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quarta-feira, 11 de julho de 2012

Dom Bux: "A Igreja não é um Concílio permanente"

Por João S. de O. Jr.

Não entraremos no mérito das conversações entre Santa Sé e FSSPX, até porque é um tema complexo e precisa de análises minuciosas das lideranças envolvidas que estão precisando de muita luz do Espírito Santo para discernir e decidir o que for melhor para o bem da Tradição da Santa Igreja. E de fato, devemos rezar muito pela situação atual da Igreja. Recomendo a quem quiser se interar ao assunto, acompanhar o fórum do site Apologética Católica, aqui. Contudo, destacamos uma recente entrevista que traz afirmações interessantes da polêmica Concílio Vaticano II:

Fonte: http://ads.tt/sAfXzA
Tradução de Tânia Souza Machado

Dom Nicola Bux

 "Em uma entrevista exclusiva a “R.Catolique”, D. Nicola Bux, consultor de numerosas congregações romanas, homem de confiança do Santo Padre, nos confirma que a “análise crítica” do CVII é legítima e que o papa deseja de todo seu coração a reconciliação com Écone (Sede da Fraternidade Sacerdotal São Pio X).
1. D.Nicola Bux, o sr. publicou recentemente, em companhia do cardeal Brandmuller e de Mons.Marchetto um livro apresentando as chaves de Bento XVI para interpretar o Concilio. É um ponto sensível no processo de reconhecimento da Frat. S. Pio X.

NBux: Uma correta hermenêutica é de resto a primeira chave dada por Bento XVI em seu famoso discurso na cúria romana sobre a interpretação e a ecumenicidade do CVII. O renovamento ou a reforma não pode se operar na Igreja a não ser na continuidade à luz do binômio indissociável “nova et vetera.” Ora, os documentos do Concilio saíram do contexto da Tradição da Igreja e frequentemente usados como expressão de uma atualização que, em lugar de associar “nova et vetera”, mitificou o Concilio, retendo apenas a novidade. Assim o Concilio foi transformado numa espécie de ideologia, um “super dogma”, como disse o então cardeal Ratzinger aos bispos chilenos em 13.7.1988. Há a necessidade de uma apresentação histórica verídica do Concilio como instrumento de atualização no sentido de “renovação na tradição.” Um aspecto geralmente abandonado na compreensão do Concílio é aquele do consenso, da maneira pela qual ele se forma. O caminhamento que ele leva passa através do diálogo entre opiniões diversas desembocando sobre a elaboração de uma síntese, de menos no que concerne à doutrina não definida e ainda em desenvolvimento – as novidades não são necessariamente definitivas e irreformáveis, mas são orientações que o magistério pontifical ordinário interpreta, precisa e desenvolve ulteriormente. Deve-se ter em conta igualmente o fato de que os documentos conciliares não são todos, entre eles, mas também neles, da mesma natureza. A este respeito eu não vejo porque o CVII escaparia a analise crítica à qual foram submetidos os precedentes Concílios.


2. Na nota para a congregação para a doutrina da fé explicando a nomeação surpresa de Mons. Di Noia para a vice-presidencia da Comissão Ecclesia Dei, ele afirmou que “a nomeação de um prelado desta linha (arcebispo) a um tal posto” pelo papa representava um “sinal da solicitude pastoral para com os fiéis tradicionalistas em comunhão com a sé apostólica, mas também de seu vivo desejo de ver reconciliadas as comunidades não em comunhão.”Mons.Di Noia é o homem escolhido pelo papa para chegar ao reconhecimento da FSSPX?

NBux: Não há nenhuma dúvida a ter sobre as intenções do S.Padre que tem tanto no coração a reconciliação e a unidade dos cristãos. Todo católico, como sugeri precedentemente, deve amar a tradição e é por este fato tradicional. Por outra parte, na Igreja, qualquer que recebe um encargo não é para promover suas idéias, mas para servir à verdade, em plena fidelidade ao ensinamento do sumo pontífice. Para este efeito, temos necessidade de uma segunda chave, para interpretar não somente o Concilio, mas também toda a vida da Igreja: aquela da Fé. Não é por acaso se Bento XVI escolheu de promulgar um ano da Fé. Na realidade, para que deve servir o debate sobre o CVII se não for para redescobrir a natureza do cristianismo, necessário à salvação do homem? Pela inteligência da fé, os cristãos devem concorrer para a inteligência da realidade. Eis o conteúdo essencial da fé da qual o papa compreendeu toda a urgência que ele tem de reafirmá-la face às concepções que reduzem a fé a um discurso, um sentimento ou uma ética. Nós devemos rezar para que todos na Igreja sejam dóceis ao Espírito Santo, espírito de unidade.


3. Mons.Fellay, superior geral da FSSPX, é a este título depositário do carisma específico da herança de M.Lefebvre, se expôs muito para permitir as condições de uma reconciliação. O sr. pode confirmar que o que deseja o Santo Padre não é negar a singularidade da FSSPX, mas de colocá-la ao serviço da Igreja?

NBux: Na carta aos bispos escrita por Bento XVI por ocasião da revogação das excomunhões dos bispos lefebvristas, o papa demonstrou que ele conhecia bem e que amava esta larga franja de fiéis que são também seus filhos. Os passos preenchidos pelo papa são inspirados pela “paciência do amor”, que segundo S.Paulo, deve caracterizar todo discípulo de Jesus. Mons.Fellay, ele também, demonstrou estar animado por esta mesma virtude e não duvido que a maior parte da Fraternidade, bispos e padres, saberá imitá-lo, preservando-se do orgulho inspirado pelo maligno. Sigamos Jesus que é doce e humilde de coração. Todo bispo, todo padre, todo cristão, deve ter no coração a unidade, porque é o bem mais precioso, segundo S. João Crisóstomo. Foi para ao preço do muito precioso sangue de Nosso Senhor, que justo antes de sua Paixão, precisamente rezou: “Que eles sejam um.”

