quinta-feira, 3 de maio de 2012

Por que não a veste oficial?


Por João S. de O. Junior

Em um dia semanal, numa grande metrópole, um senhor começa a ter uma parada cardíaca na fila de um banco. Os cidadãos ao seu redor mobilizam ajuda enquanto o socorro não chega. Frente ao drama e ao alvoroço de clientes e curiosos, um garoto sai pela rua e em meio à multidão avista um médico, chama-o imediatamente para dar assistência. Felizmente, a presença imediata do doutor foi essencial para os primeiros atendimentos ao socorrido. O garoto identificou aquele não porque o conhecia, mas por causa do jaleco e da roupa branca, própria de um profissional da saúde num dia comum de trabalho.

A presença de policiais é eficiente para inibir a ação de criminosos em qualquer evento e em qualquer cidade do país, mas por quê? Bom, a farda, embora distintas em cada unidade federativa, caracteriza precisamente os policiais dos demais cidadãos. Certamente, a presença daqueles não teria a mesma eficiência se todos estivessem à paisana, ou seja, com vestes civis comuns.

Prezados amigos, esses são apenas dois exemplos dentre vários. Mas porque um sacerdote vai querer ignorar sua veste oficial?

- “Para aproximar mais das pessoas”. Quem disse que uma batina ou um clergyman afasta as pessoas de um padre? O contrário, sem aquela muitos passam por perto de um religioso como se passassem pela praça de uma igreja, mas como se esta fosse apenas subterrânea. Ou seja, perdem a graça de pedir a benção e de se lembrarem do que é sagrado.

- “Mas o padre é igual a todo mundo”. Mentira, vamos esclarecer: a pessoa civil de um padre, que tira documentos, paga impostos, tem necessidades, qualidades ou limitações humanas e etc... É como outra qualquer. Certamente tem a mesma dignidade humana que deve ter um mendigo ou o presidente da república. Mas enquanto ministro de Deus, deve agir e ser tratado com o devido respeito, como tal o é. Em certas situações sua ação será “in persona Christi Capitis” (na pessoa de Cristo Cabeça) (1). Por isso do bom e tradicional habito de beijarmos a mão do sacerdote, não pela pessoa dele em si, mas pela pessoa de Cristo ao ministrar os sacramentos. E se o padre fosse como qualquer leigo não precisaria ficar anos no seminário e nem receber o sacramento da ordem, simples assim.

- “Mas o hábito não faz o monge”. Contudo o bom monge vai necessariamente usar o hábito, quando não por convicção da necessidade ao menos por obediência. As normas eclesiásticas (2) já são motivo suficiente para um bom padre usar a vestimenta sacerdotal. Infelizmente, a desobediência quanto a esse preceito está se tornando o hábito para muitos.

- “Se o padre não quer usar, deixa ele, tem que respeitar a diversidade...”. Um funcionário público poderia chegar ao trabalho de bermuda e sandálias? Você vai ao trabalho ou aos eventos sociais da maneira que bem entender? É, percebe-se que não. Semelhantemente, um cristão não pode dizer que prefere um “círculo” ao invés da figura da cruz e sair com uma argola no pescoço dizendo que representa sua fé cristã. Assim como os cristãos não devem ter vergonha da cruz perante a sociedade, um padre não deve ter vergonha de se identificar como tal também neste mundo, ainda que a contragosto.

Para reforçar nossos argumentos, até a ciência (3) está dizendo que o uso do hábito auxilia o religioso por lembra-lo de seus deveres.

Comercial do posto Ipiranga. Mesmo com o secularismo, a sociedade quando imagina um padre, ele está de batina.

Conclusão: O uso da batina, ou pelo menos do clergyman, por parte de um sacerdote não é uma fachada, e sim um sábio e eficiente meio que a Igreja criou durante os séculos para o sacerdote se apresentar a toda sociedade. Embora as comparações feitas, diferentemente de um profissional qualquer, o padre deve estar o tempo todo à disposição do serviço, por isso deve se identificar sempre como religioso. Também, o uso da batina lembrará aos fiéis da presença do sagrado, imporá respeito e mostrará que ali há um ministro de Deus.
Este e mais outros fatos podemos citar para um religioso usar o hábito de sua ordem religiosa. Infelizmente, algumas ideias descabidas como as apresentadas, ou outras, até demoníacas as quais comentaremos depois, vem influenciando uma secularização na Igreja. Certamente, o sacerdócio é um ponto chave e embora possa parecer algo pequeno o uso da veste oficial, é algo estratégico, notório e muito didático, ao qual não podemos negligenciar e omitir.

Pe. Henrique Munaiz com sua tradicional batina. Jesuíta, capelão do Carmelo em Montes Claros-MG, sacerdote piedoso e muito querido na cidade.

Que Maria Santíssima interceda por nossos sacerdotes. Rezemos pelo clero.

(1)   Vide Código de Direito Canônico de 1983, Cânones 1.008 - 1009.
(2)   Vide Código de Direito Canônico de 1983, Cânon 669 §§ 1 e 2.

6 comentários:

Anônimo disse...

Ótima reflexão! Muito oportuna.

Pax.

Salve Maria.

João F.

Renato Cesar Diniz Marques disse...

Belissima reflexão! Muito me impressionou a foto do sr. Pe. Henrique! Quantos frutos!

Jânio P. disse...

muito bom mesmo, vale apena ser mais divulgado.Parabéns ao blog.

Anônimo disse...

muitos padres e seminaristas deveriam ler e aprender isto .

Flavio disse...

Concordo.

João Jr. disse...

Mais um belo exemplo, o jovem seminarista e martir Rolando Rivi: “Estou estudando para ser padre e a batina é o sinal que eu sou de Jesus”

http://fratresinunum.com/2012/05/21/reconhecido-o-martirio-do-jovem-seminarista-rolando-rivi/