sábado, 1 de janeiro de 2011

Jesus Cristo - Mons. Negromonte

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Não cabe neste livro a história da vida pública de nosso Senhor. Embora tenha sido de três anos apenas, é bastante longa, movimentada e complexa. As poucas noções aprendidas na História Sagrada devem ser completadas com a leitura constante dos Santos Evangelhos e o estudo de uma boa vida de Jesus (1). Mas não podemos deixar de dar aqui, ao menos, uma visão de conjunto. Muitas vezes perguntamos: Como seria Jesus Cristo? A esta pergunta pretendemos responder.

A fisionomia exterior

Só podemos imaginar que Jesus tenha sido homem de extraordinária beleza. Não de uma beleza suave e doce, como nossa Senhora, mas de uma beleza máscula, forte e viril como devem ser os homens em todo o seu esplendor. O salmista tinha profetizado: “Superas em formosura a todos os homens” (Sl 44, 3). A impressão extraordinária que ele causava a todos que o viam havia de ser, em grande parte, devida à sua fisionomia.

Naquele semblante magnífico destacava-se o olhar. Ele mesmo disse que a luz do corpo está no olhar (cfr. Mt 6, 22). A gente imagina que ele teria olhos tranquilos, luminosos e profundos, olhando para os homens com uma expressão e uma força, que os Evangelhos nos deixam entrever. Foi assim que bastou um olhar de Jesus a são Pedro para o que o Apóstolo compreendesse todo o mal da sua negação e saísse a chorá-la amargamente (cfr. Lc 22, 61).

Um homem forte

Jesus não era nem podia ser um homem franzino e doentio. A sua figura denotava um homem de grande vigor físico, como é fácil de ver pelos Evangelhos.

Era um trabalhador infatigável. Levante-se, ainda alta madrugada (Mc 1, 35) e desde a aurora já chama os Apóstolos para o trabalho (Lc 6, 13).

Os seus dias são cheios até alta noite, às vezes sem ter nem tempo de comer (Mc 3, 20). Mesmo enquanto descansa um pouco, trabalha, como no episódio da Samaritana (cfr. Jo 4, 6 e ss). E ainda de noite, ia atender aos que o procuravam (cfr. Jo 3, 2).

Não tinha sequer onde reclinar a cabeça (cfr. Mt 8, 20), vivendo, portanto, em longas e constantes caminhadas através dos caminhos poeirentos ou montanhosos da Judéia e da Galiléia.

Só um homem forte e robusto seria capaz de viver assim.

Um dominador

O Evangelho nos mostra Jesus admiravelmente calmo e imperturbável.

Quando a tempestade se levanta e a barca parece naufragar, os Apóstolos se desorientam, mas Jesus continua calmo e senhor da situação (cfr. Mt 8, 26).

Em face dos inimigos, que lhe propõem questões terríveis para perdê-lo, conserva a mesma serenidade inquebrantável (Mt 22, 18-22).

O próprio demônio não o perturba, nem nas tentações do deserto (Mt 4, 4, 7 e 10) nem nas outras oportunidades em que fazia o espanto dos homens (cfr. Mt 8, 28).

Dominava a todos. Quando pregava, todos reconheciam a sua autoridade, até mesmo os adversários. Os inimigos, por fim, não tinham mais coragem de lhe dirigir perguntas, porque ele os esmagava com suas respostas admiráveis. Os próprios discípulos viam nele uma tão elevada autoridade, reconheciam nele uma tão grande superioridade que, às vezes, não ousavam ao menos interrogá-lo (cfr. Mc 9, 31). Ele vivia no meio do povo, amigo de todos, compadecido de todos, acessível a todos; mas era tal o seu poder de domínio que ninguém lhe ousava tocar (Mt 9, 20) e, embora atraídos por ele, se sentiam também tomados de um respeito, que chegava a ser verdadeiro medo (cfr. Mc 10, 32).

Homem de coragem

Já vimos como se porta Jesus diante da tempestade: os outros tremem apavorados, ele está tranquilo. Os demônios fazem o povo fugir: Jesus os enfrenta e vence.

