quinta-feira, 10 de abril de 2008

"O QUE DEUS UNIU"

Publicamos aqui um excelente texto sobre a espiritualidade do matrimônio, rico em unção espiritual e fina psicologia cristã. Esperamos que seja de grande valia para os nossos leitores.

Autor: Gustave Thibon


Capítulo III : AMOR E CASAMENTO


A ESCOLHA

 

Não pretendo ensinar aqui a arte de escolher cônjuge, tal como outros se gabam de ensinar a arte de se defender na rua ou de ganhar na bolsa. Não tenho receitas práticas para este fim. Um casamento (e refiro-me às uniões mais refletidas) está condicionado por tantos acasos (acasos de situações, de encontros, de fortuna, de sentimentos etc.) que seria ridículo ingressar nestes domínios armado de regras matemáticas. De resto, a escolha humana está rodeada de uma tal obscuridade que aquele que tenha a pretensão de fazer uma escolha definitiva, aquele a quem paralisa uma idéia excessivamente precisa da «alma gêmea» se arrisca bastante, ou a nunca mais se casar, ou a fazer uma escolha absurda, uma dessas escolhas «que nunca se poderia imaginar» como diz La Fontaine, como a experiência nos revela todos os dias. «Em toda a parte tenho conhecido compradores cautelosos ― escreve, não sem um certo exagero, Frederico Nietzsche ― mas mesmo o mais esperto acaba por comprar a mulher a olho». Mesmo nas uniões mais clarividentes, há um aspecto de salto no desconhecido, de «pari», no sentido pascaliano da palavra. Deste modo, as poucas indicações gerais que vou dar sobre este assunto não visam fornecer certezas, mas simples probabilidades. (Continue lendo aqui).

 

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segunda-feira, 7 de abril de 2008

IMPACTO DA VIOLÊNCIA MIDIÁTICA NA PERSONALIDADE


Antonio Jorge Pereira Júnior

Quando se dedica a analisar especificamente os efeitos adversos gerados pelo conteúdo violento dos programas de TV, os autores do Guia médico recordam que a maioria dos produtores e emissoras de TV não está preocupada em educar, mas limitam seu objetivo a gerar lucros. "A transmissão da TV é paga por anunciantes que têm produtos e serviços a vender. Quanto mais as pessoas assistem certos programas (quanto mais altos os índices de audiência), as empresas de televisão podem cobrar mais pelo espaço comercial". Por isso a televisão tem por meta captar a atenção do público e mantê-la por tempo suficiente para que os anunciantes possam vender seus produtos. Em face da dificuldade de captar a atenção de alguém e mantê-la com recursos que aprimoram a formação humana, o que exigiria maior criatividade, as emissoras apelam para estímulos que provoquem mais facilmente resposta do público, mediante o incitamento de emoções fortes que prendam sua atenção. Nesse jogo de captação de atenção, há estímulos mais baratos e menos trabalhosos para provocar respostas. Aqui entra o apelo à violência, "altamente eficiente para provocar uma resposta. A violência é universalmente compreendida e valorizada, cruzando fronteiras geográficas e culturais de maneira eficaz, uma vantagem decisiva para ampliar ao máximo o mercado de um programa".

Desde o começo da TV, a violência foi ingrediente para prender a atenção do telespectador. São incontáveis os estudos acerca dos efeitos do entretenimento violento sobre as crianças: pesquisas, análises de conteúdo, experiências, estudos epidemiológicos, estudos em nível nacional e estudos longitudinais (protraídos no tempo), etc. Apesar de variar a qualidade de tais pesquisas, a uniformidade e a coerência das conclusões é impressionante. Inúmeras organizações profissionais se dedicaram ao assunto e concluíram, após estudos sistemáticos desenvolvidos durante anos, que há evidências irrefutáveis de que o entretenimento violento promove atitudes e comportamento agressivos, o que significa deformação ética. Dentre as entidades que assim concluíram destacam-se: (1) Academia Americana de Psiquiatria da Infância e Adolescência; (2) Academia Americana de Pediatria; (3) Associação Médica Americana; (4) Associação Americana de Psiquiatria; (5) Associação Americana de Psicologia; (6) Centros para Controle e Prevenção de Doenças; (7) Instituto Nacional de Saúde Mental; (8) Ministério da Saúde dos EUA.

