domingo, 20 de fevereiro de 2011

Grandes Ideais e Vida Fraterna

  
“... importa é prosseguir decididamente.” [1](S. Paulo)

“Não vos deixeis enganar: Más companhias corrompem os bons costumes.” [2] (S. Paulo)

“Busca as coisas do alto... afeiçoai-vos às coisas de cima e não às da terra.” [3] (S. Paulo)

“Todos os demais buscam os próprios interesses e não os de Jesus Cristo.” [4] (S. Paulo)

“Tendei à perfeição, animai-vos, que haja um só coração...” [5] (S. Paulo)


Por Saulo Eleazer

O homem necessita de ideais transcendentes. Foi feito para além. As margens lhe causam tédio e desespero. Por isso, voltado para si, como fim último de todas as coisas, sente-se frustrado e infeliz.

Entretanto, Deus nos fez, essencialmente, “relação”. Estar com os demais realiza a natureza de nosso ser. A própria Trindade se dá no “Um” para com os “Outros”. Portanto, fechar-se egoisticamente, privar-se da vida em comum, é caminhar para a infelicidade.

Aqui, uma constatação salutar para todo indivíduo: não só a importância de grandes ideais, como também, a necessidade da vida fraterna para a realização da própria apetência do ser enquanto tal. 

Ora, que ideais serão estes senão os do próprio Cristo? Não somos membros de seu Corpo Místico? De fato, estar em união com Ele[6] significa a mais íntima comunhão de espírito. Afinal, “nós temos o pensamento de Cristo”. [7]

Por isso, uma das grandes armas do Demônio tem sido a divisão. Primeiro, afasta os corações, depois - conseqüência lógica - os corpos. Ele sabe, como afirmara Salomão, que o homem isolado torna-se egoísta e revoltado. [8] Ali, afastado da vida fraterna que lhe era devida sente-se vazio e amargurado, então, faminto, tomará qualquer coisa por comida, pois, neste estado deplorável “tudo o que é amargo lhe parece doce.” [9]

O homem prudente percebe o mal e se põe a salvo; [10] além do mais, aquele que afasta o ouvido para não ouvir a instrução até sua oração torna-se um objeto de horror; [11]portanto, cuidado! Busca identificar teus sonhos aos mesmos ideais de Nosso Senhor, e, para alcançá-los, tenha profunda amizade com os membros de Seu Corpo Místico; sem desprezar, todavia, os demais homens criados por Deus todo poderoso. 

“... ai do homem solitário: se ele cair não há ninguém para levantá-lo. Da mesma forma, se dormem dois juntos, aquecem-se; mas um homem só, como se há de aquecer? Se é possível dominar o homem que está sozinho, dois podem resistir ao agressor, e um cordel triplicado não se rompe facilmente.” [12]

Nobres ideais e profícua vida fraterna! Eis, um grande segredo para a felicidade. Mas, como “nem tudo o que reluz é ouro” cuidado, também, com aqueles a quem te juntas. Nesta “noite” da história do catolicismo “todo gato é pardo”. São Paulo já nos dissera que lobos cruéis seriam encontrados, inclusive, na Igreja de Cristo. “Mesmo dentre vós surgirão homens que hão de proferir doutrinas perversas.” [13]

Muitos são os adversários. [14] Não sejamos ignorantes ao ponto de imaginar que basta estarmos perante um membro da Igreja Católica para ficarmos à salvo contra o engano ou a heresia. Judas, o suicida, e Martinho Lutero (para não citarmos tantos outros, alguns dos quais ainda vivem) também saíram de nosso meio...

Sendo assim, na dúvida, interroga a Tradição; a favor de quem lhe responder na voz do Magistério Vivo, segue sem medo, pois, os escravos de Cristo[15], têm na Cátedra de Pedro (assim como, nos Bispos a ela submetidos) a certeza da verdade. [16]


Mãe do Bom Conselho, rogai por nós!



