quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Símbolo da Serpente

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Controverso, fascinante, denso e paradoxal
 
Prof. Pedro M. da Cruz.

A serpente é, de fato, um animal fascinante. Suas múltiplas características impressionam a sensibilidade dos seres humanos. Egípcios, gregos, romanos, druidas, indianos, chineses... viram-se seduzidos por seus aspectos variados. Nem mesmo o Redentor se furtou a tecer comentários sobre este réptil capcioso, pois ordenou a seus discípulos que fossem prudentes como ele, desde que guardassem a inocência que lhes era devida.[1]
Ela é um tipo hábil, silencioso e discreto; ao rastejar sinuosa e lentamente pelo chão, somos quase levados a nos esquecer de sua incrível capacidade de ataque, tão rápida e certeira quanto um raio. Imprevisível, dissimulada e, muitas vezes, mortal, tornou-se também um símbolo da malícia, assim como da tentação e do próprio Satanás.[2] No Egito, por exemplo, Apófis, monstro do caos, senhor dos infernos, era representado como uma serpente; e, a própria Tradição cristã a tomou, na maior parte das vezes, como um signo das forças do mal.
Animal de sangue frio, o que nos dá - já de entrada - uma impressão de horror a qualquer sentimentalismo malsão, é também, para muitos, arquétipo da sabedoria e da sagacidade. Por ser seu habitat subterrâneo sempre sugeriu também a idéia de conhecimento a ser revelado; e houve, inclusive, quem não deixasse de ver na sua ausência de pálpebras móveis, que a faz dormir de olhos abertos, um modelo da vigilância, bom ânimo e atenção perfeita.
Como se pode perceber é grande a riqueza de símbolos que se formou a partir da figura da Serpente; poderíamos citar muitos outros como, por exemplo, o símbolo da imortalidade, sugerida pela mudança periódica de pele, ou mesmo o símbolo da cura, que se depreende facilmente do uso terapêutico que se pode fazer de seu veneno, para não citarmos o da fecundidade, ligada ao formato fálico de seu corpo, tão cara ao paganismo, entre outros...
Finalmente, a mais gloriosa comparação que se fez desta criatura controversa! Quem não se recordará que a própria Escritura Sagrada a tomou por prefigura de Nosso Senhor Jesus Cristo? De fato, está escrito: “Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o filho do homem, para que todo aquele que nele crer tenha a vida eterna.” [3] Ora, perante tão extraordinária comparação tudo o que foi dito acima queda, de certo modo, ofuscado. Cristo é a nova Serpente! Completamente oposta àquela das origens. Ele, no madeiro da Cruz, demonstrou a fecundidade infinita do amor divino. Com toda sabedoria e astúcia sobrenaturais, arranca os homens do pecado, cura seu coração ferido, e lhes concede a graça da Bem-aventurança eterna.
E, para terminarmos com chave de ouro esta nossa singela reflexão, perguntemo-nos com toda sinceridade: quem seria capaz de afirmar que não vê na Serpente de bronze apresentada por Moisés no deserto, além da prefigura do Salvador, uma representação discreta da Virgem Maria? De fato, Nossa Senhora, por participar de modo singular do poder de intercessão de seu filho, é apresentada por Deus, com toda autoridade, perante os olhares compungidos de seus servos, a fim de que mirando-a conservem a vida. Ora, é bem possível que seja também por isso que o Apocalipse nos afirme que à mulher fora preparado um retiro no deserto[4]... Não querendo forçar de modo abrupto alguma interpretação, fiquemos por aqui, porém, suplicando insistentemente à Virgem abrasadora: Ora pro nobis, Sancta Dei Génitrix!

[1] Conf. Mat. 10,16
[2] Conf. Gên. 3,1-14; Apo. 12,9
[3] Conf. João 3,14-15
[4] Conf. Apo. 12, 6

domingo, 6 de dezembro de 2009

A beleza da liturgia católica!

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Paulo L. F.

“O brilho de sua ostentação e a solenidade dos ritos fascinam o sentido do povo... Os olhos ficam encantados.” (Ellen. G. White)

Já vimos, num artigo anterior, a astúcia da senhora Ellen G. White, reorganizadora da seita Adventista, ao atacar a Igreja Católica. A certa altura de seu livro “O Grande Conflito” a autora se põe a escrever sobre os muitos perigos em que – segundo ela – incorreriam os protestantes, caso viessem a fazer compromissos com nossa religião. Nesse momento ela se vê forçada a tecer alguns comentários elogiosos sobre os métodos Católicos de promoção da fé Cristã, chegando a reconhecer a grandeza litúrgica de seus cerimoniais.