"A literatura [científica] é suficientemente ampla para permitir uma meta-análise, um conjunto de procedimentos estatísticos que permite a inclusão de dados de grande número de estudos. Os pesquisadores de mídia Comstock e Paik empreenderam essa meta-análise e relataram que há uma clara relação de causa e efeito entre a exposição à violência da mídia e as atitudes e o comportamento agressivos. A Professora Aletha Huston, da Universidade de Kansas, afirmou perante o Congresso que praticamente todos os pesquisadores concordam que há evidências de que a TV pode causar comportamento agressivo" .

O Guia médico também chama a atenção para os vídeos games, que seguem a linha de apelativo à violência: crescem a tecnologia e a violência ofertada nos jogos, muitos deles produzidos na esteira de filmes populares violentos. Esse mercado movimenta bilhões de dólares em todo o mundo e está voltado para o público infanto-juvenil. Os criadores dos jogos se vangloriam do realismo da violência que simulam. Nos anos de 1995 e 1996, quando veio à tona o Guia médico, os jogos mais vendidos eram Mortal Kombat, o Mortal Kombat II e o Doom, em versões sucessivamente mais violentas, onde o jogador deveria chegar a derrotar seu oponente com requintes de crueldade. "Esses jogos são particularmente envolventes, uma vez que os usuários são ativos ao invés de passivos, e são recompensados com escores mais altos por cometerem mais mutilações".

Apesar de as classificações oficiais acerca dos filmes mais violentos não surtir, como seria desejável, o efeito de manter os jovens afastados de tais longas-metragens, estudiosos do tema chamaram a atenção ao efeito pior do relaxamento nessa atividade, que facilita o aumento de conteúdo violento nos filmes para público infanto-juvenil. Assim, se por um lado a classificação não garante total eficácia de controle sobre o que assistem criança e adolescente, de alguma forma ela alerta os pais para os conteúdos. Também é fato, constatado por algumas pesquisas, que algumas crianças ficam mais interessadas por um filme quando sua classificação indica que se trata de obra recomendada para pessoas mais velhas, incluindo-se nesse grupo as mais agressivas, que são mais facilmente atraídas pelo chamariz de agir fora dos limites.

São alguns dos motivos para a redução da eficácia da classificação indicativa de filmes não recomendados para menores de idade: (1) os trailers apresentados em publicidade massiva despertam a curiosidade e são apresentados em horários acessíveis ao público menor de idade, aguçando-lhes a vontade por assistir tais produções; (2) alguns pais não selecionam os filmes aos quais levarão seus filhos para assistir, a despeito de classificações e análises; (3) em muitas salas de cinema não se restringe o acesso do público em idade inferior à aconselhada; (4) as locadoras, onde os filmes chegam depois, não controlam a retirada de filmes por pessoas de faixa etária menor que a aconselhada para a assistência.

A partir dos estudos colecionados, quais seriam os efeitos da violência na mídia no comportamento e atitudes dos espectadores infanto-juvenis?

Primeiro impacto é o estímulo à imitação de comportamento, em razão de a observação e a imitação ser a principal forma de aprendizado das crianças e adolescentes. As pesquisas comprovam que desde os 14 meses de idade os bebês já imitam o que vêem na TV, tanto as condutas sociais positivas quanto os comportamentos violentos e agressivos. "Para as crianças mais pequenas essa imitação inclui quadrinhos e desenhos, [sendo que] elas não distinguem [a violência imaginária] da violência real. Programas como Power Rangers e Tartarugas Ninja são exemplos que demonstram esse fenômeno".

Outras informações que influem na fixação de modelos dignos de imitação para as crianças, são os heróis violentos. As crianças imitarão os modelos que lhes são apresentados, especialmente aqueles que lhes geram maior empatia. Por esse motivo os heróis agressivos são mais perniciosos do que os vilões violentos.

