segunda-feira, 21 de março de 2011

São José, patrono da Pia




 Por Saulo Eleazer
 
     São José é um modelo sublime dos defensores de Nosso Senhor. Aquele que desejar tornar-se paladino do Corpo Místico deverá ter no esposo de Maria Santíssima a fonte de seus anseios, o alimento de suas pretensões. Se o fizer não falhará nesta santa empreitada.
O que escrevi?! “Esposo de Maria Santíssima”! Que graça! Que honra indizível! Quisera poder expressar em palavras louvores devidos por tal dignidade, porém, não o posso. Acredito que nem mesmo os anjos poderão  fazê-lo devidamente.
Portanto, para honrar a São José, tentando condensar numa frase esplendores incalculáveis, basta repetirmos o imponderável: “Salve, esposo de Maria!” Então, os anjos se “comoverão”, e, ele, no silêncio adorador de sua alma, explodirá em louvores por tal dádiva.
Realmente, que esposa! Rainha dos céus, Rainha da terra, e, para abafarmos todas as outras dignidades: Mãe de Jesus Cristo, o Deus encarnado! É glória demais para simples criaturas! Uma, é Mãe do próprio Deus, a outra criatura, esposo desta mesma Theotokos. Estamos perante realidades que transcendem a simples especulação humana; só Deus poderá elevar-nos à contemplação devida de tais mistérios.
Imaginem os senhores se pudéssemos observar, um segundo que fosse, a santa convivência deste casal! Os olhares, os sorrisos, as palavras... Enfim, todo e qualquer movimento, desde um simples bocejo, até um ósculo esponsal, este, puro e angélico; que magnífico seria! Suplicaríamos a Deus, entre lágrimas e gemidos, que nos deixasse ali por toda a eternidade.
Então, São José, porte ereto, viril, fitar-nos-ia com candura, a nós, discípulos de seu filho. Maria Santíssima se alegraria ao ver, a pesar de tanta miséria humana, o acanhado reconhecimento, por nossa parte, da grandeza de seu esposo. E, por fim, nos apresentaria o Divino Infante. Oh, Deus! Calemo-nos aqui.
Que poderia ser dito perante aquela criança extraordinária?Nada. Deus é para ser adorado.
Senhores, terminemos assim nossa reflexão: Calados.
Calados pela grandeza do menino.
Calados pela grandeza de sua Mãe.
Calados pela grandeza de São José, esposo de Maria Santíssima. E, nem falamos de sua paternidade...

São José, esposo de Maria, rogai por nós!



sábado, 12 de março de 2011

Introdução ao Teosofismo



“... Satanás e os outros demônios... tentam associar o homem à sua rebelião contra Deus...”[1]



Por Saulo Eleazer

     A Teosofia, no entender de Helena Petrovna Blavatsky, é a sabedoria divina, eterna, que, periodicamente, é reapresentada aos homens, adaptada à época e às condições espaciais. [2] Afirma-nos D. Estevão Tavares Bettencourt, que ela distingue-se da Teologia, pois, esta é o discurso (logos) sobre Deus (Théos), conhecido à luz da fé, enquanto que, ao contrário, a teosofia (Sophia = sabedoria), viria a ser, como dizem, o conhecimento de “deus” recebido por iluminação reservada a poucos... [3]
Vê-se ai o quanto dista do cristianismo esta doutrina perversa e estapafúrdia. Pretende reacender “a chama dos antigos, voltando-se para o mistério, a magia, a cabala e a alquimia.” [4], entre muitos outros delírios esotéricos. Pode-se afirmar, com toda certeza, que ao estudarmos as teses da teosofia deparamo-nos com um emaranhado de doutrinas ocultistas, onde gnose e panteísmo dialogam buscando a mais agradável convivência no terreno de um indiscreto satanismo. 
Encontramos em vários livros as mais desencontradas informações referentes à origem da teosofia, assim como, sobre os dados biográficos de suas fundadoras (H. Blavatsky e Annie Besant). Nosso principal objetivo, entretanto, é apresentar a doutrina delirante dessa Sociedade esotérica. Que esta introdução sirva, tão somente, para localizarmo-nos, um pouco que seja, no universo desta área de pesquisa. Em todo caso, é muito ordinária a confusão de informações em assuntos ligados à charlatanice e a bilontragem.

Que Maria Santíssima seja o auxilio nas lutas contra o erro que se propaga em nosso tempo.

***

História do Teosofismo

Teosofismo[5]

