DO SERMÃO DE TEÓDOTO DE ANCIRA BISPO, PARA O DIA DO NATAL DO SENHOR
Veio o Senhor de todos sob a forma de servo
Veio o Senhor de todos sob a forma de servo, revestido de pobreza, de modo a não afugentar os que buscava. Em terra incerta, escolhendo um lugar desconhecido para nascer, foi dado à luz por uma Virgem pobre, na pobreza total, para que pelo silêncio cativasse os homens que vinha salvar. Pois se tivesse nascido na glória, rodeado de muitas riquezas, diriam, sem dúvida, os infiéis, que a transformação da terra fora obra do dinheiro. Se tivesse escolhido Roma, a maior cidade, atribuiriam ao poder dos seus cidadãos a mudança do mundo.
Se fosse filho do imperador, atribuiriam ao poder tal benefício. Se fosse filho de um legislador, atribuiriam-no às leis. Mas que fez ele? Escolheu tudo o que é pobre e vil, tudo que há de mais medíocre e obscuro, para sabermos que só a divindade transformou a terra. Por isto, escolheu uma mãe pobre, uma pátria ainda mais pobre, fazendo-se pobre de bens terrenos.
Isto te é mostrado pelo presépio. Como não havia um berço para reclinar o Senhor, foi colocado numa manjedoura, e sua indigência das coisas mais necessárias tornou-se uma ótima profecia. Foi assim posto na manjedoura para anunciar que se fazia alimento até mesmo dos irracionais. Pois o Verbo, Filho de Deus, nascendo pobre e jazendo num presépio, atrai a si os ricos e os pobres, os eloqüentes e os incultos.
Vede, portanto, como a indigência se tornou profecia, e a pobreza mostrou ser acessível a todos aquele que por nós se fez pobre. Ninguém se deteve por medo das esplêndidas riquezas do Cristo, nem a imponência do poder impediu alguém de se aproximar dele; mas apareceu pobre e comum, oferecendo-se a si mesmo para salvar a todos.
No presépio, o Verbo de Deus se manifesta corporalmente, a fim de que tanto os seres racionais como os irracionais possam participar do alimento da salvação. Penso ser isto que o profeta proclamava, quando falava do mistério do presépio: O boi conhece o seu dono, e o jumento, a manjedoura de seu senhor; mas Israel é incapaz de conhecer, o meu povo não pode entender (Is 1,3). Fez-se pobre por nós aquele que é rico, tornando facilmente perceptível a todos a salvação do Verbo de Deus. Também Paulo o indica, ao escrever: Por causa de vós se fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer com a sua pobreza (2Cor 8,9).
Mas quem era esse que enriquecia? E de que enriquecia? Como ele se fez pobre por nós? Quem é, dizei-me, que, sendo rico, se fez pobre por minha pobreza? Pensas que foi o homem que apareceu? Mas este nunca se tornou rico, nascido que foi pobre e de pais pobres. Quem era, pois, e de que enriquecia esse rico que por causa de nós se fez pobre? A resposta é: Deus enriquece a criatura. Foi Deus mesmo quem se fez pobre, fazendo sua a pobreza daquele que se podia ver. Pois ele é rico pela divindade, e por causa de nós se fez pobre.
(Ofício das Leituras - Edit. Schwartz, ACO t. 3,1,157-159)
Abaixo a ditadura gay, a Bolsa-Boiola e o KY do Temporão
Hugo Studart
O ministro da Saúde enlouqueceu de vez. Falta verba para comprar medicamentos para hemofílicos e para bolsas de coletas de sangue. Mas Temporão mandou comprar 15 milhões de lubrificantes KY para distribuir aos gays. Vai torrar cerca de R$ 40 milhões no dia 22 de dezembro. Recentemente, o ministro mandou distribuir pênis de borracha e uma cartilha ensinando as técnicas mais prazeirosas do sexo anal. É a Bolsa-Boiola. Temporão está confundindo a defesa da liberdade de opção sexual com boa administração do dinheiro público. Sucumbiu à “Gaystapo”, as patrulhas do movimento GLS. Chegou a hora de reagirmos contra as loucuras desse ministro.
O Artigo 5 da Constituição garante uma série de direitos fundamentais e inalienáveis, como a liberdade de expressão, de opinião, de credo, de organização política, etc. Não fala da liberdade de opção sexual, mas acredito que devemos respeitá-la por interpretação complacente — ou por simples amor à democracia, aos direitos civis e o respeito ao próximo. Portanto, é dever do Estado proteger as minorias sexuais da discriminação e da violência. Assim como criar políticas próprias de saúde, em especial para o controle da AIDS.