Enfim, quando alguns caíram no erro, a Igreja é indefectível, porque Jesus a fundou sobre a rocha da fé que representa Pedro. Sua unidade é “inamissibilis” não poderá jamais se desfazer porque ela é como a túnica do Cristo, exposta solenemente este ano em Treves: sem costura, de um só pedaço. As divisões entre cristãos não podem destruir a unidade da Igreja.
O primado do papa é superior ao Concílio. E a Igreja não é um concílio permanente. A Pedro e a seus sucessores o Senhor deu o poder das chaves: de ligar e desligar sobre a terra, o que ele liga e desliga simultaneamente no céu. Por felicidade, além da Escritura, os católicos têm na pessoa do papa um anticorpo visível contra o conformismo: como o escreve Dante na Divina Comédia, nós temos “o pastor da Igreja para nos guiar; isto é suficiente para a nossa salvação.”

Que a Santa Virgem, - como lhe pede atualmente o Santo Padre – faça com que a Fraternidade S.Pio X acolha com confiança a reconciliação que lhes é oferecida pelo papa e possa conhecer assim um novo vôo para o bem de toda a Igreja católica. "


Grifos nossos.
Virgem Santíssima, ora pro nobis.


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Crise na Igreja: Dupla Gênese

                     Lutero inspirado pelo Demônio


Prof. Pedro M. da Cruz

Como entender a possibilidade de uma crise tão delicada no interior da Igreja fundada pelo próprio Cristo, Nosso Senhor? Recordemos, ainda outra vez, o caso arquetípico por nós já tantas vezes apresentado: “a traição de Judas Iscariotes.” Não era ele membro do seleto grupo apostólico?

De fato, ele fora escolhido diretamente pelo Salvador. Este apóstolo comia com o Cristo, andava ao seu lado, escutava de seus lábios divinos os mistérios do Reino dos céus... Entretanto, mesmo provando tão altas honrarias, traiu vergonhosamente ao Filho de Deus.

Ora, se algo tão desastroso se deu inclusive com um dos doze apóstolos, selecionados pessoalmente pelo Redentor, não é de se admirar que o mesmo continue a ocorrer atualmente entre alguns membros da hierarquia eclesiástica. Ao encontrarmos nas Sagradas Escrituras a lastimosa realidade da traição mesmo entre os mais íntimos do Cristo, sentimo-nos precavidos sobre bispos e padres que possam revoltar-se contra o Salvador. À imagem de Judas, trocam a fonte de toda felicidade por qualquer bem aparente.

Sim! A possibilidade de traidores dentro da Igreja de Deus, como já temos observado, sempre esteve presente na mente dos primeiros cristãos. São Paulo afirmara-o aos anciãos de Éfeso:

“Sei que depois de minha partida se introduzirão entre vós lobos cruéis que não pouparão o rebanho. Mesmo dentre vós surgirão homens que hão de proferir doutrinas perversas com o intento de arrebatarem após si os discípulos. Vigiai!”

E noutra parte também escrevera: “Se o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz, é bem normal que seus agentes se disfarcem em ministros da justiça.”

Portanto, não é de espantar o fato de encontrarmos falsários e operários desonestos, disfarçados em apóstolos de Nosso Senhor. Na verdade, os mesmos permanecerão juntos aos bons até o fim dos tempos; e, essa é uma assertiva do próprio Evangelho: “Assim como se recolhe o joio para jogá-lo ao fogo, também será no fim do mundo. O filho do homem enviará seus anjos, que retirarão de seu Reino todos os escândalos e todos os que fazem o mal e os lançarão na fornalha ardente...” Vejam bem, caros leitores: isso se dará tão somente “... no fim do mundo...”. Sendo assim, que os filhos da luz não se iludam numa esperança infundada.

- A Dupla Gênese

Mas, o que levaria essas pessoas ao péssimo caminho do erro? Tendo podido alcançar os cumes da ortodoxia, por que chegaram à negação de verdades tão fundamentais da fé cristã? Dom Antônio de Castro Mayer, em interessante Carta Pastoral sobre os problemas do apostolado moderno, esclarece-nos sobre assunto tão pertinente.

Segundo o autor, a gênese destes erros está, por um lado, na própria fraqueza da natureza humana decaída. “A sensualidade e o orgulho suscitam e sempre suscitarão até o fim dos séculos a revolta de certos filhos da Igreja contra a doutrina e o espírito de N. S. Jesus Cristo.”

Por outro lado, no entanto, junto a essa “gênese natural” dos erros e das crises de que nos ocupamos, a explicação para tão delicado sistema de coisas, encontra-se, também, na incansável ação do demônio contra os planos de Deus. A ele foi dado, até o fim dos tempos, o poder de tentar os homens em todas as virtudes, inclusive na virtude da fé.

Assim, como nos explica o próprio D. Mayer, é obvio que até a consumação dos séculos a Igreja estará exposta a surtos internos do espírito de heresia, e não há progresso que, por assim dizer, a imunize de modo definitivo contra esse mal. “Quanto se empenha o demônio em produzir tais crises, é supérfluo mostrá-lo. Ora, o aliado que ele consegue implantar dentro das hostes fiéis é seu mais precioso instrumento de combate.”