 A história do teosofismo confunde-se com a das duas fundadoras: Blavatsky e Annie Besant. Helena Petrovna de Hahn, nascida na Rússia (1831), casada aos 18 anos com o general Nicéforo Blavatsky, que já passava dos 60, abandonou-o cedo para, em companhia do mago Paulos Metamon, correr a Grécia e o Egito. Descoberta nas fraudes espíritas do ‘Clube dos Milagres’ que abrira no Cairo, partiu para Nova Iorque onde, auxiliada pelo jornalista H. S. Olcott, fundou a Sociedade Teosófica (17 nov. 1857), encarregada de espalhar a doutrina dos ‘mestres espirituais do mundo’, os mahatmas. [6] Enérgica, dotada de apreciáveis faculdades de médium, Blavatsky começou a propaganda da Sociedade, que reunia, num só corpo, as principais tradições do ocultismo, das filosofias hindus, da mitologia, da magia e do espiritismo. Estabeleceu o santuário central em Adiar, na índia, preferindo morar em Londres. Dois dolorosos insucessos precipitaram a morte de Blavatsky. O primeiro foi o desmentido feito pela célebre Sociedade de Investigações Psíquicas, de Londres, após um inquérito científico acerca das problemáticas ‘maravilhas’ que Blavatsky afirmava realizarem-se em Adiar. Outro golpe recebeu a Sociedade quando se descobriu que as mensagens atribuídas aos mahatmas não eram senão fabricadas inteiramente pelo americano W. S. Judge.
A alma, porém, e a voz mais autorizada da Sociedade, foi a inglesa Annie Wood (nac. 1847), casada com o ministro anglicano Frank Besant. ‘Acostumada a viver em completa liberdade, impulsiva e briosa como Lúcifer’, disse ela em sua biografia, pouco depois abandonou sua fé cristã e seu marido. Após dez anos de pregação do mais deslavado materialismo e maltusianismo, de parceria com o ateu Bradlangh, a que acabou também abandonado, em 1882, Besant encontrou-se com Blavatsky, em Londres, e seguiu-a. Filiada à Maçonaria, Besant em 1893 partiu para Adiar, onde procurou realizar o seu programa de restaurar e elevar as antigas religiões hindus, provocando o nacionalismo desses povos. Com a morte de Olcott, feita presidente da Sociedade, começou suas viagens triunfais pela Europa. Breve, porém, vários fracassos forçaram o declínio da nova estrela. Obcecada pela idéia de revelar o indivíduo em quem devia estar reincarnado um dos ‘grandes instrutores do mundo’, Besant escolheu, em Londres, um menino que afirmava ser Pitágoras reencarnado e o confiou a Leadbeater. Tão inconfessáveis, porém, foram os processos de Leadbeater no seu mister, que o pai do iniciado retirou o filho e o Congresso Teosófico de Paris, em 1906, exigiu a exclusão do educador. Carecendo, porém, da virtuosidade oculta de Leadbeater, para o êxito da campanha messiânica que projetava, Besant obteve, dois anos depois, a sua reinclusão na seita, a despeito do voto contrário das seções alemãs chefiadas por Steiner, o mais sério rival de Besant. De acordo com Leadbeater, Besant começou, em 1908, a iniciação de outro jovem, um hindu de 13 anos, Krishnamurti, a quem, como Mizar, adotou como filhos, chamando o primeiro Alcion, e apresentou-o como Mestre e Messias. [7] Recusando-se a obedecer ao ingênuo Alcion, alguns teósofos europeus, chefiados por Steiner, provocaram um cisma na seita, acabando Besant por excluir da Sociedade toda a secção alemã (2.400 membros). A partir então de 1913 deparamos duas sociedades teosofistas: os teosofistas, presididos por Besant e os antroposofistas, às ordens de Steiner e chefiados na França pelo grande iniciador Ed. Schuré.
Prejudicada na índia e na Europa, Besant ensaiou nova estratégia para reconquistar a popularidade. Lançou-se, em 1913, na vida política da Índia lutando pela emancipação nacional. Tendo a Inglaterra, pelo ministro Montagu, reconhecido a Índia como um ‘Domínio’ autônomo, reuniu-se o Congresso Nacional: os Extremistas sob a égide de Gandhi, que reprovavam o projeto Montagu, e os Moderados, entre os quais Besant. Vendo em Gandhi o campeão da liberdade nacional, os hindus o aclamaram seu Mahatma, perdendo Besant toda a popularidade, a ponto de ser excluída da ‘Conferência da Mesa redonda’, convocada entre delegados indianos e ingleses, para uma nova constituição hindu. De ocaso em ocaso, Besant veio a sofrer o mais profundo golpe com a proclamação de Krishnamurti. Impressionado com a morte de seu irmão, que com ele tinha sido enviado a Oxford, Krishnamurti recusou-se a exercer o papel que sua mãe adotiva lhe confiou e declarou que não era de modo algum o Messias; considerava mesmo toda religião como negócio puramente individual e detestava toda a organização de sociedades religiosas. Em 1929 Krishnamurti dissolveu a ‘Ordem da Estrela do Oriente’, fundada em honra do ‘Messias’. Acabrunhada e octogenária, Besant morreu aos 20 de setembro de 1933, em Adiar. Krishnamurti continua pelo mundo a pregar sua ‘filosofia’ e a Sociedade Teosofista, que teve há pouco como vice-presidente Jinarajadasa, está acéfala. [8]
Ao que nos consta, hoje os teosofistas ultrapassam 100 mil, em todo o mundo. Possuem eles seus templos e organizam suas sociedades secretas, lojas, a cujas reuniões só os iniciados assistem.

(Pg. 98-100)

(P.S.: Tivemos a liberdade de omitir algumas notas de rodapé que julgamos desnecessárias. O negrito é nosso.)


Referencia Bibliográfica:

SALIM, Dr. Emílio. Apologia do Catolicismo. 2º Edição. São Paulo: Editora Vozes, 1944. 472 pg.





[1] Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2oo5. Pag. 41.
[2] BLAVATSKY, H. P. A Doutrina Secreta. Síntese da Ciência, da Religião e da Filosofia. Vol. IV.  Trad. Raymundo Mendes Sobral.  São Paulo: Pensamento.
[3] BETTENCOURT, Estevão Tavares. Crenças, religiões, igrejas e seitas: quem são? 2º  Edição.  São Paulo: O Mensageiro de Santo Antônio, 1995. Pág.140.
[4] BLAVATSKY, H. P. A Doutrina Secreta...
[5] Não confundir Teosofia com teosofismo. A palavra teosofia, já usada no século XVI, denominava doutrinas bem diversas, concepções mais ou menos esotéricas, de inspiração religiosa e base cristã. Tais são as doutrinas de certos iluministas como Jacob Boehme, Swedenborg, Jane Lead e outros filósofos do séc. XVIII.
[6] Que são os mahatmas, de quem tanto falam os teosofistas? Segundo Blavatsky e seus sequazes, os mahatmas são uma espécie de jerarquia oculta que governa o mundo secretamente. Super-homens vivos, dotados de raras faculdades, como a de conhecer o pensamento alheio, comunicam-se com outros mestres e discípulos, onde quer que estejam, etc. Tendo atingido, em anteriores reencarnações, o supremo grau da espiritualidade, seu lugar próprio seria o céu, mas, zelosos da felicidade humana, habitam nas regiões inacessíveis do Tibete e dali transmitem as ordens divinas aos diretores da Sociedade Teosófica. Seria perder tempo pretender provar que os mahatmas, assim como os pintaram os teosofistas, só existem em sua fantasia.
[7] Indignado com os processos de Besant e Leadbeater, o pai de Krishnamurti moveu-lhes um processo, para obter a restituição do filho. Achando em regra os documentos relativos à adoção de Krishnamurti, o tribunal de Madras negou ao pai o direito de reaver o filho.
[8] As Sociedades Teosofistas Brasileiras que aguardavam, com explicável ansiedade, a visita de Krishnamurti ao Rio e S. Paulo, em abril de 1935 passaram por um desapontamento indescritível, ouvindo as idéias expendidas por esse a quem, obstinadamente, ainda querem chamar ‘Messias’.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Igreja, Razão e Verdade