Os seus inimigos não descansam. Não podendo diminuir o seu prestígio diante do povo, os fariseus mandam agentes para o prender (Jo 7, 32): Jesus os enfrenta, e eles nada fazem. Tomam pedras para o matarem (Jo 10, 31), Jesus nem pestaneja diante deles. Atiram-se indignados contra ele (Lc 4, 30), e ele, em vez de fugir, passa corajosamente pelo meio deles. Aconselham-no a fugir, porque Herodes quer matá-lo (Lc 13, 31). Ele responde chamando ao rei de “raposo” e dizendo que continuará a sua missão até o fim.

Eram sem dúvida por causa dessas coisas que o povo tanto o admirava, porque o povo gosta dos homens dominadores e de coragem.

A bondade de Jesus

Era extremamente bom.

Compadecia-se dos que sofriam, a ponto de multiplicar o pão para saciar os famintos no deserto (Mt 15, 32) e ressuscitar o morto para consolar a pobre mãe chorosa (Lc 7, 14). São inúmeras as curas que fez, para aliviar os padecimentos humanos.

O povo humilde lhe despertava vivos sentimentos de piedade (cfr. Mt 9, 36; Mc 8, 2). Chama os que sofrem e estão sendo oprimidos, prometendo aliviá-los (Mt 11, 28). Atrai os pequeninos, e repreende os Apóstolos porque os afastam (Mc 10, 14). Trata os pecadores com especial carinho, dizendo mesmo que eles precisam de mais cuidados, porque são doentes (Mt 9, 12). Tem os seus amigos particulares, aos quais quer tanto bem a ponto de chorar quando eles morrem (Jo 11, 35).

Mas a bondade de Jesus não é uma bondade mole e complacente com o mal. Diante da hipocrisia, ele desencadeia as suas repressões severíssimas (Mt 23, 14 ss) Ao ver o desrespeito pelo templo, toma o chicote e expulsa decididamente os profanadores (Mc 11, 15). Quando Pedro se opõe à sua missão, ele o repele, chamando-o de Satanás (Mt 4, 10).

Um decidido

Esta energia do Mestre bem nos mostra a sua decisão. Desde menino que ele foi assim. Quando nossa Senhora o encontrou no templo entre os doutores da lei, e perguntou por que ele tinha feito aquilo, a resposta foi esta: “Não sabeis que é necessário que me ocupe das coisas de meu Pai?” (Lc 2, 49).

Mais tarde, quando chamar os seus discípulos, a primeira coisa que exigirá deles é esta decisão pronta e heróica às vezes. “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos” (Mt 8, 22). E chama com uma tal decisão que eles deixam tudo, para segui-lo (Mt 1, 16; Mc 1, 20).

Tem apenas 12 Apóstolos, mas se esses não quiserem crer nas suas palavras, podem ir-se embora: “E vós também não me quereis abandonar?” (Jo 6, 68).

Quando Jesus decidiu uma coisa, ninguém se lhe oponha, porque já está decidido. Ele sabe o que quer, e sabe admiravelmente querer. É por isto que ele podia ensinar a seus discípulos: “Seja o teu sim, sim, e o teu não, não” (Mt 5, 37).

Com semelhante modo de agir, ele ama os que sabem ser decididos e lhes promete enorme recompensa (Mt 19, 28), mas se entristece ao ver homens indecisos (Mc 10, 23).

O grande prestígio

Vinha de tudo isto o imenso prestígio de Cristo no meio do povo, dos discípulos e dos próprios inimigos.

A sua vida era realmente misteriosa e incompreensível. Cheio de misericórdia com os pecadores, mas terrível na sua cólera contra os fariseus e os hipócritas. Obediente à autoridade, chamara de raposo ao próprio rei. Atrai as criancinhas, conversa com os homens simples e as mulherzinhas do povo, mas infunde nos que o cercam um tal respeito que chega a ser verdadeiro temor (Mc 9, 5; 4, 40; 9, 31).

A todos dava a impressão de ser um homem diferente dos outros homens. A sua superioridade era reconhecida até dos inimigos (Mc 12, 14).

Causava maravilha o seu modo de viver. Ele multiplicara o pão para alimentar o povo, mas deixava os Apóstolos padecer fome. Cura doentes e ressuscita mortos, mas se cansa a ponto de dormir ao relento e repousar ao longo dos caminhos. Quando quis dinheiro para pagar o imposto, fê-lo tirar da boca de um peixe; mas vivia das esmolas que lhe davam. Em face da sua vida de pobre, os seus milagres são um verdadeiro mistério; mas em vista dos seus milagres, a sua vida é realmente incompreensível.