Também efeito negativo pode resultar da violência recompensada. A violência, quando valorizada ou mostrada como eficaz, transmite à criança a idéia de que a conduta agressiva é premiada em nossa sociedade. Isso aumenta a imitação desse comportamento na vida real.

Também é nociva a exposição da violência justificada. "A violência tende a ser mais imitada se ela contiver implícita a mensagem: está correto recorrer à violência, contanto que você acredite estar no seu direito. Qual criança não acredita estar com a razão em uma situação de conflito?".

Vários dos efeitos relatados no Guia Americano coincidem com os estudos elaborados pela UNESCO.

Outro efeito adverso é a insensibilização, a deterioração da sensibilidade da criança. Os sentimentos deveriam ser respostas afetivas a estímulos reais. A exposição freqüente a estímulos fictícios que provocam emoções fortes sem a realidade casual correspondente, leva à insensibilização. A exposição constante da brutalidade na mídia enfraquece a capacidade de reagir do público em face da violência. Há como que uma fadiga das potências afetivas, que necessitarão de maiores estímulos para reagir. Além de ocorrer decréscimo na reação pessoal perante a violência, que repercute no aumento da falta de solidariedade para com as vítimas de ataques violentos.

Outro efeito sobre o comportamento, apresentado pelos médicos, psiquiatras, psicólogos e pediatras norte-americanos, é o aumento do medo. O cenário de violência retratado pela mídia transforma o mundo em um lugar atemorizante para o espectador infanto-juvenil, mais impressionável que o adulto. As crianças são especialmente afetadas pelo fato de não possuírem capacidade de discernir o que é fictício do que é real. Ao longo do tempo essa indução ao medo produz a síndrome do mundo cruel. O Guia alerta que "a exposição a um único filme, programa de televisão ou reportagem pode resultar em depressão emocional, pesadelos ou outros problemas relativos ao sono em muitas crianças", particularmente as mais novas. Crianças amedrontadas estão mais sujeitas a se tornarem vítimas ou agressores.

Outro efeito deformativo dos conteúdos midiáticos violentos é aumentar o apetite pela violência. A insensibilização aumenta a tolerância e o gosto do espectador por mais violência: quanto mais violência alguns espectadores assistem, mais violência eles querem. Algumas das pesquisas que apóiam as conclusões do Guia demonstram que as seqüências dos filmes de ação (pense-se nos filmes da série Rambo I, II, III ou da série O Exterminador do Futuro I, II e III) quase sempre apresentam mais violência nos episódios sucessores.

Segundo pesquisas, quanto mais realista a violência, maior a atração e pior o impacto nas crianças. Programas policialescos e sensacionalistas, por exemplo, prendem-lhes mais a atenção.

Outro fenômeno que se cultiva com a violência na mídia é a cultura do desrespeito.

"De acordo com o Psicólogo David Walsh, talvez o efeito mais prejudicial do regime constante de entretenimento violento voltado às crianças seja a criação e a sustentação de uma cultura do desrespeito. O comportamento violento em si mesmo é o ato máximo do desrespeito. Para cada jovem que pega uma arma e atira em alguém, há milhares de outros que não o fazem. Mas eles estão desrespeitando-se uns aos outros, empurrando, puxando, batendo e chutando com freqüência crescente. Isso torna mais fáceis de serem cruzadas as linhas que separam aqueles comportamentos. O resultado é que nós redefinimos a forma como devemos tratar uns aos outros".

Outro ingrediente que atrapalha o desenvolvimento da percepção ética da criança é o frenesi da velocidade das informações que bombardeiam o telespectador infanto-juvenil, em uma mídia que deseja disparar estímulos para prender ao máximo sua atenção. Esse proceder violenta a capacidade de se dedicar tempos diferentes aos assuntos segundo hierarquia proporcional à importância do tema para os projetos vitais. Por vezes o mesmo destaque à tragédia do terrorismo no Iraque que à fofoca relativa ao aniversário da filha de apresentadora destaque.

"O que se ganha por um lado como informação rápida [...], perde-se, por outro, como aceleração do tempo vital, sob a apresentação de uma instantaneidade igualadora. Todas as coisas têm mais ou menos a mesma importância e são igualmente todas fugazes; todas são somente cotidianas".

