sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Relação entre natureza e história no idealismo alemão



R. G. Santos

     No chamado “idealismo alemão” (pós kantiano...) existem algumas tendências distintas, em certos aspectos, na concepção da relação entre natureza e história, mesmo que tenham um pano de fundo comum, com algum acento na importância da história.

    Em primeiro lugar temos a proposta de Fitche para a intelecção de tal relação. De inspiração kantiana latente, vai conceber a natureza como “não eu”, ou seja, como aquilo que se distingue radicalmente do sujeito e por ele está determinado.

  É o eu o forjador da história, que é concebida aqui como a manifestação concreta do espírito, ou seja, das codificações feitas pelo sujeito. Há aqui uma lacuna aberta no tocante a uma concepção mais positiva da natureza. Esta é menosprezada.

Tentando reequilibrar tal relação entre natureza e história, tem-se o pensamento de Schelling. Este autor tenta solucionar as dicotomias então reinantes na filosofia nesse aspecto. Para ele, a história, enquanto manifestação da natureza inorgânica, ou seja, do espírito, deve coadunar-se com a natureza orgânica. Há aqui uma perspectiva mais positiva de tal relação.

     Já em Hegel as coisas voltam a se dicotomizar nesse aspecto do embate entre natureza e história. A natureza em Hegel praticamente não é tematizada. Nele, ela (natureza) remete-nos a limitação, atrofia espiritual, estaticidade, dentre outros “adjetivos”... Tal menosprezo se dá em função da história enquanto manifestação plena do Espírito, que comporta em si uma tensão dialética que torna sempre mais evidente a própria idéia enquanto única realidade.

    Nesse sentido, a idéia como que absorve a autenticidade da natureza enquanto esta, em Hegel, deriva daquela. Dessa maneira, em Hegel a História é super-elevada em relação à natureza.

    Toda essa consideração desordenada da relação natureza e história, sobretudo em Fitche e Hegel é sintomática, visto que reflete a conseqüência lógica da ênfase que na modernidade se dá ao sujeito.

    Isso dá margem e fundamento para graves incoerências na relação entre homem e meio natural, com o homem (o grande artífice da história) dominando e esgotando as possibilidades oferecidas pela natureza (recursos naturais de toda sorte).

    O mesmo e dá na relação entre homens. Afinal, os “superiores”, a saber, aqueles que dão vazão maior na história ao espírito, à intelecção mais pura da realidade, podem subjugar os outros (vide neocolonialismo e, até mesmo, posteriores totalitarismos).

     Estas são, portanto, as considerações que julgamos mister fazer acerca da relação entre natureza e história nos autores acima citados.


Maria Santíssima, rogai por nós.
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REFERÊNCIAS
REALE,Giovanni, ANTISSERI, Dário. História da Filosofia- vol. 5  São Paulo: Paullus, 2004.