terça-feira, 22 de julho de 2008

Hino da Jornada Mundial da Juventude - Sidney 2008





Hino em inglês i


Hino em versão internacional


Hino - Videoclipe em inglês


Hino - Videoclipe em versão internacional


Letra em português


Letra em inglês


Partitura (PDF)


Fonte: http://jmjbrasil.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=37&Itemid=30

domingo, 20 de julho de 2008

Espírito Santo, alma da Igreja




L’OSSERVATORE ROMANO Nº 28, 11/07/98


1. "Se o Cristo é a cabeça da Igreja, o Espírito Santo é a sua alma”. Assim afirmava o meu venerado predecessor Leão XIII na Encíclica Divinum illud munus (1897: DS 3328). E depois dele, Pio XII explicitava: o Espírito Santo no Corpo místico de Cristo é “o princípio de toda a ação vital e verdadeiramente salvífica em cada um dos diversos membros do Corpo” (Enc. Myst. Corp., 1943: DS 3808).

Queremos hoje refletir sobre o mistério do Corpo de Cristo que é a Igreja, enquanto vivificada e animada pelo Espírito Santo.

Depois do evento do Pentecostes, o grupo que dá origem à Igreja muda profundamente: primeiro, trata-se dum grupo fechado e estático, de “cerca de cento e vinte pessoas” (Act 1,15); depois, trata-se dum grupo aberto e dinâmico ao qual, após o discurso de Pedro, “se uniram cerca de três mil pessoas” (Act. 2,41). A verdadeira novidade não é constituída tanto por este embora extraordinário crescimento, quanto pela presença do Espírito Santo. Para que haja de fato a comunidade cristã, não basta um grupo de pessoas. A Igreja nasce do Espírito do Senhor. Ela apresenta-se para usar uma feliz expressão do saudoso Card. Congar – “inteiramente suspensa no céu” (La Pentecoste, trad. it., Bréscia 1986, pág. 60).

2. Ele nascimento no Espírito, ocorrido para a Igreja inteira no Pentecostes, renova-se para cada crente no batismo, quando somos imergidos “num só Espírito” para sermos inseridos “num só corpo” (1 Cor 12,13). Lemos em Santo Ireneu: “Assim como da farinha não se pode fazer, sem água, nenhum pão, assim também nós, que somos muitos, não nos podíamos tornar um em Cristo Jesus, sem a água que vem do céu” (Adv. Haer. 3, 17,1). A água que vem do céu e transforma a água do batismo é o Espírito Santo.

Santo Agostinho afirma: “Aquilo que o nosso espírito, a saber, a nossa alma, é para os nossos membros, o mesmo é o Espírito Santo para os membros de Cristo, para o Corpo de Cristo que é a Igreja” (Serm. 267,4).

O Concílio Ecumênico Vaticano II, na Constituição dogmática sobre a Igreja, retorna a esta imagem, desenvolve-a e precisa-a: “deu-nos do Seu Espírito, o qual, sendo um e o mesmo na cabeça e nos membros, unifica e move o corpo inteiro, a ponto de os Santos Padres compararem a Sua ação àquela que o princípio vital, ou alma, desempenha no corpo humano” (LG, 7).

Esta relação do Espírito com a Igreja orienta-nos para a compreender, sem cairmos nos dois erros opostos, que já a Mystici Corporis indicava: o naturalismo eclesiológico que se detém de maneira unilateral no aspecto visível até considerar a Igreja como uma simples instituição humana; ou então, ao contrário, o misticismo eclesiolótico que ressalta a unidade da Igreja com Cristo, a ponto de considerar Cristo e a Igreja como uma espécie de pessoa física. São dois erros que têm uma analogia – como já punha em relevo Leão XIII na Encíclica Satis cognitum – com duas heresias cristológicas: o nestorianismo, que separava as duas naturezas em Cristo, e o monofisismo, que as confundia. O Concílio Vaticano II ofereceu-nos uma síntese que nos ajuda a captar o verdadeiro sentido da unidade mística da Igreja, apresentando-a “como única realidade complexa, formada pelo duplo elemento humano e divino” (LG, 8).

3. A presença do Espírito Santo na Igreja faz com que ela, embora marcada pelo pecado dos seus membros, seja preservada da defecção. Com efeito, a santidade não só substitui o pecado, mas supera-o. Também neste sentido se pode dizer com São Paulo, que onde abunda o pecado, superabunda a graça (cf. Rm 5,20).

O Espírito Santo habita na Igreja não como um hóspede que, em todo o caso, permanece estranho, mas como a alma que transforma a comunidade em “templo santo de Deus” (1 Cor 3,17; cf. 6, 19; Ef. 2,21) e a assimila continuamente a Si por meio do Seu dom específico, que é a caridade (cf. Rm 5,5; Gl. 5,22). A caridade – ensina o Concílio Vaticano II na Constituição dogmática sobre a Igreja – “dirige todos os meios de santificação, informa-os e leva-os ao seu fim” (LG, 42). A caridade é o “coração” do Corpo místico de Cristo, como lemos na esplêndida página autobiográfica de Santa Teresa do Menino Jesus: “Compreendi que, se a Igreja apresenta um corpo formado por membros diferentes, não lhe falta o mais necessário e mais nobre de todos: compreendi que a Igreja tem coração, um coração ardente de amor; compreendi que só o amor fazia atuar os membros da Igreja e que, se o amor viesse a extinguir-se, nem os Apóstolos continuariam a anunciar o Evangelho, nem os mártires a derramar o seu sangue; compreendi que o amor encerra em si todas as vocações, que o amor é tudo e abrange todos os tempos e lugares, numa palavra, que o amor é eterno” (Manuscr. Autobiogr. B 3v).

4. O Espírito que habita na Igreja, mora também no coração de cada fiel: é o dulcis hospes animae. Seguir um caminho da conversão e de santificação pessoal significa, então, fazer-se “conduzir” pelo Espírito (cf. Rm 8,14), deixá-l’O agir, orar, amar em nós. É possível “tornarmo-nos santos” se nos deixarmos santificar por Aquele que é o Santo, colaborando com docilidade na Sua ação transformadora. Por este motivo, sendo o revigoramento da fé e do testemunho dos cristãos o objetivo prioritário do Jubileu, “é necessário suscitar em cada fiel um verdadeiro anseio de santidade, um forte desejo de conversão e renovamento pessoal num clima de oração cada vez mais intensa e de solidário acolhimento do próximo, especialmente do mais necessitado” (Tertio millennio adveniente, 42).

Podemos considerar que o Espírito Santo é como que a alma da nossa alma, e portanto o segredo da nossa santificação. Deixemo-nos habitar pela Sua presença forte e discreta, íntima e transformadora!

5. São Paulo ensina-nos que a inabitação do Espírito Santo em nós, intimamente ligada à ressurreição de Jesus, é também o fundamento da nossa ressurreição final: “Se o Espírito d’Aquele que ressuscitou a Jesus dos mortos habita em vós, Ele, que ressuscitou a Jesus Cristo dos mortos, há-de dar igualmente a vida aos vossos corpos mortais por meio do Seu Espírito, que habita em vós” (Rm 8,11).

