quinta-feira, 30 de maio de 2013

A santa Missa é um meio seguro para obter as misericórdias divinas


Ipse (Iesus) est propitiatio pro peccatis nostris – “Ele (Jesus) é a propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 2,2).


Summario. A santa missa é por excelência a oração propiciatória e reparadora; é ela que continuamente atrai sobre nós as divinas misericórdias e impede a divina justiça de tomas as vinganças merecidas pelos nossos pecados. Eis porque, depois da vinda de Jesus Cristo, não se veem mais aqueles castigos tão frequentes e tão formidáveis que se observam na antiga Lei. Tomai, pois, a resolução de assistir cada dia e com a devida atenção ao santo sacrifício, mesmo à custa de algum incômodo ou de algum interesse temporal.

I. Considera que a santa missa é um sacrifício propiciatório, isto é, que torna Deus propício para nos perdoar não só as penas temporais, que ficam a pagar depois do perdão da culpa, mas também a própria culpa. Quanto à pena, a missa perdoa-a diretamente, pelo menos em parte, não só aos vivos, mas também às almas dos defuntos. Pelo que São Jerônimo afirma: “Cada missa celebrada com devoção faz sair diversas almas do purgatório.”

Quanto às culpas, perdoa-as, posto que só indiretamente, e perdoa-as todas, por mais graves que sejam, conforme a declaração do Concílio de Trento: Peccata etiam ingentia dimitti. O que quer dizer que, por meio do sacrifício do altar, concede a graça, pela qual o homem é levado a arrepender-se e a purificar-se no sacramento da penitência. – Santa Mechtilodis viu um dia que a Santíssima Virgem amolecia um diamante mergulhando-o no sangue do Coração de Jesus. Com tal visão, o Senhor lhe quis dar a entender que não há coração tão duro, que não fique amolecido só com ser tingido no sangue do Cordeiro divino, que se imola sobre o altar.

Pobres de nós, se não houvesse este grande sacrifício, que é por excelência a oração expiatória e reparadora; que continuamente atrai sobre nós as divinas misericórdias e impede a justiça divina de exercer a vingança merecida pelas nossas culpas! – Eis porque, depois da cinda de Jesus Cristo, não se veem mais os castigos tão frequentes e formidáveis que se observam na antiga Lei. Pela mesma razão tem o demônio procurado tantas vezes, e procura ainda sempre, por meio dos hereges, fazer desaparecer do mundo a missa. Faz dos hereges os precursores do anticristo, que, conforme a profecia de Daniel, antes de mais nada, abolirá o santo sacrifício do altar.¹


II. Oh, quem me dera poder assistir a mais uma missa! É o que exclamava uma pobre pecadora no leito da morte, e perguntada pelo porque, respondeu: Quer-me pareces que então se havia de acalmar todas as minhas inquietações. Vendo o sacerdote que eleva aio céu o cálice com o sangue preciosíssimo, diria eu ao Pai Eterno: Senhor, é grande a minha dívida, mas eis aí a minha satisfação. O sangue inocente do Redentor, oh, quanto melhor implora para mim a vossa misericórdia, do que o sangue de Abel bradava por vingança contra Caim!

Meu irmão, há de chegar talvez o dia em que tu também, prestes a morrer, ou (pior ainda) atormentado nas chamas devoradoras do purgatório, exclamarás: Oh, quem me dera assistir a mais uma missa! Mas então não haverá mais tempo para o fazer. Aproveita, pois, o tempo que Deus te dá agora, e toma a resolução de assistir cada dia ao divino sacrifício, e de assistir com devoção, oferecendo-o pelos fins para que foi instituído.


“Senhor, Deus todo-poderoso, eis-me aqui, prostrado diante de Vós, para aplacar e honrar a vossa Majestade divina em nome de todas as criaturas. Mas como poderei fazê-lo sendo tão miserável e pecador como sou! Mas posso e quero fazê-lo, sabendo que Vos gloriais de ser chamado Pai das misericórdias, e por nosso amor deste vosso Filho unigênito que se sacrificou por nós sobre a cruz, e sobre os nossos altares renova continuamente por nós o sacrifício de si mesmo. Eis porque eu, posto que pecador, mas pecador arrependido, pobre mas rico em Jesus Cristo, me apresento diante de Vós, e com o fervor de todos os anjos e santos, com os afetos do Coração imaculado de Maria, Vos ofereço em nome de todas as criaturas as missas que são celebradas hoje, com todas as que já foram celebradas e serão celebradas até ao fim do mundo.

Tenciono renovar a presente oferta todos os instantes deste dia e de toda a minha vida, para tributar à vossa infinita Majestade uma homenagem e uma glória dignas de Vós, para aplacar a vossa indignação e satisfazer à vossa justiça pelos nossos muitos pecados, para Vos render graças proporcionadas aos vossos benefícios e implorar a vossa misericórdia para mim, para todos os pecadores, para todos os fiéis vivos e defuntos, para a Igreja universal, e principalmente para seu chefe visível, o Sumo Pontífice romano, e finalmente também para os pobres cismáticos, hereges e infiéis, afim de que eles também se convertam e se salvem.”² † Ó doce Coração de Maria, sede a minha salvação.

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[1] Daniel 12, 11.

[2] Indulgência de três anos.

FONTE: Santo Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Segundo: Desde o Domingo da Páscoa até a undécima semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 83-85.