“... tentamos explicar tudo o que a nós parece razoável, e mais ainda, necessário para o homem.” (Card. Joseph Ratzinger)

“Buscamos uma religião que não seja inventada, mas sim autêntica, e que, ao mesmo tempo, seja acorde com nossa razão.” (J. Ratzinger)

“... nossa religião é a continuação e a culminância das filosofias da época – e também uma superação das filosofias.” (Ratzinger)


Por Saulo Eleazer

Neste tempo atordoado, em que o subjetivismo pretende destronar a Verdade, poucas vozes levantam-se em defesa de Nosso Senhor. Os poucos que ousaram organizar-se à sombra do ideal cristão parecem desanimados perante a ousadia dos adversários...

Não podemos nos calar.

Nunca, jamais!

É preciso reafirmar, constantemente, os ideais da fé. Gritar bem alto os esplendores da Verdade. No céu, ouvir-se-ão aplausos angélicos. Na terra, homens serão incendiados pela bravura dos crentes. E, por fim, os “inimigos da cruz”, verão frustrados seus intentos.

O triunfo é inevitável, incerta é nossa participação no mesmo. Lutar por Cristo é tornar-nos, por sua graça, partícipes da vitória. Proclamemos, portanto, bem alto a Verdade, mesmo que ninguém nos escute.

Nosso coração se encheu de alegria ao “ver” a voz, quase solitária, do então Cardeal Ratzinger em defesa das verdades do cristianismo no texto que se segue. Possa a Santíssima Virgem Maria, por sua doce intercessão, tornar-nos dignos companheiros deste paladino da fé.   


***


A pretensão da Verdade posta em dúvida

“No inicio do terceiro milênio, e precisamente no âmbito de sua expansão original – Europa - o cristianismo se encontra imerso em uma profunda crise que é conseqüência da crise de sua pretensão da verdade. Essa crise tem uma dupla dimensão: em primeiro lugar, questiona-se cada vez mais se é realmente oportuno aplicar o conceito de verdade à religião; em outras palavras, se é dado aos homens conhecer a autêntica verdade sobre Deus e as questões divinas. Para o pensamento atual, o cristianismo de modo algum está mais bem situado que as demais religiões. Ao contrário: com sua pretensão da verdade parece estar especialmente cego diante do limite de nosso conhecimento do divino.
Todo este ceticismo frente à pretensão da verdade em matéria de religião se vê respaldado, ainda, pelas questões que a ciência moderna levantou sobre as origens e os conteúdos do cristianismo: com a teoria da evolução parece ter sido superada a doutrina da Criação; com os conhecimentos sobre a origem do homem, a doutrina do pecado original; a exegese crítica relativiza a figura de Jesus e questiona sua consciência de Filho; a origem da Igreja em Jesus parece duvidosa etc. O fundamento filosófico do cristianismo se mostra problemático após o ‘fim da metafísica’, e seus fundamentos históricos são postos em xeque por efeito dos métodos históricos modernos.
Por isso, também é fácil reduzir os conteúdos cristãos ao simbólico, não lhes atribuir maior veracidade que aos mitos da história das religiões, vê-los como uma forma de experiência religiosa que se deveria situar com humildade ao lado de outras. Ao que parece, assim considerado, poder-se-ia continuar sendo cristãos, e continuam sendo utilizadas as formas de expressão do cristianismo, cuja exigência se transformou radicalmente: a verdade, que era uma força  vinculadora e uma promessa segura, transforma-se em uma forma de expressão cultural do sentimento religioso geral que nos cabe por conta de nossa origem européia.”

“Em suas origens, como o cristianismo contemplou seu lugar no cosmos das religiões? O surpreendente é que, sem hesitar, Agostinho atribuiu ao cristianismo um posto no âmbito da ‘teologia física’, do racionalismo filosófico. Esse fato implica uma evidente continuidade dos primeiros teólogos do cristianismo – os apologistas do século II – com relação ao lugar que Paulo atribui ao cristão no primeiro capítulo da Carta aos romanos, que, por sua vez, se baseia na teologia da sabedoria do Antigo Testamento e, por meio dela, remonta ao escárnio dos deuses dos Salmos.
Sob essa perspectiva, o cristianismo tem seus precursores e sua preparação interna no racionalismo filosófico, não nas religiões. [1] Segundo Agostinho e a tradição bíblica, para ele decisiva, o cristianismo não se baseia nas imagens e idéias míticas, cuja justificação se encontra, afinal, em sua utilidade política, mas faz referência a esse aspecto divino que a análise racional da realidade pode perceber. Em outras palavras: Agostinho identifica o monoteísmo bíblico com as idéias filosóficas sobre o fundamento do mundo formadas em suas diversas variantes na filosofia antiga. A isso se faz referência quando, desde o sermão do Areópago de Paulo, o cristianismo se apresenta com o propósito de ser a religio vera. Assim, pois, a fé cristã não se baseia na poesia nem na política, essas duas grandes fontes da religião; baseia-se no conhecimento. Venera esse Ser que é o fundamento de tudo o que existe, o ‘Deus verdadeiro’. No cristianismo, o racionalismo se tornou religião e não é mais seu adversário. [2]
Partindo dessa premissa, como o cristianismo foi entendido como um triunfo da desmitologizaçâo, como um triunfo do conhecimento e, com isso, da verdade, devia ser considerado universal e levado a todos os povos; não como uma religião específica que ocupa o lugar de outras, ou como uma espécie de imperialismo religioso, mas como verdade que torna a aparência supérflua.”