Na quarta-feira 17 de dezembro, o Ministério da Saúde divulgou a última extravagância de seu ministro, José Gomes Temporão — o edital de licitação número 142/2008, para a aquisição de 15 milhões de sachês de gel lubricante à base de água, o conhecidos KY, geralmente usado para facilitar o sexo anal (o edital completo está em link no final deste artigo).
O pregão do KY será às 10 horas da manhã da próxima segunda-feira 22 de dezembro. Tudo muito rápido, para não dar na vista. O Erário deve gastar cerca de R$ 40 milhões, calcula o funcionário do Ministério da Saúde que me forneceu o edital.
Está sendo preparado por um assessor do círculo íntimo de Temporão um outro edital semi-secreto para a compra de 1 bilhão de camisinhas. Os armazéns do ministério estão neste momento abarrotados de preservativos para serem distribuídos à população. Mas Temporão decidiu comprar mais 1 bilhão de camisinhas já lubrificadas. A licitação vai sair do armário na próxima semana. Está programada para o dia 29 de dezembro, no apagar das luzes do ano. Deve consumir outro R$ 1 bilhão dos cofres públicos. Por que tanta pressa? Por que tanto discrição com o dinheiro público?
A fonte das informações acima esclarece que a única prioridade do ministro Temporão é a comunidade gay e o programa DST-Aids. Os hospitais — isso é público — estão derretendo por falta de verba. Falta dinheiro para toda a sorte de medicamentos essenciais. Neste exato instante, por exemplo, faltam nos hospitais públicos bolsa para coleta de sangue e os hemoderivados fatores VIII e IX da coagulação, essenciais para a sobrevivência dos hemofílicos. O dinheiro está sendo desviado para KY, camisinhas e pênis de borracha.
Recentemente, Temporão mandou comprar e distribuir pênis de borracha para usar em educação sexual e cartilhas ensinando as melhores técnicas de penetração anal entre parceiros do mesmo sexo. Ninguém entendeu direito o que a didática do prazer tem a ver com prevenção à Aids. Agora, ao aparecer com o pregão do KY e de outro bilhão de camisinhas, Temporão está instituindo o Bolsa-Boiola.
Legislando em causa própria?
Não acredito, em hipótese alguma, que Temporão esteja legislando em causa própria. Nesse caso, seria prevaricação.
Vale lembrar que Roma teve grandes imperadores bissexuais, como Júlio César e Otávio Augusto, ou mesmo homossexuais convictos, como Adriano. Também teve governantes como Heliogábalo, que usava sua condição de gay para legislar em causa própria. No poder, Heliogábalo perdeu o equilíbrio emocional, passou a se vestir de mulher até chegar ao desplante de entregar todo o poder do império a um de seus favoritos, um escravo! Heliogábalo fez tantas loucuras usando o dinheiro público para proteger seus prazeres que ele e seu amante acabaram trucidados.
Não há nenhum indício de que Temporão esteja prevaricando. Entretanto, como Heliogábalo, ele anda muito mal assessorado. Afinal, desde quando se previne Aids ajudando os gays a praticar uma penetração anal mais prazerosa? E não me venham com a falácia de suposta homofobia. Estamos aqui discutindo tão-somente a boa gestão do dinheiro dos nossos impostos.
Gestão Transviada
Recentemente, Temporão baixou uma norma mandando o SUS fazer cirurgia de mudança de sexo para os travestis. Com direito a dois anos de acompanhamento psicológico para o transexual e para sua família, que está perdendo um filho, apesar de estar ganhando uma filha.
Falta dinheiro para transplantes. Falta dinheiro para cirurgias plásticas corretivas, como para crianças queimadas. Ninguém opta por necessitar de um coração, uma córnea, ou por deformar o corpo com o fogo. Os gays, por sua vez, insistem em dizer que o homossexualismo não seria uma distorção psicológica, mas sim uma opção, uma orientação. Se fosse uma psicopatia, então o Estado teria por dever dar tratamento. Mas é uma opção. Os travestis optaram por ser assim.
Então porque o Estado precisa pagar dois anos de tratamento psicológico para os transexuais e seus pais? Se Temporão fosse um ministro sério, ofereceria acompanhamento psicológico também para os pais daquele garoto de três anos que morreu baleado pela PM do Rio — cujo policial assassino dias atrás foi absolvido pela Justiça. Eles não optaram por perder o filho, morto por um agente do Estado. Eles, sim, precisam de acompanhamento psicológico com dinheiro público.