A senhora White escrevera o que se segue antes do Concílio Vaticano II, portanto, se referindo ao chamado, “Rito de São Pio V”. Celebrado em latim, ao som do Canto gregoriano, e “Voltado para Deus”, realmente, impressionava pela beleza de sua estrutura organizacional. Mesmo uma inimiga tão ardorosa da verdade tinha que reconhecer a sublimidade deste rito milenar!

Mas, quem não sentiria um toque imponderável ao contemplar a beleza gótica duma Catedral, tão distante dos edifícios modernistas, escravos cegos da funcionalidade? Ao escutarmos o Gregoriano, ou mesmo a Polifonia Sacra, ficamos sem entender o que terá levado tantos bispos ao cúmulo de permitirem a poluição sonora de então.

Na solidão povoada das Igrejas antigas, a alma era convidada à meditação. Ali, escondidos na penumbra silenciosa, enquanto cintilava pelas paredes o reflexo indomável das muitas velas, os homens tinham atmosfera propícia para orar. Era um refúgio sobrenatural, um porto de salvação, lugar de deleite para alma! Tenho observado como as pessoas, quase sem entender o motivo, respeitosamente baixam as vozes num templo conserimagevador; sentem, como que, uma ofensa o fato de dirigirem-se a um ser que não seja celeste. A densidade religiosa do ambiente tradicional é tão gritante, que mesmo à meia-luz tudo se torna claro como ao meio dia...

Bom, vejamos de uma vez por todas o que escrevera Ellen G. W. e pensemos, com toda sinceridade, se ela poderia dizer o mesmo nos tempos hodiernos:

“Embora o romanismo se baseie no engano, não é grosseiro e desprovido de arte. Os serviços religiosos da Igreja Romana são um cerimonial impressionante. O brilho de sua ostentação e a solenidade dos ritos fascinam o sentido do povo... Os olhos ficam encantados.  Igrejas magnificentes, imponentes procissões, altares de ouro, relicários com pedras preciosas, quadros finos e artísticas esculturas apelam para o amor ao belo. A música é inexedível. As belas e graves notas do órgão, misturando-se à melodia de muitas vozes a ressoarem pelas elevadas abóbadas e naves ornamentadas de colunas, das grandiosas catedrais, impressionam a mente com profundo respeito e reverência.

Esse esplendor e cerimônia exteriores zombam dos anelos da alma ferida pelo pecado... A pompa e o cerimonial do culto Católico têm um poder sedutor e fascinante... Tais pessoas chegam a considerar a Igreja Romana como a porta do Céu. ”[1]

Apesar das criticas maldosas que a autora destila enquanto escreve, é evidente em seu texto a percepção da beleza e majestade dos meios utilizados pelo catolicismo para expressar a maior glória de Deus. Sim, a pompa e o cerimonial do culto católico nos fascinam; seduz nosso coração fazendo-nos repetir com Jacó: “Quão terrível é este lugar! É nada menos que a casa de Deus; é aqui a porta do céu.[2]

Finalmente, recordo-me agora de um fato interessantíssimo relatado por Dom Servilio Conti num certo livro de sua autoria. Fala-nos de Clóvis, Rei dos Francos, esposo de Santa Clotilde: Havendo se convertido ao cristianismo após gloriosa vitória que Nosso Senhor lhe concedera sobre seus inimigos, ele pedira a São Remígio a graça do batismo Reims260na fé Católica. Para esta ocasião a Catedral de Reims fora  devidamente preparada para a festa com luzes, cânticos e flores, como é de praxe em nossas Igrejas. O rei Clovis, encantado ao entrar no templo, dirigindo-se ao Bispo, perguntou: “É este o Reino dos céus, do qual me falou Clotilde?” “Não, respondeu São Remígio, mas é o início e o caminho que leva à glória e felicidade de Deus.” [3] Penso que esta história retrata bem tudo o que apresentamos neste artigo. Entre Clóvis e Ellen G. White houveram muitas diferenças, porém, destaquemos somente uma: enquanto a beleza da fé cristã, em seus vários aspectos, fecundava o amor na alma daquele rei bárbaro, provocou um efeito contrário no coração desta inimiga da Igreja, gerando ódio e indignação. Mas, o que é que se poderia esperar de alguém que demonstrou tanta paixão pelo erro?

Queira a Virgem Santíssima que possamos voltar à glória das antigas celebrações litúrgicas! E quiçá, teremos outros inimigos sendo forçados, mais uma vez, a reconhecer a grandeza do serviço de culto que prestamos a Deus.


[1] WHITE, Ellen G. O grande conflito. Acontecimentos que mudarão o seu futuro. Trad. Hélio L. Grellmann. São Paulo, Casa, 2003. pg. 318-319

[2] Conf. Gên. 28,17

[3] CONTI, Dom Servilio. O Santo do dia. 3ª Edição. Petrópolis, Vozes, 1986, p. 257