“Justino, filósofo e mártir – falecido em 167 – pode ser considerado uma figura representativa dessa forma de chegar ao cristianismo como vera philosophia. Com sua conversão ao cristianismo, não renunciou a suas próprias convicções filosóficas, mas foi quando se tornou verdadeiramente um filósofo. A convicção de que o cristianismo era filosofia, a filosofia perfeita, ou seja, a filosofia que chega até a verdade, manteve-se vigente para além dos tempos dos Pais da Igreja. No século XIV, essa consideração é evidente na teologia bizantina de Nicolau Cabasilas. Certamente a filosofia não era entendida, então, como uma disciplina acadêmica puramente teórica, mas também, e acima de tudo, sob uma perspectiva prática, como arte de viver e morrer com probidade a que só se pode chegar à luz da verdade.”

O racionalismo pode se transformar em religião porque o mesmo Deus do racionalismo entrou na religião. O elemento que realmente exige fé, a palavra histórica de Deus, é a condição prévia para que a religião possa se voltar, por fim, para o Deus filosófico, que já não é um mero Deus filosófico e que não rejeita o conhecimento filosófico, mas que o assume.”

“A tentativa de dar de novo um sentido claro ao conceito de cristianismo como religio vera no meio dessa crise da humanidade deve se basear igualmente, por assim dizer, no reto agir (ortopráxis) e no reto crer (ortodoxia).”


(P.S. O negrito é nosso)

Referência Bibliográfica:

RATZINGER, Joseph; D`ARCAIS, Paolo Flores. Deus existe? Trad.: Sandra Martha Dolinsky. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2009.





[1] Conferir no mesmo livro a seguinte citação: “... nós somos a continuação do pensamento humano que criticou as religiões, do pensamento que já havia encontrado uma pista de Deus, mas que somente com suas forças não podia identificá-lo realmente.” (Ratzinger) . RATZINGER, Joseph; D`ARCAIS, Paolo Flores. Deus existe? Trad.: Sandra Martha Dolinsky. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2009, pg.34.


[2] Conferir, também,  no mesmo livro: “São Paulo esta convencido de que a fé cristã apela à razão, mas também esta convencido de que vai além das coisas evidentes para a razão.” (Ratzinger) Pág. 33

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Grandes Ideais e Vida Fraterna

  
“... importa é prosseguir decididamente.” [1](S. Paulo)

“Não vos deixeis enganar: Más companhias corrompem os bons costumes.” [2] (S. Paulo)

“Busca as coisas do alto... afeiçoai-vos às coisas de cima e não às da terra.” [3] (S. Paulo)

“Todos os demais buscam os próprios interesses e não os de Jesus Cristo.” [4] (S. Paulo)

“Tendei à perfeição, animai-vos, que haja um só coração...” [5] (S. Paulo)


Por Saulo Eleazer

O homem necessita de ideais transcendentes. Foi feito para além. As margens lhe causam tédio e desespero. Por isso, voltado para si, como fim último de todas as coisas, sente-se frustrado e infeliz.

Entretanto, Deus nos fez, essencialmente, “relação”. Estar com os demais realiza a natureza de nosso ser. A própria Trindade se dá no “Um” para com os “Outros”. Portanto, fechar-se egoisticamente, privar-se da vida em comum, é caminhar para a infelicidade.

Aqui, uma constatação salutar para todo indivíduo: não só a importância de grandes ideais, como também, a necessidade da vida fraterna para a realização da própria apetência do ser enquanto tal. 

Ora, que ideais serão estes senão os do próprio Cristo? Não somos membros de seu Corpo Místico? De fato, estar em união com Ele[6] significa a mais íntima comunhão de espírito. Afinal, “nós temos o pensamento de Cristo”. [7]

Por isso, uma das grandes armas do Demônio tem sido a divisão. Primeiro, afasta os corações, depois - conseqüência lógica - os corpos. Ele sabe, como afirmara Salomão, que o homem isolado torna-se egoísta e revoltado. [8] Ali, afastado da vida fraterna que lhe era devida sente-se vazio e amargurado, então, faminto, tomará qualquer coisa por comida, pois, neste estado deplorável “tudo o que é amargo lhe parece doce.” [9]

O homem prudente percebe o mal e se põe a salvo; [10] além do mais, aquele que afasta o ouvido para não ouvir a instrução até sua oração torna-se um objeto de horror; [11]portanto, cuidado! Busca identificar teus sonhos aos mesmos ideais de Nosso Senhor, e, para alcançá-los, tenha profunda amizade com os membros de Seu Corpo Místico; sem desprezar, todavia, os demais homens criados por Deus todo poderoso. 

“... ai do homem solitário: se ele cair não há ninguém para levantá-lo. Da mesma forma, se dormem dois juntos, aquecem-se; mas um homem só, como se há de aquecer? Se é possível dominar o homem que está sozinho, dois podem resistir ao agressor, e um cordel triplicado não se rompe facilmente.” [12]

Nobres ideais e profícua vida fraterna! Eis, um grande segredo para a felicidade. Mas, como “nem tudo o que reluz é ouro” cuidado, também, com aqueles a quem te juntas. Nesta “noite” da história do catolicismo “todo gato é pardo”. São Paulo já nos dissera que lobos cruéis seriam encontrados, inclusive, na Igreja de Cristo. “Mesmo dentre vós surgirão homens que hão de proferir doutrinas perversas.” [13]

Muitos são os adversários. [14] Não sejamos ignorantes ao ponto de imaginar que basta estarmos perante um membro da Igreja Católica para ficarmos à salvo contra o engano ou a heresia. Judas, o suicida, e Martinho Lutero (para não citarmos tantos outros, alguns dos quais ainda vivem) também saíram de nosso meio...