Manifesto contra a Gaystapo
A explicação mais plausível para essas opções de Temporão é que ele seja um ministro incompetente. Um fraco. Está sucumbindo ao lobby do Movimento GLS. Houve um tempo em que os homossexuais eram agredidos nas ruas. Depois passaram a ser apenas discriminados em seus empregos. Então surgiram movimentos em defesa dos direitos dos gays, lésbicas e assemelhados.
Organizaram as paradas gays, instituíram o tal Dia do Orgulho Gay, mobilizaram simpatizantes, fizeram lobby nos três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, por direitos justos e legítimos, como plano de saúde para companheiros do mesmo sexo. Ao fim, os movimentos gays deram uma enorme contribuição para a lapidação das instituições democráticas e o Estado de Direito.
Os gays mobilizados, enfim, têm sido tão importantes nesta virada de século para a afirmação dos princípios fundamentais da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, quanto o movimento sindical o foi em priscas eras.
Ocorre que de uns tempos para cá, pelo menos no Brasil, o que era um movimento está se transformando numa patrulha ideológica. As campanhas contra a discriminação se transformaram em pressão para que os adolescentes assumam suas porções femininas (ou masculinas, no caso das garotas). Está virando anomalia amar homens e mulheres —agora só se pode amar “pessoas”.
De vítimas, os gays estão se transformando em agressores. Se alguém acredita que ser gay não é o normal, que o normal é ser hetero, é logo taxado de homófobo. Tal qual Hitler com sua Gestapo, estão criando uma Patrulha do Pensamento, a Gaystapo.
Exagero? Homofobia? Ora, ora, lembro-me de um caso exemplar ocorrido meses atrás com o então-presidente da Eletrobrás, Valter Cardeal. Ele é o homem de confiança da ministra Dilma Roussef no setor elétrico. Pois foram pedir R$ 2 milhões ao presidente de Furnas, Luis Paulo Conde, para o patrocínio da Parada Gay do Rio de Janeiro. Conde, titubeante, até pensou em dar o dinheiro. Mas Cardeal vetou.
Ora, desde quando uma estatal elétrica tem a ver com opção sexual? Se está sobrando dinheiro em Furnas, que patrocine escolas e postos de saúde para os desabrigados das barragens e outras vítimas sociais de suas ações predatória. Isso é o certo. Que patrocinem ações de recuperação do meio ambiente — ou até mesmo ONGs ou seminários ambientais. Quem tem que patrocinar parada gay é a Johnson&Johnson, fabricante do KY do do Jontex, a Ambev ou a companhia marítima dona dos transatlânticos Eugenio C e Eugenio G.
Pois Valter Cardeal, num rasgo de sensatez, vetou a concessão da verba. Publiquei esse fato na imprensa. No dia seguinte, Cardeal foi alvo de passeadas, ameaças de processo e até de representação da Comissão de Direitos Humanos da OAB. A Gaystapo agiu rápido, implacável como os nazistas. Cardeal foi obrigado a pedir desculpas, voltou atrás e deu dinheiro para os gays. Foi um erro.
É provável que Temporão não esteja prevaricando, mas apenas sucumbindo à Gaystapo. É um ministro fraquinho, incompetente. Qualquer que seja a opção, é hora dos cidadãos que pagam impostos se manifestarem, de exigirem seriedade na gestão das verbas da Saúde. Instituir o Bolsa-Boiola é uma idéia que nem o imperador Heliogábalo teve o desplante de fazer.
Para ver o edital do pregão n.°142/2008, clique aqui.
“O quarto mandamento nos ordena amar, respeitar e obedecer aos pais e a quem tenha autoridade sobre nós, isto é, aos nossos superiores. Também nos proíbe a faltar à honra para com os pais, os superiores, e nos proíbe desobedecer-lhes”. (1)
Os três primeiros mandamentos da Lei de Deus falam-nos de nossos deveres para com Deus; os outros sete se referem aos deveres para conosco e para com o próximo.
O homem nasceu para viver em sociedade. A primeira sociedade em que este se encontra é a doméstica, ou familiar. Em toda sociedade bem organizada, há uma belíssima hierarquia, ou seja, há quem mande e há quem obedeça; daí as relações de superioridade e sujeição determinadas no quarto mandamento.
O quarto mandamento refere-se sobre a honra devida aos pais (Ex 20, 12), aqueles a quem, depois de Deus, devemos a vida, e os quais com amor, penas e sacrifícios nos criaram e educaram. Em todo momento deve ser lembradas e retribuídas as tribulações e as vitórias de nossos pais (Eclo 7, 29s). Devemos-lhes então, amor, respeito, obediência e assistência.
