quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O ser humano e suas múltiplas influências

Tentação no deserto.

Por Prof. Pedro M. da Cruz


     O ser humano é porta aberta para o mundo; o “outro” exerce diversas influências sobre ele. Quem convive com os bons tende a tornar-se bom; igualmente, os que se acomodam à mesa de escarnecedores possuem grande probabilidade de modelar-se à imagem deles. São Paulo afirmara categoricamente: “Más companhias pervertem os bons costumes” (I Cor. 15,33).
     Ambientes, mídias, parentes, amigos, livros, “ídolos”, obras de arte... tudo, enfim, exerce múltiplas influências sobre nossa personalidade. Caracteres pessoais são o resultado de complexas sínteses interiores, silenciosas, porém, decisivas para a configuração individual. O fato é que toda criatura humana adquiriu uma estrutura psicológica que o diferencia dos demais. É interessante observarmos a maneira peculiar em que cada alma organiza-se à luz da Divina Sabedoria. A partir das várias influências internas e externas (sociais), num amplexo de heranças biológicas e espirituais, o ser humano sabe mostrar-se de tal modo singular que encanta pelo simples fato de ser como é: irrepetível; porém, maravilhosamente aberto para o “mais”. 
     Saber-nos assim, tão sensíveis ao diferente, deveria fazer-nos repensar a forma como nos dispomos a cada relação vivenciada ao longo dos anos. Pode acontecer – digamos assim - que tratando por demais com o “feio” sem a crítica devida, passemos a tê-lo como o mais belo, senão o único. Não é verdade que começamos por tolerar, para, logo mais, não nos incomodar, e, por fim, validar o que combatíamos? O continente americano, por exemplo, iludido por falsa sabedoria, transfigurou-se em sociedade neopagâ graças também à admiração nutrida por ideologias européias distantes do Evangelho. Esse processo foi alimentado pela apatia dos bons que toleraram quase inertes, em nome do Respeito Humano, o caminho errôneo de seus irmãos, e, ao final, alguns acabaram por validá-lo em muitos pontos. A simples admiração pelos traços belos de um “tigre” pode tornar-nos presas fáceis para sua truculência. Enquanto nos deleitamos no que há de bom em sua aparência, nem percebemos a perigosa proximidade, então, caímos pelo Canto da Sereia.
Arte Moderna.
     O homem está aberto; toda sua corporeidade é qual antena que capta, pelos sentidos, as mais diferentes “vibrações” que lhe circundam. O mundo entra pelos olhos, invade os ouvidos... forma um amálgama no cadinho das almas, pôe-se ao crivo das consciências (tantas vezes, mau formada), e, finalmente, no encontro misterioso com o mundo das realidades interiores que borbulham, sintetiza no indivíduo “forças”, digamos assim,  que moldarão, aqui e acolá, suas “variações diferenciais”, isso, sem perda dos traços gerais. Maximiza-os, degradando ainda mais suas danificações (conseqüências do Pecado Original), ou estimulando, para a plenitude no bem, seus caracteres providenciais.
     A depender dos ambientes que freqüentarmos, teremos boas ou más influências; essas, muitas vezes, subliminares. Que tendências serão alimentadas em um jovem que ouve músicas imorais, mesmo que, sem o querer, pelas ruas? Poderá, claro, “negá-las” em seu coração, porém, as letras trazem à mente imagens correspondentes, e, estas, por sua vez, solicitam as mais variadas fantasias...  Que sensibilidade artística adquirirá um rapaz que vive atropelado pela Arte Moderna, amante do feio e surreal? Será, no final das contas, terreno fértil para manobras do gnosticismo, um pessimista atordoado com o mundo material que mira incorretamente. Por fim, citemos nossas crianças: elas, por verem seus modelos exemplares – pais e mestres - afogados em erros e indiscrição, não têm mais o imoral e despudorado como absurdo e pecaminoso. Infelizmente, são vestidas, desde o colo, com péssimas roupas que as predispõe ao mau gosto e vulgaridade. No passado, certos estilos, próprios de palhaços e prostitutas, eram símbolo de ironia e depravação, agora, todavia, tornaram-se: “uniformes dos tempos modernos”. Quem não os usar será tido por anacrônico e “careta”; um peixe fora do oceano, onde muitos tem se afogado...
 
 Contraste entre o feio e o belo.

     Portanto, vigiemos nossos sentidos. Guardemos o coração de todo erro e descompasso. Algumas vezes, será melhor baixar as vistas, sob pena de “cegarmos” nossas almas; outras vezes, será melhor abandonarmos companheiros para não tornar-nos pecadores. Porque não adquirirmos, aos poucos que seja, boas obras de arte, ao invés de infestarmos nossas casas com certos trabalhos, cuja ideologia está fundada numa visão equivocada do real? Façamos uma varredura em nossas vidas! Submetamo-nos ao Evangelho! Que Cristo seja nosso escopo. Ouçamo-lo através de sua Igreja. É impossível que alguém, pensando assim, se vista como os filhos dessa geração adúltera, ou, mesmo, use de suas gírias degradantes. Cristo é nosso “ídolo”! Vivamos à sua imagem e semelhança.
     Maria, Virgem Santíssima, estende vossa mão para nós que buscamos a honra de vosso Filho. Auxilia-nos neste mundo de lutas e provações. E, quando, sozinhos, sentirmo-nos fracos ou “deslocados” nas lutas pela causa do Evangelho, reacende em nós a chama dos antigos mártires para que resistamos heroicamente pela glória da cristandade. Amém.