sexta-feira, 30 de maio de 2008

O que é ser Católico

Em síntese: O que é ser católico? A Igreja pode ensinar algo de errado? Devemos obedecer o que ela diz? Porque tantos católicos não obedecem integralmente à Igreja? O seguinte artigo procura responder estas questões.
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Católicos!?

"Mas quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?" (Lc 18, 8b)


No dia 06 de maio do presente ano (2007), o jornal Folha de São Paulo divulgou uma recente pesquisa feita pelo seu instituto Datafolha, que revela a opinião dos católicos brasileiros a respeito de temas polêmicos da atualidade, além de questões atinentes à fé da Igreja[1]. O resultado foi assombroso, mas não inesperado: a maioria dos católicos do país está em profunda discordância com o que pensa a Igreja, ou seja, a maioria dos católicos não são de fato, católicos.
A pesquisa começa nos mostrando que o percentual de católicos no país continua caindo. Dos anteriores 75% da população, os católicos agora não somam senão 64%, ou seja, uma vertiginosa queda de 11% em 13 anos. O estado do Rio de Janeiro já não tem maioria católica, se comparado o índice de católicos contra o índice de adeptos de outras religiões em conjunto.[2]
Sem dúvida, a queda no número dos praticantes do catolicismo é um fato bastante grave e preocupante para todos nós filhos da Igreja. Mas tal fato é, de certa forma, um “mal menor” se for comparado com a incoerência entre fé e vida demonstrada na pesquisa pelos que se afirmam praticantes. Primeiramente, ser católico é, antes de tudo, professar integralmente tudo o que a Igreja crê como divinamente revelado. Dentre estas verdades, uma há que sustenta todas as outras, a de que a Igreja é a “coluna e sustentáculo da verdade”, sendo impossível errar em tudo o que define em matéria de fé ou de costumes. Daí seguir a Igreja é estar com a verdade.[3]
Dessa forma, não se pode admitir um católico que crê na reencarnação. Das duas uma: ou se é católico, ou se acredita na reencarnação![4]
A pesquisa supracitada tem um importante papel, sobretudo para o corpo eclesiástico da Igreja: definir o perfil predominante dos seus crentes e, na medida do possível, tentar entender as razões que os levaram a se distanciarem da pureza e integridade da Sagrada Doutrina. Examinemos alguns pontos da pesquisa.
O instituto de pesquisa, antes de apresentar os dados, nos diz que “os católicos, de modo geral, têm posição parecida com a da população em geral”. Eis a primeira incoerência, pois, por dever da fé que professam, os católicos deveriam rechaçar o que pensam as pessoas em geral - quando o que estas pensam está em contradição com a fé da Igreja -, como no caso analisado. Mas o que constatamos é justamente o contrário. A maioria dos católicos caiu num tão grande grau de relativismo que já não se distinguem do ordinário das pessoas, em outras palavras, o católico, que por princípio deveria se diferenciar da maioria do povo por se posicionar firmemente baseado nos princípios que regem sua santa fé (como a defesa à vida, à castidade, entre outros), já não cumpre o seu sagrado dever de ser luz do mundo para iluminar as trevas dos erros e dos vícios.[5]
O primeiro dado revelado é que absurdos 94 % dos católicos são favoráveis ao uso da camisinha. Podemos atribuir dois fatores diretos para isso: 1- os católicos não querem viver a castidade e assim, se vêem condicionados a fazer uso de preservativos;
2 – os católicos ainda são em sua maioria enganados pelo nosso governo atual, que de forma covarde mente para a população, dizendo que a camisinha impede a transmissão da AIDS, fato que é cientificamente comprovado ser falso.[6]
Em seguida, a pesquisa nos mostra que 71% dos católicos são favoráveis ao divórcio e 56% são favoráveis ao direito de se casar mais de uma vez no religioso. Instáveis, superficiais e imaturos, os próprios relacionamentos de hoje são a justificativa da estatística apresentada.
Quanto à adoção de crianças por casais homossexuais, 43% dos católicos são a favor, 42 % são favoráveis à legalização da união entre pessoas do mesmo sexo e 36% concordam com a eutanásia. Dados que revelam o relativismo religioso que permeia a vida de muitos filhos da Igreja que, não reconhecendo nela a voz de Cristo, se enveredam numa vivência de fé viciada, onde se escolhe para crer e viver do catolicismo apenas aquilo que convém ou agrada ao gosto subjetivo. Lembro aqui as oportunas palavras do nosso sábio Papa Bento XVI, enquanto Cardeal Ratzinger, na Missa “Pro Eligendo Pontifice” :
“Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar ‘aqui e além por qualquer vento de doutrina’, aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades.
Ao contrário, nós, temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É ele a medida do verdadeiro humanismo. ‘Adulta’ não é uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para discernir entre verdadeiro e falso, entre engano e verdade.”[7]
Diante desses trágicos resultados, somos levados quase que automaticamente a indagar o que pode ter levado tantos católicos a se distanciarem tanto do que prega a Igreja. Ouso tentar indicar duas causas possíveis.
Primeiro, esta crise foi causada pela falta de conhecimento da própria fé que os católicos comumente apresentam. Ora, ninguém ama aquilo que não conhece. Assim, o católico que não procura se aprofundar nas verdades de sua Igreja, na beleza dos sacramentos, na coerência da Moral, na sabedoria das Escrituras, não irá amá-las. Pelo contrário, irá muitas vezes criticar acidamente tudo isso, devido ao fato de não entender o porquê de nada[8]. Esta falta de instrução catequética muitas vezes inicia-se já na habitualmente falha catequese de 1ª Comunhão, cresce num lar sem ou com pouca evangelização, e se alimenta continuamente de homilias superficiais e espiritualmente estéreis, que não alimentam os fiéis com a verdade do Evangelho. Resultado: na falta da verdade, os católicos vão à busca de outros ideais: optam por seguir a vontade própria e se contaminam com doutrinas como o esoterismo, o agnosticismo, o protestantismo, o socialismo, o hedonismo, o utilitarismo, o niilismo etc.
Segundo, os católicos, em sua maioria não fizeram ainda uma profunda experiência pessoal com Jesus. Chamo experiência pessoal uma dedicação prática de seguir os Mandamentos de Deus, baseada numa profunda amizade com Cristo.[9] Estas duas causas, separadas e intercaladas entre si, constituem as principais razões para a dissonância entre a voz da Igreja e a vida do povo. È claro que há ainda alguns que, mesmo conhecendo a palavra da Igreja e/ou tendo feito uma experiência pessoal com Deus, acabam se decidindo por trilhar o caminho da “porta larga”, renunciando seguir o caminho de Cristo por medo, apego aos prazeres terrenos ou falta de boa vontade. Mas ao mesmo tempo muitos dos que estão na superfície da fé nela mergulhariam com afinco se a conhecessem e a experimentassem.
Sobretudo falta, concomitante com os aspectos já mencionados, exemplos vivos e atuais de santidade no meio da nossa sociedade. A santidade é sem dúvida, a melhor forma de fazer as pessoas seguir a Cristo. É o mais eficaz meio de evangelização. Cito aqui dois trechos de uma conferência proferida pelo Cardeal José Saraiva Martins:
“Os Santos observa o Papa (João Paulo II) "preservam a Igreja da mediocridade". A tentação e os convites à mediocridade nunca faltaram, nem mesmo nos nossos dias. Antes, num contexto de crescente indiferença religiosa, de uma certa desorientação de valores, mesmo em campo ético, e de invasão de tantos ídolos, os crentes podem ser levados, na sua vida de fé, a fáceis compromissos, a opções nem sempre em perfeita sintonia com o Evangelho; a ajoelhar-se, de certo modo, perante os novos ídolos, e a viver assim uma vida cristã medíocre. Contra um tal perigo da mediocridade, sempre ameaçador, o testemunho dos Santos é, sem dúvida, o antídoto mais eficaz.”
“Particularmente significativas são, a propósito, as palavras do Beato Cardeal Schuster, Arcebispo de Milão: "As pessoas, (...) diante da santidade, ainda crêem, ainda se ajoelham, ainda rezam. Se passa um Santo, seja vivo ou morto, todos lhe correm atrás. Foi assim com Don Orione, e assim com Dom Calábria: o demónio não teme os nossos campos de desporto, os nossos cinemas; teme a nossa santidade. Abençoo-vos. Sede santos" (Citado por Bernardo Citterio, em: I miei sette Cardinali, Centro Ambrosiano, 2002, pág. 61).” [10]
Façamos cada um de nós a parte que nos cabe para que todos os católicos possam cada vez mais viver coerentemente com o que a Igreja nos apresenta. E confiemos à infinita misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo todas as almas dos pecadores do mundo, as quais o Senhor não hesitou em derramar seu Preciosíssimo Sangue para sua salvação eterna.


