segunda-feira, 3 de junho de 2013

As artimanhas de Satanás - parte II




Por Prof. P.M.C


Veio único e subterrâneo



Fixemos que há um “processo permanente”. Porém, qual sua origem? Sendo Deus sumo bem, torna-se claro que a gênese desse processo só pode ter se dado no uso incorreto da liberdade por parte de alguma de suas criaturas. Sabemos que o primeiro homem foi induzido ao erro, em última instância, por Satanás; portanto, o princípio da corrupção geral só pode ter ocorrido na “Queda dos Anjos”.

A partir do pecado original, Lúcifer tem recrutado homens das mais variadas classes para organizar seu exército particular. De Caim, passando por Judas, até o último dos ímpios possuímos a imagem perfeita da astúcia em sua arte de perder as almas.

Utilizando-se da tendência ao mal presente em todo indivíduo ferido pela queda adâmica, o adversário do gênero humano, promove não somente a revolta contra Deus, mas também contra toda sua criação. O cosmos como um todo é desprezado por ele como mau, e o Deus que o criou como “o malvado”. Segundo esta cosmovisão a matéria seria uma pérfida limitação e todos deveriam aspirar por um suposto “Pan” primordial onde tudo seria “um” com ausência total de hierarquias e desigualdades. Os comunistas se alegrariam com essa realidade, cara também aos anarquistas.

Encontramo-nos aqui perante a Gnose, igualitária e antimetafísica, desprezadora do cosmos e de toda cosmovisão católica escolástica. Joseph Ratzinger nos falara deste tema algumas vezes em seus escritos:

“Colocando-se do lado da serpente, de Caim, de Judas, dos grandes proscritos da humanidade, a gnose deu expressão à sua intenção verdadeira: nega o cosmos como um todo, junto com seu deus que desmascara como tenebroso tirano e guardião de prisão; vê em Deus e nas religiões apenas o selar e o fechar definitivo da prisão que é o cosmos”.[1]

Ora, vejamos: se o Deus do Antigo Testamento (gêneses) é mau por haver criado a matéria, e Lúcifer é aquele que ensina o desprezo a este Deus malvado, logo, é Lúcifer o verdadeiro “bom” que nos instrui no caminho da liberdade. Tudo se inverte nesta lógica satânica: ao que era bom chamamos mau, e ao que era mau, bom. Levando às últimas conseqüências este raciocínio falacioso, o catolicismo, a Bíblia, toda a cultura ocidental ou qualquer instituição que se diga Cristã, enfim, tudo que se liga de algum modo a JHWH (Javé), o Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, tudo isso deveria ser destruído; pois, somente assim, os indivíduos poderiam libertar a “partícula divina” que constitui seu ser mais íntimo e reintegrar-se à divindade primordial. Quem não ouve aqui o eco da serpente no Éden? Com efeito prometera: “Sereis igual a Deus”.(gênesis).

Percebe-se aqui duas formas opostas de entender a realidade criada: Uma otimista, como afirmara G.K. Chesterton sobre o catolicismo[2] e outra extremamente pessimista, a gnose, igualitária, anti-hierárquica e desprezadora da matéria.

Queda dos Anjos
Bem, se vê também a íntima relação que há entre a gnose e o maniqueísmo dualista; com efeito, ambas as formas de pensamento são contrárias à criação material. Não nos percamos, porém, nos labirínticos e escuros corredores secretos do gnosticismo herético. É próprio de Satanás, pai da mentira, temperar suas doutrinas com os mais variados sabores para, deste modo, envenenar “gregos e troianos”.

Afirmamos isso porque há ramos gnósticos que, por exemplo, manifestam certa semelhança com o Panteísmo, divinizador da matéria, o que pode parecer contraditório à primeira vista. Não esqueçamos porem que a “contradição”, opondo-se ao “princípio de identidade”, é como pano de fundo no teatro das heresias e erros em geral.

“(...) Há Gnoses que aceitam o cosmos, no sentido de que admitem a futura transformação da matéria cósmica em substância puramente espiritual e divina. Há gnoses que ao mesmo tempo amam e odeiam o Cosmos”[3]

“(…) a distinção entre Gnose e Panteísmo é muito tênue e (...) é muito fácil passa5r de um movimento para o outro. O Panteísmo tem, muitas vezes uma doutrina oculta que é de fato, gnóstica.”[4]


O que mais importa aqui, no entanto, é a idéia segundo a qual, como vimos, há um “processo permanente” que avança desde a queda angélica. Ele está fundamentado no ódio contra Deus e a sua criação. Guardemos o seguinte princípio: toda e qualquer contradição presente nos vários pensamentos opostos à Cristo e sua Igreja é mera artimanha demoníaca em seu intento de agradar às varias classes de homens que se objetiva perverter.


Com efeito, afirmava o doutor Orlando Fedeli: “(...) há um veio único e subterrâneo que liga todas as heresias do ocidente.” [5]E no mesmo sentido, se assim podemos dizer, guardadas as devidas distinções, escrevia o Marquês de Valdegamos ao Cardeal Fornari:

“Entre os erros contemporâneos não há nenhum que não se reduza a uma heresia; e entre as heresias contemporâneas não há nenhuma que não se reduza há outra (...). Idênticos entre si quando considerados sob o prisma de sua natureza e de sua origem, os erros oferecem, todavia, o espetáculo de uma variedade portentosa quando vistos através de suas aplicações.”[6]

Suplicamos à mãe de Deus que nos proteja nas lutas contra todo erro. E a Santo Irineu de Leon, terror dos gnósticos, que alcance de Nosso Senhor as luzes necessárias para combatermos os inimigos da esposa de Cristo.

Virgem de Fátima, rogai por nós! 


[1] RATZINGER, Joseph. A união das nações. São Paulo, Loyola,1975. Pg. 21. 
[2] CHESTERTON, G. K. Santo Tomás de Aquino. Trad. Carlos A. Nougué. Rio de Janeiro, Edit. Co-redentora, 2002. Pg. 101. 
[3] FEDELI, Orlando. Antropoteísmo. A religião do homem. 1ª edição. Editora Celta, 2011. Pg.38. 
[4] FEDELI, Orlando. Antropoteísmo. A religião do homem. 1ª edição. Editora Celta, 2011. Pg.38. 
[5] FEDELI, Orlando. Antropoteísmo. A religião do homem. 1ª edição. Editora Celta, 2011. Pg.37. 
[6] CORTÉS, Donoso. Carta ao Cardeal Fornari, 1852.