domingo, 29 de março de 2009

Jesus, descrito por um pagão que o conheceu

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Carta escrita ao Imperador romano Tibério César (14 a 37 d.C.) por Publius Lentulus, da Judéia, predecessor de Pôncio Pilatos. A carta se refere a Jesus Cristo, que naquela época principiava as suas pregações nas terras da Palestina:

 

O Senador Publius Lentulus da Judéia ao César Romano:

Soube, ó César, que desejavas ter conhecimento do que passo a dizer-te.

Há aqui um homem chamado Jesus Cristo, a quem o povo chama profeta e os seus discípulos afirmam ser o filho de Deus, criador do Céu e da Terra.

Realmente, ó César, todos os dias chegam notícias das maravilhas deste Cristo. Para dizer-te em poucas palavras, dá vista aos cegos, cura doentes e surpreende toda a Jerusalém.

Belo e de aspecto insinuante, é um homem de justa estatura, e a sua figura é tão majestosa que todos o amam irresistivelmente. Sua fisionomia, de uma beleza incomparável, revela meiguice, e ao mesmo tempo tal dignidade, que ao olhar-se para ele cada qual se sente obrigado a amá-lo e temê-lo ao mesmo tempo.

O cabelo dele, até a altura das orelhas, é da cor das searas quando maduras, emoldurando divinamente a sua fronte radiosa de jovem mestre; caindo em anéis reluzentes, espalha-se pelos ombros com uma graça infinita, sendo então de uma cor indefinível, como o vinho claro e brilhante. Ele o traz apartado ao meio por uma risca, à moda dos nazarenos. A barba é da cor do cabelo e não muito larga, e também é dividida ao meio. O olhar de paz é profundo e grave, com reflexos de várias cores nos olhos, e o mais surpreendente é que resplandecem. As pupilas parecem os raios do Sol. Ninguém pode fitar-lhe o rosto deslumbrante.

O seu porte é muito distinto. Possui encanto e atrai os olhares. Tão belo o quanto pode um homem ser belo, ele é o mais nobre que imaginar se possa, e muito semelhante à sua mãe, a mais famosa figura de mulher que até hoje apareceu nesta terra.

Nunca foi visto sorrindo, mas já foi visto chorando várias vezes. As mãos e os braços são de uma grande beleza, que é um prazer contemplá-los. Faz-se amigo de todos e mostra-se alegre com gravidade. Quando é visto em público, aparece sempre com grande simplicidade. Quer fale, quer opere, fá-lo sempre com elegância e sobriedade. Toda a gente acha a conversação dele muito agradável e sedutora. Fala um idioma de misterioso encanto, e as multidões, compostas de judeus e de naturais da Capadócia, Panfília, Cirene e de muitas outras regiões, ficam perplexas ao ouvi-lo, pois cada qual o ouve como se fosse no próprio idioma pátrio.

Se a tua majestade, ó César, deseja vê-lo, avisa-me, que eu logo to enviarei. Apesar de nunca ter estudado, é senhor de todas as ciências. Em sua expressão divina, ele é a sublimação individualizada do magnetismo pessoal. As criaturas disputam-lhe a presença encantadora. As multidões seguem-lhe os passos, tocadas de singular admiração. Quase todos buscam tocar-lhe a vestidura, pois dele emanam irradiações virtuosas que curam moléstias pertinazes. Ele produz espontaneamente um clima de paz, que atinge a quantos lhe gozam a excelsa companhia. Anda com a cabeça descoberta e quase descalço, e a sua túnica alvíssima combina com a sutileza de seus traços delicados.

Muitas pessoas, quando o vêem ao longe, escarnecem dele, mas quando ele se aproxima e estão na sua frente, então tremem e admiram-no. De sua figura singular, extraordinária de beleza simples, vem um quê diferente, que arrebata as multidões, e essas serenam, ouvindo as suas promessas sobre um eterno reinado.

Os hebreus dizem que nunca viram homem semelhante a ele, cuja sabedoria excede a dos gênios. Nunca ouviram conselhos idênticos, nem tão sublime doutrina de humildade e de amor como a que ensina este Cristo. Amável ao conversar, torna-se temível quando repreende, mas mesmo nesse caso revela segurança e serenidade. É sobremodo sábio, modesto e muito casto. É um homem, enfim, que por suas divinas perfeições excede os outros filhos dos homens.

Muitos judeus o têm por divino e crêem nele. Também o acusam a mim, ó César, dizendo que ele é contra a tua majestade, porque afirma que reis e vassalos são todos iguais diante de Deus, e assevera que acima do teu poder, ó César, reina um único Deus, Todo-Poderoso, consolador de todos os homens desesperados e aflitos.

Ando apoquentado com estes hebreus que pretendem convencer-me de que ele nos é prejudicial. Mas os que o conhecem e a ele têm recorrido afirmam que ele nunca fez mal a pessoa alguma, e antes emprega todos os seus esforços para fazer toda a humanidade feliz.

Estou pronto, ó César, a obedecer-te e a cumprir o que nos ordenaste.

("Apologia Cristã", Ribeirão Preto, SP, p. 31)

3 comentários:

Anônimo disse...

nossa , incrivel msmo.


helmer

Jeremias disse...

Prezados Administradores,

Poderiam falar mais sobre a fonte desse texto? A confiabilidade dele? No trecho inicial "Há aqui um homem chamado Jesus Cristo, a quem o povo chama profeta e os seus discípulos afirmam ser o filho de Deus...", há certa clareza da filiação divina de Jesus que os discípulos inicialmente nao tinham. Como o texto situa-se no inicio da pregação de Jesus em terras palestinas, tal afirmação me parece duvidosa. Gostaria de esclarecimentos e aguardo com sincera disposição em crer nas palavras da carta aqui postada.

Sociedade Apostolado disse...

Caro Jeremias,

A fonte que temos é a que está no fim do texto. Dados sobre uma maior confiabilidade do texto em si ou do autor do livro de que foi retirado nós não temos. O texto foi retirado de um blog que é confiável (http://luzesdeesperanca.blogspot.com/),
e foi por este motivo que colocamos esta postagem aqui, por confiarmos na sua fonte secundária, muito ortodoxa e conservadora por sinal. Quanto à indicação contida no próprio texto de ter sido escrito no início da pregação de Jesus, algumas observações.
1ª- O autor do relato, algum intermediário histórico ou tradutor pode ter se equivocado quanto ao circunstanciamento temporal neste ponto específico.
2ª- Ou então consideraram que, nas alturas histórico-temporais dos capítulos 14,33 e 16,16 de Mateus, v. g., ainda se podia falar em princípio da pregação de Jesus.
3ª- Ou o texto trata-se, a menos em parte, de um relato ficcional, ainda que com base na realidade.

É difícil se posicionar neste caso sem base mais sólidas de argumentação ou sem informações mais confiáveis do que as que nos foram apresentadas. No entanto, mesmo na observação mais desfavorável à credibilidade histórica do texto (a 3ª), ainda assim podemos dele fazer proveitoso uso para uma santa meditação, visto que não contem erros de fé sobre a pessoa de Jesus.

Na falta de provas pró ou contra o que de fato o autor quis dizer, é possível ficar em uma prudente neutralidade, visto que esta - neste caso -, não compromete a nossa santa Fé.

Atenciosamente,

Paulo Oliveira (coordenador).