Por Pietro Mariano dos Santos
“Meu povo se perde por falta de conhecimento.” (Oséias 4,6)
A – Ano da Fé em tempos de crise
O “Ano da Fé”, proclamado por Bento XVI[1],
é uma grande resposta às necessidades do tempo presente. As palavras do Papa em
um seu documento[2] referentes
à “Porta da Fé” [3]
- que nos introduz na única e verdadeira Igreja de Cristo - são, para bom
entendedor, uma conversão ao mais essencial da eclesiologia tradicional,
infelizmente abandonada por tantos pseudo-teólogos
da modernidade.
Não é segredo para ninguém a
evidente manobra de certo ecumenismo
modernista, que pretende a Igreja Católica como, tão somente, “mais uma”
instituição ao lado de todas as outras que se dizem cristãs. Nessa falsa perspectiva
teológica, “tanto faz” ser católico ou não, pois “o mais importante é o amor” –
dizem. Como se fosse possível a caridade
sem o concurso da verdadeira fé revelada
pelo Pai através de Cristo à Sua Igreja. “A fé sem caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento
constantemente à mercê da dúvida”. (Porta
Fidei, Bento XVI, n.14).
Estamos perante a mais completa
rejeição de um dogma Católico: “Extra Ecclesiam nulla salus” (Fora da Igreja
não há salvação); proclamado, não só por Inocêncio III (1208), como também no
Concilio Lateranense IV (1215) e no Concilio Florentino (1442). Graças a Deus,
tal verdade fora ultimamente retomada por J. Ratzinger em “Dominus Iesus”, para
espanto dos “progressistas”. Sobre esse tema central afirmara o Cardeal Giacomo
Biffi:
“À luz destes testemunhos, não se
vê como se possa contestar o principio: ‘fora da Igreja não há salvação’, a
menos que se relativize toda doutrina eclesial e se considere que não
existe no âmago da concepção católica nenhum ensinamento certo e irrevogável.” [4]
Porém as loucuras não param por aqui...
Outros vão ainda mais adiante em
sua revolta: além de afirmarem o “tanto faz” ser católico ou pertencer a
qualquer outra suposta “igreja cristã”, chegam a defender que nem mesmo o
cristianismo seria tão necessário assim, uma vez que poderíamos pertencer a
qualquer outra religião (Judaísmo, Budismo, Islamismo, Hinduísmo etc.).
Defendem-se afirmando que “Deus é o mesmo” (Sic)
e que, portanto, qualquer religião seria válida. A centralidade do cristianismo para esses “moderninhos paz e amor”
seria um ato orgulhoso de padres e bispos “quadrados”, “fechados” e fundamentalistas.
Ora, vá dizer a certo tipo de
Maometano que Alá é “Pai e Filho e Espírito Santo”, e tente
voltar vivo para nos comunicar sua resposta...
Sobre este ponto, assevera-nos
Bento XVI que crer em Jesus é o caminho para se chegar definitivamente à salvação.
Ele é, de acordo com o atual para emérito, o “único salvador do mundo”
(Porta Fidei, Bento XVI, n.6).
É por vermos idéias tão distantes
da verdade, que entendemos um pouco mais a decadência atual. Além disso, somente um número reduzido de
cristãos têm tido a ousadia de pregar
destemidamente a fé de sempre (Porta
Fidei, Bento XVI n. 8). Tal carência
na evangelização acaba por impedir a muitos de cruzarem o limiar daquela Porta que nos conduz ao batismo na única
Igreja realmente fundada por Nosso Senhor. Afirmamos assim – “realmente
fundada” – porque a lábia modernista
de alguns padres (é com tristeza que o dizemos) tem enganado aos incautos com a
falsa doutrina de que a Igreja Católica estaria tão somente “fundamentada em
Cristo”. Isso equivale a defender que o catolicismo não foi - segundo eles - de
fato, histórico e objetivamente, fundado pelo Filho de Deus.
“Já não nos defrontamos com
adversários ‘em pele de cordeiro’, mas
com inimigos aberta e desavergonhadamente
assumidos na nossa própria casa, os
quais, tendo feito um pacto com os maiores inimigos da Igreja, estão
decididos a arrasar a fé [...]” [5]
(S. Pio X)
Eis o motivo de vermos tantas
“velhinhas bondosas” ensinando aos seus netinhos por aí sandices como esta: “Não, meu filho, Jesus nunca fundou uma
Igreja... isso é coisa dos homens. A gente só vai à missa porque é bom cada
pessoa ter sua crença. Eu vou morrer católica porque nasci nessa ‘lei’.”