No capitulo seguinte, provaremos que este homem é também verdadeiro Deus; mas, mesmo diante do povo que não sabia que ele era Deus, o seu prestígio era tão grande que fazia as máguas e a inveja dos seus adversários. 

 

Para viver a Doutrina

 

A humanidade vive voltada para Jesus Cristo. Ele é o “sinal de contradição” (Lc 2, 34), a quem os homens amam ou odeiam. Mas nós devemos amá-lo, admirá-lo, segui-lo.

Para isto, precisamos de conhecer a Jesus. A sua vida está nos Evangelhos. Ler e estudar os Evangelhos é uma obrigação. É uma necessidade. Só assim, a figura de Jesus terá aos nossos olhos as suas verdadeiras proporções. Quanto melhor o conhecermos, tanto mais o amaremos.

Uma literatura mal intencionada costuma apresentar nosso Senhor como “o doce e meigo Rabi da Galiléia”, uma figura suave e afeminada. Repilamos esta literatura. O verdadeiro Jesus era de uma bondade infinita, porém másculo, corajoso, decidido, amigo dos pecadores, mas inimigo irreconciliável do mal.

Para Jesus devem ser os nossos entusiasmos, o nosso ardor, a nossa admiração. Ele é o nosso herói, o nosso ideal, o nosso Senhor.

 

***

 

  N. do E.: alguns acentos foram acrescentados ao texto original para melhor adaptá-lo à ortografia atual.

 

 

Livro: A Doutrina Viva - para o curso secundário
Autor: P. A. Negromonte
Editora "Vozes" - Petrópolis - Est. do Rio
Páginas: 72 - 79
NIHIL OBSTAT. Petrópoli, die Juanuarii MCMXXXIX. Fr. Fridericus Vier, O.F.M. Censor.
IMPRIMATUR. Por comissão especial do Exmo. e Revmo. Sr. Bispo de Niterói, D. José Pereira Alves. Petrópolis, 10-03-1939. Frei Heliodoro Müller, O.F.M.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Eliot - Medievo, Cultura e Civilização

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T. S. Eliot

 

 

"(...) O ápice da civilização foi alcançado na Idade Média, quando a sociedade, a religião e as artes expressavam um conjunto comum de critérios e valores. Isso não quer dizer que as condições de vida eram melhores então - um item cuja importância deveria ser minimizada - mas que a síntese cultural da Idade Média simboliza um ideal de comunidade européia. Toda a história posterior representa uma degenerescência desse ideal. O cristianismo se decompõe em nações, a Igreja em heresias e seitas, o conhecimento em especializações, e o fim do processo é que o escritor está pesarosamente observando em seu próprio tempo “a desintegração da cristandade, a deterioração de uma crença comum e de uma cultura comum”." (FRYE apud ASCHER)

 

***

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"À nossa herança cristã devemos muitas coisas além da fé  religiosa. Por meio dela seguimos a evolução de nossas artes, por meio dela temos nossa concepção da Lei romana que tanto fez para moldar o Mundo ocidental, por meio dela temos nossos conceitos de moralidade pública e privada. E por meio dela temos nossos padrões comuns de literatura, nas literaturas da Grécia e de Roma. O mundo ocidental tem sua unidade nessa herança, no Cristianismo e nas antigas civilizações da Grécia, de Roma e de Israel, a partir das quais, devido a dois mil anos de Cristianismo, determinamos a nossa descendência. Não desejo elaborar esse ponto. O que eu quero dizer é que esta unidade nos elementos comuns da cultura, em muitas centúrias, é o verdadeiro vínculo entre nós. Nenhuma organização política e econômica, por mais boa vontade que ela exija, pode suprir o que essa unidade cultural dá. Se dissiparmos ou jogarmos fora nosso patrimônio comum de cultura, então toda a organização e planejamento das mentes mais engenhosas não nos ajudará, ou nos colocará mais juntos."

 

Dados da obra: 

 

Livro: Notas para uma Definição de Cultura                  Autor: T. S. Eliot
Páginas: 13 e 152
O conservadorismo de Eliot - Páginas 9-16
Apêndice: A Unidade da Cultura Européia - Páginas 137-153
Direitos em língua portuguesa reservados à Editora PERSPECTIVA S.A
1° edição (de 1988) - 2° reimpressão - 2008

Pe. Pianzola: “... um maço de cigarros”

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Por Prof. Pedro M. da Cruz
 
 
“O testemunho vale mais do que a renúncia.”
 