Sendo assim, na dúvida, interroga a Tradição; a favor de quem lhe responder na voz do Magistério Vivo, segue sem medo, pois, os escravos de Cristo[15], têm na Cátedra de Pedro (assim como, nos Bispos a ela submetidos) a certeza da verdade. [16]


Mãe do Bom Conselho, rogai por nós!



[1] Filipenses 3, 16
[2] I Coríntios 15, 33
[3] Colossenses 3, 1-2
[4] Filipenses 2, 21
[5] II Coríntios 13, 11
[6] Gálatas 3, 28
[7] I Coríntios. 2,16
[8] Provérbios 18, 1.
[9] Provérbios 27, 7
[10] Provérbios 27,12
[11] Provérbios 28, 9
[12] Eclesiastes 4, 9-12
[13] Atos dos Apóstolos 20, 30
[14] I Coríntios 16, 9
[15] I Coríntios 7,22
[16] I Timóteo 3, 14

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Aviso aos leitores

Hoje, dia em que este blog completa três anos de existência, comunico que estou passando a administração a um novo administrador, que dará prosseguimento à labuta pelo Reino de Cristo. Agradeço a todos pela ajuda prestada. Peço aos leitores que continuem nos acompanhando com suas visitas e, principalmente, nos apoiando com suas orações.

Peço também que deem as boas vindas a Renato César, novo editor e administrador.

 

Em Cristo,

 

Paulo Oliveira.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Rádio Católica 24 horas no ar

 

 

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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Dois Amores Duas Cidades (.pdf) - Gustavo Corção

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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Visitas virtuais ao Vaticano

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Visitas virtuais às basílicas e capelas papais

 

Fotos em 360º e em alta definição das basílicas vaticanas.

 

A Capela Sistina pode ser visitada em:

http://www.vatican.va/various/cappelle/sistina_vr/index.html

A Basílica de São Pedro pode ser visitada em:

http://www.vatican.va/various/basiliche/san_pietro/vr_tour/index-en.html

A Basílica de São Paulo Fora dos Muros pode ser visitada em:

http://www.vatican.va/various/basiliche/san_paolo/vr_tour/index-it.html

A Basílica de São João de Latrão pode ser visitada em:

http://www.vatican.va/various/basiliche/san_giovanni/vr_tour/Media/VR/Lateran_Nave1/index.html

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ânsia Interior

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Por Prof. Pedro M. da Cruz
 
“O que adorais sem conhecer, eu vo-lo anuncio!” [1]
“É Nele que temos a vida, o movimento e o ser.” [2]
“No seu amor Ele nos predestinou...” [3]
 
A via espiritual é um caminho inevitável para o homem. Pela própria estrutura do seu ser, quer queira, quer não, (mesmo que não o busque conscientemente) descobrir-se-á envolvido nas teias dessa realidade que o solicita, penetra e consome.
Todas as coisas existem em Cristo. Como, então, imaginar um vivente neste mundo que não se suponha, ao menos confusamente, submergido nesta magnífica atmosfera? “Nele foram criadas todas as coisas... por Ele e para Ele.” [4]
Claro: a alguém que jamais ouviu falar da Revelação Sobrenatural, caberá sentir-se nesta “atmosfera crística” dum modo todo peculiar ao seu estado; porém, não será privado desta graça. Num dado momento terá aquela impressão “sem nome”, então, idéias correlatas surgirão “num pulo” em sua mente, e, por fim, ver-se-á às portas de especulações metafísicas.
Tudo isso parecerá improvável ao leitor, talvez, “sofisticado demais” para ocorrer em mentes simples como a de silvícolas, “famintos da áfrica” ou dementes, porém, as nuances em que podem dar-se essas “experiências” variam ao infinito. Além do mais, antes de chegarem às aprimoradas formulações racionais (possíveis, mas difíceis para alguns) elas se dão no mais íntimo da alma, num amplexo entre o que há de natural no homem e as sutilissimas carícias do Espírito que tudo ama, mantem e penetra misteriosamente.
A bem da verdade, em última instância, isto é sempre uma ação amorosa de Deus no mais recôndito das almas humanas, todavia, como conseqüência lógica do próprio ser enquanto ser. [5] Ou seja, pelo simples fato de o homem ser como é, por exemplo, criatura racional, ele está susceptível a estas sensações, percepções, “luzes”, “intuições”, em escala variável, óbvio - como já indicamos - dependendo do estado em que se encontra cada indivíduo.
Poderão vir num simples “arrepio”; ou, na fruição estranha do que é certa bondade enigmática, mirífica, sugerida pelo cuidado atento e demorado da mãe; quem sabe num frêmito, num frenesi; não se sabe... Referimo-nos a qualquer coisa que “eleve”, “sublime”; que faça o indivíduo dar um passo para além da ordinariedade nua e crua (mesmo esta, tomada pela interpenetração irrefragável entre natural e sobrenatural). Com efeito, Deus está em tudo[6]; e, em certo sentido, é concomitante aos seres criados. Tomistas chamarão “Presença de imensidão” a esta realidade estupenda.
“percepções interiores” que, em determinado ponto, escapam a toda codificação, não se condensam em palavras. O fato é que Deus jamais priva o homem desse “ósculo”, mesmo inominável; mas, ao contrário, por tê-lo criado neste modo de ser, atiça-o constantemente às mais possíveis degustações de suas possibilidades no cadinho das vivências cotidianas.[7]
Orlando-Fedeli-em-Sirmione-abril-2009
Pode ser que ocorra tomado pela grandiosidade da natureza, ou, inclusive, pela própria mediocridade de algumas ações  humanas; mas, a verdade, é que haverá um “estopim”, um fato desencadeador qualquer, que possibilitará ao indivíduo a constatação desse “veio místico”, digamos assim, que lhe é peculiar.
“Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo como que às apalpadelas, pois na verdade Ele não está longe de cada um de nós.” [8]
Estará andando pelas ruas; fazendo compras; ouvindo música; admirando uma pessoa, uma paisagem, um fato convencional, por mais banal que pareça; ou, quiçá, passando por um problema grave, talvez, a morte dum parente a perda de um amor... não importa. Então, num abrir e fechar de olhos, um “não sei o que, um “raio súbito” inundará sua alma, um sentimento estranho de enlevo, finitude ou impotência encherá seu intimo. Assim, terá emergido, desde o mais recôndito, aquela benéfica sensação do imponderável, um toque sobrenatural, ele que nos chama e “enfeitiça”.
A criatura racional, pelo mesmo fato de ser limitada e contingente – repitamos - traz em si a ânsia pelo “Perfeito”. Na verdade, é a Ele que “busca” toda criação[9], Nele se encontra a plenitude almejada, satisfação cabal de nossos desejos. Os anjos, os homens, enfim, a totalidade dos seres, apresenta-se neste processo qual “rastilho” nas mãos do Onipotente.
Agora, a pessoa – infelizmente - afogada no ativismo, escrava da materialidade, subjugada pelos prazeres fugazes desta vida, entre outras coisas, obviamente que terá maior insensibilidade às “coceiras” da natureza, se assim podemos chamar. Porém, elas sempre estarão ali o incomodando, atraindo-o às profundidades, dizendo-lhe íntima e repetidamente: “Há algo mais, há algo mais, há algo mais...”. Sim, por que há! E, sendo esta a realidade, fugir é cair na ilusão, viver frustrado, rumar a mais triste depressão.
 