Porém, não desanimemos, pois o Deus de toda graça conhece as limitações humanas, e, jamais nos há de abandonar nas agruras desta vida. No mais, já escrevera o autor sagrado: “Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados para além das vossas capacidades, mas com a tentação Ele vos dará os meios de suportá-las e delas sairdes.” Pobres dos que não se agarrarem aos pés de Nossa Senhora, Rainha do céu e da terra.

Virgem Aparecida, Rogai por nós!





sábado, 2 de junho de 2012

Um tempo para calar, outro para falar...




Primeira coluna na vertical de cima para baixo: Pe. Pinto, Pe. Fabio de Melo e Dom Casaldaliga
Segunda coluna, mesmo esquema: S.Padre Pio, Pe. Paulo Ricardo e S. Antonio Maria Claret.


Prof. Pedro M. da Cruz

Como poderíamos ficar indiferentes a tudo isso?Ora, sendo, de fato, membros do Corpo Místico de Cristo, é natural que sintamos com a Igreja suas dores e alegrias.

Por amor de Sião, reza o texto sagrado, jamais poderemos esmorecer. “Sobre tuas muralhas Jerusalém, coloquei vigias; nem de dia nem de noite devem calar-se.” (Isaias 62,6) Não é verdade que a totalidade dos verdadeiros cristãos, de um modo ou de outro, precisam reconhecer-se nessas palavras da Escritura?

Afirma-nos a primeira carta aos coríntios, em seu capítulo doze, a  sublime comunhão espiritual existente entre os Filhos de Deus. Com efeito, se um único membro da Igreja sofre, todos os outros sofrem com ele de algum modo, mesmo que misterioso; e igualmente, se um único membro é tratado com carinho, todos com ele se congratulam. Esta é, verdadeiramente, uma descrição estupenda da ligação sobrenatural que há entre todos os batizados no Corpo Místico.

Portanto, nada há de estranho em que simples leigos venham a manifestar seu entusiasmo, ou mesmo, suas apreensões, por questões referentes à Igreja que ama. O próprio Código de Direito Canônico, pari passu a vários documentos da Igreja,  dão ao fiel essa possibilidade. É firmado nesta certeza, e alimentando sincero desejo de promoção do cristianismo, que apresentamos este pequeno trabalho em favor da Igreja.

Possuímos firme convicção de que a última palavra em questões de fé e moral cabe, tão somente, ao sagrado magistério do Santo Padre, o Papa, ou dos bispos em comunhão com ele. Nós aqui, simplesmente, intentamos apresentar, com humildade e amorosa submissão, aquilo que temos visto e ouvido; assim como, tudo o que, dentro e fora dos muros da Igreja, nos parece estranho e incompatível com a genuína instituição formada por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Não é verdade que, infelizmente, mesmo entre os legítimos sucessores dos apóstolos, encontramos exemplos de infidelidade à doutrina revelada pelo Divino Mestre? Quantos foram os bispos que, com orgulho, ousaram colocar-se acima da Tradição vindo a ensinar terríveis heresias? Podemos citar, e com imensa tristeza n’alma, um grande número desses exemplos. Vejamos alguns:

- Os bispos Acácio, de Cesaréia (†366), e Eunômio, de Cícico (†395), defensores do Arianismo, heresia fundada por Ário (256-336) bispo de Alexandria, que negava a divindade de Cristo.

- O patriarca de Constantinopla, Nestório (380-45), criador da heresia que leva seu nome.

- Fócio (820-895), patriarca de Constantinopla, excomungado pelo Papa João VIII, em 881, que deixou aberto o Cisma do Oriente.

- O bispo de Ávila, Prisciliano, fundador da heresia prisciliana, séc. IV.

- Donato, bispo de Casa Nigra, África, fundador do donatismo.

- 18 bispos italianos que aderiram ao pelagianismo, heresia que deve seu nome ao sacerdote Pelágio, do século V. Um bispo, Juliano, era o principal discípulo desse sacerdote.

- Apolinário, bispo de Laodicéia, fundador do apolinarismo.

- Os bispos egípcios, que recusando o dogma definido pela Igreja, consideraram o monofisismo (ou eutiquianismo), heresia difundida pelo Monge Êutiques, de Constantinopla (séc.V), a doutrina verdadeira, e partiram, deste modo, para o cisma declarado.

- Sérgio, patriarca de Constantinopla, inventor  do monotelismo, condenado pelo VI Concílio Ecumênico de Constantinopla (680-681).

- O bispo Paulo de Samasate, do século III, que professou o adocionismo e o sabelismo, condenado em 268 no Concílio de Antioquia.

- Jansenius, bispo de Yepres, pai do jansenismo; entre outros...




Pimeira coluna de cima para baixo: Missa do Pe.Marcelo, encontro de padres e freiras no Brasil.
Segunda coluna, mesmo esquema: Missa Tridentina, encontro de padres tradicionais.



E quantos não foram os padres que também rumaram na mesma estrada da mentira e do erro? Lutero (1483-1546), um dos pais do protestantismo, era sacerdote católico. O Quietismo, heresia condenada por Inocêncio XI, em 1687, foi oriunda do padre espanhol M. de Molinos. O Modernismo, afluxo de todas as heresias (condenado através do decreto Lamentabili, assim como, da Encíclica “Pascendi”) teve em vários padres (Pe. Alfredo Loisy, o ex-jesuíta Tyrrel, etc.) seus principais fomentadores.

