sábado, 18 de outubro de 2008
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
Santa Teresa D´ávila - Do grande bem que há em não se desculpar
CAPÍTULO 15. TRATA DO GRANDE BEM QUE HÁ EM NÃO SE DESCULPAR, AINDA QUE SE VEJAM CONDENAR SEM CULPA.
1. Grande confusão me faz o que vos vou persuadir, porque deveria ter praticado, pelo menos alguma coisa do que vos digo nesta virtude; é assim que eu confesso ter aproveitado muito pouco. Nunca, ao que me parece, me falta motivo para me parecer maior virtude o desculpar-me. Como algumas vezes é lícito e seria mal não o fazer, não tenho discrição - ou, para melhor dizer, humildade - para o fazer quando convém. Porque, verdadeiramente, é de grande humildade ver-se condenar sem culpa e calar, e é perfeita imitação do Senhor que tomou sobre Si todas as culpas. E assim, rogo-vos para terdes nisto grande cuidado, porque traz consigo grandes lucros, e em procurarmos nós mesmas livrar-nos de culpa, não vejo nenhum, a não ser - como digo - nalgum caso em que poderia causar agravo ou escândalo não dizer a verdade. Isto, quem tiver mais discrição do que eu, o entenderá.
6.Que é isto, meu Deus? Que lucro pensamos tirar em contentar as criaturas? Que se nos dá de ser muito culpadas por todas elas, se diante do Senhor estamos sem culpa? Ó minhas irmãs, nunca acabamos de entender esta verdade, e assim nunca acabaremos de chegar à perfeição, se não andamos considerando muito e pensando o que ela é e não é!
7. Nunca penseis que há-de ficar oculto o mal ou o bem que fizerdes, por encerradas que estejais. E pensais, filhas, que ainda que vós não vos desculpeis, há-de faltar quem tome a vossa defesa? Vede como respondeu o Senhor pela Madalena em casa do Fariseu, quando sua irmã a culpava. Não vos levará pelo rigor como fez consigo mesmo, pois, quando teve um ladrão a tomar a Sua defesa, estava já pregado na cruz. Assim, Sua Majestade moverá a quem a tome por vós, e, quando não, é que não será necessário.
Isto o tenho eu visto e é assim, ainda que não quisera que isto se vos recordasse, mas antes folgásseis de ficar culpadas. E, do proveito que vereis em vossa alma, o tempo vos dou por testemunha. Porque se começa a ganhar liberdade e tanto se vos dará que digam mal ou bem de vós, antes parece ser negócio alheio. É como quando estão a falar duas pessoas e, como não é connosco, estamos descuidadas da resposta. Assim aqui, com o costume que tomámos em não dar resposta, dir-se-ia que não falam connosco.
Parecerá isto impossível aos que somos muito sensíveis e pouco mortificados.A princípio, é dificultoso; mas eu sei que se pode alcançar esta liberdade, negação e desprendimento de nós mesmos, com o favor do Senhor.
Fonte: Santa Teresa D´ávila, Caminho de perfeição.
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