terça-feira, 21 de agosto de 2012

Obedecer a Deus ou ao Diabo?


                           Obedecer sempre?


Prof. Pedro Maria da Cruz

Após havermos tomado consciência da triste situação em que se encontram tantos membros da Igreja na atualidade, e, mesmo assim, continuarmos a afirmar, resolutos, a certeza da vitória final de Jesus Cristo sobre o mal, podemos caminhar um pouco mais em nossas reflexões. Perante uma realidade tão conturbada como a nossa, em que tantos padres (e mesmo bispos) ousam colocar-se contra os ensinamentos Tradicionais da Igreja Católica, ficamos, muitas vezes, desnorteados, confusos quanto ao grave dever de obediência a que Cristo nos submeteu. Com efeito, Ele mesmo dissera aos seus apóstolos: “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos rejeita a mim rejeita.”

Ora, não seria o caso de cumprirmos cegamente todas as diretrizes de nossos pastores sem maiores distinções ou preocupações? Se Nosso Senhor outorgou tanta autoridade a seus apóstolos, por que levantarmos a voz contra certos pronunciamentos? Não significariam aquelas palavras do divino Mestre, que todo e qualquer ensino dado por parte de nossos superiores seja, sem sombra de dúvidas, infalível e irrevogável? Como podemos perceber, estamos perante uma questão de suma importância para os católicos que, verdadeiramente, amam a fé cristã.

É por não compreenderem certos aspectos do ensinamento católico sobre a obediência que muitos se perdem em caminhos tortuosos. “Obedecer tudo e a todos na Igreja”, sem critério ou discernimento, pode significar, algumas vezes, entrar em choque com o ensino infalível da Tradição. A Deus lhe agrada corações submissos, porém ladeados pelo crivo da inteligência.

Sabemos que toda criatura deve obedecer perfeitamente ao seu Criador. “Toda”, inclusive, o que é obvio, nossos superiores... E, aqui está a chave da questão. O dever de obediência ao Deus absoluto cabe a todos os seres humanos, desde o Santo Padre, o Papa, até ao menor dentre todos os fiéis leigos. E, digo mais, desde o maior potentado ou intelectual entre os homens, (mesmo que não conheça a revelação cristã ou não queira aceitá-la) até o mais ignorante silvícola, todos possuem o grave dever de sempre procurar conhecer, amar e servir ao seu Criador da forma mais perfeita que lhe seja possível. De fato, está escrito que todos os reis da terra hão de adorar ao Deus verdadeiro, assim como, que todas as nações hão de servi-lo, porque os deuses dos pagãos, sejam quais forem, não passam de ídolos. Nesse sentido, ordenava o salmista: “louvai-o todos os povos”.

Centralidade de Nosso Senhor Jesus Cristo

Afirma São Paulo, que o Pai Celestial deu ao Cristo sentar-se à sua direita nos céus, acima de todas as coisas; tudo foi sujeitado a seus pés. De fato, Ele foi constituído chefe supremo da Igreja, que é seu Corpo. Sendo assim, está claro: todos os seres humanos devem prestar uma obediência absoluta ao Verbo Encarnado! Por fim, o autor sagrado, quis ser ainda mais direto em sua assertiva; noutra oportunidade afirmou, categoricamente, que Deus exaltou sobremaneira Seu Filho outorgando-lhe o nome que está acima de todos os outros nomes, para que perante ele se dobrasse todo joelho no céu, na terra e nos infernos; e toda língua confessasse que “Jesus Cristo é o Senhor.” Ora, sendo assim, jamais poderíamos imaginar, por exemplo, um católico, padre ou bispo que seja pretendendo uma sociedade que não fosse cristã ou colocando-se contrário à “Restauração da Cristandade”. Porém, não é esse o assunto principal de nossa reflexão. Deixemo-lo para outra oportunidade.

Quanto ao ponto que se refere à soberania absoluta de Nosso Senhor, estamos plenamente de acordo! Todavia, recordemo-nos, mais uma vez, da afirmação apresentada um pouco acima. Escrevemos que toda criatura “deve obedecer perfeitamente ao seu Criador, inclusive, o que é obvio, nossos superiores”. Haveria alguma possibilidade de que membros da sagrada hierarquia venham a pecar rebelando-se contra a lei da obediência? Já vimos que sim, e nosso grande exemplo fora Judas, um dos apóstolos de Nosso Senhor.