Paulo Oliveira

Referências bibliográficas:


[1] Http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=444
[2] Http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=447
[3] Cito aqui um trecho do belo Catecismo de São Pio X:
“174) Pode enganar-Se a Igreja nas coisas que nos propõe para crermos?
Não. Nas coisas que nos propõe para crer, a Igreja não pode enganar-Se, porque,
segundo a promessa de Jesus Cristo, é sempre assistida pelo Espírito Santo.
175) A Igreja Católica é então infalível?
Sim, a Igreja Católica é infalível. Por isso aqueles que rejeitam as suas definições,
perdem a fé, e fazem-se hereges.” Cf. também Catecismo da Igreja Católica, parágs. 553 e 881 e os textos do Concílio Vaticano I, que promulgou o dogma da infalibilidade papal (www.montfort.org.br/index.php?secao=documentos&subsecao=concilios&artigo=vaticano1&lang=bra).
[4] A propósito, a pesquisa usada nos diz que 44% dos católicos acreditam totalmente na reencarnação (http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=446); cf. também Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 1013.
[5] Nesse sentido, cf. Mt 5,14-16; Catecismo da Igreja Católica, parágrafs. 904 e 905.
[6] Cf. texto “As provas científicas das falhas da camisinha” (http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=FAMILIA&id=fam0002).
[7]Http://www.vatican.va/gpII/documents/homily-pro-eligendo-pontifice_20050418_po.html
[8] Lembremos aqui o recente fenômeno do “Código Da Vinci”, que cresceu graças ao desconhecimento das pessoas de fundamentais verdades históricas.
[9] Lembro aqui um recente trecho de um pronunciamento do Papa Bento XVI aos bispos do Brasil: “É necessário, portanto, encaminhar a atividade apostólica como uma verdadeira missão dentro do rebanho que constitui a Igreja Católica no Brasil, promovendo uma evangelização metódica e capilar em vista de uma adesão pessoal e comunitária a Cristo” (www.zenit.org/portuguese/visualizza.phtml?sid=107461)
[10]www.vatican.va/roman_curia/congregations/csaints/documents/rc_con_csaints_doc_20040301_martins-santita_po.html

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Testemunho de conversão de um grande assassino

Da experiência do perdão de Deus ao martírio


A história da conversão e da morte de “O Sapo” mostra a força transformadora da experiência do amor e do perdão de Deus.

Na lápide da sua sepultura, no cemitério da prisão das Ilhas Marias, estão gravadas estas palavras:

José Rodríguez, “O Sapo”. Famoso delinqüente, morreu cristãmente, convertido pelo Pe. Trampitas, seu grande amigo, quem pediu que o sepultassem ao seu lado.

O Sapo era um assassino confesso. Ninguém sabia quantas mortes carregava nas costas. Segundo as várias versões, o número oscilava entre 120 e 220. Em todas as prisões por onde passava era o chefão das gangues mais violentas. Por isso, era ao mesmo tempo odiado e temido.