Amor: A própria natureza nos inclina a amar aos pais, isto é, a querer-lhes com afeto, a desejar-lhes o bem e a nos compadecermos deles. Nosso amor precisa se expressar em obras, devendo ser sobrenatural, isto é, inspirado em motivos sobrenaturais, por amor de Deus. O amor aos pais é sempre devido, ainda mesmo que, por graves causas, eles se tornassem indignos.
Respeito: Os pais são os representantes de Deus. Por isto devemos-lhes o máximo respeito, mostrando-o com obras, palavras e em todas as ocasiões. Se houver nos pais defeitos naturais, convém suportá-los amorosa e pacientemente e se houver defeitos morais, não lhes aprovemos, mas com prudência e delicadeza tentemos ajudá-los. Porque “maldito aquele que despreza o pai e a mãe (Dt 27, 16).”
Obediência: “Em seguida, desceu com eles a Nazaré e lhes era submisso (Lc 2, 51).” Lembremos-nos pois, o exemplo da sagrada obediênciade Nosso Senhor Jesus Cristo para com o Fidelíssimo São José e a Santíssima Virgem Maria.A obediência aos pais é do agrado de Deus (Cl 3, 20), e traz acompanhada uma promessa divina (Ef 6, 2).Confiante obediência devemos aos nossos pais, lembrados de que eles são obras de Deus e representam-No (Eclo 3, 1-18).
Assistência: Cabe-nos a ajuda aos nossos pais e assisti-los nas necessidades materiais e sobretudo nas espirituais, manifestando-lhes humildes conselhos e socorros espirituais, rezando por eles em vida e depois da morte.
Com a graça de Nosso Senhor, reconheçamos o valor e a grandeza de nossos progenitores, uma vez que, na sociedade egocêntrica em que vivemos, querem tirar-lhes os méritos concedidos por Deus.
“Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor; porque isto é justo. O primeiro mandamento acompanhado de uma promessa é: Honra teu pai e tua mãe, para que sejas feliz e tenha longa vida sobre a terra” (Ef 6, 1ss).
Citação
(1) (Pascucci, Francisco Mons., “Doutrina Cristã”, Tradução do Pe. Armando Guerrazzi, Nova Edição,Pág. 107, Editora A.B.C, Rio de Janeiro, 1939.)
Referências Bibliográficas
JOÃO PAULO II, carta às famílias Gratissimam Sane, n.º 17, AAS 86, 1994, p. 906.
CONCÍLIO VATICANO II, const. past. Gaudium et Spes, n.º 48, AAS 58, 1966, p. 1067-1069.
CONCÍLIO VATICANO II, decr. Apostolicam Actuositatem, n.º 11, AAS 58, 1966, p. 848.
Rembrandt - Christ In The Storm On The Sea Of Galilee
Por Prof. Pedro M. da Cruz
O católico encontra-se qual ilha no oceano, no mais tempestuoso dos oceanos, o das paixões humanas. Mesmo libertado, pela graça, da dominação satânica, ele é constantemente assediado sofrendo as consequências do pecado original. Assim pois, se por um lado em nosso espírito somos submissos à lei de Deus, por outro lado, dada nossa natureza decaída, somos escravos da lei do pecado [1]. Sendo deste modo é que podemos compreender, na medida do possível, a desconcertante situação dos filhos de Deus: deleitando-se interiormente na vontade do Senhor, sente em seus membros outra lei que luta contra a lei do espírito e atormenta-o com o horror do pecado. Então quantas quedas! Quantas fraquezas! Quantas decepções nas várias lutas! Há quem julgue que tão somente as lágrimas possam afogar tantos desmandos, erros e incoerências. Mas não! Urge a Voz do amado que flue terminante e eficaz da penumbra mística do confessionário. Ali, um tácito sacerdote, num ato misteriosamente divino, faz-nos puros, torna-nos mais brancos que a neve [2]. Ante um espírito profundamente contrito e um coração arrependido e humilhado, enquanto traça o sublime sinal da cruz, o sacerdote é canal da graça sobrenatural que renova o espírito de firmeza e restitui a alegria da salvação [3]. Pobres dos que se deixam levar pelas más inclinações da natureza e não refreiam os apetites descontrolados! Os que satisfazem a cobiça indômita da alma são a alegria dos demônios.[4] O próprio semblante do homem o condena; seu aspecto exterior faz parecer as disposições interiores; o corpo e a fala são os mexeriqueiros da alma. De fato, mesmo “... as vestes do corpo, o riso dos dentes e o modo de andar de um homem fazem-no revelar-se”.[5]
