2ª Parte
(...)A edição de 23 de Dezembro de 1940 da revista Time contém um interessante artigo sobre os cristãos moradores da Germânia, tanto católicos como evangélicos, que se opuseram e sofreram sob o regime nazista. Na página 38, esse artigo afirma que, pelo fim do ano de 1940, mais de 200.000 cristãos foram prisioneiros em campos de concentração, com algumas estimativas em mais de 800.000. Na página 40, o artigo informa sobre o Arcebispo de Munique, o Cardeal Michael Von Faulhaber, o qual liderou a oposição católica na Alemanha contra os nazistas. Em um sermão do advento de 1933, ele pregou em resposta ao racismo nazista: “Não nos esqueçamos que fomos salvos não pelo sangue alemão, mas pelo sangue de Cristo”. Em 1934 o Cardeal M. von Faulhaber “por pouco se salva de uma bala nazista”, e em 1938 um grupo nazista quebra as janelas de sua residência.Mesmo ele estando com mais de 70 anos e com a saúde fraca,ele ainda assim liderou a resistência católica contra Hitler.
Não confiando no novo regime, o Vaticano assinou uma concordata com o “Terceiro Reich” em 20 de julho de 1933, numa tentativa de proteger os direitos da Igreja na Alemanha. Mas os nazistas rapidamente violaram os artigos dessa concordata. Na quaresma de 1937, o Papa Pio XI escreveu a Encíclica “Mit Brennender Sorge” com a ajuda dos bispos alemães e do cardeal Pacelli (futuro Papa Pio XII)¹. Essa encíclica foi levada ilegalmente, às escondidas, para a Alemanha e foi lida em todas as Igrejas Alemães na mesma hora durante a celebração do domingo de Ramos.Ela não mencionou explicitamente Hitler ou o nazismo,mas firmemente condenou as doutrinas nazistas.Em 20 setembro de 1938,Pio XI disse a peregrinos alemães que nenhum cristão pode ter parte no anti-semitismo,uma vez que espiritualmente todos os cristãos são semitas.
A recente calúnia contra a Igreja e o Papa Pio XII pode ter tido seu início em 1963 com a peça de Rolf Hochhuth, “O Vigário”. Nessa peça, Hochhuth critica Pio XII por ter, supostamente, ficado em silêncio e apresenta seu silêncio como uma fria indiferença. Contudo, mesmo sendo ficção, as pessoas tomaram isso como um fato.
O Papa Pio XII foi um diplomata e não um orador radical. Ele sabia que primeiro precisava preservar a neutralidade do Vaticano, assim a cidade do Vaticano poderia ser um refúgio para as vítimas da Guerra. A cruz vermelha internacional também se manteve neutra. Segundo, ele sabia quão impotente era perante Hitler. Mussolini poderia rapidamente cortar o fluxo de energia elétrica para a Radio Vaticano durante seu pronunciamento (Lapide, p.256). Finalmente, os nazistas não toleravam qualquer protesto e respondiam severamente. Como exemplo, o Arcebispo Católico de Utrecht, em Julho de 1942, protestou numa carta pastoral contra a perseguição aos judeus na Holanda. Imediatamente os nazistas reuniram, quanto foi possível, judeus e católicos não arianos e os deportaram para os campos de concentração, incluindo Santa Tereza Benedita da Cruz (Edith Stein) (Lapide,p.246). Pio XII sabia que se ele falasse diretamente contra Hitler, os nazistas poderiam revidar contra os prisioneiros. Seu melhor ataque contra os Nazistas foi a serena diplomacia e a ação “por de trás dos bastidores”. A Enciclopédia multimídia Grolier 1996(V8. 01), citando Pio XII, diz: “Desejando preservar a neutralidade do Vaticano, temendo represálias e percebendo sua impotência para deter o holocausto, Pio XII, apesar de tudo, agiu de maneira singular para salvar Judeus e outros com os resgates, documentos e asilo da Igreja”.²
Como já foi dito, o Papa Pio XII não estava completamente em silêncio, especialmente nas suas mensagens de natal. Suas mensagens de Natal de 1941 e 1942 foram ambas traduzidas e publicadas no Jornal The New York Times (edição de 25 de Dezembro de 1941, pg.20; e edição de 25 de Dezembro de 1942, pg. 10). Para evitar uma retaliação, ele não se referiu explicitamente ao nazismo , mas as pessoas daquela época ainda assim o entenderam, incluindo os nazistas. De acordo com o editorial do The New York Times de 25 de Dezembro de 1941(última edição do dia, pg.24):
“A voz de Pio XII é uma voz solitária no silêncio e nas trevas que envolvem a Europa neste Natal... ele é quase que o único governante de toda a Europa ocidental que se atreve a elevar a voz aos quatro cantos da terra... ele não deixou nenhuma dúvida que os objetivos nazistas são também irreconciliáveis com a concepção cristã de paz.”
