terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Quaresma

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Tentação de Jesus - Gustave Doré

 

124. A Quaresma é tempo que precede e predispõe à celebração da Páscoa. Tempo de escuta da Palavra de Deus e de conversão, de preparação e de memória do batismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, de recorrer com mais freqüência às “armas da penitência cristã”: [29] a oração, o jejum, a esmola (cf. Mt 6, 1-6.16-18).

No âmbito da piedade popular o sentido mistérico da Quaresma não é facilmente percebido e não são colhidos alguns de seus grandes valores e temas, tais como a relação entre o “sacramento dos quarenta dias” e os sacramentos da iniciação cristã, como também o mistério do “êxodo” presente ao longo de todo o itinerário quaresmal. Segundo uma constante da piedade popular, levada a se deter nos mistérios da humanidade de Cristo, na Quaresma os fiéis concentram a sua atenção na Paixão e Morte do Senhor.

125. O início dos quarenta dias de penitência, no Rito romano, é qualificado pelo austero símbolo das Cinzas, que caracteriza a Liturgia da Quarta-feira de Cinzas. Pertencente ao antigo ritual com que os pecadores convertidos se submetiam à penitência canônica, o gesto de se cobrir de cinzas tem o sentido de reconhecer a própria fragilidade e mortalidade, que necessita ser remida pela misericórdia de Deus. Longe de ser um gesto puramente exterior, a Igreja o conservou como símbolo da atitude do coração penitente que cada batizado é chamado a assumir no itinerário quaresmal. Os fiéis, que acorrem numerosos para receber as Cinzas, serão portanto ajudados a perceber o significado interior implicado nesse gesto, que abre à conversão e ao compromisso da renovação pascal.

Apesar da secularização da sociedade contemporânea, o povo cristão percebe claramente que durante a Quaresma é preciso orientar os ânimos para as realidades que verdadeiramente contam; que se exige empenho evangélico e coerência de vida, traduzida em boas obras, em formas de renúncia àquilo que é supérfluo e de luxo, em manifestações de solidariedade com os sofredores e os necessitados.

Os fiéis que freqüentam raramente os sacramentos da penitência e da Eucaristia também sabem, devido à longa tradição eclesial, que o tempo da Quaresma-Páscoa está em relação com o preceito da Igreja de confessar os próprios pecados graves ao menos uma vez por ano e de receber a Sana Comunhão ao menos uma vez ao ano, de preferência durante o tempo pascal. [30]

126. A diferença entre a concepção litúrgica e a visão popular da Quaresma não impede que o tempo dos “Quarenta dias” seja um espaço eficaz para uma fecunda interação entre Liturgia e piedade popular.

Um exemplo dessa interação está no fato de que a piedade popular privilegia alguns dias, algumas práticas de piedade, algumas atividades apostólicas e caritativas que a própria Liturgia prevê e recomenda. A prática do jejum, tão característica dede a antigüidade neste tampo litúrgico, é “prática” que liberta voluntariamente das necessidades da vida terrena para descobrir a necessidade da vida que vem do céu: “Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus” (cf. Dt 8, 3; Mt 4, 4; antífona da comunhão do I Domingo da Quaresma).

Notas:

[29] Missal Romano, Quarta-feira de Cinzas, Coleta.

[30] Cf. CIC, can. 989 e 920.

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Fonte: Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, Diretório Sobre a Piedade Popular e Liturgia - Princípios e orientações. Páginas: 112 a 114.

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