“Como é grande a fragilidade humana, inclinada sempre ao mal! Hoje confessas os teus pecados, a amanhã cometes outra vez os mesmos que confessastes. Resolves agora acautelar-te, e daqui à uma hora te portas como quem nada propôs. Com muita razão nos devemos humilhar e não nos ter em grande conta, já que tão frágeis somos e tão inconstantes. Assim, facilmente se pode perder pela negligência o que tanto nos custou a adquirir com a divina graça.” [6]
Não consintamos, pois, que reine o pecado em nosso corpo mortal, de modo que venhamos a obedecer aos apetites desconjuntados; se assim o fizermos seremos meros instrumentos do mal;[7] como crianças imaturas ao redor das ondas, agitados inclusive, por qualquer sopro de doutrinas heréticas, ao capricho dos homens e de seus artifícios enganadores.[8] Muito ao contrário, amemos a Deus sobre todas as coisas, cumprindo com toda nossa força sua santa vontade: a nossa santificação![9] Assim fazem os filhos da Igreja, todos os demais buscam os seus próprios interesses e não os de Nosso Senhor Jesus Cristo.[10] Porém não ignoremos uma Verdade fundamental da Fé Católica! É necessária a graça de Deus, seu auxílio sobrenatural, para vencermos a natureza decaída desde Adão. O ser humano está sempre propenso ao mal porque foi corrompido pelo pecado original.[11] O criador formou a natureza humana boa e reta no jardim primordial, agora entretanto, devemos considera-la como enferma e enfraquecida pela perversão inicial. Se observarmos bem, perceberemos que o ser humano quando abandonado à si mesmo, à mercê de seus movimentos e impulsos desnorteados, é arrastado à baixeza e indignidade. A pouca força que lhe restou após o pecado original é como uma centelha oculta debaixo das cinzas, incapaz de fazer tudo o que julga correto, já que não possui a plena luz da verdade, nem a pureza primitiva de seus afetos.[12] Percebe-se aqui a gritante necessidade da graça divina que auxilia a liberdade vulnerada pelo pecado.[13]
“O homem é ajudado por Deus com a graça santificante, mediante a qual conservando embora a própria personalidade, é modificado na sua natureza e na sua capacidade de agir.” [14]
Os Cristãos são justificados no Senhor Jesus, por quanto pelo batismo se tornam verdadeiramente filhos de Deus, partícipes da natureza divina[15], e portanto realmente santos.[16] No entanto, já Santo Agostinho seguindo a tradição apostólica, faz uma distinção entre a remissão dos pecados que é plena no batismo e o renovamento interior que é progressivo e será perfeito somente após a ressurreição, quando o homem se tornar participante da imutabilidade divina.[17]Entende-se deste modo que a graça não dispensa esforço humano por vencer suas limitações. Com efeito, Deus “... condicionou a luz da visão beatífica ao mérito que o homem deve conquistar desenvolvendo nesta vida a sua atividade...” [18] Finalmente, pelo batismo adquirimos de fato a vida divina da graça, a inabitação do Espírito Santo, a misteriosa deificação; recebemos no entanto como que em gérmen todo esse tesouro. Como uma semente que deve crescer e frutificar através da correspondência livre do ser humano à graça de Deus. “O livre arbítrio não é tirado porque vem ajudado, mas é ajudado porque não vem tirado.” [19] Sendo assim, aquele que nos criou sem nosso auxílio, jamais nos dará a salvação eterna sem nosso esforço por fazer sua vontade soberana. De fato, Deus não nos ordena o impossível, mas ao dar-nos uma ordem, admoesta-nos a fazer aquilo que aguentamos e a pedir o que não conseguimos por nós mesmos. Eis a imponderável coexistência da liberdade e da graça, tão magnificamente sintetizada na gloriosa e sempre Virgem Maria Imaculada.
Citações
[1] Romanos 7, 26.
[2] Salmo 50, 9.
[3] DE KEMPIS, Tomás. Imitação de Cristo. Trad. Frei Tomás Borgmeier, O.F.M. 13ª edição, editora Vozes, Petropolis, RJ, 1965, 283 pgs. (Livro II, cap. VI. Pg. 76).
[4] Eclesiástico 18, 30-31.
[5] Eclesiático 19, 26-27.
[6] Imitação de Cristo, Livro I. Capítulo 22, pg. 52. Edição citada.
[7] Romanos 6, 12.
[8] Efésios 4, 14.
[9] Tessalonicenses 4, 3.
[10] Filipenses 2, 21.
[11] Romanos 5,12-14. O pecado original de Adão transmitiu-se a todos os homens com sua sanção; a Virgem Maria entretanto foi preservada, por causa dos méritos de Cristo, do pecado original.