O Bem–Aventurado Padre Francisco Pianzola[1](1881-1943) foi uma mensagem de Cristo para os tempos modernos. Com efeito, é próprio de Deus, Nosso Senhor, falar e agir através de seus discípulos.
Nascido em meio à crise que castiga a Igreja na atualidade, deixou-se conduzir pelos apelos da graça divina e realizou, na medida de suas forças, a vontade do Redentor. “Esta é minha prece e minha aspiração: Jesus, amar-te e depois morrer.” Escrevera em seu diário.
Profundamente tocado pela pobreza espiritual que o cercava, geradora, como se sabe, de toda crise cultural, econômica e social de nosso meio, Padre Pianzola foi consumido de ardor contra as injustiças e pôs-se ativamente na luta em favor do Evangelho.
Afirma uma de suas biografias: “Foi para a Igreja que viveu e morreu.” Que belo exemplo para os homens de hoje! Pois, de fato, não há causa mais grandiosa que esta; lutar pela Igreja é lutar pelo próprio Cristo!
Propomos hoje aos leitores do blog um interessante fato da vida deste sacerdote. Que ele sirva tanto para a validação de nossos posicionamentos quanto para o entretenimento dos amigos que nos acessam:
 
“Dê uma boa tragada pela minha saúde”
 
Após ter sido atendido em confissão pelo Bem-Aventurado Francisco Pianzola, um camponês da cidade de Garlasco colocou nas mãos do Padre uma pequena doação de duas moedas; pretendia, deste modo, ajudá-lo em seu apostolado.
_ Pegue, Padre. Estou muito contente e quero dar-lhe este presente.
_ Não posso aceitar, meu bom homem, mas é como se eu tivesse pegado...
O camponês ficou um pouco confuso.
_ Ah! É porque é pouca coisa... mas tenho só isto.
_ Sim? Pois bem, se é assim eu pego – afirmou o Padre - mas você deve fazer aquilo que lhe digo.
_ Está bem, o senhor me deu felicidade, portanto tem o direito de pedir-me algo.
_Este dinheiro é meu, posso fazer aquilo que eu quiser?
_Mas é claro, Padre!
_ Muito bem, vai comprar um maço de cigarros e dê uma boa tragada pela minha saúde.
 
***
 

Como podemos imaginar, o Padre Francisco Pianzola seria barbaramente criticado pelos “arautos da saúde”, ou mesmo, pelos “puritanos” de nossos dias, entre outros... (Quiçá, pela “Pastoral da Sobriedade”).
Todavia, alguns poderão objetar que se tratava de um  período histórico em que “não se conheciam os malefícios do tabaco”. Bom, concordamos que certos malefícios poderiam ainda não ser conhecidos, porém, alguns benefícios sim, e, com toda certeza, o afirmamos; tanto é que o uso do cigarro fora aconselhado pelo próprio sacerdote e fundador por nós apresentado.
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Monge ortodoxo fumando
 
Terminemos com mais algumas pérolas desse sacerdote católico:
 
“A meditação é a fonte de todo apostolado”
“Nunca pensar naquilo que você fez ou naquilo que você deu, mas pense sempre naquilo que você deve fazer.”
“Com o sorriso chamem os corações, fechem o inferno, pintem de alegria a piedade e povoem os céus.”
“Eu vi o Pe. Pianzola chorar, não por problemas seus, mas porque estava falando de Maria.”
(Testemunho de uma irmã)
“Chama-me de ingrato, vil, impostor, estúpido, ó Coração de Jesus, no dia em que eu deixar de dizer-te, diante do teu tabernáculo: Oh, Amor, eu te amo ou pelo menos te quero amar.”
Maria, Mãe da sobriedade, rogai por nós!
 


Referência bibliográfica:

Coleção Campeões. N. 26. MORERO, Vittorio. Francisco Pianzola, para uma Igreja jovem. 4 Edição. São Paulo: Editora Salesiana.

[1] Fundador das Irmãs Missionárias da Imaculada Rainha da Paz, assim como, dos Padres Oblatos diocesanos da Imaculada.