A mídia televisiva para crianças e adolescentes tende a preferir a o redemoinho superficial, "a agitação imediata, o estremecimento profundo; o homem fica, assim, à disposição dos ritmos mais efêmeros, das aparências, das vibrações mais epidérmicas do mundo sensorial".

As informações trazidas pelo Guia Médico de 1996 foram reafirmadas em 2001, em outro estudo publicado pela Academia Americana de Pediatria.

E assim, por meio de programas, filmes e novelas fixam-se valores na memória da criança e do adolescente mediante o uso de histórias e situações. Transmitem-se modelos estereotipados que atuam sobre a inteligência, sobre psique infanto-juvenil, sobre sua vontade e sobre sua afetividade. A criança é estimulada a assimilar comportamentos apresentados como bons sem capacidade de julgar acerca da correspondência entre essa apreciação e o agir ético respectivo. A dimensão afetiva é hipertrofiada, querendo-se levar a pessoa a induzir que tudo que é prazeroso é bom, e tudo o que gera algum desconforto ou algum tipo de sofrimento, é mau. Isso é trabalhado pela mídia e em um ritmo que dificulta pensar, refletir.

Os efeitos da programação de TV sobre a personalidade da criança e do adolescente são inegáveis. O poder de indução de comportamentos é maior à medida que se permanece mais tempo sob sua exposição. Também o estudo acerca das propagandas e publicidades ocultas traz muito de aplicável à programação televisiva, como se poderá ver logo mais, sobretudo porque o modelo de TV vigente no Brasil é o da TV comercial.

1 Cf. WALSH, David; GOLDMAN, Larry S.; BROWN, Roger, Physician Guide to Media Violence, p. 13.

2 Cf. WALSH, David; GOLDMAN, Larry S.; BROWN, Roger, Physician Guide to Media Violence, p. 13.

3 Cf. TAVARES, André Ramos. Liberdade de informação e comunicação: conteúdo, limites e deveres relacionados. Cadernos de Direito. Piracicaba. V..3. n. 5. p. 46-66. dez. 2003, p. 62.

4 Cf. WALSH, David; GOLDMAN, Larry S.; BROWN, Roger, Physician Guide to Media Violence, p. 13. Na página seguinte do Guia encontra-se um breve e sintético mostruário de alguns dos estudos que serviram a tais conclusões.

5 Cf. WALSH, David; GOLDMAN, Larry S.; BROWN, Roger, Physician Guide to Media Violence, p. 15

6 Cf. WALSH, David; GOLDMAN, Larry S.; BROWN, Roger, Physician Guide to Media Violence, p. 15-16.

7 Cf. WALSH, David; GOLDMAN, Larry S.; BROWN, Roger, Physician Guide to Media Violence, p. 16.

8 Cf. WALSH, David; GOLDMAN, Larry S.; BROWN, Roger, Physician Guide to Media Violence, p. 16.

9 Cf. GROEBEL, Jo. Percepção dos jovens sobre a violência nos meios de comunicação de massa. Brasília: UNESCO, 1998, p. 34-35.

10 Cf. WALSH, David; GOLDMAN, Larry S.; BROWN, Roger, Physician Guide to Media Violence, p. 16

11 Cf. WALSH, David; GOLDMAN, Larry S.; BROWN, Roger, Physician Guide to Media Violence, p. 17

12 Cf. WALSH, David; GOLDMAN, Larry S.; BROWN, Roger, Physician Guide to Media Violence, p. 17

13 Cf. INNERARITY, Daniel. Libertad como pasión. Pamplona: EUNSA, 1992, p. 116.

14 Cf. INNERARITY, Daniel. Libertad como pasión, p. 117

15 Cf. American Academy of Pediatrics. Committee on Public Education. Children, Adolescents, and Television. Pedriatics, v. 107, n. 2, p. 423-426, February, 2001.

16 Cf. FERNANDES NETO, Guilherme. Direito da Comunicação Social, p. 117-140

Fonte: http://www.iics.org.br/direito/Site/newsletter_interno.aspx?id=36