[12] Imitação de Cristo. Livro III, Capítulo 55. Pg.204-205.
[13] Gaudium Et Spes. (Constituição Pastoral do Vaticano II).
[14] DEL GRECO, Pe. Teodoro da Torre. Teologia Moral. Ed. Paulinas. São Paulo, 1959, pg. 35.
[15] II Pedro 1, 4.
[16] Lumen Gentium. Cap. V.
[17] João Paulo II. Carta Apostólica sobre Santo Agostinho de Hipona.
[18] Teologia Moral, pg. 35. Obra citada.
[19] Carta Apostólica sobre Santo Agostinho de Hipona, pg. 32.
Em síntese: O feminismo avançado tende a igualar entre se homem e mulher, esquecendo as diferenças específicas que fazem a riqueza da humanidade. G. Martinetti mostra que não se podem confundir entre si o masculino e o feminino, pois cada qual tem seus predicados peculiares, que devem ser respeitados e ativados para o bem da sociedade civil e da Igreja. Enquanto o homem procura a eficiência fria e, às vezes, cega, a mulher representa a afetividade, que dá graça e significado à racionalidade eficiente do homem.
* * *
Em nossos dias registra- se uma certa competição entre o masculino e o feminino; há quem julgue que a mulher deve abandonar seus afazeres específicos para se igualar em tudo ao homem – o que redunda em nova forma de subserviência do feminino ao masculino. Giovanni Martinetti, já citado no artigo anterior deste fascículo, analisa a questão, mostrando que a grandeza da mulher está precisamente em cultivar o que lhe é peculiar - a afetividade e a capacidade de amar - para temperar e complementar o senso de eficiência fria que muitas vezes move o homem. Sem a presença da mulher, com seus traços femininos peculiares, as façanhas do homem poderiam facilmente redundar em desgraça para o próprio homem. As considerações do autor vão, a seguir, transcritas a partir do livro “Razões para Crer” pp. 383-384, 390-2, 341s, 398-400.
A mulher é a ponte entre o homem e Deus
A feminilidade tem uma missão espiritual especial, que deriva de sua própria natureza. É verdade que hoje muitos sustentam que as diferenças psicológicas entre homem e mulher se devem apenas a fatores culturais e que tenderão a desaparecer quando houver perfeita igualdade social entre os dois sexos. Contudo, é difícil concordar com isso, quando se pensa que a maternidade, despertando na mulher o gosto e o desejo de cuidar do recém-nascido, também lhe dá qualidades que são úteis a semelhante tarefa, qualidades essas que formam a alma feminina.
Por isso devemos dizer que apenas algumas diferenças psicológicas podem ser creditadas ao papel que historicamente o homem dominante atribuiu à mulher, especialmente à sua presumida inferioridade quando se trata de dirigir e organizar, de fazer política, ciência, técnica e arte. Outras, ao contrário, provêm da natureza e de Deus, que, com a perspectiva da maternidade e da educação dos filhos, dirige a mulher para a doçura, a delicadeza, a beleza suave, a afetividade, a ternura e o amor, enquanto orienta o futuro pai para a coragem, a racionalidade, a organização, a luta contra os obstáculos e outras qualidades úteis ao trabalho fora de casa.
A civilização atual atravessa uma fase de rápido declínio, porque está dominada por fatores culturais de origem masculina (tecnologia, racionalismo, busca excessiva de bem-estar econômico, amor como sinônimo de sexo). Entrementes a mulher não-contaminada pela mentalidade dominante, com a sua intuição, sua preferência pelo amor profundo e estável, pela fraternidade e pela fé religiosa, exerce uma tarefa muito elevada, indispensável para ajudar o homem a alcançar os valores superiores.
Poder-se-ia dizer que hoje a mulher autêntica é uma espécie em vias de extinção, mas que, onde ela se conserva, é a ponte entre os homens que a rodeiam, e Deus.
A opinião pública atual, fruto da cultura machista do passado, pressiona psicologicamente a mulher para que ela realize, mais que a igualdade de direitos, um nivelamento espiritual com os homens. Para que busque o sexo mais que o amor, o trabalho e a ciência mais que a geração e a educação dos filhos, o racionalismo mais que a fé, o feminismo e o conflito mais que a influência do coração, a igualdade de pensamento e de obrigações sociais mais que a paridade de dignidade e complementaridade da missão humana, o sacerdócio exterior e institucionalizado mais do que o interior, do qual tem a capacidade exclusiva.