“As perfeições invisíveis de Deus, seu poder sempiterno e divindade, se tornam visíveis à inteligência.” [10]
“... dando-lhes testemunho a sua consciência, bem como os seus raciocínios, com os quais se acusam ou se escusam...” [11]
“O que se pode conhecer de Deus eles o lêem em si mesmos” [12]
 
Falamos parágrafos acima de certa “experiência humana” inerente ao seu estado natural. Não é isto, também, graça do bom Deus? Após esta “antecâmara”, ou nela, encontrar-se-á o advento duma graça diferente, especial, toda própria do cristianismo, e, em suas possibilidades mais raras, sempre dependente deste.
De fato, há graças que só nos vem pela Igreja. Mesmo aqueles que, sem culpa própria, desconhecem o Cristo, mas levaram vida digna, tomarão parte em graças por uma misteriosa relação com o mesmo Corpo Místico de Nosso Senhor, por ele ignorado.
Temos, assim, estupendos movimentos de alma que precedem à conversão. Pessoas, na idade da razão, tendo alcançado certa “disposição humana adquirida” (porque estimulada) serão terrenos férteis para a evangelização. Estas “experiências interiores”, se acompanhadas de boa formação humana e doutrinal, poderão levá-las às Águas Batismais, onde terão acesso não só à Graça Habitual (Presença Santificante) como, também, a uma constelação de Graças Atuais que muito auxiliarão na Vida Espiritual.
Portanto, se bem canalizada essa ânsia interna, presente em todas as almas, poderemos conduzir incontáveis seres humanos ao conhecimento da verdade, à única Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, Católica, Apostólica e “mil vezes!” Romana.
 
“Deus, porém, não levando em conta os tempos de ignorância, convida agora todos os homens de todos os lugares...” [13]
Maria Santíssima, rogai por nós!
 

[1] At. 17,23
[2] At. 17, 28
[3] Efe. 1,5
[4] Jô. 1,15-18
[5] O Homem, por ser como é, anseia por algo “imponderável em sua totalidade”. Então, Deus, que o fez assim (limitado, contingente... – e não poderia ser de outro modo, pois sendo criatura jamais possuiria a característica de “Absoluto”, própria da divindade), vem ao seu encontro, primeiro pelo “livro da Natureza”, depois pelo “livro Revelado”. O fato é que o primeiro encontro – no livro da Natureza (aqui o termo “Natureza” entendido de forma ampla, filosófica) - gera no homem uma série de moções interiores que o predispõe, com o auxilio de muitos outros meios, a graças superiores. Comumente não temos valorizado este “primeiro amor” que, a pesar de inferior ao “amor perfeito” da união sobrenatural, não deixa de ser indispensável, por que é parte de um processo natural querido por Deus.
[6] Negamos, obviamente, toda idéia errônea de panteísmo e gnose.
[7] Pensemos aqui no bem que faria às crianças e jovens o contato com a arte em sua expressão mais ordenada e sadia. O teatro, a música, a dança, a pintura, a fotografia... Enfim, tudo poderia ser um meio eficaz de elevação da mente a Deus, ou, até mesmo, de uma potencializarão de reações conhecidas em direção a um fim predeterminado, como, por exemplo, a comoção do indivíduo perante realidades que conduzem a reflexões de interesse.Afirmamos é que tudo deve ser usado para a maior glória de Deus, salvação das almas e exaltação da Santa Igreja.
[8] At. 17, 27
[9] Rom. 8, 22.
[10] Rom. 1,20
[11] Rom. 2,15
[12] Rom. 1,19
[13] At. 17, 30

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

D. Rifan: A Diversidade Litúrgica

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Por Prof. Pedro M. da Cruz
 
“Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção.” (S. Tomás de Aquino)
“Estamos falando do rito em latim tal e qual foi promulgado pelo Santo Padre Paulo VI e aprovado pelos seus sucessores.”
Conservamos a Tradição e a Liturgia tradicional, em união com a Hierarquia e o Magistério vivo...”
 
 
Vemos atualmente em certos grupos uma posição indevida perante o Magistério Vivo da Igreja Católica. É muito de se lastimar, pois, o Papa e os bispos a ele submetidos, são os legítimos representantes de Cristo, Nosso Senhor.
Dom Rifan nos apresenta abaixo sua visão pessoal enquanto bispo (assim como, o posicionamento oficial da Administração Apostólica São João Maria Vianney) sobre vários assuntos ligados a Igreja e a Liturgia. No mais, Aconselhamos a leitura completa de sua Orientação Pastoral.
Maria Santíssima, rogai por nós!
 