E hoje, engrossando as fileiras dos agitadores e revoltosos, quantos bispos, e quantos padres, não aderiram a verdadeiras heresias? Basta que nos recordemos dos estragos que tem causado em nosso meio uma certa teologia malsã, chamada da libertação. Qualquer fiel, com um mínimo de formação, seria capaz de perceber a discordância entre o que se tem divulgado em muitíssimos ambientes católicos e aquilo que a Igreja sempre ensinou... o próprio J. Ratzinger julgou por bem reconhecer:

 “Eu fico cada vez mais admirado com a habilidade dos teólogos que conseguem defender justamente o oposto do que se encontra claramente escrito nos documentos do Magistério. E, no entanto, aquelas deturpações são apresentadas, através de hábeis artifícios dialéticos, como o ‘verdadeiro’ significado do documento...”

Virgem do Bom Conselho, ora pro nobis!



Referência Bibliográfica

 RATZINGER, Joseph; MESSORI, V. A fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga. Trad. Pe. Fernando J. Guimarães, CSSR. São Paulo, E.P.U, 1985. Pg. 265-26

RODRIGUES, Paulo. Igreja e Anti-Igreja. Teologia da Libertação. São Paulo, T. A. Queiroz, Editor, 1985, pg. 265-267



terça-feira, 24 de abril de 2012

Fumaça de Satanás no Templo de Deus

                  Nossa Senhora chora pela situação da Igreja e do mundo.

Prof. Pedro M. da Cruz

Nosso blog estaria sozinho ao querer chamar a atenção dos leitores sobre o estado de provação por que passa a Igreja na atualidade? Ouçamos o que disse alguns de nossos pastores. Veremos assim, que o exposto anteriormente neste blog já foi alvo de excelentes comentários por parte de muitos autores abalizados. Este humilde trabalho vem apontar no momento as afirmações de grandes homens que souberam abordar a questão com responsabilidade e clareza.

 I – S.S. Paulo VI

 “O Papa Paulo VI em 30 de Junho de 1968, conforme o L`Osservatore Romano, foi abrigado a reconhecer a gravíssima situação em que se encontrava, já naquela época pós-conciliar, a instituição Católica:

“Na Igreja também está reinando uma situação de incerteza. Tem-se a sensação de que, de alguma abertura tenha entrado a Fumaça de Satanás no templo de Deus.”

Essa afirmação, vinda de um Sumo Pontífice, não confirma aquilo que expusemos desde o princípio de nosso trabalho? Anos depois, ele voltaria a usar de expressões fortíssimas na tentativa de descrever a tribulação que sofre o cristianismo:

“A Igreja está passando por uma hora inquieta de autocrítica que melhor se diria de autodestruição. É igual a um transtorno agudo e complexo, que ninguém teria esperado depois do Concílio. A Igreja parece se suicidar, matar a si mesma.” (07 de dezembro de 1972 – L`Osservatore Romano).

Como vemos, o próprio Papa Paulo VI reconhece que, após o Vaticano II, a Igreja entrou em um momento de confusão e perigo para a fé de muitos. Lembremo-nos de que foi ele quem encerrou esse Concílio iniciado pelo seu antecessor, o Beato João XXIII. O mesmo Pontífice chegará a afirmar em dezoito de Julho de 1975 que esperava-se, após as reuniões conciliares, um período resplandecente de sol para a história da Igreja, mas que, pelo contrário, veio um sopro de nuvens, de tempestade e de trevas. Inclusive, autores muito confiáveis chegaram a afirmar que o mesmo Concilio Vaticano II tenha sido fortemente perturbado por modernistas e liberais. Segundo eles, tal situação fez surgir, ainda nas reuniões conciliares, diversas contradições, desagregações e tumultos. Em entrevista ao filósofo francês Jean Guitton, seu amigo, o mesmo Papa Paulo VI, em oito de setembro de 1977, tornou a reconhecer o que se segue:

“Neste momento há na Igreja uma grande inquietação. E o que está em questão é a fé! O que me perturba quando considero o mundo católico, é que, dentro do catolicismo, algumas vezes, parece predominar um pensamento não católico; e pode acontecer que este pensamento não católico, dentro do catolicismo, amanhã seja uma força maior na Igreja.”

Como podemos averiguar, os temores do Papa não eram uma ilusão de sua mente. Hoje, vemos avançar, e com cada vez mais ímpeto, pensamentos anti-católicos dentro do seio da própria Igreja. Basta assistirmos algumas conferências que se fazem por aí e veremos os aplausos se levantarem com entusiasmo para todos aqueles que falam contra ensinamentos fundamentais da Tradição cristã. De fato, ‘... parece predominar um pensamento não católico...’.”

 II – S.S. Beato João Paulo II

“Após Paulo VI, o próprio Beato João Paulo II (que sucedera um curtíssimo pontificado encerrado por questões, ainda hoje, misteriosas) não deixou de chamar-nos a atenção para o momento delicado por que passa a única Igreja de Cristo. Em sete de fevereiro de 1981 ele reconheceu que era preciso admitir, com realismo e sensibilidade, dolorosa e profunda, que, já naquela época, não tão remota, uma grande maioria dos cristãos, sentia-se desnorteada, confusa, perplexa e desiludida. Haviam sido espalhadas idéias contrárias às verdades reveladas e ensinadas desde sempre pela Tradição, verdadeiras heresias contra o credo e a moral. Segundo o mesmo pontífice, ia-se solapando a liturgia; afundava-se no relativismo, assim como, na permissividade. Os homens, de fato, caiam na tentação do ateísmo, do agnosticismo, do iluminismo, de uma moral indeterminada, de um cristianismo sociológico sem dogmas definidos e sem moral objetiva. Ora, não é isso, e num maior paroxismo, o que se dá nos dias atuais? Não vemos se operando em nosso meio tudo o que já percebera nos anos oitenta o citado Papa polonês? Desde aquela época as coisas se tornaram ainda mais críticas. Porém, esta não é uma afirmação gratuita de nossa parte, muitos são os espíritos clarividentes que nos apresentam a mesma realidade. É o que continuaremos a constatar.”