Então, por que o Filho de Deus teria proferido revelações tão fortes como essas a nossos superiores na hierarquia eclesiástica: “Quem vos ouve a mim ouve, quem vos rejeita a mim rejeita”, “Tudo o que ligares na terra será ligado no céu, tudo o que desligares na terra será desligado no céu”, ou mesmo aquelas outras, “ Ide , pois, e ensinai a todas as nações ... ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi”, e “ Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado”? Não parece estranho que palavras como essas fossem dirigidas a seres tão limitados como os apóstolos? Na crucificação, recordemo-nos, todos abandonaram o Salvador, com exceção de João Evangelista, que permanecera ao lado da Virgem Santíssima e, por isso, aos pés da santa cruz. Aliás, belo exemplo aos que almejam uma fidelidade mais perfeita ao Divino Mestre: estar constantemente à sombra de sua cruz, e sob o manto de sua Mãe castíssima!

 Algumas distinções

As palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo jamais poderão ser tomadas de modo superficial. Nos textos apresentados, elas não se referem - como é evidente - a todos os membros da Igreja cristã. Algumas vezes Cristo fala tão somente a São Pedro, enquanto que em outras, fala aos demais apóstolos em união com ele. Basta conferirmos, por exemplo, os versículos de São Mateus (16,19; 18; 18), onde, em primeiro lugar, Cristo se dirige unicamente a Cefas, deixando para outro momento a mesma promessa, que será feita, neste caso, ao restante dos apóstolos, porém, como sempre, unidos a Pedro e sob sua autoridade.

Ademais, existe uma clara distinção entre os membros que compõem a Igreja fundada por Jesus. Nela há uns que ensinam, dirigem ou mandam, e outros, por sua vez, que aprendem, são dirigidos e obedecem. A primeira parte é chamada “Igreja docente”, enquanto que a última, recebe o designativo de “Igreja discente”. Ambas as partes não formam, evidentemente, duas Igrejas distintas, mas por vontade de Cristo, Nosso Senhor, uma só e mesma Igreja, do mesmo modo que no corpo humano a cabeça é distinta dos outros membros, e, não obstante, forma com eles somente um corpo. A Igreja Docente compõe-se de todos os Bispos - quer se encontrem dispersos, quer se encontrem reunidos em Concílio – porém, e recordemos insistentemente, sempre unidos à sua cabeça, o Romano Pontífice, sucessor direto de São Pedro. A Igreja Discente, finalmente, composta de todos os padres, diáconos e fiéis leigos, possui o grave dever de prestar obediência aos seus superiores, sob pena de incorreram em condenação eterna, a menos que estes – os superiores - se desviem da fé verdadeira.

E, se tal estado de coisas criado pelo Filho de Deus surpreende aos espíritos orgulhosos, relativistas e anti-hierárquicos de nosso tempo, terminemos por lembrar, que além do poder de ensinar, a mesma Igreja possui também, e, especialmente, o poder de administrar as coisas santas. Pode, sim, dentro da lógica do próprio evangelho, fazer leis e de exigir a sua reta observância, impondo inclusive, se preciso for, as penas correspondentes aos erros cometidos.

Voltemos, entretanto, aos textos bíblicos em questão. Quando o Verbo Divino fez aquelas impressionantes afirmações (“Quem vos ouve a mim ouve, quem vos rejeita a mim rejeita”, “Tudo o que ligares na terra será ligado no céu, tudo o que desligares na terra será desligado no céu”, entre outras...), não se referia propriamente aos fiéis leigos, e nem mesmo aos simples religiosos, diáconos, sacerdotes e párocos de forma direta e imediata, mas tão somente, aos apóstolos e seus legítimos continuadores no exercício do ministério: os Papas e os outros bispos a eles subordinados.

Isso é de importância fundamental para não cairmos no exagero de atribuir uma autoridade singular como esta a quem não a possua por direito. De fato, Nosso Senhor não conferiu aos leigos esta função de ensino; e, mesmo os padres, eles simplesmente participam dum poder que cabe por direito à Igreja docente na pessoa dos legítimos sucessores apostólicos, o Papa e os Bispos a ele submissos. Isso explica tantos erros serpenteando entre os católicos, pois aqueles que deveriam seguir com extrema fidelidade os ensinamentos constantes da Igreja, todos eles revelados por Cristo, desprezam a autoridade conferida aos nossos pastores fiéis à Tradição. Julgando-se “doutores da verdade” põe-se a ensinar terríveis heresias.

Lembremo-nos: é sobre o fundamento dos Apóstolos que estamos edificados, por isso mantemos ininterruptamente desde o primeiro século da era cristã a crença numa única fé, assim como a submissão a um só Senhor e a aceitação de um único Batismo. Aqueles que se afastam desse caminho traçado pelo Filho de Deus, vivem como crianças ao sabor das ondas, agitados por qualquer sopro de doutrina, ao capricho da malignidade dos homens e de seus artifícios enganadores. Muitos, por pretenderem obedecer cegamente e sem discernimento, acabam por prestar vassalagem ao Demônio.

Maria Santíssima, mãe e rainha, rogai por nós!