Na bem-aventurança eterna viveremos na jubilosa convivência que agora é prefigurada e antecipada pela Eucaristia. então, o Espírito levará à plena maturação todos os gérmes de comunhão, de amor e de fraternidade, que floresceram ao longo da nossa peregrinação terrena. Como afirma São Gregório de Nissa, “circundados pela unidade do Espírito Santo como pelo vínculo da paz, todos serão um só Corpo e um só Espírito” (Hom. 15 in Cant.).

Fonte:http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=DOUTRINA&id=dou0022

quarta-feira, 16 de julho de 2008

"Os maus não são bons porque os bons não são melhores"

Por D. Estêvão Bettencourt

 

Este título exprime uma grande verdade, que nunca se considerará demais.

Pergunta-se porém: os maus precisam dos bons para se converter? - respondemos que a sua conversão depende da graça de Deus (que nunca lhes falta) e da sua fidelidade a essa graça. Mas Deus quer servir-se de instrumentos. E isso em dois planos: no meramente humano e no da fé.

No plano meramente humano... É notória a influência do exemplo ou do testemunho apregoado não só com palavras, mas também com gestos concretos. As palavras voam, mas os exemplos arrastam. O homem de hoje, em muitos casos, dá mais importância à sinceridade ou à coerência de vida do que à própria verdade. São tantas as "verdades" proclamadas por quem não as vivencia que muitos não lhes dão crédito. E há tantos erros traduzidos em atos concretos que arrastam multidões. Daí a importância do testemunho de vida em favor do Evangelho. Essa coerência, porém, exige coragem e brio... Coragem para que eu me adapte à Verdade e não queira adaptar a Verdade a mim, coragem para sair do meu pequeno mundo egoísta e pulsar com valores objetivos, que interessam aos meus semelhantes. Quantos têm sempre essa coragem?

No plano da fé... São Paulo nos diz que somos membros de um Corpo cuja Cabeça é Cristo e que nesse Corpo há muitas interdependências:

"Como o corpo, sendo um, consta de muitos membros e os membros sendo muitos, formam o corpo, assim é Cristo... Não pode o olho dizer à mão: ‘Não preciso de ti’, nem a cabeça aos pés: ‘Não preciso de vós’... Mais ainda: os membros do corpo considerados mais fracos são indispensáveis e, os que consideramos menos nobres, cercamos de maior honra" (1Cor 12,12-23).

Um membro doentio ou anêmico transmite menos vitalidade do que outro plenamente sadio. Por isto se diz com razão que Deus quer salvar a uns mediante outros, Cristo quer comunicar sua ação redentora aos membros do seu Corpo Místico, para que, de um modo ou de outro, colaborem (por graça de Deus) na mais importante de todas as obras, que é a santificação e a salvação dos homens. A consciência desta verdade desperta em todo cristão o elevado senso de responsabilidade que lhe toca. Aliás os documentos mais recentes da Igreja têm observado que o ateísmo se propaga no mundo de hoje porque nem sempre é lúcido o testemunho que os fiéis cristãos deveriam dar à Verdade. A decepção causada por não poucos afugenta os indecisos. A natureza humana tende a acomodar-se e cair na mornura de vida. Diz-se em latim "Quotidiana vilescunt. - A realidade repetida cada dia perdendo o seu significado". Donde a importância de sacudir o véu da rotina, de modo que "os homens, vendo nossas boas obras, glorifiquem o Pai que está nos céus" (Mt 5,16).

Sabiamente disse Jesus: "'Vós sois o sal da terra'. E acrescentou:'Se o sal perder o seu sabor, não haverá quem o substitua'" (Mt 5,13).

O bom cristão jamais poderá esquecer a nobre função que o Senhor assim lhe confiou.

Fonte: http://www.materecclesiae.com.br/em21.htm

quarta-feira, 9 de julho de 2008

REGRAS PARA DISCERNIMENTO DOS ESPÍRITOS

 


Por Santo Inácio de Loyola

1ª regra

Às pessoas que vão de pecado mortal em pecado mortal, costuma normalmente o inimigo propor-lhes prazeres aparentes, fazendo com que imaginem deleites e prazeres sensuais para que mais se conservem e cresçam nos seus vícios e pecados.

Com tais pessoas o bom espírito usa de um método oposto: punge-lhes e remorde-lhes a consciência pela sindérese (1) da razão.

2ª regra

Nas pessoas que se vão purificando intensamente dos seus pecados e caminham no serviço de Deus nosso Senhor de bem a melhor, o bom e o mau espírito operam em sentido inverso ao da regra precedente. Porque neste caso é próprio do mau espírito causar tristeza e remorsos de consciência, levantar obstáculos e perturbá-las com falsas razões para as deter no seu progresso.

E é próprio do bom espírito dar-lhes coragem, forças, consolações e lágrimas, inspirações e paz, facilitando-lhes o caminho e desembaraçando-o de todos os obstáculos, para as fazer avançar na prática do bem.

3ª regra

A consolação espiritual. Chamo consolação quando na alma se produz alguma moção interior, pela qual ela vem a se inflamar no amor do seu Criador e Senhor e, conseqüentemente, quando a nenhuma cousa criada sobre a face da terra, pode amar em si, senão no Criador de todas elas.

Do mesmo modo, quando derrama lágrimas que a movem ao amor do seu Senhor, seja pela dor dos seus pecados ou por causa da Paixão de Cristo nosso Senhor ou por outras coisas diretamente ordenadas ao serviço e louvor dEle.

Finalmente, chamo consolação a todo aumento de esperança, fé e caridade e a toda alegria interior que eleva e atrai a alma para as coisas celestiais e para sua salvação, tranqüilizando-a e pacificando-a em seu Criador e Senhor. (2)

4ª regra

A desolação espiritual. Chamo desolação todo o contrário da terceira regra: como escuridão da alma, perturbação, incitação a coisas baixas e terrenas, inquietação proveniente de várias agitações e tentações que levam à falta de fé, de esperança e de amor; achando-se a alma toda preguiçosa, tíbia, triste e como se separada do seu Criador e Senhor.

Porque, assim como a consolação é contrária à desolação, assim os pensamentos provenientes da consolação são opostos aos provenientes da desolação.

5ª regra

No tempo da desolação não se deve fazer mudança alguma, mas permanecer firme e constante nos propósitos e determinações em que se estava no dia anterior a esta desolação, ou nas resoluções tomadas antes, no tempo da consolação.

Porque, assim como na consolação é o bom espírito que nos guia e aconselha mais eficazmente, assim na desolação nos procura conduzir o mau espírito, sob cuja inspiração é impossível achar o caminho que nos leve a acertar.