§ 4. Critérios e limites a serem observados:
“Falamos acima[1] sobre os verdadeiros e sadios motivos que levaram e levam grande número de católicos ao legítimo amor e preferência pela riqueza litúrgica do rito tradicional e, portanto, à sua conservação.” (Entenda-se, “Rito de São Pio V”, a também chamada “Missa em Latim”)
“Mas, há que se reconhecer e lamentar que, às vezes, em sua adesão e resistência, fizeram-se críticas ilegítimas à reforma litúrgica e se foi além dos limites permitidos pela doutrina católica.”
image Cita-se, por exemplo, a afirmação falsa, segundo o autor, de que seis teólogos protestantes (foto) teriam participado na elaboração dos novos textos litúrgicos, comprometendo assim a pureza da doutrina católica. A Santa Sé respondeu oficialmente (25/02/76) que, como certos protestantes haviam expresso em 1965 o desejo de acompanhar os trabalhos da Comissão Pontifícia, [2] em agosto de 1966, seis teólogos protestantes foram admitidos como simples observadores,[3] mas que esses observadores não participaram na elaboração dos textos do novo Missal. O que - conclui Dom Rifan - finalizaria a questão.
Muitas vezes, na ânsia de defender coisas corretas e sob pressão dos ataques dos opositores, mesmo com reta intenção podem-se cometer erros e exageros que, após um período de maior reflexão, devem ser retificados e corrigidos. São Pio X comentava que no calor da batalha é difícil medir a precisão e o alcance dos golpes. Daí acontecerem faltas ou excessos, compreensíveis, mas incorretos. Erros podem ser compreendidos e explicados, mas não justificados. Santo Tomás de Aquino nos ensina: ‘Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção. ’[4]
Por essa razão, em carta ao Papa de 15/8/2001, os sacerdotes da antiga União Sacerdotal São João Maria Vianney, agora constituída pelo Papa em Administração Apostólica, escreveram: ‘E se, por acaso, no calor da batalha em defesa da verdade católica, cometemos algum erro ou causamos algum desgosto a Vossa Santidade, embora a nossa intenção tenha sido sempre a de servir à Santa Igreja, humildemente suplicamos o seu paternal perdão. ’
É preciso sempre ajustar a prática com os princípios que defendemos. Se reconhecemos as autoridades da Igreja é preciso respeitá-las como tais, sem jamais, ao atacar os erros, desprestigiá-las. Se houve algum erro ou exagero no passado quanto a isso, não há nada de mais em corrigir o erro. Os princípios, a adesão às verdades da nossa Fé e a rejeição aos erros condenados pela Igreja continuam os mesmos. O que é preciso é evitar as generalizações, ampliações e atribuições indevidas e injustas. A justiça e a caridade, mesmo no combate, são imprescindíveis. Se houve alguma falha também nesse ponto, corrigir-se não é nenhum desdouro. Afinal, errar é humano, perdoar é divino, corrigir-se é cristão e perseverar no erro é diabólico.
O objetivo da presente Orientação Pastoral não é arrefecer a luta contra o modernismo ou outras heresias que procuram se infiltrar na Santa Igreja de Deus, muito menos compactuar com quaisquer erros que sejam, mas sim fazer com que o nosso ataque seja eficaz, baseado na verdade, na justiça e na honestidade. Caso contrário, seria inócuo, prejudicial e até ofensivo a Deus, Nosso Senhor, e à sua Igreja. Só assim estaremos contribuindo realmente com a hierarquia da Igreja nesse combate contra o mal...”
“Assim, jamais se pode usar a adesão à liturgia tradicional em espírito de contestação à autoridade da Igreja ou de rompimento de comunhão. Há que se conservar a adesão à tradição litúrgica sem pecar contra a sã doutrina do Magistério e sem jamais ofender a comunhão eclesial. Como escrevi na minha primeira mensagem pastoral de 5 de janeiro de 2003: ‘Conservamos a Tradição e a Liturgia tradicional, em união com a Hierarquia e o Magistério vivo da Igreja, e não em contraposição a eles.’”
“... limites, impostos pela teologia católica às reservas e críticas, nos impedem, por exemplo, de dizer que o Novus Ordo Missae, a Missa promulgada pelo Santo Padre Paulo VI, seja heterodoxa ou não católica. A sua promulgação (forma, no sentido filosófico) é a garantia contra qualquer irregularidade doutrinal que pudesse ter havido na sua confecção (matéria), embora ela possa ser melhorada na sua expressão litúrgica. E é a sua promulgação oficial, e não o modo de sua confecção, que a torna um documento do Magistério da Igreja.”
image “... ato verdadeiramente do Magistério e que merece a assistência do Espírito Santo, é o texto em sua plena formulação objetiva, promulgado pelo Papa, não interessando a opinião particular que tenham podido sustentar Mons. Aníbal Bugnini (foto) ou os membros do Consilium. Casos semelhantes já ocorreram na história, quando o redator de uma encíclica papal emitiu opinião interpretativa da encíclica que discordava do texto formulado objetivamente e promulgado pelo papa, único evidentemente válido como ato do magistério, não importando a idéia do redator.”
“Quem considerasse a Nova Missa, em si mesma, como inválida, sacrílega, heterodoxa ou não católica, pecaminosa e, portanto, ilegítima, deveria tirar as lógicas conseqüências teológicas dessa posição e aplica-la ao Papa e a todo o Episcopado residente no mundo, isto é, a toda a Igreja docente: ou seja, sustentar que a Igreja oficialmente tenha promulgado, conserve a décadas e ofereça todos os dias a Deus um culto ilegítimo e pecaminoso – proposição reprovada pelo Magistério – e que, portanto, as portas do Inferno tenham prevalecido contra ela, o que seria uma heresia. Ou então estaria adotando o princípio sectário de que só ele e os que pensam como ele são a Igreja e que fora deles não há salvação, o que seria outra heresia. Essas posições não podem ser aceitas por um católico, nem na teoria nem na prática.
Fique, portanto, bem claro, por tudo quanto aqui estamos ensinando, que, embora tenhamos como rito próprio da nossa Administração Apostólica a Missa no rito romano tradicional, uma participação de algum fiel ou uma concelebração de algum dos nossos sacerdotes ou de seu Bispo, em uma Missa num rito promulgado oficialmente pela hierarquia da Igreja, por ela determinado como legítimo e por ela adotado, como é a Missa celebrada no Rito Romano atual, não pode ser considerada como sendo algo de mau nem passível da menor crítica. Nem isso significa a perda da nossa identidade litúrgica, mas sim uma ocasional e oportuna demonstração de comunhão com os Bispos, sacerdotes e fiéis, apesar da diferença de rito.
Não se pode negar o fato objetivo de que hoje o rito de Paulo VI é o Rito oficial da Igreja latina, celebrado pelo papa e por todo o Episcopado Católico. Ninguém pode ser católico se mantendo numa atitude de recusa de comunhão com o papa e com o Episcopado Católico. De fato, a Igreja define como cismático aquele que recusa se submeter ao Romano Pontífice ou se manter em comunhão cós os outros membros da Igreja a ele sujeitos (Cânom 751). Ora, se recusar continua e explicitamente a participar de toda e qualquer Missa no rito celebrado pelo Papa e por todos os Bispos da Igreja, pela razão de julgar esse rito, em si mesmo, incompatível com a Fé ou pecaminoso, representa uma recusa formal de comunhão com o papa e com o Episcopado católico.”
 
