Deus para a nossa época. È a redescoberta da alegria e da riqueza da oração contra a teoria e práxis sempre mais enrijecidas e ressecadas no tradicionalismo secularizado. Eu mesmo constatei pessoalmente a sua eficácia: em Munique, algumas boas vocações ao sacerdócio vieram-me do movimento. (V. Messori, J. Ratzinger, A Fé em Crise? O Cardeal Ratzinger se interroga. E.P.U, São Paulo, 1985, pg. 117-118)
Pax Domini
Quero dizer aos fiéis, aos bispos, aos sacerdotes, que não tenham medo. Desconheço por que há medo. Talvez em alguma medida porque esta experiência começou entre outras confissões cristãs, como pentecostais e protestantes. Contudo, o Papa não tem medo. Falou dos movimentos eclesiais, inclusive da Renovação Carismática, como de sinais de uma nova primavera da Igreja, e muito com freqüência faz referência na importância disso. E Paulo VI afirmou que era uma oportunidade para a Igreja. (Entrevista com Fr Raniero Cantalamessa sobre a RCC - Fr. Raniero Cantalamessa, Franciscano Capuchinho, foi ordenado sacerdote em 1958. Doutor em teologia e em literatura, foi professor de história das origens cristãs na Universidade Católica de Milão e diretor do Instituto de Ciências Religiosas.)
ResponderExcluirApós ler os três comentários acima, não vejo a RCC tão CAÓTICA assim.
ResponderExcluirPax Domini
A opinião pessoal de um papa sobre assuntos particulares não significa a concordãncia desses assuntos com a bimilenar Tradição Católica.
ResponderExcluirUm papa também pode se equivocar em alguns pontos quando não fala em circunstâncias especiais... (como, por exemplo, a circunstãncia especial de uma proclamação Dogmática)
O que deve sempre existir é uma concordãncia radical entre Magistério (Vivo/Póstumo), Sagrada Escritura e Tradição.
Respeitamos as opiniôes pessoais de João Paulo II(mas, reconheçamos, um tanto quanto políticas e pedagógicas, afinal, ele era inteligente...) mas, não nos negaremos jamais do grave dever de apresentarmos (em consonância com muitíssimos Bispos, santos e doutores)tudo aquilo que está em desacordo com a Verdade ensinada por Cristo àq sua Única Igreja.
Maria, sempre!!!
Gostaria se possível que autor postasse aqui no seu blog algo sobre Irmã Helena Gerra.
ResponderExcluirA Beata Helena Guerra (1835-1914) fundadora e mística italiana, foi uma católica sincera de seu tempo que muito amou a Igreja e sua doutrina; o que me faz duvidar que a mesma chama-se "oração em linguas" àquilo que hoje se identifica como tal. Duvido, também, que esta Beata fosse encontrada pelo chão no chamado "repouso no Espírito Santo", ou mesmo, se "soltando toda" durante a Santa Missa (que, aliás, era assistida pela mesma em latin e no rito De Pio V) como é ordinário se vêr durante celebrações da RCC.
ResponderExcluirP.S.: Usei a expressão "Soltando toda" por que é o que, pelo que me contaram, se diz em alguns lugares para animar participantes de celebrações da RCC.
Creio que a RCC tem usado indevidamente a figura desta Beata para validar muitas de suas práticas indevidas.
Maria sempre!!!
Gostaria que o autor do blog entrasse em contato com alguém responsável da RCC historiadores da Igreja católica, se quiser posso passar o contato com historiador o vaticano para aprofudar mais no tema RCC e sua história. Gostaria também de saber a qual movimento pertence este blog, se a sociedade apostolado é uma seita dentro da Igreja ou é simplesmente o nome deste blog.
ResponderExcluirPerdoe-me qualquer igenuidade a respeito do assunto.
Senhor Dennys Reis
ResponderExcluirObrigado por sua gentileza.
Agradeço de coração toda ajuda que quiseres apresentar para nossa formação pessoal.Mende sim o endereço; adorarei aprofundar ainda mais o tema em aberto.
Nós não somos uma seita dentro da Igreja. Longe de nós qualquer idéia apóstasia, cisma e coisas afins.Somos católicos com toda força de nossa alma.
No mais, a "ingenuidade a respeito do assunto" não é somente sua, mas de muitíssimos em nosso meio. A situação é, de fato, preocupante.Rezemos juntos pela conscientização do mundo.Rezemos juntos por tantos filhos da Igreja enganados na superficialidade e desinformação.
Em jesus e Maria sempre!
Vale lembrar ainda que nosso apostolado não fala "em nome da Igreja". Procuramos analisar a realidade que nos circunda à luz de Cristo e de Sua mensagem salvífica, que nos é legada infalivelmente pela Igreja Católica...
ResponderExcluir*********************************
Não estamos a julgar foro íntimo de nenhum daqueles que frequentam ou participam de tais grupos. Muito menos estamos a anatematizar tal seguimento. Não temos prerrogativa para isso...
Fazemos apenas um apanhado geral das práticas que naqueles grupos objetivamente ocorrem e que parecem ter origem "meio que duvidosa", por contrariar toda uma vivência tradionalmente mantida pela Igreja. Mais. O fato de a Igreja aglutinar a si algum grupo e/ou movimento tem por muitas vezes caráter temporário e sempre salvaguardado pela prudência. Basta lembrarmos das monjas de Port Royal no século XVIII, que a um tempo foram mantidas unidas à Igreja e a outro foi por ela excluída ao detectar-se lá influências do Jansenismo....
Frater R. G. S
Ainda a respeito da RCC percebemos um destoar-se prático do que a Igreja sempre viveu e concebeu acerca da vida espiritual.
ResponderExcluirS. Boaventura de Bagnoreggio, doutor da Igreja e contemporâneo de S. Tomás, em suas várias obras, que são diapasões da mística cristã nunca recomendava as práticas duvidosas que vemos serem executadas nos chamados grupos de oração como "repousos", "curas inreriores" e "oração em línguas". Ao contrário, vemos sempre referências ao silêncio e à meditação. Recurso ao auto-conhecimento e à imitação das virtudes de Nosso Senhor. Necessidade da penitência e das obras de caridade. Basta ler o Itinerário da Mente para Deus para compreender o que queremos ressaltar... A coisa é sempre tendente à interiorização com vistas à contemplação em graus sempre mais altos e não à expansividade frenética e doentia que normalmente vemos ganhar incentivo nos grupos de oração.
Todavia rezemos pela RCC. Apesar de tudo, muitos bons frutos surgem dali por vontade de Deus.
Pax Domini!!!
Frater RGS
Eu to com o frater RGS,isso de falar da RCC como se fosse como o que a Igreja seguiu é uma desinformação muito grande.Um pouco de leitura sobre o assunto não faz mal.
ResponderExcluirAo Anônimo se não me engano das 17 e 30...
ResponderExcluirÉ muito perigoso tentar forçar as colocações do então cardeal naquela entrevista ao senhor Messori.
Se não me engano, o texto não identifica a sempre necessária "renovação no espírito" com algumas manifestações de origens pretensamente espirituais que se dão na RCC.
Podemos entender o Movimento de Renovação no Espírito de forma mais lata, referente ao conjunto dos que buscam dar impulso de modo positivo e sistemático à vida cristã.
A RCC é tão somente um lócus onde uma experiência sincera de Deus PODE se dar ou não.
Pax Domini!!!
Frater RGS