Narra São Gregório
que uma pobre mulher encomendava a celebração de Santas Missas, todas as
segundas-feiras, em ação de graças, para o seu marido, que ela julgava morto,
pois ele caíra nas mãos dos bárbaros. Estava vivo, porém, e durante o tempo em
que se celebravam essas Santas Missas, a cadeias se lhe soltavam dos pés e das
mãos e lhe caíam as algemas, e ele ficava livre e desembaraçado, como, ao
libertar-se da escravidão, pôde contar a sua mulher. Quanto mais devemos crer
na eficácia deste Sacrifício para desatar os laços espirituais, isto é, os
pecados veniais, que de certo modo mantém cativa a alma, impedindo-a de agir
com a liberdade e o fervor que ela teria, não fossem esses entraves.
Ó bem-aventurada
Santa Missa, que nos restitui a liberdade de filhos de DEUS, e satisfaz todas
as penas devidas por nossos pecados!
Mas então, me direis,
basta assistir ou encomendar uma única Santa Missa para pagar as maiores
dívidas com DEUS, em vista de tantos pecados cometidos, pois, sendo infinito o
seu valor, com ela daremos a DEUS uma satisfação infinita. – Devagar! Eu vos
peço. Realmente, se bem que o valor do
Santo Sacrifício seja infinito, deveis saber entretanto, que DEUS o aceita numa
medida limitada e finita, mais ou menos, conforme a devoção maior ou menor de
quem o celebra, manda celebrar, ou a ele assiste.
Quorum tibi fides
cógnita est et nota devotio, diz a Santa Igreja no Cânon da Santa Missa, e, por esta
linguagem, danos a entender o que ensinam
expressamente os Doutores, e é, que a maior ou menor satisfação proporcionada
pela Santa Missa, quanto à pena devida por nossos pecados, depende da
disposição de quem a celebra ou a ela assiste.
Note-se aqui o erro daqueles que preferem as missas mais
curtas e menos devotas, ou, o que é pior, que a elas assistem com pouca ou
nenhuma devoção. É verdade que todas as Missas são iguais do ponto de vista do
Sacramento, como ensina São Tomás; não o são, porém, quanto aos efeitos que
delas provêm. Quanto maior a piedade atual ou habitual do celebrante, maior
será o fruto de seu sacrifício. Assim, não fazer diferença entre um padre mais
fervoroso e outro menos, seria o mesmo que, para pescar, lançar mão
indiferentemente de uma rede de malhas pequenas ou grandes.
Diga-se o mesmo dos que assistem à Santa Missa. E ainda que eu vos
exorte, o mais que posso, a assistir muitas vezes à Santa Missa, advirto-vos de
procurar, sobretudo assistir a cinqüenta, mais glória dais a DEUS com aquela
única Missa, e retirais mais fruto, mesmo desse que chamamos ex opere
operato, do que o outro há de tirar de cinqüenta, apesar do número
considerável.
“Na satisfação,
olha-se mais a piedade do oferente que a quantidade da oblação”. “In
satisfactione magis attenditur affectus offrentis quam quantitas oblationis”, diz São Tomás.
Pode acontecer, sem dúvida, (como afirma um sério autor)
que, com uma única Missa, assistida com extraordinária devoção, se dê
satisfação à Justiça de DEUS, por todos os pecados ainda do maior pecador,
conforme se depreende do Santo concílio de Trento, que diz: “Graças à oferenda
deste santo Sacrifício, DEUS concede o dom da verdadeira penitência, e por ela
o perdão dos pecados, ainda os mais graves”.
No entanto, visto que
conhecermos claramente a disposição interior com que assistimos à Santa Missa,
nem a satisfação correspondente devemos
ter o cuidado em assistir a muitas, o mais que pudermos, e assistir com todo o amor e devoção possíveis. Felizes de vós se
depositardes uma grande confiança em DEUS, que tão admiravelmente exerce Seu
Amor neste Divino Sacrifício, e se assistirdes com fé, fervor e reverência, a
todas as Santas Missas que puderdes!
Afirmo-vos que podeis
alimentar a doce esperança de alcançar diretamente o Paraíso, sem passar pelo
Purgatório.
À Santa Missa,
portanto, à Santa Missa! E que jamais se ouça de vossos lábios esta palavra
escandalosa: “Uma missa a mais, uma missa a menos não tem importância”.
Livro: As Excelências
da Santa Missa, 1737.
Autor: São Leonardo
Maurício de Porto, OFM, págs. 22 a 24, das Vantagens da Santa Missa.
Um comentário:
Belíssimo texto!
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