6ª regra

Uma vez que na desolação não devemos mudar os primeiros propósitos, muito aproveita reagir intensamente contra a mesma desolação, por exemplo, insistindo mais na oração, na meditação, em examinar-se muito e em aplicar-se nalgum modo conveniente de fazer penitência.

7ª regra

O que está em desolação considere como o Senhor, para o provar, o deixou entregue às suas potências naturais, a fim de resistir aos diversos impulsos e tentações do inimigo.

Porque pode resistir-lhes com o auxílio divino, que nunca lhe falta, embora não o sinta distintamente, por lhe ter tirado o Senhor o seu muito fervor, o grande amor (3) e  graça intensa, restando-lhe contudo a graça suficiente para a salvação eterna.

8ª regra

O que está em desolação esforce-se por se manter na paciência, virtude oposta às aflições que lhe sobrevêm. E pense que bem depressa será consolado, empregando contra tal desolação as diligências explicadas na sexta regra.

9ª regra

Três são as causas principais da desolação:

Primeiramente, a nossa tibieza, preguiça e negligência nos exercícios de piedade afastam de nós, por culpa própria, a consolação espiritual.

Em segundo lugar, para mostrar-nos quanto valemos e até que ponto somos capazes de avançar no serviço e louvor de Deus, sem tanta recompensa de consolações e maiores graças.

Em terceiro lugar, para nos ensinar e fazer conhecer em verdade, sentindo-o interiormente, que não depende de nós conseguir ou conservar uma grande devoção, um intenso amor, lágrimas, nem qualquer outra consolação espiritual, mas que tudo isso é um dom e uma graça de Deus nosso Senhor. E também para que não façamos ninho em casa alheia, permitindo que o nosso espírito se exalte com qualquer movimento de orgulho ou vanglória, atribuindo-nos a nós os sentimentos da devoção ou os outros efeitos da consolação espiritual.

10ª regra

Quem está em consolação preveja como se há de portar no tempo de desolação, que depois virá, tomando novas forças para esse tempo.

11ª regra

Quem está em consolação procure humilhar-se e abater-se tanto quanto possível, lembrando-se de quão pouco é capaz no tempo da desolação, quando privado dessa graça ou consolação.

Pelo contrário, quem está desolado lembre-se que muito pode com a graça que lhe basta para resistir a todos os seus inimigos, procurando forças em seu Criador e Senhor.(4)

12ª regra

O inimigo procede como uma mulher, sendo fraco quando lhe resistimos, e forte no caso contrário.

Pois é próprio da mulher, quando disputa com algum homem, perder a coragem e pôr-se em fuga, quando este lhe resiste francamente. Pelo contrário, se o homem começa a temer e a recuar, crescem sem medida a cólera, a vingança e a ferocidade dela.

Do mesmo modo, é próprio do inimigo enfraquecer-se e perder o ânimo, retirando suas tentações, quando a pessoa que se exercita nas coisas espirituais enfrenta sem medo as suas tentações, fazendo diametralmente o oposto.

Ao invés, se a pessoa que se exercita começa a ter medo e a perder o ânimo ao sofrer tentações, não há animal tão feroz sobre a face da terra como o inimigo da natureza humana, na prossecução de sua perversa intenção com tão grande malícia.

13ª regra

Também age como um sedutor, em querer ficar oculto e não ser descoberto.

Pois o homem corrupto, quando solicita por palavras para um fim mau a filha de um pai honrado ou a mulher de um bom marido, quer que suas palavras e insinuações fiquem em segredo. Ao contrário muito se descontenta, quando a filha revela ao pai ou a mulher ao marido suas palavras sedutoras e intenção depravada, pois facilmente conclui que não poderá levar a termo o empreendimento começado.

Da mesma forma, quando o inimigo da natureza humana apresenta suas astúcias e insinuações à alma justa, quer e deseja que sejam recebidas e guardadas em segredo. Mas, quando a pessoa tentada as descobre a seu bom confessor ou a outra pessoa espiritual, que conheça seus enganos e malícias, isso lhe causa grande pesar, porque conclui que não poderá realizar o mal que começara, uma vez que foram descobertos seus enganos evidentes.

14ª regra

Procede também como um caudilho, para vencer e roubar o que deseja.

Pois assim como um capitão ou comandante de uma tropa, acampando e examinando as forças ou disposição de um castelo, ataca-o pelo lado mais fraco, da mesma maneira, o inimigo da natureza humana, rondando à volta de nós, observa de todos os lados nossas virtudes teologais, cardeais e morais. Onde nos encontra mais fracos e mais necessitados quanto à nossa salvação eterna, por ali nos combate e procura tomar-nos.


(1) Faculdade natural de julgar com retidão.

(2) A consolação é um dom gratuito de Deus, mas nós o experimentamos através de seus efeitos.

(3) O amor de Deus a nós permanece imenso, mas somos nós que não sentimos mais o fervor o amor e a graça.

(4) Nem a consolação, nem a desolação são estados definitivos aos quais nos possamos abandonar. Devemos sempre a respeito deles conservar um recuo que permita julgá-los e recolocá-los na trama de nossa experiência espiritual.


Fonte: Livro "Exercícios Espirituais", Santo Inácio de Loyola, p. 169-176.

terça-feira, 1 de julho de 2008

A maneira cristã de viver as férias

Por Pe. Marcial Maciel, L.C.

 

Muito estimados em Cristo,

Nesta época, muitos de vocês têm a mente e o coração voltados para a preparação das férias de verão, sempre muito saudáveis e necessárias. Pensei, por isso, que seria de utilidade refletir um pouco sobre o sentido do tempo de descanso e sobre a maneira cristã de viver as férias, procurando fazer algumas considerações práticas que nos ajudem a aproveitá-las de maneira mais frutífera.

Para muitas pessoas, as férias são uma espécie de evasão, um tempo neutro, livre de compromissos, cuja única finalidade, como se costuma dizer, é se divertir. Passar boas férias quer dizer realizar, com o mínimo possível de sobressaltos e inconvenientes, o projeto de descanso que tinha sido traçado. Talvez alguns considerem este tema pouco relevante. Mas, se vocês analisarem, o nosso tempo de descanso tem mais transcendência do que pode parecer à primeira vista. A maior parte das pessoas dedica uma porção significativa da vida ao descanso: férias de verão, Natal e Páscoa, fins de semana, festividades...

(Continue a ler aqui).

sábado, 28 de junho de 2008

Qual o destino dos que morrem?