Também o editorial do The New York Times de 25 de dezembro de 1942(última edição do dia, pg.16), declara:
“Neste natal mais do que nunca, ele é uma solitária voz clamando do silêncio de um continente... O Papa Pio XII se expressa tão apaixonadamente como qualquer líder que está do nosso lado na guerra pela liberdade,quando ele diz que aqueles que visam a construção de um mundo novo devem lutar pela livre escolha do estado e da opção religiosa. Eles devem recusar o estado que faz dos indivíduos um rebanho do qual dispõe o estado como se fossem coisas sem vida.”
“Neste natal mais do que nunca, ele é uma solitária voz clamando do silêncio de um continente... O Papa Pio XII se expressa tão apaixonadamente como qualquer líder que está do nosso lado na guerra pela liberdade,quando ele diz que aqueles que visam a construção de um mundo novo devem lutar pela livre escolha do estado e da opção religiosa. Eles devem recusar o estado que faz dos indivíduos um rebanho do qual dispõe o estado como se fossem coisas sem vida.”
Ambos os editorias reconhecem e elogiam as palavras de Pio XII contra Hitler e o totalitarismo.
Agora, de fato existiram traidores na Igreja, os quais eram nazistas ou ajudaram Hitler. Existiram católicos que foram anti-semitas. Existiram também católicos que, por medo ou indiferença, pecaram pelo silêncio. A Igreja está cheia de pecadores pelos quais Nosso Senhor Jesus Cristo morreu. “Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades; o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas.” (Is. 53,5). Mas o papa Pio XII e vários católicos não ficaram em silêncio. Poderiam ser salvas 860.000 vidas com um silêncio indiferente?Nos nossos dias, existem pessoas que afirmam ser católicas, mas promovem e participam do aborto, do suicídio assistido e no controle artificial de natalidade. No próximo século, o mundo também irá perfidamente acusar a Igreja e o Papado de permanecer em silêncio durante o holocausto da “cultura de morte”?
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1) “A oposição ao nazismo tornou-se clara e, em 1936, uma missiva conjunta do episcopado pediu ao Papa uma Carta Encíclica. Pio XI convocou a Roma os três Cardeais alemães (Adolf Bertram, Michael von Faulhaber e Karl Joseph Schulte) e os dois Bispos mais contrários ao regime, precisamente D. Clemens von Gallen e D. Konrad von Preysing. Com a ajuda determinante do Cardeal Pacelli e dos seus colaboradores alemães da máxima confiança (Mons. Ludwig Kaas e os Padres jesuítas Robert Leiber e Augustin Bea), chegou-se deste modo à Mit brennender Sorge ("Com profunda preocupação"), a Carta Encíclica que em 1937 condenava a ideologia racista e pagã, que já se tinha afirmado no Reich alemão(...).” (Discurso do Secretário de Estado Cardeal Tarcísio Bertone na Pontifícia Universidade Gregoriana por ocasião do 50ºaniversário de morte de S. S. Papa Pio XII)
2)Para elucidar o supracitado: A caridade e o trabalho do Papa Pio XII durante a segunda guerra mundial também impressionou o grande Rabino de Roma, Israel Zoller, que se abriu à graça de Deus, a qual o guiou para a fé católica em 1944. Zoller adotou como nome de batismo, por si próprio, o mesmo nome de batismo de Pio XII, Eugênio. Mais tarde Eugênio Zolli escreveu um livro intitulado “Porque me tornei um Católico”.³
3)A esse respeito, ou seja, sobre a conversão do grão-rabino de Roma e a caridade do Papa Pio XII para com os judeus, pretendemos, caso julguemos oportuno, postar outro texto que estou traduzindo de autoria do citado grão-rabino.
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