“... Satanás e os outros demônios... tentam associar o homem à sua rebelião contra Deus...”[1]
Por Saulo Eleazer
A Teosofia, no entender de Helena Petrovna Blavatsky, é a sabedoria divina, eterna, que, periodicamente, é reapresentada aos homens, adaptada à época e às condições espaciais. [2] Afirma-nos D. Estevão Tavares Bettencourt, que ela distingue-se da Teologia, pois, esta é o discurso (logos) sobre Deus (Théos), conhecido à luz da fé, enquanto que, ao contrário, a teosofia (Sophia = sabedoria), viria a ser, como dizem, o conhecimento de “deus” recebido por iluminação reservada a poucos... [3]
Vê-se ai o quanto dista do cristianismo esta doutrina perversa e estapafúrdia. Pretende reacender “a chama dos antigos, voltando-se para o mistério, a magia, a cabala e a alquimia.” [4], entre muitos outros delírios esotéricos. Pode-se afirmar, com toda certeza, que ao estudarmos as teses da teosofia deparamo-nos com um emaranhado de doutrinas ocultistas, onde gnose e panteísmo dialogam buscando a mais agradável convivência no terreno de um indiscreto satanismo.
Encontramos em vários livros as mais desencontradas informações referentes à origem da teosofia, assim como, sobre os dados biográficos de suas fundadoras (H. Blavatsky e Annie Besant). Nosso principal objetivo, entretanto, é apresentar a doutrina delirante dessa Sociedade esotérica. Que esta introdução sirva, tão somente, para localizarmo-nos, um pouco que seja, no universo desta área de pesquisa. Em todo caso, é muito ordinária a confusão de informações em assuntos ligados à charlatanice e a bilontragem.
Que Maria Santíssima seja o auxilio nas lutas contra o erro que se propaga em nosso tempo.
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História do Teosofismo
Teosofismo[5]
A história do teosofismo confunde-se com a das duas fundadoras: Blavatsky e Annie Besant. Helena Petrovna de Hahn, nascida na Rússia (1831), casada aos 18 anos com o general Nicéforo Blavatsky, que já passava dos 60, abandonou-o cedo para, em companhia do mago Paulos Metamon, correr a Grécia e o Egito. Descoberta nas fraudes espíritas do ‘Clube dos Milagres’ que abrira no Cairo, partiu para Nova Iorque onde, auxiliada pelo jornalista H. S. Olcott, fundou a Sociedade Teosófica (17 nov. 1857), encarregada de espalhar a doutrina dos ‘mestres espirituais do mundo’, os mahatmas. [6] Enérgica, dotada de apreciáveis faculdades de médium, Blavatsky começou a propaganda da Sociedade, que reunia, num só corpo, as principais tradições do ocultismo, das filosofias hindus, da mitologia, da magia e do espiritismo. Estabeleceu o santuário central em Adiar, na índia, preferindo morar em Londres. Dois dolorosos insucessos precipitaram a morte de Blavatsky. O primeiro foi o desmentido feito pela célebre Sociedade de Investigações Psíquicas, de Londres, após um inquérito científico acerca das problemáticas ‘maravilhas’ que Blavatsky afirmava realizarem-se em Adiar. Outro golpe recebeu a Sociedade quando se descobriu que as mensagens atribuídas aos mahatmas não eram senão fabricadas inteiramente pelo americano W. S. Judge.
A alma, porém, e a voz mais autorizada da Sociedade, foi a inglesa Annie Wood (nac. 1847), casada com o ministro anglicano Frank Besant. ‘Acostumada a viver em completa liberdade, impulsiva e briosa como Lúcifer’, disse ela em sua biografia, pouco depois abandonou sua fé cristã e seu marido. Após dez anos de pregação do mais deslavado materialismo e maltusianismo, de parceria com o ateu Bradlangh, a que acabou também abandonado, em 1882, Besant encontrou-se com Blavatsky, em Londres, e seguiu-a. Filiada à Maçonaria, Besant em 1893 partiu para Adiar, onde procurou realizar o seu programa de restaurar e elevar as antigas religiões hindus, provocando o nacionalismo desses povos. Com a morte de Olcott, feita presidente da Sociedade, começou suas viagens triunfais pela Europa. Breve, porém, vários fracassos forçaram o declínio da nova estrela. Obcecada pela idéia de revelar o indivíduo em quem devia estar reincarnado um dos ‘grandes instrutores do mundo’, Besant escolheu, em Londres, um menino que afirmava ser Pitágoras reencarnado e o confiou a Leadbeater. Tão inconfessáveis, porém, foram os processos de Leadbeater no seu mister, que o pai do iniciado retirou o filho e o Congresso Teosófico de Paris, em 1906, exigiu a exclusão do educador. Carecendo, porém, da virtuosidade oculta de Leadbeater, para o êxito da campanha messiânica que projetava, Besant obteve, dois anos depois, a sua reinclusão na seita, a despeito do voto contrário das seções alemãs chefiadas por Steiner, o mais sério rival de Besant. De acordo com Leadbeater, Besant começou, em 1908, a iniciação de outro jovem, um hindu de 13 anos, Krishnamurti, a quem, como Mizar, adotou como filhos, chamando o primeiro Alcion, e apresentou-o como Mestre e Messias. [7] Recusando-se a obedecer ao ingênuo Alcion, alguns teósofos europeus, chefiados por Steiner, provocaram um cisma na seita, acabando Besant por excluir da Sociedade toda a secção alemã (2.400 membros). A partir então de 1913 deparamos duas sociedades teosofistas: os teosofistas, presididos por Besant e os antroposofistas, às ordens de Steiner e chefiados na França pelo grande iniciador Ed. Schuré.