Alguns anos depois...
Olha lá a velhinha com seu
netinho pulando e dançando - apesar da osteoporose e Cia - em cultos
protestantes ou terreiros de macumba...
Acima, "missa sertaneja' em uma famosa rede de tv católica. Abaixo, o "pastor fazendeiro" ($$$), Waldomiro Santiago. Semelhanças não são mera coincidência. |
Deste modo, aumentam-se as
convulsões que se seguiram após o Concilio... Um a um, como em fila bem
organizada, vão saindo uns pobres fiéis da Igreja Católica e se perdendo em
seitas dos mais variados tipos: não
auscultaram a fé de sempre, e, se a ouviram, ela não lhes plasmou o coração
pela graça...
Já S.S. Paulo VI vira no Ano da Fé por ele proposto em 1967 uma
conseqüência e exigência do período pós
conciliar. Ele estava ciente das graves dificuldades daquele tempo,
sobretudo no que se referia à profissão da verdadeira Fé e da sua reta
interpretação (Porta Fidei, Bento
XVI, n. 5). Com efeito, chegara ao ponto de afirmar que, por alguma brecha, a
fumaça de satanás entrara na casa de Deus.
O atual papa emérito, reiteradas
vezes, quis dar-nos a entender que os textos do Concílio Vaticano II devem ser
conhecidos e assimilados no âmbito da
Tradição da Igreja. “Se o lermos e recebermos guiados por uma justa hermenêutica,
o Concilio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação
[...]” [6]
Essa proposta nos faz recordar as
sábias palavras de São Vicente de Lérins,
citadas pelo antigo Arcebispo de Paris, o Cardeal Suhard, (que, infelizmente,
auxiliava os padres Chenu e De Lubac, apesar de seu modernismo manifesto):
“Mas, dir-se-á talvez, não é a
religião susceptível de qualquer progresso na Igreja de Cristo? Seguramente que
sim, e muito grande. Quem seria bastante inimigo da humanidade, bastante hostil
a Deus, para lhe tentar opor? Mas, com
uma condição indispensável: que se trate verdadeiramente de um progresso da fé
e não da sua alteração. Pois o
próprio do progresso consiste em que um ser se desenvolva permanecendo ele
próprio; enquanto a alteração consiste em que uma coisa se transforme em
outra [...]” [7]
Cristo Rey |
Caso um legítimo progresso na
doutrina (claro, pela ação do Espírito Santo) - sem alteração - não seja
realizado hoje em lugar do que tem ocorrido, o mundo continuará se afastando
daquele ideal tão bem representado no auge da Idade Média (Século XIII). Está
evidente na atualidade, para qualquer observador, o quanto a sociedade dista do
projeto católico onde Cristo exercerá Seu Reinado
Social. “Enquanto no passado era possível reconhecer um tecido cultural
unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdos da fé e aos
valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes setores
da sociedade devido a uma profunda crise
de fé que atingiu muitas pessoas.” (Porta
Fidei, Bento XVI, n. 2)
Essa situação preocupante exige
de nós uma atitude. É o que meditaremos na segunda e última parte deste nosso
artigo. Peçamos a Nossa Senhora do Bom
Conselho que nos proteja e ilumine por sua doce intercessão nos caminhos
desta vida de lutas e dificuldades.
Virgem Santíssima, ora pro nobis!
Maria Sempre!
[1] O
ano da fé teve inicio aos 11 de outubro
de 2012 (cinqüentenário da abertura do Concílio Vaticano II) e se estenderá
até 24 de novembro de 2013.
[2] Porta Fidei, sobre a o Ano da Fé, S.S. Bento XVI.
[3] Conf. At. 14,27
[4]
BIFFI, Giacomo. Para amar a Igreja. Trad.
Socorro Coelho. B. H., Ed. O Lutador, 2009, p. 79
[5]
S.S. Papa São Pio X, Sacrorum Antistitum.
[6] S.S. Bento XVI, Discurso à Cúria Romana (22
de dezembro de 2005)
[7]
SUHARD, Cardeal. Triunfo ou declínio da
Igreja. Lisboa, 1947, p. 66.
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