quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Sobre a crítica de Schelling ao cartesianismo


Schelling

Por R.G. Santos
Schelling é entre teóricos do idealismo alemão o mais lúcido para muitos, o que não desabona, obviamente, muitas de suas posturas intelectuais. Isso se torna evidente pela profundidade e pelo cuidado com que parece considerar a evolução e as conseqüências dos pensamentos anteriores procedendo, por vezes, a críticas pontuais a respeito dos mesmos. Nessa perspectiva, vem a propósito evidenciarmos a consideração que irá fazer acerca da proposta cartesiana.
Num primeiro instante convêm tratar do modo como Schelling concebe o primado do eu, oriundo da reflexão cartesiana. Nosso autor critica fortemente esse aspecto da exaltação exagerada do eu porque o mesmo não pode ser ponto de partida para se conceber a realidade (rejeita também a absolutização do objeto - o que se dá propriamente em Espinosa). Porém tenta salvá-lo da mera passividade a que o tinham concebido Kant e Fitche, autores que radicalizam Descartes.
Ainda nesse aspecto, da relação entre sujeito e objeto, Schelling destoa-se do cartesianismo. Isso ocorre porque Schelling concebe o conhecimento numa perspectiva mais umbilical. Há aqui, nesse sentido, uma maior ligação (e a função do cordão umbilical, dentre outras, é a de ligar...) entre sujeito e objeto. Há uma clara tendência a se revalorizar o real e as coisas. Tenta, assim, reequilibrar a seu modo a relação desequilibrada por Descartes, quando este passou a enfatizar por demais o eu e desencadeou a médio e longo prazos uma onda de subjetivismos responsáveis por um entendimento engessado da realidade.
Nessa linha ele ainda critica, ou melhor, tenta tematizar as relações entre natureza e idéia, dicotomizadas e divorciadas de certa maneira em Descartes, nas noções de res extensa e res cogitans, trabalhando em função de reduzir  o grau de separação das bifurcações que impedem uma noção mais coesa nas considerações sobre o real e o ideal, entre “matéria e forma”.
Estes são, em linhas gerais, os “reparos” feitos a Descartes por parte de Schelling. Vemos aqui nosso autor conceber a realidade de maneira mais lúcida e integral embora seja tido, por aspectos que aqui não nos foi possível pontuar, como integrante da linha subjetivista (idealismo alemão) e, portanto, seja um dos pensadores tidos como da modernidade malsã.

Maria Santíssima, rogai por nós.

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