Por Pe. Marcelo Tenori
O mundo se surpreendeu nessa última segunda-feira, 11 de fevereiro, pela renúncia do Santo Padre o papa Bento XVI.
Muito se tem falando sobre esse gesto do papa que, embora já tenha
ocorrido por três vezes na história bimilenar da Igreja e também
previsto pelo Código de Direito Canônico, não deixa de ser para nós algo
“ novo”, inusitado, visto que a enorme maioria dos Pontífices
envelheceram, foram amparados em suas enfermidades e morreram no Trono
de S. Pedro.
Segundo a Lei da Igreja, um papa pode renunciar, e para isso apenas
basta manifestar o seu desejo publicamente e de forma inteiramente
livre. Essa renúncia não pode ser aceita por nenhum dos cardeais, visto
que a única autoridade acima do Vigário de Cristo é o próprio Cristo.
No canon nº 332, par. 2,, encontramos: “Se acontecer que o
Romano Pontífice renuncie a seu múnus, para a validade se requer que a
renúncia seja feita livremente e devidamente manifestada, mas não que
seja aceita por alguem”.
E foi assim que Bento XVI procedeu, deixando claro que tem plena
consciência de seu ato e com pleno uso de sua liberdade, renuncia ao
Trono de S. Pedro, “ para o bem da Igreja”
O envelhecimento e o sumir das forças do Santo Padre é visível a
todos , e justamente é esta explicação que o Sumo Pontífice coloca para
justificar o seu ato.
Em seu comunicado aos cardeais e à cúria, determina o dia e a hora
que a Sé de Pedro deve ser considerada vacante: dia 28 de fevereiro, às
20h ( horário Vaticano).
Sabemos, sem ingenuidades, que muitos lhe faziam oposição,
inclusive dentro do próprio Vaticano: disputas, intrigas, escândalos e
outras coisas lhe cercaram de perto, todavia sou de plena opinião que
nada faria o Papa renunciar, nenhuma pressão; nem de um lado nem do
outro. Embora de certa timidez, Bento XVI é incisivo naquilo que deseja
realizar. Ficaria, sim, até o martírio se fosse necessário.
Mas enfim, o que o levou à renuncia?
Após a morte de João Paulo II, era da intenção de Ratzinger o recolhimento para descanso e sobretudo vida de oração.
De grande perspicácia , o Papa nada fazia que não falasse alto em
gestos, desde o primeiro, na basílica de S. Pedro, quando, de forma
diferente saudou os fiéis. Nenhum papa, que eu saiba, até hoje, fez
aquele gesto: gesto de quem sai da batalha, ganhando a vitória e, claro,
não era ele o vencedor, mas a Santa Igreja. Outro que deve nos falar
muito é antes de tudo, a escolha de seu nome: Bento , com clara
referência a S. Bento, patrono da Europa, fundador da “Escola do serviço
do Senhor”. Aliás, Bento XVI, no inicio de seu reinado se colocou como
um “humilde trabalhador na vinha do Senhor.”
Não! O papa não renunciou por fuga, deixando suas ovelhas à mercê
dos lobos. Aliás no início ele nos pediu oração para que “ não
sucumbisse diante dos lobos”.
Tenho a convicção que esse gesto do Santo Padre, mais que humano é
sobrenatural. Nossa Senhora, nas bodas de Caná, antecipa a hora da
Graça. Bento XVI, com sua renuncia, antecipa todas as coisas na Igreja.
Como Moisés que conduziu o povo, mas não entrou na terra da promessa,
necessitando de um novo líder, assim Bento XVI quer entregar o leme da
Igreja àquele que já viria por vontade divina.
Nas aparições de Fátima, Jacinta assim exclama em relação à sua visão:
“Não sei como foi, eu vi o Santo Padre numa casa muito grande, de
joelhos diante de uma mesa, com as mãos no rosto a chorar; fora da casa
estava muita gente e uns atiravam-lhe pedras, outros rogavam-lhe pragas e
diziam-lhe muitas palavras feias. Coitadinho do Santo Padre, temos que
pedir muito por ele!”
Aqui Lúcia a repreende dizendo que se ela continuar a falar poderá revelar o segredo.
Na época das aparições era Vigário de Cristo o papa Bento XV e, não
nos consta que a profecia de Jacinta tenha se cumprido nos papas
posteriores, a não ser no papa Bento XVI que foi o papa mais odiado pelo
mundo inteiro, após Fátima. E claro, essa visão de Jacinta está
diretamente ligada ao Segredo, visto que Lúcia lhe proíbe de continuar
para não terminar revelando o segredo.
Muito se tem falado no Segredo de Fátima. É verdade que por ocasião
da beatificação de Francisco e Jacinta houve uma “ revelação” do que
seria o Segredo, mas acredita-se e, com muita propriedade que, tratou-se
de uma revelação parcial, não total do Segredo.
Outro fato também importante e que não pode ficar de lado é o sonho de D. Bosco, vejamos, vale a pena ler na integralidade:
Destaque de alguns fatos do sonho:
(Méritos ao site da Monfort)
a) O navio majestoso é a Barca de Pedro onde está o Papa e as
barcas menores, que recebem comandos são as igrejas particulares.
b) As duas colunas são uma clara alusão à Santíssima
Eucaristia, cento de nossa fé e à Virgem Imaculada, a onipotência
suplicante que sempre teve, na história da Igreja um papel extremamente
importante através de suas poderosas intervenções.
c) A primeira conferência convocada pelo comandante
supremo e logo interrompida pelos ataques dos inimigos, é claro
tratar-se do Concílio Vaticano I, interrompido pela guerra e a segunda
reunião convocada pelo papa é o Concílio Vaticano II.