III – S.S. Bento XVI

“O Papa Bento XVI, ainda quando Cardeal, foi destemido ao apontar a triste situação em que se encontra a Europa, outrora resplandecente em seu cristianismo:

“Essa Europa, cristã de nome, há mais de quatrocentos anos, é berço de um paganismo novo, que vai crescendo sem parar, no meio do coração da Igreja Católica e a ameaça de destruir por dentro. A imagem da Igreja da era moderna é essencialmente caracterizada pelo fato de ela se tornar cada vez mais, Igreja de pagãos, de um modo todo novo, no sentido de que continuam a chamar-se cristãos, mas na realidade continuam pagãos. Trata-se de um paganismo dentro da Igreja... de uma Igreja em cujo coração vive o paganismo. É uma tentação típica de nossos tempos.”

Ao lermos tantas afirmações contundentes, é provável que muitos de nós sintamos abalar nossa confiança em Deus e na Igreja Católica. Mas, isso seria uma vergonhosa falta de fé nas promessas de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele é Deus, e sua vitória é inevitável! Os inimigos de Cristo podem conspirar das formas mais perspicazes e diabólicas; seu aparente triunfo pode extasiar suas fileiras, enquanto sofrem, de espada em punho, os filhos da Igreja militante; porém - tenhamos a certeza - quando o ímpio se manifestar “... o Senhor Jesus o destruirá com o sopro de sua boca e o aniquilará com o resplendor de sua vinda.”. Assim, chegará, finalmente, o novo céu e a nova terra para todos aqueles que perseveraram fielmente nas fileiras do Divino Salvador. O primeiro céu e a primeira terra terão desaparecido, “...então, Deus mesmo estará com eles. Enxugará toda lágrima de seus olhos, e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque terá passado a primeira condição.”

O mesmo Cardeal Ratzinger em livro publicado por Messori, vêm confirmar, tempos depois, as afirmações de Paulo VI, por nós já citado:

“Os resultados que se seguiram ao Concílio parecem cruelmente opostos às expectativas de todos, inclusive às de João XXIII e, a seguir, de Paulo VI. Os cristãos são novamente minoria, mais do que jamais o foram desde o final da Antiguidade... Os Papas e os Padres conciliares esperavam uma nova unidade católica, e, pelo contrário, caminhou-se ao encontro de uma dissensão que, para usar as palavras de Paulo VI, pareceu passar da autocrítica à autodestruição. Esperava-se um novo entusiasmo, e, no entanto, muito freqüentemente chegou-se ao tédio e ao desencorajamento. Esperava-se um impulso à frente, e, no entanto, o que se viu foi um progressivo processo de decadência que veio se desenvolvendo em larga medida, sob o signo de um presumido ‘espírito do Concílio’ e que, dessa forma, acabou por desacreditá-lo.”

Por isso, completava em outra parte o mesmo Cardeal, hoje Sumo Pontífice da Igreja Católica: ‘É tempo de se reencontrar a coragem do anticonformismo, a capacidade de se opor, de denunciar muitas das tendências da cultura que nos cerca, renunciando a certa eufórica solidariedade pós-conciliar.’"

Maria Santíssima, rogai por nós!

 Referência Bibliográfica:

O texto completo encontra-se no livro: CRUZ, Prof. Pedro M. da. Perseguição à Igreja, Coluna e Sustentáculo da Verdade. Prod. SSVM. 2012.

Outras citações: Não agüentamos mais! Carta ao clero italiano. Ed. Segno, 1995. Trad. D. Manuel Pestana Filho. Anápolis, Goiás. 66 pgs. FEDELI, Orlando. Carta a um padre. São Paulo: Véritas. RATZINGER, Joseph; MESSORI, V. A fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga. Trad. Pe. Fernando J. Guimarães, CSSR. Sâo Paulo, E.P.U, 1985. Pg. 16-17

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Vaticano II, crise, deformações... esperança!

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Paulo L. F.

“É tempo de se reencontrar a coragem do anticonformismo, a capacidade de se opor...”(Cardeal Ratzinger)

Após havermos nos referido algumas vezes ao livro de Vittorio Messori,A fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga”, pareceu bem a nós, apresentarmos mais alguns trechos desta importante obra. Nela, como temos podido observar, o antigo Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé, faz relevantes comentários sobre o tão discutido Concílio Vaticano II, apresentado pelo memorável João Paulo II, no livro - também organizado pelo mesmo escritor V. Messori - “Cruzando o Limiar da Esperança”, como “... um grande Dom para a Igreja ...”.1

Sendo direto em sua assertiva, o Cardeal Ratzinger nos assegura nesta entrevista:

Não vejo futuro algum para uma posição que se obstina em uma recusa fundamental do Vaticano II. De fato, ela é ilógica em si mesma. Com efeito, o ponto de partida dessa tendência é a mais rígida fidelidade ao ensinamento, particularmente, de Pio IX e de Pio X e, ainda mais profundamente do Vaticano I com sua definição do primado do Papa. Mas por que os Papas até Pio XII e não além? A Obediência à Santa Sé será talvez passível de divisão segundo as datas ou segundo a consonância de um ensinamento com as próprias convicções já estabelecidas?’2

Duas páginas depois, fazendo um diagnóstico da situação da Igreja naquele momento histórico, parece referir-se ao estado do catolicismo no tempo presente:

... o meu diagnóstico é que se trata de uma autêntica crise, que, como tal, deve ser tratada e curada. Assim, para essa cura, reafirmo que o Vaticano II é uma realidade a ser aceita plenamente. Com a condição, porém, de não ser considerado apenas como um ponto de partida, do qual se deve afastar correndo, mas sim como uma base sobre a qual construir constantemente em profundidade. Estamos descobrindo hoje, portanto, a sua função profética: alguns textos do Vaticano II, no momento de sua proclamação, pareciam realmente adiantar-se aos tempos então vividos. Vieram a seguir revoluções culturais e terremotos sociais que os Padres conciliares nem podiam prever, mas que demonstravam como aquelas respostas – então antecipadas – eram as que, a seguir, se fariam necessárias. Portanto, retornar aos documentos é de particular atualidade: eles nos proporcionam instrumentos exatos para enfrentar os problemas de hoje. Somos chamados a reconstruir a Igreja, não apesar do, mas graças ao Concílio verdadeiro.’

A esse Concílio ‘verdadeiro’, para permanecer ainda em seu diagnóstico, ‘já durante as sessões e, a seguir, cada vez sempre mais, no período sucessivo, opôs-se um auto-intitulado ‘espírito do Concílio’ que , na verdade, é seu verdadeiro ‘antiespírito’. Segundo esse pernicioso antiespírito – Konzils-Ungeist, para dizê-lo em alemão -, tudo que é ‘novo’ (ou como tal presumido: quantas antigas heresias reaparecem nestes anos apresentadas como novidade!) seria sempre, e de qualquer forma, melhor do que o que sempre existiu ou existe. É o antiespírito, segundo o qual se deveria começar a história da Igreja a partir do Vaticano II, visto como uma espécie de ponto zero.”

O Cardeal Ratzinger, continuando na lógica de suas colocações, refletirá agora, de modo particularmente interessante, sobre a necessidade da aceitação do Concílio numa perspectiva de “continuidade” e não de “ruptura” com a Tradição da Igreja Católica:

“É preciso opor-se decididamente a esse esquematismo de um antes e de um depois na história da Igreja, totalmente injustificado pelos próprios documentos do Vaticano II, que outra coisa não fazem senão reafirmar a continuidade do catolicismo. Não existe uma Igreja ‘pré’ ou ‘pós’ conciliar: existe uma só e única Igreja, que caminha rumo ao Senhor, aprofundando sempre mais e compreendendo sempre melhor a bagagem da fé que Ele mesmo lhe confiou. Nessa história não existem saltos, não existem rupturas (...) O Concílio de modo algum pretendia introduzir uma divisão no tempo da Igreja.”

... a intenção do Papa que teve a iniciativa do Vaticano II, João XXIII, e daquele que fielmente lhe deu continuidade, Paulo VI, não era de forma alguma pôr em discussão o depositum fidei , que, pelo contrário, ambos tinham como indiscutível, como algo já em segurança.”

“O senhor (Pergunta a Ratzinger o jornalista V. Messori) pretende realçar mais, como fazem alguns, a intenção mais pastoral do que doutrinal do Vaticano II?

Quero dizer (responde o Cardeal) que o Vaticano II não pretendia certamente ‘mudar’ a fé, e sim apresenta-la de modo mais eficaz. Quero dizer, além disso, que o diálogo com o mundo só é possível quando baseado em uma identidade clara; que se pode e deve ‘abrir’, mas somente quando se assumiu a própria identidade e, portanto, se tem algo a dizer. A identidade firme é condição de abertura. Assim entendiam os Padres conciliares, alguns dos quais certamente levaram a um entusiasmo que nós, a partir de nossa perspectiva atual, podemos julgar pouco crítico e pouco realista. Mas, se pensaram poder abrir-se a tudo o que de positivo existe no mundo moderno, foi justamente porque estavam certos de sua própria identidade, estavam certos de sua fé. Enquanto por parte de muitos católicos houve nestes anos um escancarar-se ao mundo, isto é, à mentalidade moderna dominante, sem filtros nem freios, pondo em discussão, ao mesmo tempo, as bases mesmas do depositum fidei que, para muitos, não eram mais claras.’

Continua ele: ‘O Vaticano II tinha razão em almejar uma revisão nas relações entre Igreja e mundo. Com efeito, existem valores que, nascidos fora da Igreja, podem encontrar seu lugar – uma vez revistos e corrigidos – na visão dela. Nestes anos, procurou-se realizar tal tarefa. Mas demonstraria desconhecer tanto a Igreja como o mundo quem pensasse que estas duas realidades podem se encontrar sem conflitos, ou até mesmo possam identificar-se’

Está talvez propondo (Indaga Messori) voltar à velha espiritualidade da ‘oposição ao mundo’? Não são os cristãos que se opõem ao mundo. É o mundo que se opõe a eles quando é proclamada a verdade sobre Deus, sobre o Cristo e sobre o homem. O mundo revolta-se quando o pecado e a graça são chamados por seus próprios nomes. Depois da fase das ‘aberturas’ indiscriminadas, é tempo de o cristão reencontrar a consciência de pertencer a uma minoria e de estar muitas vezes em oposição ao que é óbvio e natural para aquilo que o Novo Testamento chama – e certamente não em um sentido positivo – o ‘espirito mundano’. É tempo de se reencontrar a coragem do anticonformismo, a capacidade de se opor, de denunciar muitas das tendências da cultura que nos cerca, renunciando a certa eufórica solidariedade pós-conciliar.’”3

Finalmente, tratando sobre alguns efeitos inesperados do Concílio Vaticano II, o Cardeal relata ao entrevistador:

“ ... Creio, antes, que o tempo verdadeiro do Vaticano II ainda não chegou, que a sua acolhida autêntica ainda não teve início: os seus documentos foram imediatamente sepultados por uma avalancha de publicações muitas vezes superficiais ou francamente inexatas. A releitura da letra dos documentos poderá fazer-nos descobrir o seu verdadeiro espírito. Redescobertos dessa forma, na sua verdade, aqueles grandes textos poderão nos possibilitar a compreensão do que aconteceu e reagir com novo vigor. Repito: o católico que, com lucidez e, portanto, com sofrimento, vê os danos produzidos na sua Igreja pelas deformações do Vaticano II, nesse mesmo Vaticano II deve encontrar a possibilidade da recuperação. O Concílio é seu, e não daqueles que querem continuar um uma estrada cujos resultados foram catastróficos. Não é daqueles que, não por acaso, não sabem mais o que fazer com o Vaticano II, olhando-o como um ‘fóssil da era clerical’.4

E fazendo eco à percepção acurada de todo bom Católico, amante e respeitador da única Igreja de Cristo, termina por afirmar convicto:

“É preciso reconhecer, portanto, que o Vaticano II, desde o início, não tomou o rumo que João XXIII previa (...) deve-se reconhecer também que, pelo menos até agora, não foi atendida a prece do Papa João XXIII para que o Concílio significasse para a Igreja um novo salto à frente, uma vida e uma unidade renovadas.” 5

Temos aqui, uma abordagem crítica e segura do Concílio Vaticano II, feita por um dos maiores teólogos da atualidade, ele que se tornou o novo Sumo Pontífice da Igreja universal. Está claramente exposta em suas palavras a mesma preocupação de João Paulo II quanto aos documentos conciliares; dizia-nos: “Percebe-se a exigência de falar do Concílio, a fim de interpretá-lo de maneira adequada e defendê-lo das interpretações tendenciosas.6

Que a Santíssima Vírgem Maria nos auxilie na luta em defesa da Verdade! Pois, de fato, como nos afirmou o mesmo Cardeal Ratzinger em outro livro: “Só a unidade da fé da Igreja e sua obrigatoriedade nos dão a garantia de não seguirmos opiniões humanas nem aderirmos a partidos formados por nós próprios, mas pertencermos e obedecermos ao Senhor.”7

Gloria tibi sit, haeresum et daemonum interemptrix! Gaude, Maria Virgo!


1 MESSORI, Vittorio. Cruzando o Limiar da Esperança. Trad. Antônio Angonese e Ephraim Ferreira Alves. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1994. Pg. 151

2 RATZINGER, Joseph; MESSORI, V. A fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga. Trad. Pe. Fernando J. Guimarães, CSSR. Sâo Paulo, E.P.U, 1985. Pg. 18

3 Idem. RATZINGER, Joseph; MESSORI, V. A fé em crise?... pg. 21-22

4 Ibidem. Pag. 25

5 Ibidem. Pag. 26

6 Idem. MESSORI, Vittorio. Cruzando o Limiar da Esperança... pag. 152

7 RATZINGER, Cardeal Joseph. Compreender a Igreja Hoje. Vocação para a comunhão. Trad. D. Mateus Ramalho Rocha, OSB. 3ª Edição. Petrópolis, Editora Vozes, 2006. Pg. 92

P.S : As referências em parêntesis são um acréscimo nosso para uma maior compreensão do texto. No mais todo o negrito foi colocado por nós.

sábado, 5 de setembro de 2009

O Concilio Vaticano II traiu a Igreja Católica?

 

image “...o Vaticano II é apoiado pela mesma autoridade do Vaticano I e do Concilio de Trento, isto é, o papa e o colégio dos bispos em comunhão com ele.” (Cardeal J. Ratzinger)

 

 

 

Transcrevemos abaixo importantes pensamentos do então Cardeal Joseph Ratzinger, atual Sumo Pontífice da Igreja Católica, em livro de V. Messori intitulado “A Fé em Crise? O Cardeal Ratzinger se interroga”. Poderemos perceber com clareza a profunda coerência de suas reflexões em íntima sintonia com o perene ensinamento da Igreja de Cristo. Não deixará de apresentar com ousadia as inegáveis mazelas de seu tempo, mesmo aquelas que se encontram dentro dos muros da Igreja; aliás, isto é um ótimo exemplo para aqueles que julgam - afundados num superficial espírito de submissão - que levantar a voz é sempre um erro; esqueceram-se da obrigação que todos os homens possuem de combater a mentira onde quer que ela se apresente!

***

“ ... as palavras do Cardeal Ratzinger por nós transmitidas, através das quais defendia o Vaticano II e suas decisões, não eram apenas muito claras como também foram por ele repetidas muitas e muitas vezes nas mais diversas ocasiões.

Entre inumeráveis exemplos, podemos citar sua intervenção por ocasião do décimo aniversário do encerramento do Concílio, em 1975. Em Bressano, recordei-lhe aquelas suas palavras, ouvindo–o confirmar que ainda hoje se reconhecia plenamente nelas.

Assim, já dez anos antes de nosso diálogo ele escrevia: ‘O Vaticano II encontra-se hoje em uma luz crepuscular. Pela chamada ‘ala progressista’, há muito tempo ele é considerado superado e, por conseguinte, um fato do passado, sem importância para o presente. Pela parte oposta, a ala ‘conservadora’, ele é julgado responsável pela atual decadência da Igreja Católica, e até se lhe atribui a apostasia com relação ao Concílio de Trento e ao Vaticano I: de tal forma que alguns chegaram a pedir a sua anulação ou uma revisão que equivaleria a uma retirada.’