Sobre a reforma litúrgica, disse o Papa João Paulo II: ‘... alguns acolheram os novos livros com certa indiferença...; outros, o que é muito de se lamentar, se apegaram de maneira unilateral e exclusiva às formas litúrgicas anteriores, consideradas por alguns destes como a única garantia de segurança na Fé. Outros, finalmente, promoveram inovaçõesimage fantasiosas, afastando-se das normas dadas pela autoridade da Sé Apostólica ou pelos Bispos, perturbando assim a unidade da Igreja e a piedade dos fiéis, em contraste, às vezes, com os dados da Fé. [5]

“... isso não vem significar absolutamente que estejamos aprovando abusos e profanações que ocorrem até com certa freqüência em missas celebradas no novo rito. Estamos falando do rito em latim tal e qual foi promulgado pelo Santo Padre Paulo VI e aprovado pelos seus sucessores. E uma eventual participação em missas do novo rito não significa aprovação de quaisquer abusos lamentados pelo Papa, que ali possam ocorrer.
“O nosso propósito, sim, é combater aqui o equívoco doutrinário dos que consideram a nova Missa, como foi promulgada oficialmente pela hierarquia da Igreja, como sendo pecaminosa e, portanto, impossível de ser assistida sem se cometer pecado, atacando violentamente os que, em determinadas circunstâncias, dela participam, como se tivessem cometido uma ofensa a Deus.”
“Há infelizmente alguns que pensam que o único motivo para se celebrar ou assistir à Missa no rito tradicional é o fato de a Nova Missa ser inválida ou heterodoxa e, portanto, ilícita. Ora, os muitos sérios e graves motivos que demos acima são suficientes para a nossa adesão à Missa tradicional como nos concedeu a santa sé, sem necessitar recorrer a esse argumento que, aliás, seria falso e injusto. E só a verdade e a justiça devem ser a nossa norma nesta luta. Somente a verdade nos fará livres. Caso contrário estaríamos açoitando o ar.
Bem acertadamente escreveu um escritor católico da atualidade, Dr. Michael Davies, grande defensor da Missa tradicional e de grande renome nos meios tradicionalistas: ‘Alegações têm sido feitas dentro do movimento tradicionalista de que a Nova Missa não foi apropriadamente promulgada conforme as normas do Direito Canônico, de que ela não é a Missa oficial da Igreja católica, de que assistindo a ela não se cumpre o preceito dominical, de que ela é ruim, má, ou mesmo intrinsecamente má. Visto que o Papa Paulo VI era um verdadeiro papa, e que o Missal de 1970 constitui o que é conhecido como uma lei disciplinaria universal, tais alegações são completamente insustentáveis em vista da doutrina da indefectibilidade da Igreja. Nenhum papa verdadeiro poderia impor ou mesmo autorizar para o uso universal um rito litúrgico que fosse em si mesmo prejudicial aos fiéis...”
“Há infelizmente alguns que pensam que o único motivo para se celebrar ou assistir à Missa no rito tradicional é o fato de a Nova Missa ser inválida ou heterodoxa e, portanto, ilícita.” (Dom Rifan)
 
(Nota: Retiramos várias citações do texto. Tomamos, inclusive, a liberdade de sublinharmos e usarmos do negrito e itálico de acordo com nossa preferência)
 
Referência Bibliográfica:
Orientação Pastoral. O Magistério Vivo da Igreja. Dom Fernando Arêas Rifan. Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. Pg.: 28-37

[1] Como se pode conferir no fim desta apresentação estes parágrafos foram retirados duma Orientação Pastoral do Senhor Bispo Dom Fernando Arêas Rifam, onde o mesmo trata sobre o Magistério Vivo da Igreja, mas, também, sobre a relação da Administração Apostólica por ele administrada com a autoridade suprema da Igreja.
[2] Consilium – composto de 2 presidentes, 58 membros, 121 consultores e 73 conselheiros, todos católicos...
[3] Como também o Papa Beato Pio IX convidara, em 1868, todos os cristãos cismáticos e protestantes para assistirem o Concílio Vaticano I.
[4] Santo Tomás de Aquino, Decem praec. 6 (cf. CIC 1759)
[5] Carta Apostólica Vigesimus Quintus Annus, 4/ 12/ 1988, n.11
“Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção.” (S. Tomás de Aquino)
“Estamos falando do rito em latim tal e qual foi promulgado pelo Santo Padre Paulo VI e aprovado pelos seus sucessores.”
Conservamos a Tradição e a Liturgia tradicional, em união com a Hierarquia e o Magistério vivo...”