Uma presença cada vez maior da mulher na filosofia e na literatura, no jornalismo e no direito, na sociologia, na política e também na teologia será portanto bastante benéfica para o desenvolvimento equilibrado de nossa cultura, até agora monopólio masculino, se a mulher em vez de se limitar a copiar o homem, exercer o seu carisma próprio.
Porque Deus dotou a mulher de um sacerdócio que lhe é natural, mais interior que o dos padres. Sem mulheres capazes de amar e de fazer-se amar profundamente como esposas, mães, dirigentes ou amigas, e de orar sobretudo com o seu coração e sua vida, o sentido da vida e a fé desaparecem. E com eles desaparecem também as ministros sagrados.
A mulher é verdadeiramente, por vocação, a ponte sagrada com Deus não quando, abandonando a fonte divina, volta-se totalmente para a fonte do homem e procura imitá-lo, e não apenas quando gera o homem, mas sobretudo quando, com o Amor divino, o regenera interiormente[i]. (pp. 383s).
Complemento recíproco homem-mulher
O impulso fundamental da mulher é o dom de si, do mesmo modo que o do homem é a afirmação de si. A primeira quer o amor, o segundo a justiça. O sentimento feminino se aplica à pessoa individual, enquanto o do homem é mais universal (política) e objetivo (ciências).
O intelecto do homem é dominado mais pelo pensamento abstrato e científico, enquanto a mulher busca o ser das coisas com a intuição. O mundo da mulher é compreender, sentir, perdoar, simpatizar. Ela é biologicamente feita para ser mãe e psicologicamente para ser materna. O homem é feito para a organização, a técnica, para vencer as resistências e obstáculos, para proteger e garantir a existência da mulher e da criança.
Até no campo religioso homem e mulher foram feitos um para o outro: enquanto a mulher está mais preparada para atingir a perfeição sobrenatural, que é de ordem passiva e tem como elemento principal a Graça, o homem, ao contrário, está mais equipado para conquistar a perfeição ética natural, que é de ordem ativa e consiste no perfeito domínio da racionalidade sobre todas as ações e sentimentos.
A perfeição da natureza humana reside, portanto, na integração entre força racional e afetividade intuitiva. Sem o homem, a mulher cai no sentimentalismo; sem a mulher, o homem congela na aridez e no tecnicismo soberbo. Kierkegaard observava em seu diário:
“Uma eminente intelectualidade viril liga-se imediatamente a um enorme egoísmo [...] Em certo sentido, a mulher está mais capacitada para o serviço religioso, porque a sua natureza é toda feita de abandono de si [...] Uma eminente intelectualidade viril que se doa em sujeição feminina, eis a verdadeira religiosidade[ii]” (pp.388).
O sacerdócio aplica-se à mulher
Depois de explicar às crianças a obra da criação de Deus no relato bíblico da Criação, um catequista lhes perguntou: ‘Por que vocês acham que Deus criou a mulher depois do homem?’ Então uma menina levantou a mão e respondeu: ‘Eu acho que, depois de fazer o homem, o Senhor pensou: Se a primeira tentativa não deu certo, talvez eu me saia melhor agora. E assim criou a mulher!’
Embora não possamos afirmar que a mulher tenha saído melhor que o homem, sustentamos contudo que ela tem um papel fundamental para que a humanidade possa alcançar o Objetivo Primeiro da Vida.
Hoje há muitas discussões sobre o ministério sacerdotal e alguns dizem que ele também deveria ser exercido pelas mulheres. Talvez fosse melhor, por ora, descobrir e enfatizar o Sacerdócio próprio da mulher que foi ignorado até agora. Para abrir a Porta de Deus são necessárias duas chaves diferentes. A questão não é saber se ambas devem ser seguradas pelas filhas de Eva, mas qual das duas é a mais apropriada para elas: a “petrina” (a chave de S. Pedro) ou a “mariana” (as chaves da maternidade espiritual).
O que dissemos anteriormente, ou seja, que a condição feminina é mais inclinada ao Amor profundo do que a masculina, não é um lugar-comum desprovido de fundamento científico. Os maiores psicólogos, até os mais atuais, sustentam que existem diferenças reais de personalidade entre o homem e a mulher (maior agressividade no primeiro, afetividade mais intensa na segunda) e que elas dependem não apenas de causas culturais, mas também de fatores biológicos que têm reflexos na alma e no espírito. (pp. 390s).
O homem tende mais à eficiência, a mulher ao Amor
Os estudos psicológicos sobre as características femininas fazem referência àquela mulher que Hélène Deutsch e outros psicólogos chamam de tipo feminino e que representa a grande maioria das mulheres, do mesmo modo que o tipo masculino se expressa na maioria dos homens. A psicologia encontra confirmação desses dados fundamentais em dados de ordem fisiológica, dos quais resulta que em cada um dos dois sexos predominam hormônios sexuais próprios (os “estrógenos” na mulher e os “andrógenos” no homem).