"O Juízo Final", de Michelangelo (Capela Sistina - Vaticano)

Org.: Paulo Oliveira


ESCATOLOGIA: ESTUDO DAS REALIDADES DO ALÉM

O estudo da Escatologia individual diz respeito aos acontecimentos que afetarão cada indivíduo no fim de sua jornada terrestre. São eles: Morte, Juízo Particular, Purgatório, Inferno e Céu. E a Escatologia coletiva trata dos acontecimentos relacionados com o fim dos tempos, a saber: Parousia (2a. vinda de Cristo), Ressurreição da Carne, Juízo Final ou Universal e os "Novos Céus e Nova Terra". A MORTE é onde se dá a separação entre o corpo e a alma.(...)”(1)

“Nesta partida que é a morte, a alma é separada do corpo.Ela será reunida no seu corpo no dia da ressurreição dos mortos.”(2)

”O JUÍZO PARTICULAR ocorre imediatamente após a morte, e define se a alma vai para o Céu, inferno ou purgatório. Não há uma ação violenta de Deus, mas simplesmente a alma terá nítida consciência do que foi sua vida terrestre, e assim, se sentirá irresistivelmente impelida para junto de Deus (Céu), ou para longe da presença de Deus (Inferno) ou ainda para um estágio de purificação (Purgatório).”(1)

Neste primeiro Juízo,”cada um em função de suas obras e de sua fé”(3), “recebe em sua alma imortal a retribuição eterna”, “que coloca sua vida em relação à vida de Cristo...”(4)

Uma fundamentação bíblica a respeito da doutrina do Juízo Particular temos na parábola do rico e Lázaro:

“Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho fino e que fazia diariamente brilhantes festins. Um pobre chamado Lázaro jazia coberto de úlceras no pórtico de sua casa. Ele bem quisera saciar-se do que caía da mesa do rico, mas eram antes os cães que vinham lamber suas úlceras. O pobre morreu e foi levado pelos anjos para um lugar de honra junto de Abraão. O rico morreu também e foi enterrado. Na morada dos mortos, em meio às torturas, ergueu os olhos e viu de longe Abraão com Lázaro a seu lado. Ele exclamou: "Abraão, meu pai, tem compaixão de mim e manda que Lázaro venha molhar a ponta do dedo na água para me refrescar a língua, pois eu sofro um suplício nestas chamas". Abraão lhe disse: "Meu filho, lembra-te de que recebeste tua felicidade durante a vida, como Lázaro, a infelicidade. E agora, ele encontra aqui a consolação, e tu, o sofrimento. Além disso, entre vós e nós foi estabelecido um grande abismo, para que os que quisessem passar daqui para vós não o possam e que também de lá não se atravesse até nós". O rico disse: "Eu te rogo, então, pai, que envies Lázaro à casa de meu pai, pois eu tenho cinco irmãos. Que ele os advirta para que não venham, também eles, para este lugar de tortura". Abraão lhe disse: "Eles têm Moisés e os profetas, que os ouçam". O outro replicou: "Não, meu pai Abraão, mas se alguém dentre os mortos for a eles, se converterão". Abraão lhe disse: "Se eles não escutam Moisés nem os profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não ficarão convencidos". (Lc 16,19-31)

Esta parábola nos leva a concluir que cada indivíduo, ao deixar este mundo, recebe uma sentença. Lázaro é levado ao "seio de Abraão" e o rico aos tormentos do inferno. Isto pressupõe uma sentença de Deus logo após a morte. E sentença definitiva, pois o mau não pode passar para o lugar do justo nem vice-versa. E ainda, sentença anterior ao Juízo Final, pois os irmãos do rico ainda vivem na terra.”(5)

Mas como responder as pessoas que dizem estarem dormindo, esperando a ressurreição, os que morreram?Os que erroneamente defendem esta tese vão contra artigos da fé católica, como a Comunhão dos santos, e verdades da Sagrada Escritura.

“Ora, é muita contradição defender que os santos estão dormindo, mesmo porque, Deus, voltando-se ao bom ladrão, disse: "Em verdade, em verdade vos digo, ainda hoje estarás comigo no paraíso". Ora, ele não disse que após adormecer e após a ressurreição dos corpos S. Dimas estaria no paraíso. Ele estava 'no tempo', vivo, quando disse essas palavras, indicando a morte próxima de S. Dimas e a entrada deste primeiro santo canonizado da Igreja.

Mais: em Ap. 6, 9s, os mártires, junto ao altar de Deus nos céus, clamam em alta voz: "Até quando, ó Senhor Santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra?" Como se vê, os justos estão conscientes após a morte!

A palavra "dormir" é utilizada na Sagrada Escritura(6) em sentido figurado, como eufemismo, significando aqueles que morreram. Em outro trecho, a palavra 'despertar' significa 'ressuscitar'. Quando Nosso Senhor fala, por exemplo: "Pelos frutos conhecereis a árvore". A qual árvore Ele está se referindo? É claro que é uma expressão em sentido figurado. Ele está dizendo que pelos "frutos" (boas obras) conhecereis a "árvore" (quem, de fato, é a pessoa, a instituição etc).(7)

"E como está determinado que os homens morram uma só vez, e depois vem o julgamento..."(Hb 9,27)

”O PURGATÓRIO é o estado em que as almas dos fiéis que morrem no amor a Deus, mas ainda com tendências pecaminosas, se libertam delas através de uma purificação do seu amor. Ou seja, são almas justificadas, mas que ainda precisam ser santificadas.Todas as almas do Purgatório, posteriormente, irão para o Céu. O INFERNO é um estado de total infelicidade. É viver eternamente sem Deus, sem amar, sem ser amado. A alma percebe que Deus é o Bem Maior, mas sua livre vontade o rejeita e sabe que estará para sempre incompatibilizada com Deus. Isso gera um imenso vazio na alma que passa a odiar a Deus e às suas criaturas. Só vai para o inferno quem faz uma recusa a Deus consciente, livre e voluntária. O CÉU não é um lugar acima das nuvens, mas sim, um estado de total Felicidade capaz de realizar todas as aspirações do ser humano. No Céu participamos da Vida de Deus. E quanto maior for o amor que a pessoa desenvolveu neste mundo, mais penetrante será a participação na Vida de Deus. Assim, no Céu todos são felizes, mas em graus variados, pois cada um é correspondido na medida exata do seu amor. Deus é Amor, amor que se dá a conhecer a quem ama. Não há monotonia no Céu, mas sim, uma intensa atividade de Conhecer e Amar. (1)

É bom lembrar que todos os habitantes do Céu, excetuando Jesus e Maria, lá estão apenas com suas almas, pois os corpos estão na terra aguardando a ressurreição do último dia.(6)

“Cristo, com Sua morte, venceu o pecado e a morte; e sobre esta e sobre aquele alcançará também vitória pelos merecimentos de Cristo quem for regenerado sobrenaturalmente pelo batismo.Mas por lei natural Deus não quer conceder aos justos o completo efeito dessa vitória sobre a morte, senão quando chegar o fim dos tempos.Por isso os corpos dos justos se dissolvem depois da morte, e somente no último dia tornarão a unir-se, cada um com sua própria alma gloriosa.” (7)

"Sei que meu irmão há de ressurgir na ressurreição que haverá no último dia" (S. Jo. 11, 24)