[1] Filipenses 3, 16
[2] I Coríntios 15, 33
[3] Colossenses 3, 1-2
[4] Filipenses 2, 21
[5] II Coríntios 13, 11
[6] Gálatas 3, 28
[7] I Coríntios. 2,16
[8] Provérbios 18, 1.
[9] Provérbios 27, 7
[10] Provérbios 27,12
[11] Provérbios 28, 9
[12] Eclesiastes 4, 9-12
[13] Atos dos Apóstolos 20, 30
[14] I Coríntios 16, 9
[15] I Coríntios 7,22
[16] I Timóteo 3, 14

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Aviso aos leitores

Hoje, dia em que este blog completa três anos de existência, comunico que estou passando a administração a um novo administrador, que dará prosseguimento à labuta pelo Reino de Cristo. Agradeço a todos pela ajuda prestada. Peço aos leitores que continuem nos acompanhando com suas visitas e, principalmente, nos apoiando com suas orações.

Peço também que deem as boas vindas a Renato César, novo editor e administrador.

 

Em Cristo,

 

Paulo Oliveira.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Rádio Católica 24 horas no ar

 

 

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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Dois Amores Duas Cidades (.pdf) - Gustavo Corção

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quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Visitas virtuais ao Vaticano

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Visitas virtuais às basílicas e capelas papais

 

Fotos em 360º e em alta definição das basílicas vaticanas.

 

A Capela Sistina pode ser visitada em:

http://www.vatican.va/various/cappelle/sistina_vr/index.html

A Basílica de São Pedro pode ser visitada em:

http://www.vatican.va/various/basiliche/san_pietro/vr_tour/index-en.html

A Basílica de São Paulo Fora dos Muros pode ser visitada em:

http://www.vatican.va/various/basiliche/san_paolo/vr_tour/index-it.html

A Basílica de São João de Latrão pode ser visitada em:

http://www.vatican.va/various/basiliche/san_giovanni/vr_tour/Media/VR/Lateran_Nave1/index.html

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Ânsia Interior

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Por Prof. Pedro M. da Cruz
 
“O que adorais sem conhecer, eu vo-lo anuncio!” [1]
“É Nele que temos a vida, o movimento e o ser.” [2]
“No seu amor Ele nos predestinou...” [3]
 
A via espiritual é um caminho inevitável para o homem. Pela própria estrutura do seu ser, quer queira, quer não, (mesmo que não o busque conscientemente) descobrir-se-á envolvido nas teias dessa realidade que o solicita, penetra e consome.
Todas as coisas existem em Cristo. Como, então, imaginar um vivente neste mundo que não se suponha, ao menos confusamente, submergido nesta magnífica atmosfera? “Nele foram criadas todas as coisas... por Ele e para Ele.” [4]
Claro: a alguém que jamais ouviu falar da Revelação Sobrenatural, caberá sentir-se nesta “atmosfera crística” dum modo todo peculiar ao seu estado; porém, não será privado desta graça. Num dado momento terá aquela impressão “sem nome”, então, idéias correlatas surgirão “num pulo” em sua mente, e, por fim, ver-se-á às portas de especulações metafísicas.
Tudo isso parecerá improvável ao leitor, talvez, “sofisticado demais” para ocorrer em mentes simples como a de silvícolas, “famintos da áfrica” ou dementes, porém, as nuances em que podem dar-se essas “experiências” variam ao infinito. Além do mais, antes de chegarem às aprimoradas formulações racionais (possíveis, mas difíceis para alguns) elas se dão no mais íntimo da alma, num amplexo entre o que há de natural no homem e as sutilissimas carícias do Espírito que tudo ama, mantem e penetra misteriosamente.
A bem da verdade, em última instância, isto é sempre uma ação amorosa de Deus no mais recôndito das almas humanas, todavia, como conseqüência lógica do próprio ser enquanto ser. [5] Ou seja, pelo simples fato de o homem ser como é, por exemplo, criatura racional, ele está susceptível a estas sensações, percepções, “luzes”, “intuições”, em escala variável, óbvio - como já indicamos - dependendo do estado em que se encontra cada indivíduo.
Poderão vir num simples “arrepio”; ou, na fruição estranha do que é certa bondade enigmática, mirífica, sugerida pelo cuidado atento e demorado da mãe; quem sabe num frêmito, num frenesi; não se sabe... Referimo-nos a qualquer coisa que “eleve”, “sublime”; que faça o indivíduo dar um passo para além da ordinariedade nua e crua (mesmo esta, tomada pela interpenetração irrefragável entre natural e sobrenatural). Com efeito, Deus está em tudo[6]; e, em certo sentido, é concomitante aos seres criados. Tomistas chamarão “Presença de imensidão” a esta realidade estupenda.
“percepções interiores” que, em determinado ponto, escapam a toda codificação, não se condensam em palavras. O fato é que Deus jamais priva o homem desse “ósculo”, mesmo inominável; mas, ao contrário, por tê-lo criado neste modo de ser, atiça-o constantemente às mais possíveis degustações de suas possibilidades no cadinho das vivências cotidianas.[7]
Orlando-Fedeli-em-Sirmione-abril-2009
Pode ser que ocorra tomado pela grandiosidade da natureza, ou, inclusive, pela própria mediocridade de algumas ações  humanas; mas, a verdade, é que haverá um “estopim”, um fato desencadeador qualquer, que possibilitará ao indivíduo a constatação desse “veio místico”, digamos assim, que lhe é peculiar.
“Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo como que às apalpadelas, pois na verdade Ele não está longe de cada um de nós.” [8]
Estará andando pelas ruas; fazendo compras; ouvindo música; admirando uma pessoa, uma paisagem, um fato convencional, por mais banal que pareça; ou, quiçá, passando por um problema grave, talvez, a morte dum parente a perda de um amor... não importa. Então, num abrir e fechar de olhos, um “não sei o que, um “raio súbito” inundará sua alma, um sentimento estranho de enlevo, finitude ou impotência encherá seu intimo. Assim, terá emergido, desde o mais recôndito, aquela benéfica sensação do imponderável, um toque sobrenatural, ele que nos chama e “enfeitiça”.
A criatura racional, pelo mesmo fato de ser limitada e contingente – repitamos - traz em si a ânsia pelo “Perfeito”. Na verdade, é a Ele que “busca” toda criação[9], Nele se encontra a plenitude almejada, satisfação cabal de nossos desejos. Os anjos, os homens, enfim, a totalidade dos seres, apresenta-se neste processo qual “rastilho” nas mãos do Onipotente.
Agora, a pessoa – infelizmente - afogada no ativismo, escrava da materialidade, subjugada pelos prazeres fugazes desta vida, entre outras coisas, obviamente que terá maior insensibilidade às “coceiras” da natureza, se assim podemos chamar. Porém, elas sempre estarão ali o incomodando, atraindo-o às profundidades, dizendo-lhe íntima e repetidamente: “Há algo mais, há algo mais, há algo mais...”. Sim, por que há! E, sendo esta a realidade, fugir é cair na ilusão, viver frustrado, rumar a mais triste depressão.
 