Prejudicada na índia e na Europa, Besant ensaiou nova estratégia para reconquistar a popularidade. Lançou-se, em 1913, na vida política da Índia lutando pela emancipação nacional. Tendo a Inglaterra, pelo ministro Montagu, reconhecido a Índia como um ‘Domínio’ autônomo, reuniu-se o Congresso Nacional: os Extremistas sob a égide de Gandhi, que reprovavam o projeto Montagu, e os Moderados, entre os quais Besant. Vendo em Gandhi o campeão da liberdade nacional, os hindus o aclamaram seu Mahatma, perdendo Besant toda a popularidade, a ponto de ser excluída da ‘Conferência da Mesa redonda’, convocada entre delegados indianos e ingleses, para uma nova constituição hindu. De ocaso em ocaso, Besant veio a sofrer o mais profundo golpe com a proclamação de Krishnamurti. Impressionado com a morte de seu irmão, que com ele tinha sido enviado a Oxford, Krishnamurti recusou-se a exercer o papel que sua mãe adotiva lhe confiou e declarou que não era de modo algum o Messias; considerava mesmo toda religião como negócio puramente individual e detestava toda a organização de sociedades religiosas. Em 1929 Krishnamurti dissolveu a ‘Ordem da Estrela do Oriente’, fundada em honra do ‘Messias’. Acabrunhada e octogenária, Besant morreu aos 20 de setembro de 1933, em Adiar. Krishnamurti continua pelo mundo a pregar sua ‘filosofia’ e a Sociedade Teosofista, que teve há pouco como vice-presidente Jinarajadasa, está acéfala. [8]
Ao que nos consta, hoje os teosofistas ultrapassam 100 mil, em todo o mundo. Possuem eles seus templos e organizam suas sociedades secretas, lojas, a cujas reuniões só os iniciados assistem.
(Pg. 98-100)
(P.S.: Tivemos a liberdade de omitir algumas notas de rodapé que julgamos desnecessárias. O negrito é nosso.)
Referencia Bibliográfica:
SALIM, Dr. Emílio. Apologia do Catolicismo. 2º Edição. São Paulo: Editora Vozes, 1944. 472 pg.
[1] Compêndio do Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Loyola, 2oo5. Pag. 41.
[2] BLAVATSKY, H. P. A Doutrina Secreta. Síntese da Ciência, da Religião e da Filosofia. Vol. IV. Trad. Raymundo Mendes Sobral. São Paulo: Pensamento.
[3] BETTENCOURT, Estevão Tavares. Crenças, religiões, igrejas e seitas: quem são? 2º Edição. São Paulo: O Mensageiro de Santo Antônio, 1995. Pág.140.
[4] BLAVATSKY, H. P. A Doutrina Secreta...
[5] Não confundir Teosofia com teosofismo. A palavra teosofia, já usada no século XVI, denominava doutrinas bem diversas, concepções mais ou menos esotéricas, de inspiração religiosa e base cristã. Tais são as doutrinas de certos iluministas como Jacob Boehme, Swedenborg, Jane Lead e outros filósofos do séc. XVIII.
[6] Que são os mahatmas, de quem tanto falam os teosofistas? Segundo Blavatsky e seus sequazes, os mahatmas são uma espécie de jerarquia oculta que governa o mundo secretamente. Super-homens vivos, dotados de raras faculdades, como a de conhecer o pensamento alheio, comunicam-se com outros mestres e discípulos, onde quer que estejam, etc. Tendo atingido, em anteriores reencarnações, o supremo grau da espiritualidade, seu lugar próprio seria o céu, mas, zelosos da felicidade humana, habitam nas regiões inacessíveis do Tibete e dali transmitem as ordens divinas aos diretores da Sociedade Teosófica. Seria perder tempo pretender provar que os mahatmas, assim como os pintaram os teosofistas, só existem em sua fantasia.
[7] Indignado com os processos de Besant e Leadbeater, o pai de Krishnamurti moveu-lhes um processo, para obter a restituição do filho. Achando em regra os documentos relativos à adoção de Krishnamurti, o tribunal de Madras negou ao pai o direito de reaver o filho.
[8] As Sociedades Teosofistas Brasileiras que aguardavam, com explicável ansiedade, a visita de Krishnamurti ao Rio e S. Paulo, em abril de 1935 passaram por um desapontamento indescritível, ouvindo as idéias expendidas por esse a quem, obstinadamente, ainda querem chamar ‘Messias’.
Um comentário:
Olá Jorge!
Agradecemos enormemente a sua contribuição!
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PAX DOMINI.
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