O Papa, inesperadamente, é atingido e cai:
“De súbito, o Papa cai gravemente ferido. Imediatamente, os que estão com ele o ajudam e o levantam”. Percebam
que o papa não morre aqui. É apenas ferido e logo ajudado a
levantar-se. Seria João Paulo II no atentado de 13 de maio de 1980?
Continua o sonho:
“Uma segunda vez, o Papa é atingido; ele cai de novo e
morre. Um grito de júbilo e vitória irrompe dentre os inimigos; de seus
navios eleva-se uma indizível zombaria. Mas
assim que o Pontífice cai, um outro assume seu lugar. Os pilotos,
tendo-se reunido, elegeram outro tão prontamente que, com a notícia da
morte do anterior já se apresentam as boas novas da eleição do sucessor.
“
Nessa última parte vemos um papa que é atingido “cai” e “ morre”.
Primeiro cai, depois é que morre. A renúncia de um papa não poderia ser
visto também como uma queda? A morte acontece logo depois da “queda”,
mas tão rapidamente é eleito o seu sucessor que a notícia da morte do
ultimo se mistura com a da eleição do novo.
Ora mas me dirão que no sonho de Dom Bosco são dois os papas que
aparecem e aqui, em nosso pensamento aparecem três: o que cai ferido, o
que cai ferido e morre e o que coloca a Barca em seu devido lugar. O
próprio D. Bosco, retrucando a quem dizia diferente, exclama que eram
três os papas do sonho, confira:
É um sonho tremendo e que não pode ser desprezado.
Toda essa luta dos papas era para recolocar a barca de Pedro em segurança, presa às duas colunas.
Ora, todos sabemos os esforços que Bento XVI travou pela pureza do
culto, sobretudo da Missa. Seu trabalho incansável pela restauração
litúrgica, favorecendo a Missa antiga, como bem explicou em seu Motu
Proprio “ Summorum Pontificum”, como também a correção dos desvios
provocados pelo o que ele chamou de “espírito de ruptura”.
Isso não seria a busca urgente de atracar a Barca na coluna da Eucaristia?
E o que dizer do culto à Nossa Senhora, tão precioso para a Igreja e que chegou ao ápice no reinado de Pio XII?
Não precisa fazer análises delongadas para se constatar que o culto
à Nossa Senhora, após o Concílio, sofreu uma baixa enorme. Já na época
de Pacelli houve várias oposições à proclamação dogmática da Assunção,
devido aos protestantes, todas ignoradas pelo Papa que queria e fez tal
proclamação.
Era do desejo de Bento XVI a proclamação do dogma da Mediação
Universal. Eu mesmo li a consulta que o papa enviou a todos os bispos do
mundo inteiro sobre isso. Em Castel Gandolfo, conversando com um
monsenhor da Cúria sobre o desejo do papa, ele se colocou desfavorável,
devido ao diálogo ecumênico. Para esse monsenhor, bastava a Mediação
Universal ficar nas litanias.
Eu guardava muita esperança que o papa tomasse a decisão de
proclamar Nossa Senhora Medianeira de todas as Graças, mas infelizmente
não aconteceu. Entretanto o seu desejo em realizar tal ato sinaliza que
esse papa não estava longe de fazer a barca ser amarrada, também, na
coluna da Virgem. E, se ele não estava longe…logo podemos acreditar, de
alguma maneira, que o sonho de D. Bosco está chegando à sua plena
realização.
No dia 28 de fevereiro, Bento XVI vai se retirar do Trono e a Sé
ficará vacante. Quais os reais motivos de seu afastamento? Com a “queda”
do papa também cai toda a Cúria Romana ou pelo menos, os cargos chefes.
Tive a oportunidade de no verão de 2010, entregar ao Santo Padre
um belo quadro pintado por um artista de Campo Grande, Moacir Queiroz,
no qual ele retratou o “Sonho de D. Bosco”. O pintor colocou no papa
timoneiro o rosto de Bento XVI. Quando ele avistou o quadro, exclamou,
olhando a figura do papa: “ Sou Eu!”…O “ Sou Eu” do papa fez-me lembrar a
resposta de Deus a Moisés. Não sei se o papa estava dizendo isso porque
se achou parecido com o do quadro, ou porque mesmo se identificou com o
sonho. Nesse momento disse-lhe: “ O senhor é o Papa do sonho de D. Bosco”!
Bento XVI demorou-se, em silêncio, com seu dedo indicador
percorrendo as duas colunas: primeiro, a da Eucaristia, segundo a de
Nossa Senhora. O silêncio e a demora do papa foi notada não só por
mim, mas por outras pessoas que comigo estavam.
Em que pensava o Santo Padre? Qual a razão de sua demora sobre a
tela?…..Não saberei dizer. Só sei que em Bento XVI repousa um mistério,
não humano, mais divino que silenciosamente avança….
Nota do Blog SA.:
Evidente, estas colocações são só especulações e análises de conjunturas mas que não deixam de ter seus méritos e coerência. A certeza é: Rezemos pela Igreja, façamos jejuns e mortificações, a quaresma é um tempo propício. Que Deus ilumine o nosso então Papa Bento XVI e seu Sucessor, rezemos pelo conclave.
Salve Maria Santíssima!
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