Immanuel Kant |
Por Fr. R. G. dos Santos
INTRODUÇÃO
O presente texto tem como objetivo instaurar uma compreensão acerca do modo Kantiano de conceber a possibilidade do conhecimento. Para isso, iremos nos deter no que se convencionou chamar “revolução copernicana na filosofia”. Nela, iremos perceber a valorização da noção de sujeito na aventura epistemológica e chegar a uma explicação plausível da realidade. Nessa perspectiva, vamos estabelecer uma relação entre a proposta kantiana e aquela forjada por Descartes, percebendo, então, como foi a influência do pensador do “cogito”, na reflexão do ilustre prussiano”.
Ao final, teremos instaurado uma compreensão acerca da proposta kantiana do processo de conhecimento que marcará profundamente o pensamento hodierno.
REVOLUÇÃO COPERNICANA E SUA TRANSPOSIÇÃO PARA A FILOSOFIA
Para entendermos o que foi a revolução copernicana na filosofia, faz-se mister remetermo-nos ao que foi, pelo menos em seus aspectos gerais, a “originária” revolução copernicana.
Copérnico, ao analisar os fenômenos da realidade física e propor uma explicação adequada para eles, propôs uma inversão radical na dinâmica da relação entre a terra e o sol. Ao contrário do aceito naquele tempo, ele considerou que o sol era fixo no cosmos, enquanto a terra gira ao seu redor. Tal concepção “desalojou”, por assim, dizer, as teorias de cunho geocêntrico que eram então tidas como certas.
Analogamente, a “revolução copernicana na filosofia” vai produzir um efeito de semelhantes proporções. Como? “Desalojando” uma noção de conhecimento que até então se erguia como factual: o sujeito deve adequar-se ao objeto no processo epistêmico. Tal noção, que toma vigor em Aristóteles e é assumida no medievo, começa a ser abalada já em fins da Idade Média.
No início da Idade Moderna, com Descartes, há sinais mais evidentes de abalo no “equilíbrio” da relação sujeito e objeto. Embora não demonstre em suas reflexões um menosprezo tácito pela possibilidade de o objeto evidenciar-se a, Descartes acentua com alguma ênfase, a importância do sujeito para a percepção da realidade como algo concreto. Afinal, é a partir do “cogito” realizado pelo sujeito que se passa à consideração das demais coisas.
Em Kant, a idéia de sujeito, já levantada por Descartes, embora não aprofundada por ele bem como sua importância, é redimensionada e quiçá, radicalizada. Ele chega à conclusão de que o sujeito é a instância norteadora no processo de conhecimento. Em outros termos, propõe que não é o homem que deve se deixar conduzir pelo que o objeto é em si. Ao contrário, são os objetos que devem subordinar-se às determinações e intuições do sujeito.
Dito de outra forma, os objetos aqui passam a ser regulados pela natureza da prerrogativa intuitiva do homem, que possui categorias à priori do entendimento e da sensibilidade, por exemplo, para dar cabo à aventura cognitiva.
Eis mostrada, grosso modo, o que seja a revolução copernicana na filosofia. A relação entre sujeito e objeto é, como vimos, “re-feita” em seus aspectos essenciais. O acento no sujeito cognoscente é evidente. Mais do que isso, há claro acento na noção de subjetividade, ou dito de outra forma, naquilo que seja o homem de fato, entendido, sobretudo, como autonomia e liberdade.
A esse respeito, surge o questionamento. Até que ponto podemos perceber, nesse processo de “intervenção cognitiva” desenvolvido por Kant, uma influência de Descartes? Vemos que há aqui duas notações de relevância a serem feitas.
Em primeiro lugar, é nítido que Kant parte da idéia cartesiana relativa ao sujeito enquanto instância capaz de conhecer. Afinal, foi o ilustre e controvertido filósofo francês que abriu à filosofia essa perspectiva com certa ênfase. Entrementes, Kant irá desenvolver e radicalizar a noção de sujeito e até de subjetividade.
René Descartes |
Desse modo, se em Descartes a idéia de sujeito enquanto ser pensante parece estar posta em função de comprovar a realidade dos objetos, em Kant ela tem status de determinante dos mesmos, pelo menos em seus delineamentos essenciais.
Aqui, o sujeito que se define como, autoconsciência e liberdade, passa a tematizar as coisas. É, portanto, um acento radical no mesmo (sujeito) que supera em larga medida a proposta cartesiana embora dela seja como que uma conseqüência lógica.
CONCLUSÃO
São estas, portanto, as considerações a serem feitas a respeito da reviravolta kantiana na filosofia, sob a égide da questão do sujeito e de seu papel no processo de conhecimento. Há aí uma ênfase no “eu” que produzirá marcas profundas no pensar filosófico que se seguirá até a contemporaneidade.
OBRAS CONSULTADAS
DESCARTES, René. Meditações Metafísicas. Trad. J. Gunsburg e Bento Jr. São Paulo: Abril Cultural, 1973.
KANT. Immanuel. Crítica da razão pura. Trad. Valério Rodhen e Udo Moosburguer. São Paulo: Abril Cultural, 1980
REALE,Giovanni, ANTISSERI, Dário. História da Filosofia- vol. 4 de Espinosa a Kant. São Paulo: Paullus, 2004.