quinta-feira, 8 de abril de 2010
“O que fazer? Estará tudo perdido para mim?”
segunda-feira, 5 de abril de 2010
O Ateísmo - Pe. Negromonte
Embora a existência de Deus seja uma verdade que se prova por tantos argumentos, ainda há pessoas que a negam. Chamam-se ateus, que quer dizer: sem Deus.
Espécies de ateus
Os ateus se dividem em três categorias: 1. Os ateus teóricos negativos, os que ignoram por completo que Deus existe. 2. Os ateus teóricos positivos são os que corromperam a própria inteligência e a deturparam a ponto de negar a existência de Deus ou duvidar dela. 3. Os ateus práticos são os que vivem sem amar nem servir a Deus, portando-se como se Deus não existisse.
Não existem os primeiros. Todos os homens conhecem a existência de Deus. Mesmo os povos mais atrasados e selvagens têm religião e prestam culto a Deus. Foi um orador pagão, Cícero, que afirmou: “Não há nação, por grosseira e selvagem que seja, que não creia na existência dos deuses, embora se engane quanto à natureza deles”.
Os ateus teóricos positivos existem. Há homens que negam a existência de Deus. Isto acontece principalmente aos orgulhosos e aos corrompidos. Certos indivíduos, porque aprendem algumas coisas, ficam se julgando uns verdadeiros deuses, e por isso não querem mais crer que Deus existe. São Paulo explica isto, na Epístola aos romanos (1, 21- 22): “Tendo conhecido a Deus, não glorificaram nem lhe deram graças; mas desvaneceram-se nos seus pensamentos e obscureceu-se o seu coração insensato; porque, julgando-se sábios, tornaram-se loucos”.
Outros negam a existência de Deus, porque têm medo que ele exista. Vivem de tal modo que desejam não ter de cair nas mãos de Deus. O salmista diz que eles erram pelo coração: “disse o insensato no seu coração: não há Deus” (Sl 13,1). O evangelho também explica isto. “Todo aquele que fez o mal, aborrece a luz, e não se chega para a luz, para que não sejam julgadas as suas obras (Jo 3,20). É por isso que eles negam a existência de Deus.
Existem, finalmente, os ateus práticos. E são até muito numerosos, infelizmente. Não praticam nenhuma religião; por isso se chamam também indiferentes. No Brasil, costumam dizer que são católicos, embora não sejam praticantes. Mas na verdade não são católicos. São indiferentes ou ateus práticos.
Os argumentos
Diante dos argumentos que apresentamos para provar que Deus existe, os ateus procuram dar explicações, que, afinal, não explicam nada.
a) A matéria é eterna
Provamos que o mundo não podia existir por si só; que precisava de alguém que o criasse. Eles respondem, dizendo que a matéria é eterna. Mas não provam. Mesmo porque uma coisa eterna não pode deixar de existir, e a matéria deixa.
b) A geração espontânea
A própria ciência ensina que houve uma época em que a vida não existia na terra. Não podia existir, porque a terra era ígnea. Nós dizemos: “Foi Deus que criou a vida”. Eles dizem: “Não, a vida apareceu por si mesma. A matéria foi se transformando, até produzir os animais, e estes foram se aperfeiçoando até se tornarem homens”. Mas é falso. Ninguém dá o que não tem. Se a matéria não tem vida, como poderia produzir vida? Onde estão os animais que foram se aperfeiçoando? Por que nunca se viu o intermediário entre o macaco e o homem? Se isto fosse verdade, ainda hoje deveriam se transformar.
c) É obra do acaso
Nós provamos que a ordem do mundo exige uma inteligência suprema, que é Deus. Eles dizem que não, que isto é obra do acaso. Seria espantoso que o acaso realizasse uma coisa tão perfeita. Juntem as letras de uma frase apenas, misturem e agitem, e depois soltem no chão, para ver se o acaso forma a frase! Quanto mais a ordem admirável do mundo!...
Mas, dizem eles ainda, a ordem do mundo não é tão perfeita. Há algumas coisas que nós ignoramos. Sim, nós ignoramos. Isto é outra coisa. Não é culpa de Deus, é ignorância nossa. Mas a ordem do mundo não depende de nossos conhecimentos; depende do plano que Deus traçou. Um grande inimigo da religião, Voltaire, reconheceu isto:
L’ univers m’embarrasse, et je ne puis songer
Que cette horloge marche, et n’ait point d’horloger (1)
E são assim todos os outros argumentos que ateus apresentam.
Nas horas difíceis
Já dissemos que ateus verdadeiros, que não acreditam em Deus de modo algum, não existem. Só em casos anormais, muito poucos, e por pouco tempo. Os outros são aqueles para quem seria bom que Deus não existisse. Basta abrir os olhos e ver as coisas criadas, para logo sentir a necessidade de um Criador.
Um viajante, perguntou ao árabe que o guiava no deserto: “Tu acreditas em Deus?”. “Acredito, sim”. “Mas nunca o viste”. O árabe mostrou-lhe na areia os rastros de um leão: “Estás vendo o leão?” “Não”, disse o viajante. “Mas sabes que ele existe”, concluiu o árabe. E depois apontando para o céu: “Isto é o rastro de Deus”.
Nas horas difíceis, mesmo os “ateus” crêem em Deus. Volney, sábio do século XVIII, zombava um dia dos que crêem em Deus. Mas vem uma tempestade, e o navio ameaça perecer. Volney se põe de joelhos e começa a rezar, tremendo. Depois, como os católicos zombassem dele, explicou assim: “Só se é ateu, quando as coisas vão bem; mas o ateísmo nada vale, quando se desencadeia a tempestade”.
Para viver a doutrina
Os ateus são cegos, se fizeram tais. Quem foge da luz, termina sem poder vê-la. Os que se entregam ao mal, terminam perdendo a fé em Deus. São João diz que “a condenação está nisto: a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz” (Jo 3, 19). É o pecado que faz os homens ateus.
Quanto melhores nós formos, tanto mais creremos em Deus. Porque então não temos interesse em que ele não exista. Pelo contrário, queremos receber a recompensa.
Quanto mais puros, mais nos aproximamos de Deus. E, mais próximos, compreenderemos melhor.
Assim é que eu devo viver, para não perder a fé prática em Deus. Nunca serei um indiferente, que é o mesmo que ser ateu, e até peor.
Vou incluir na minha vida cristã o costume de rezar pelos ateus e indiferentes. Quando rezar no Padre nosso: “venha a nós o vosso reino”, pensarei neles.
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(1) O mundo me embaraça, e eu não posso compreender que este relógio ande sem ter relojoeiro.
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Livro: A Doutrina Viva - para o curso secundário
Autor: P. A. Negromonte
Editora "Vozes" - Petrópolis - Est. do Rio
Páginas: 20 - 24
NIHIL OBSTAT. Petrópoli, die Juanuarii MCMXXXIX. Fr. Fridericus Vier, O.F.M. Censor.
IMPRIMATUR. Por comissão especial do Exmo. e Revmo. Sr. Bispo de Niterói, D. José Pereira Alves. Petrópolis, 10-03-1939. Frei Heliodoro Müller, O.F.M.