“Veremos agora a Escatologia coletiva que trata dos acontecimentos relacionado com o fim dos tempos, a saber: Parousia (2a. vinda de Cristo), Ressurreição da Carne, Juízo Final ou Universal e os "Novos Céus e Nova Terra". A PAROUSIA é a volta gloriosa de Jesus no fim do mundo. Neste dia, Deus reunirá todos os povos de todos os tempos para o Juízo Final. A RESSURREIÇÃO DA CARNE se dará no dia da Parousia. As almas que aguardavam esse dia no Céu, no Inferno ou no Purgatório, ressuscitarão e comparecerão, juntamente com os que estiverem no mundo, diante de Jesus para o Juízo Final. Então uns irão com corpo e alma para o inferno, e outros irão com corpo e alma para Novos Céus e Nova Terra (Paraíso). Portanto, justos e ímpios ressuscitarão e terão um corpo imortal e íntegro, mas somente os dos justos estarão isentos dos sofrimentos e irão refletir a glória da alma.“(8)

"Virá uma hora em que todos os que se acham nos sepulcros ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que obraram bem, sairão para a ressurreição da vida; mas os que obraram mal, sairão para a ressuscitados para a condenação" (S. Jo. 5, 28)

"O que come a minha carne e bebe o meu sangue, tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia" (S. Jo. 6, 55)

“A ‘ressurreição da carne’ significa que após a morte não haverá somente a vida da alma imortal, mas que mesmo os nosso ‘corpos mortais’ (Rm 8,11) readiquirirão vida”(9)

“Cristo ressuscitou com seu próprio corpo: ‘Vede as minhas mãos e os meus pés: sou eu!’(Lc 24,39).Mas ele não voltou a uma vida terrestre.Da mesma forma, nele ‘todos ressuscitarão com seu próprio corpo, que têm agora’; porém, este corpo será ‘transfigurado em corpo de glória’, em ‘corpo espiritual’ (1Cor 15,44).(10)

“Vou ainda revelar-vos um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados.Num instante, num piscar de olhos, ao soar da trombeta final – pois a trombeta soará - , não só os mortos ressuscitarão incorruptíveis, mas nós também seremos transformados” (1Cor 15,51s.)

“Pois o Senhor mesmo, à voz do arcanjo e ao som da trombeta de Deus, descerá do céu.E então acontecerá, em primeiro lugar, a ressurreição dos que morreram em Cristo; depois, nós os vivos, que ainda estivermos aqui na terra,seremos arrebatados, juntos com eles, sobre as nuvens, ao encontro do Senhor, nos ares.”(1Ts 4, 16-17b)

O JUÍZO FINAL ou UNIVERSAL é a tomada de consciência, do indivíduo e de todos os homens, das obras boas e más que cada um realizou.(1) Este segundo juízo será de todos e na presença de todos os homens, ao final dos tempos, e por isto é chamado de juízo final ou juízo universal.(11)

Então Cristo “virá em sua glória, e todos os anjos com Ele. (...) E serão reunidas em sua presença todas as nações, e Ele há de separar os homens uns dos outros, como o pastor separa as ovelhas dos cabritos, e porá as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda. (...) E irão estes para o castigo eterno, e os justos irão para a Vida Eterna”(Mt 25,31-33.46).

“Uma interrogação que pode ter passado pelo espírito de vários leitores: a maior parte dos homens já terá sido julgada logo após a sua morte (excetuam-se aqueles que estiverem vivos, quando chegar a hora do fim do mundo), por que, então, passar de novo por um juízo?

A Suma Teológica (Suppl 88 I ad 1), bem como o Catecismo Romano, fazem compreender melhor a razão desses dois tribunais. De fato, no Juízo particular, cada homem é julgado privadamente por Deus, permanecendo o seu foro íntimo, bem como todas as conseqüências dos seus pecados, ocultos aos outros homens. Para a plena glorificação da justiça divina é indispensável que haja um outro juízo, público e universal, no qual fiquem patentes aos olhos de todos a inocência dos bons e a torpeza dos maus.”(12)

“Note que o Juízo Final é diferente do Juízo Particular. Neste, Deus revela a cada um, em foro privado, a pureza de intenção que definiu sua sorte no além. Já o Juízo Universal não se trata de uma segunda instância, pois o julgamento individual já ocorreu no Juízo Particular, mas simplesmente revelará a todos os homens os mistérios da história da humanidade e todos os efeitos positivos ou negativos das atitudes de cada um. Tudo será manifesto a todos. Dia de triunfo da Verdade e da Justiça. Após o Juízo Final segue-se o Tanque de Enxofre (Inferno) para os ímpios e o Paraíso para os justos.”(1)

“O juízo final não mudará em nada a sentença estabelecida no juízo particular, mas servirá para que resplandeça a sabedoria e a justiça divina, para prêmio dos bons e castigo dos maus, também em relação ao corpo. Perante Cristo, que é a Verdade, será revelada definitivamente a verdade em relação a cada homem com Deus. O juízo final revelará até suas ultimas conseqüências o que cada um fez -bom ou mal - ou tenha deixado de fazer durante sua vida terrena.(11)

”Os NOVOS CÉUS E NOVA TERRA ou PARAÍSO é a renovação do mundo inteiro no fim dos tempos, após o Juízo Final. O mundo atual não será aniquilado, mas sim, restaurado e consumado. O homem ressuscitado habitará num mundo de Paz e Amor.”(1)

“No fim dos tempos, o Reino de Deus chegará à sua plenitude. Então, os justos reinarão com Cristo para sempre, glorificados em corpo e alma, e o próprio universo material será transformado. Então Deus será “tudo em todos” (1Cor 15,28), na Vida Eterna.”(13)


Referências Bibliográficas:

(1) Dom Estêvão Bettencourt, OSB, Apostila do Mater Ecclesiae – Escatologia – www.veritatis.com.br/artigo.asp?pubid=1038 – página acessada dia 12/07/03
(2) Cf. Catecismo da Igreja Católica, página 283, parágrafo 1005
(3) Cf. Catecismo da Igreja Católica, página 288, parágrafo 1021
(4) Cf. Catecismo da Igreja Católica, página 288, parágrafo 1022
(5) Dom Estêvão Bettencourt, OSB, Revista Pergunte e Responderemos Mar/01, pag 119 - www.veritatis.com.br/artigo.asp?pubid=599 - página acessada dia 12/07/03
(6) Cf. exemplo 14,12
(7) www.veritatis.com.br/agnusdei/div351 – página acessada dia 12/07/03
(8) Cf. AQUINO,Felipe.A Mulher do Apocalipse.Edições Loyola,4 ed, São Paulo,1997.
(9) Constituição Apostólica “Munificientissimus Deus”.Ed. Vozes,Petrópolis,1954,DP 78.
(10) Dom Estêvão Bettencourt, OSB, Apostila do Mater Ecclesiae – Escatologia – www.veritatis.com.br/artigo.asp?pubid=598 - página acessada dia 12/07/03
(11) Cf. Catecismo da Igreja Católica, página 279, parágrafo 990
(10)Cf. Catecismo da Igreja Católica, páginas 281,282, parágrafo 999
(11)Jayme Pujoll e Jesus Sanches Biela, livro "Curso de Catequesis" da Editora Palabra, España. Pe. Antonio Carlos Rossi Keller - www.veritatis.com.br/artigo.asp?pubid=1028 - página acessada dia 12/07/03
(12) Revista Arautos do Evangelho,número 11, Novembro de 2002, página 9.(13) Cf. Catecismo da Igreja Católica, página 297, parágrafo 1060.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Sonhos