Por isso, considera-se comprovado que em cada sexo predominam características psicológicas próprias. C. G. Jung chama de “anima” ao conjunto de características femininas e a elas faz corresponder o “animus” da parte do homem. As qualidades próprias de cada sexo são um dado da natureza, mesmo quando ulteriormente determinadas por fatores culturais.
Dentre as muitas tentativas de sistematizar as diferenças entre os dois sexos, a mais promissora parece ser a de referir as diferenças entre os estereótipos sexuais a duas escalas de valores diferentes a complementares: a da “eficiência” e a da “afetividade”, que costumam ser personificadas, no grupo familiar, pelo pai e pela mãe.
Seguindo de Roger Piret, da Universedade de Liêge, “Psychologie diffétentielle des sexes”. Vamos dar uma rápida olhada nas características dos dois sexos.
A mulher de tipo feminino põe no centro dos próprios pensamentos e da própria vida o amar e ser amada. Enquanto para o homem o amor vem junto com outros interesses e certamente não é o mais importante, para a mulher ele é o elemento essencial da sua existência, especialmente na juventude. A mulher aprecia principalmente o aspecto afetivo e sentimental do amor, enquanto no homem prevalece o desejo físico (pp. 123ss).
A mulher manifesta maior ‘benevolência social’. Enquanto as mulheres estão mais interessadas em relações humanas, os homens são mais atraídos pelo estudo e pelas atividades relativas às causalidades físicas (ciências, técnica, trabalho). As primeiras formam grupos baseados mais na simpatia, enquanto os segundos buscam interesses comuns. As mulheres são muito menos agressivas, e por isso há muito menos mulheres nas prisões por cometerem furtos, estelionatos e homicídios (pp. 149ss) (pp.341s).
“Não é a igualdade de direitos que está em jogo, mas a especificidade de tarefas”.
A discussão sobre o sacerdócio da mulher não envolve culturas machistas ou igualdade de direitos, como a publicidade dominante faria pensar, mas envolve o mistério de Deus e sua ação salvífica por meio da Igreja. Masculino e feminino são portadores de significados e valores complementares também na revelação e são compreendidos à luz do principio petrino e do princípio mariano, como ilustrou João Paulo II ao falar da missão específica da mulher (cf. Mulieris Dignitatem, n. 27). ‘O perfil mariano’, escreve o Papa, ‘é tão ou mais fundamental e marcante para a Igreja quanto o perfil apostólico e petrino, ao qual está profundamente unido [...] A dimensão mariana da Igreja antecede a petrina, embora esteja estreitamente unida a ela e a complemente’.
Citando Von Balthasar, o Papa afirma o primado de Maria e, nela, o da mulher e do feminino sobre o princípio petrino e, portanto sobre o homem e masculino: ‘Maria é rainha dos apóstolos, sem pretender para si os poderes apostólicos. Seus poderes são outros e maiores’ (MD 27, n. 55).
O grande teólogo suíço esclarece em que consistem esses poderes outros e maiores quando aborda o tema da mulher não do ponto de vista sociológico ou cultural, mas propriamente teológico: ‘A Igreja é em primeira instância feminina, antes de receber o seu lado masculino complementar no Ofício eclesiástico'...
Hoje assistimos a um progressivo ingresso da mulher de fé no ministério da Palavra, nas Associações, nos movimentos eclesiais, nos encontros, em escolas de todo tipo e também nas de Teologia. A substância do cristianismo é o amor que vem de Deus, e este é transmitido sobretudo pelo exemplo e pela palavra...
A Igreja é uma empresa de aparelhos para a telecomunicação com Deus. As mulheres estão mais inclinadas a projetá-los e produzi-los. Já os homens se saem melhor na administração, na publicidade e no marketing. É pouco provável que abolir as especializações fosse muito vantajoso para a Igreja” (pp. 398-400).
Autor: D. Estêvão Bettencourt, Revista Pergunte e Responderemos, nº 447, 1999.
[i]Cf. P. Evdpkimov, “ La femme ET salut du monde”, in VV.AA. La Donna nella Chiesa oggi, Leumann (Turim): Elle Di Ci, 1981, pp. 128ss.
[ii] S. Kierkegaard, Diário, Brescia: Morcelliana, 1951, p. 288, Cf. R. Piret, Psicologia kdifferenziale dei sessi, Roma, 1973.