E continuava: ‘Com relação a ambas as posições contrapostas, deve-se esclarecer, antes de tudo, que o Vaticano II é apoiado pela mesma autoridade do Vaticano I e do Concilio de Trento, isto é, o papa e o colégio dos bispos em comunhão com ele. Além disso, do ponto de vista do conteúdo, deve-se recordar que o Vaticano II se encontra em íntima continuidade com os dois Concílios precedentes, retomando literalmente alguns dos seus pontos decisivos.’

Daí Ratzinger deduz duas consequências: ‘Em primeiro lugar é impossível para um católico tomar posição a favor do Vaticano II contra Trento ou o Vaticano I. Quem aceita o Vaticano II, assim como ele se expressou claramente na letra, e entendeu-lhe o espírito, afirma ao mesmo tempo a ininterrupta tradição da Igreja, em particular os dois concílios precedentes. E isto deve valer para o chamado ‘progressismo’, pelo menos em suas formas extremas. Segundo: do mesmo modo, é impossível decidir-se a favor de Trento e do Vaticano I contra o Vaticano II. Quem nega o Vaticano II, nega a autoridade que sustenta os outros dois Concílios e, dessa forma, os separa de seu fundamento. E isso deve valer para o chamado ‘tradicionalismo’, também ele em suas formas extremas. Perante o Vaticano II, qualquer opção parcial destrói o todo, a própria história da Igreja, que só pode subsistir como uma unidade indivisível.’

Redescubramos o verdadeiro Vaticano II’

“Não são, portanto, o Vaticano II e os seus documentos que criam problemas (quase não há necessidade de recordar isto). Para muitos, na realidade, e Joseph Ratzinger está entre eles há muito tempo, o problema é constituído por interpretações de tais documentos que teriam levado a certos frutos da época pós-conciliar.

O pensamento de Ratzinger acerca desse período é claro há bastante tempo: ‘É incontestável que os últimos vinte anos foram decididamente desfavoráveis à Igreja Católica. Os resultados que se seguiram ao Concílio parecem cruelmente opostos às expectativas de todos, inclusive às de João XXIII e, a seguir, de Paulo VI. Os cristãos são novamente minoria, mais do que jamais o foram desde o final da Antiguidade.’

Assim explica ele o seu severo julgamento, repetido durante nossa conversa: ‘Os Papas e os Padres conciliares esperavam uma nova unidade católica, e, pelo contrário, caminhou-se ao encontro de uma dissensão que, para usar as palavras de Paulo VI, pareceu passar da autocrítica à autodestruição. Esperava-se um novo entusiasmo, e, no entanto, muito freqüentemente chegou-se ao tédio e ao desencorajamento. Esperava-se um impulso à frente, e, no entanto, o que se viu foi um progressivo processo de decadência que veio se desenvolvendo em larga medida, sob o signo de um presumido ‘espírito do Concílio’ e que, dessa forma, acabou por desacreditá-lo.

Portanto, concluía ele dez anos atrás: ‘Deve-se reafirmar claramente que uma reforma real da Igreja pressupõe um inequívoco abandono dos caminhos errados cujas conseqüências catastróficas já não podem ser negadas.’

Em outra ocasião escrevia ele: ‘O Cardeal Julius Dopfner dizia que a Igreja pós-conciliar é uma grande obra de construção. Mas um espírito crítico acrescentou que é uma obra de construção onde se perdeu o projeto e cada um continua a fabricar de acordo com o seu próprio gosto. O resultado é evidente.’

É constante nele, porém, a preocupação de repetir, com a mesma clareza, que, ‘nas suas expressões oficiais, nos seus documentos autênticos, o Vaticano II não pode ser considerado responsável por essa evolução, que pelo contrário, contradiz radicalmente tanto a letra como o espírito dos Padres conciliares.’

Diz ainda: ‘Estou convencido de que os danos encontrados nestes últimos anos não são atribuíveis ao Concílio ‘verdadeiro’, mas ao desencadear-se, no interior da Igreja, de forças latentes agressivas, centrífugas, talvez irresponsáveis ou simplesmente ingênuas, de um otimismo fácil, de uma ênfase quanto à modernidade que confundiu o hodierno progresso técnico com um progresso autêntico, integral. E, no exterior, ao impacto de uma revolução cultural: a afirmação, no Ocidente, do estrato médio-superior, da nova ‘burguesia do terciário’, com sua ideologia liberal-radical, marcada pelo individualismo, racionalismo e hedonismo.’

Portanto, a sua ordem de comando, a sua exortação que dirigiria a todos os católicos que quisessem permanecer católicos, não é certamente um ‘meia volta volver’ e sim um ‘ voltar aos textos autênticos do Vaticano II autêntico.’

Para ele, repete-me, ‘defender hoje a Tradição verdadeira da Igreja significa defender o Concílio. É também nossa culpa se alguma vez demos pretexto (tanto à ‘direita’ como à ‘esquerda’) para pensar que o Vaticano II tenha sido uma ‘ruptura’, uma fratura, um abandono da Tradição. Existe, pelo contrário, uma continuidade que não permite nem retorno para trás nem fugas para adiante; nem nostalgias anacrônicas nem impaciências injustificadas. É ao hoje da Igreja que devemos permanecer fiéis, não ao ontem nem ao amanhã: e esse hoje da Igreja são os documentos do Vaticano II em sua autenticidade. Sem reservas que amputem. E sem arbítrios que os desfigurem.’

Auxilium christianorum, ora pro nobis!

Bibliografia:

RATZINGER, Joseph; MESSORI, V. A fé em crise? O Cardeal Ratzinger se interroga. Trad. Pe. Fernando J. Guimarães, CSSR. São Paulo, E.P.U, 1985. pgs.15-18 (n.n)