Os Sonhos: Significados

Por Dom Estêvão Bettencout

Em síntese: Os sonhos são: 1) a expressão do inconsciente, que se manifesta livremente enquanto o consciente se desliga; a psicanálise estuda o significado dos sonhos, nem sempre chegando a interpretação unânime. Os sonhos também são: 2) o veículo pelo qual Deus se quis revelar aos Patriarcas e santos personagens da Bíblia; ver Mt 1,20. 2,13. 19... Em terceiro lugar 3) os sonhos são canais de premonição e precognição , como atestam e comprovam casos famosos registrados pela história. A sabedoria manda que as pessoas se acautelem contra demasiada valorização dos sonhos; podem não ter a importância que lhes querem atribuir.
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Os sonhos deixam muitas pessoas inquietas. Parecem portadores de mensagem que deve ser interpretada e acatada. Reina, porém, certa confusão no setor, que pede esclarecimentos. É o que vamos propor nas páginas subseqüentes.

Podem-se atribuir aos sonhos três funções ou significados:

1.O sonho na Psicanálise

O sonho, segundo a psicanálise, é a expressão do inconsciente, de modo que Por ele se pode descobrir o que vai no íntimo da pessoa. Esta explicação é válida, pois, enquanto o consciente se desliga pelo sono, o inconsciente continua em atividade, que prorrompe livremente através das imagens e do enredo do sonho. A dificuldade, porém, consiste em interpretar autenticamente o simbolismo dessas imagens. Os analistas não concordam entre si, de maneira que dão á mesma figura diversos significados. Daí certa insegurança na interpretação dos sonhos.

2.O sonho na Bíblia

Segundo a Escritura Sagrada, o sonho pode ser um canal de comunicação de Deus aos homens. Assim, entre outros, os sonhos de José do Egito (Gn 37, 5-11; 40; 5-22; 41,1-36), os sonhos de S. José no novo testamento (Mt 1,20;2,13.19) e outros (cf. Gn 20,3s; 28,12; 31,11s;24; Jz 7,13s; 1Sm 28,6s; Jó 33,15...).

Os povos pagãos estimavam grandemente os sonhos como mensageiros da Divindade; pensavam que principalmente os reis eram agraciados por tais comunicações do alto. Já que as imagens vistas em sonhos eram não raro ambíguas, havia intérpretes oficiais das mesmas, que usavam de técnica complexa, aparentemente científica. Param quem não pudesse consultar os adivinhos, existiam catálogos de elucidação. O papiro Chester Beatty lll apresenta alguns critérios de interpretação, tais como estavam em uso no Egito. O documento data da 19ª. Dinastia (cerca de 1300 a.C); refere, porém, idéias contemporâneas à 12ª. Dinastia (1200-1800). Eis o que se depreende do mesmo:

Em muitos casos a interpretação do sonho se fazia simplesmente por analogia: um sonho feliz era bom agouro, ao passo que mau sonho presagiava desgraça. Pão branco em sonho era bom sinal; anunciava prazeres. Sonhar com homens de autoridade e poder também implicava bem-estar para o futuro. Sonhos obscenos valiam como péssimos prenúncios.

Havia, porém, critérios mais complicados, a fim de que a interpretação dos sonhos não ficasse ao alcance de qualquer indivíduo. Assim os trocadilhos ou jogos de palavras eram muito explorados: comer carne de asno, em sonho, significava engrandecimento, elevação, pois os conceitos de “asno”e “grande” eram homônimos. Receber uma harpa implicava desgraça, pois o nome “harpa”, boiné, fazia pensar em Bin, mau.

O homem que tivesse tido um sonho inquietador não devia desesperar, pois havia meios para deter os infortúnios previstos... Recomendava-se-lhe que invocasse a deusa Ísis, a qual saberia como defender o devoto dos males que Sete, filho de Nout, estava para desencadear. Também se usava a seguinte receita: umedecer em cerveja alguns pães com ervas verdes; à mistura acrescentava-se incenso, e com o conjunto resultante se esfregavam o rosto de quem havia sonhado. Este proceder afugentaria todos os maus agouros transmitidos pelos sonhos.

No século ll d.C Artemidoro de Éfeso, baseado em suas experiências, escreveu cinco livros intitulados Oneirokritiká, código importante para os decifradores de sonhos.

É claro que a crença no valor profético dos sonhos estava frequentemente ligada a supertição, preconceitos humanos, e não raro levava a graves erros na vida prática (à semelhança do que ainda nos tempos atuais acontece).

Voltando a Israel, verificamos que lá havia o perigo de que concepções pagãs relativas aos sonhos se mesclassem com as noções monoteístas e religiosamente puras dos israelitas, daí as restrições à interpretação dos sonhos nos textos bíblicos. Com efeito, conforme as Escrituras, não há intérpretes profissionais dos sonhos, como os havia entre os babilônios (c.f Dn 2,2; 4,3; 5,15) e os egípcios (c.f Gn 41,8). A explicação dos sonhos se deve a um dom esporádico de Deus; compete a quem, como o Patriarca José e o Profeta Daniel, possui o “espírito de Deus” (c.f Gn 40,8; Dn 2,27). Os intérpretes populares de sonhos são condenados pela lei de Moisés junto com os magos, os adivinhos, os necromantes...(c.f Lv 19,26; Dt 13, 2-4; 18,10s). Nos tempos da decadência religiosa(séc Vll e Vl) pulavam os falsos profetas, que diziam ter recebido em sonho autênticas comunicações do Senhor; ora o Senhor não cessava de acautelar os seus fiéis contra tais ilusões:

“Ouço os que dizem esses profetas, que em meu nome proferem falsos oráculos afirmando:’tive um sonho, tive um sonho!’...Esses profetas julgam que poderão fazer esquecer o meu nome ao meu povo mediante os sonhos que contam uns aos outros?”( Jr 23,25-27).

Também os sábios de Israel, propondo aos jovens discípulos conselhos para a vida, admoestavam-nos contra as imaginações noturnas:

“O insensato se entrega a esperanças vãs e enganosas, e os dão asas aos tolos. Semelhante àquele que procura apresentar uma sombra ou perseguir o vento, é quem se prende aos sonhos... Do que é impuro, que pode sair de puro? Da mentira, que pode sair de verítico? A adivinhação, os agouros e os sonhos são coisas vãs, semelhantes às imaginações do coração de uma mulher que está para dar à luz” (Eclo 34,1-5).