Quando se encontrava na prisão das Ilhas Marias, morreu seu amigo, “o Chassi”, depois de ter confessado com o Pe. Trampitas e receber os sacramentos. O Pe. Trampitas foi um jesuíta que trabalhou como capelão durante 25 anos e se tornou um personagem famoso na história do presídio. Um dia, quando ele estava rezando junto ao túmulo do Chassi, veio também o Sapo para visitar a sepultura do amigo. O Padre conversou com ele dizendo-lhe que seu amigo estava com Deus, porque todos os seus pecados lhe tinham sido perdoados. Depois de um tempo de conversa, o Padre disse-lhe que Deus lhe oferecia seu perdão e seu amor também a ele. O Sapo, porém, respondeu-lhe não acreditar que Deus pudesse perdoar tantas maldades, tantos crimes e tantas mortes quantas ele tinha cometido: “Como Deus pode perdoar-me tudo o que fiz, sem pedir-me nada em troca?”. Trampinas explicou-lhe que o perdão de Deus é sempre maior que os nossos pecados. A única condição posta por Deus para perdoar-nos é a de abrir-se ao seu amor, arrepender-se dos pecados cometidos e prometer-lhe “nunca mais voltar a matar”. Depois de uma longa conversa, o Sapo, que dizia nunca ter-se ajoelhado diante de ninguém, confessou, de joelhos, seu pecados junto ao túmulo do amigo e prometeu a Deus nunca mais matar.

O Pe. Trampinas, para ajudar os penitentes a levarem uma vida sacramental, costumava pôr como penitência uma coroa de 6, 8 ou 12 comunhões, sendo cada comunhão uma estrela da coroa. Ao Sapo pôs-lhe como penitência uma coroa de 6 estrelas. Mas ele reclamou dizendo que era um grande pecador e pediu uma coroa com 12 estrelas. Durante os 11 dias seguintes foi à missa e comungou, sendo por isso objeto dos comentários e das gozações por parte dos outros presos. No dia em que deveria completar a coroa com a duodécima estrela, aconteceu o inesperado.

Os presos das outras gangues odiavam o Sapo com ódio mortal. Os que saíam diariamente para o trabalho com ele armaram-lhe uma cilada para matá-lo. Um deles ficou encarregado de dizer-lhe que devia ir a tal lugar determinado para consertar um motor. E o Sapo foi. A única explicação que eu encontro para o fato de um assassino tão experimentado ter caído nessa armadilha, é que depois de ter experimentado a misericórdia de Deus, tornara-se um homem novo, manso, misericordioso e puro de coração. Quando chegou ao lugar marcado, viu-se rodeado por um bando de homens da gangue adversária. Observando o código de honra não escrito, disseram-lhe: “Sapo, defende-te, porque chegou a tua hora”. Eles sabiam que alguns morreriam, mas ele morreria também. O Sapo, no entanto, não quis defender-se e respondeu-lhes: “Prometi a Deus que nunca mais voltaria matar”. Interpretando a resposta como um ardil para ganhar tempo, os seus inimigos voltaram a repetir que se defendesse porque ia morrer. Mas o Sapo continuou repetindo a mesma frase: “Prometi a Deus que nunca mais voltaria matar”. E repetindo-a, sem um único gesto de violência nem de defesa de sua parte, foi assassinado a golpes de picareta, enxada e pedras. Depois de ter feito a experiência de ser amado e perdoado por Deus, diante da opção: matar de novo ou ser morto, escolheu ser assassinado. Na verdade, não foi somente assassinado; foi martirizado. Foi um mártir da fé no amor e na misericórdia de Deus.

A amizade que uniu tão profundamente o Pe. Trampitas e o Sapo, durou só onze dias: desde o dia da confissão até o dia da morte. Mas foi uma amizade que venceu a morte. A estrela da última comunhão, que faltava na coroa do Sapo, foi completada na mesa do banquete do Reino. O Pe. Trampitas morreu em 1990 e, conforme tinha pedido, foi enterrado entre seus queridos amigos os presos...ao lado de “o Sapo”.

Fonte: livro "A parábola do Pai Misericordioso", Pe. Álvaro Barreiro, SJ.