3.O Sonho na Parapsicologia

Os sonhos são também veículos de precognição ou premonição. Esta não é uma profecia em sentido teológico da palavra, pois profecia é um dom ou carisma de Deus concedido a pessoas especialmente escolhidas para determinada missão; ao contrário; a precognição é um fenômeno natural, decorre das faculdades mesmas da psyché humana. A história conhece famosos sonhos premonitórios, dos quais sejam relatados os seguintes:

a) Numa noite do ano de 1895, o conde José Vicente despertou de seu sono em seu solar da Alameda Barão de Limeira (São Paulo), e disse a esposa que a Condessa de Moreira Lima, sua parenta, acabava de morrer no Rio de Janeiro. E, como o enterro estivesse marcado para Lorena, cidade onde residia a Condessa, o Conde José Vicente seguiu para lá no primeiro trem da Estrada de Ferro Central do Brasil. Ao chegar, perguntou simplesmente ao cocheiro do carro que o levava a que hora sairia o enterro. O cocheiro deu a informação exata. Por conseguinte, não havia dúvida de que a Condessa de Moreira Lima falecera e a precognição fora verídica.

b) J. A. Saymonds, escritor inglês, viu em sonhos uma corrida, em que um cavalo chamado Anton ganhava por quatro corpos. Assombrado, viu no dia seguinte que, em verdade, existia um cavalo com tal nome e que correria nesse dia. Na opinião dos entendidos, o cavalo nenhuma possibilidade tinha de vencer, mas o fato é que venceu...

c) Caso bem comprovado é o do Presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln. Aos 23 de março de 1865, Lincoln convidou alguns para um jantar na Casa Branca. Como no dia anterior, o Presidente dava a impressão de estar muito sério e calado, como se andasse profundamente preocupado. Os convidados o notaram, mas, por delicadeza, não ousaram indagar de causa. De repente Lincoln, quebrando o silêncio, prorrompeu nestas palavras: “Sonhei coisa horrível, o que não deixa sossego, estou sempre a pensar nisso!” E com voz baixa, por vezes embargada, contou aos amigos: “Há dois fui para a cama bem tarde da noite, e meio-morto de cansaço; adormeci logo. Durante a noite sonhei que ao meu redor reinava um silêncio de túmulo e que se ouviam apenas os soluços de muitas pessoas a chorar. Impressionado, levantei-me, desci a escadaria que, dá para a sala de reuniões da Casa Branca. Também lá ouvi soluços e choros, mas não consegui ver ninguém. Apavorado, atravessei diversas salas até chegar a um recinto, cuja janela dava para leste. Soldados montavam guarda de honra ao redor de um sarcófago. Aproximei-me e verifiquei que estava aberto e rodeado de pessoas que choravam inconsolavelmente. Perguntei: ‘Quem morreu na Casa Branca?’ Alguém respondeu: ‘O presidente foi assassinado!’ Após estas palavras, acordei todo banhado em suor.’

Os amigos quiseram consolar o Presidente, mas ele continuou sempre preocupado. Chegou o dia 14 de abril. Naquela noite Lincoln, acompanhado de sua esposa, foi ao teatro Ford. O lugar de honra do Presidente achava-se guardado por um policial secreto. Apagaram-se as luzes e o espetáculo começou. De repente um tiro ecoa pela sala. Gritos de pavores e consternação reboam pelo auditório. Todos os olhares convergem para o camarote do Presidente, que caiu mortalmente ferido por uma bala. O assassino, fanático opositor político do Presidente, procurou fugir, mas logo foi preso...

No dia seguinte também se cumpriu à risca tudo o que Lincoln tinha visto em sonho três semanas antes: no salão situado a Leste da Casa Branca jazia o cadáver do Presidente morto, em câmara ardente, dentro de um sarcófago aberto, rodeado por uma multidão em prantos.

Eis um sonho precognitivo, extraordinariamente rico em indicações concretas, que, segundo os estudiosos, parece excluir qualquer dúvida de autenticidade.

Estes dados são suficientes para se admitir que a precognição se manifesta através de sonhos. Todavia vale a pena lembrar aqui as admoestações dos sábios que pedem cautela na interpretação e valorização dos sonhos em geral; pode ai haver enganos de graves conseqüências. As pessoas que tem sonhos premonitórios, podem sentir angústia e tensão nervosa; faz-se oportuno lembrar-lhes o que está dito às pp. 247s deste fascículo com relação a precognição em geral: vivam o mais normalmente possível, sem pensar muito na possibilidade de um sonho premonitório.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Lula diz que oposição ao homossexualismo é "doença perversa"


Julio Severo

Momento histórico para o movimento homossexual internacional. Pela primeira vez em toda a história mundial, um presidente faz a abertura oficial de um evento em defesa do homossexualismo.
Lula, que participou da 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transsexuais (GLBT), disse que o Brasil precisa de “um momento de reparação”. A conferência, iniciada em 5 de junho de 2008, foi convocada por decreto presidencial do próprio Lula.
Acompanhado de seis ministros, ele pediu para que todos os preconceituosos “arejem a cabeça e despoluam-na”. Ele surpreendeu ao manifestar apoio total ao movimento homossexual e dizendo “que fará o possível para que a criminalização da homofobia e a união civil sejam aprovadas”.
Ele defendeu o fim de toda a oposição ao comportamento homossexual e afirmou que a permanência da discriminação sexual “talvez seja a doença mais perversa impregnada na cabeça do ser humano”.
Na primeira fila da conferência estavam Luiz Mott (em trajes africanos), Toni Reis, Sergio Mamberti, a Senadora Fátima Cleide, a Deputada Cida Diogo e o ativista Beto de Jesus. Representantes de 14 países estavam presentes. A inédita conferência homossexual sob patrocínio governamental é uma das muitas iniciativas nacionais e internacionais financiadas e conduzidas pelo governo Lula.
No evento, o Secretário de Direitos Humanos Paulo Vanucchi fez um longo discurso, apelando fortemente para forçar credibilidade à questão homossexual. O site homossexual MixBrasil relata que Vanucchi “relembrou o holocausto”, tentando comparar a morte de seis milhões de judeus com 5 mil homossexuais, sem porém mencionar que Hitler era homossexual e que a vasta maioria dos 2 milhões de homossexuais da Alemanha nazista não tiveram o mesmo destino cruel da vasta maioria dos judeus alemães.
Vanucchi também tentou forçar igualdade entre a causa homossexual e a luta contra a escravidão dos negros. Ao dizer que “A homofobia é incompatível com a democracia” foi longamente aplaudido de pé. “Homofobia”, na gíria politicamente correta, é toda opinião ou atitude filosófica, moral, ética, médica ou religiosa contrária ao comportamento homossexual.
Segundo MixBrasil, ele “terminou seu discurso dando três recomendações ao movimento gay presente: Não se perder em disputas internas, entender que os adversários são pessoas presas a tabus usando mais estratégias de convencimento do que de enfrentamento e entender que a luta homossexual se entende como parte de outras lutas de direitos humanos como a de crianças, deficientes, negros e idosos”.
Quando chegou a vez do Ministro da Saúde José Gomes Temporão falar, ele creditou ao ativismo homossexual a união da luta contra a AIDS à defesa dos direitos homossexuais. Ele, que há bastante tempo vem se manifestando a favor da legalização do aborto, anunciou que até o final do mês o SUS passará a fazer operações de mudança de sexo.
Em seu discurso, Toni Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros), apresentou proposta para a criação de um estatuto para os homossexuais, seguindo o modelo do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Ele também pediu a aprovação da união civil de pessoas do mesmo sexo e a criminalização da homofobia. O pedido de Toni foi aplaudido por Lula.
"Fazemos qualquer negócio pela aprovação dos direitos GLBT", disse Toni.
Finalizando sua apelação, Paulo Vanucchi trouxe uma menina de 4 anos para o colo do presidente e no microfone ele gritou: “Brasil Sem Homofobia”.


domingo, 15 de junho de 2008

Dez Preceitos da Serenidade


Por Papa João XXIII


- Só por hoje tratarei de viver exclusivamente este dia, sem querer resolver o problema de minha vida, todo de uma vez.


- Só por hoje terei o máximo cuidado com o meu modo de tratar os outros: delicado nas minhas maneiras, não criticarei ninguém, não pretenderei melhorar nem disciplinar ninguém a não ser a mim.

- Só por hoje sentir-me-ei feliz com a certeza de ter sido criado para ser feliz, não só no outro mundo, mas também neste.

- Só por hoje adaptar-me-ei às circunstâncias sem pretender que as circunstâncias se adaptem a todos os meus desejos.



- Só por hoje dedicarei dez minutos do meu tempo a uma boa leitura, lembrando-me de que assim como é preciso comer para sustentar o meu corpo, assim também a leitura é necessária para alimentar a vida de minha alma.


- Só por hoje praticarei uma boa ação sem contá-la a ninguém.


- Só por hoje farei uma coisa de que não gosto, e se for ofendido em meus sentimentos, procurarei que ninguém o saiba.


- Só por hoje far-me-ei um programa bem completo do meu dia. Talvez não o execute perfeitamente, mas em todo caso vou fazê-lo. E guardar-me-ei bem de duas calamidades: a pressa e a indecisão.


- Só por hoje ficarei bem firme na fé de que a Divina Providência se ocupa de mim mesmo como se existisse somente eu no mundo, ainda que as circunstâncias manifestem o contrário.


- Só por hoje não terei medo de nada. Em particular, não terei medo de gostar do que é belo e não terei medo de crer na bondade.


Fonte: www.veritatis.com.br/article/510

terça-feira, 10 de junho de 2008

"Colar" em Provas


Por Dom Estêvão Bettencourt

A “cola” ou artimanha pela qual alguém procura fazer bom exame, copiando de livros e fontes clandestinas, é tão comum em nossos dias que os protestos da consciência parecem mesmo anacrônicos; em conseqüência, não poucas pessoas são tentadas a fechar os olhos a essa “arte” e admiti-la como lícita.

A fim de a justificar, há quem afirme que a lei que proíbe a “cola” pode ser tida como lei meramente penal, isto é, como determinação que não obriga o súdito em consciência(no seu fôro intimo, diante de Deus) a cumprir um dever, mas que obriga unicamente a se submeter a uma pena positiva caso seja encontrado em aberta desobediência a tal lei. Em conseqüência, as proibições de “colar” não pesariam sobre a consciência dos alunos ou candidatos; apenas implicariam que, caso o candidato não fosse bastante hábil no uso da “arte” e se deixasse apreender em flagrante, teria que aceitar as sanções estipuladas pelo legislador.

Seria válida essa argumentação?

Notemos que as leis penais são leis positivas, dependentes do critério pessoal do legislador. Ora a proibição de “colar” não é derivada de legislação meramente positiva, mas deve ser tida como ditame da lei natural.

Com efeito; a “cola” é, em termos claros, uma espécie de fraude ou roubo; visa conseguir vantagens e emolumentos para determinada pessoa, sem que esta tenha o titulo legal ( a ciência ou a capacidade técnica) para o possuir; “colar” significa, portanto, procurar adquirir bens aos quais o sujeito que “cola” não tem o direito. Ora todo furto ou roubo é um mal vedado pela lei natural independentemente da vontade da vontade de algum legislador ou da moda de determinada época.
É evidente quanto a “cola” prejudica :

a) É nociva aos colegas de quem a emprega, fazendo-lhes concorrência tanto mais indevida quanto mais estes forem idôneos e habilitados para conseguir feliz êxito nas provas;é assim uma burla dissimulada e “elegante” a todo ideal nobre; solapa o esforço das pessoas honestas;

b) É nociva ao bem comum, pois acarreta, próxima ou remotamente, a promoção de indivíduos ineptos ao exercício de cargos de maior ou menor repercussão social; na verdade, não basta um título ou diploma a fim de que alguém possa realmente colaborar para o bem público;

c) Prejudica o próprio autor da “cola”, pois este não somente viola a lei de Deus – o que é sempre detrimento para quem o traz-, mas também engana a si mesmo; a boa nota que ele adquire fraudulentamente, leva-o facilmente a crer que sabe alguma coisa..., e esta ilusão é gravemente perniciosa, como a experiência comprova.

Poder-se-ia, porém, replicar : há professores que, tácita ou até explicitamente, consentem na “cola”. Em tais casos, não será lícito o aluno fazer uso da mesma?
Não; visto que a proibição de “colar” não se deriva de alguma legislação positiva, mas de lei natural. O professor não tem o direito de derrogar a esta lei, permitindo a “cola”; a sua atitude, portanto, é lícita, e consequentemente ilícito será ao aluno pactuar com ela. Ademais as próprias leis positivas costumam repudiar a “cola” como tal, de sorte que, nem mesmo perante os homens ou as leis civis, é facultado ao professor permitir que os alunos “colem”.

O próprio professor não pode deixar de experimentar que se desprestigia diante dos alunos ao tolerar conscientemente a “cola”; os jovens respeitam e estimam muito mais o professor fiel ao dever, embora em dados momentos o mestre que pactua com a “cola” pareça ser o “paizinho” ou o “camarada”; cedo ou tarde o adolescente reconhece que ele muito deve ao professor correto, aparentemente desapiedado, e vê que o professor “amiguinho” (por suas desonestidades) só fez prejudicar os discípulos, abusando da inexperiência deles.

Por fim, note-se que o pecado de “cola” admite matéria leve, como dizem os moralistas, isto é, pode causar dano de pouca importância e, por isto, não acarretar senão culpa leve. Será tanto mais grave quanto maior for o prejuízo ocasionado aos interessados.

O educador, porém, não fechará os olhos nem mesmo as pequenas fraudes, a essas fraudes intentadas em todas as sabatinas, pois sem dúvidas elas vão deturpando o caráter da criança ou do adolescente que as pratica e que assim vai adquirindo o habito duplamente diabólico (mas infelizmente tão praticado na vida pública de nossos dias) de “roubar com arte”.