“As perfeições invisíveis de Deus, seu poder sempiterno e divindade, se tornam visíveis à inteligência.” [10]
“... dando-lhes testemunho a sua consciência, bem como os seus raciocínios, com os quais se acusam ou se escusam...” [11]
“O que se pode conhecer de Deus eles o lêem em si mesmos” [12]
 
Falamos parágrafos acima de certa “experiência humana” inerente ao seu estado natural. Não é isto, também, graça do bom Deus? Após esta “antecâmara”, ou nela, encontrar-se-á o advento duma graça diferente, especial, toda própria do cristianismo, e, em suas possibilidades mais raras, sempre dependente deste.
De fato, há graças que só nos vem pela Igreja. Mesmo aqueles que, sem culpa própria, desconhecem o Cristo, mas levaram vida digna, tomarão parte em graças por uma misteriosa relação com o mesmo Corpo Místico de Nosso Senhor, por ele ignorado.
Temos, assim, estupendos movimentos de alma que precedem à conversão. Pessoas, na idade da razão, tendo alcançado certa “disposição humana adquirida” (porque estimulada) serão terrenos férteis para a evangelização. Estas “experiências interiores”, se acompanhadas de boa formação humana e doutrinal, poderão levá-las às Águas Batismais, onde terão acesso não só à Graça Habitual (Presença Santificante) como, também, a uma constelação de Graças Atuais que muito auxiliarão na Vida Espiritual.
Portanto, se bem canalizada essa ânsia interna, presente em todas as almas, poderemos conduzir incontáveis seres humanos ao conhecimento da verdade, à única Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo, Católica, Apostólica e “mil vezes!” Romana.
 
“Deus, porém, não levando em conta os tempos de ignorância, convida agora todos os homens de todos os lugares...” [13]
Maria Santíssima, rogai por nós!
 

[1] At. 17,23
[2] At. 17, 28
[3] Efe. 1,5
[4] Jô. 1,15-18
[5] O Homem, por ser como é, anseia por algo “imponderável em sua totalidade”. Então, Deus, que o fez assim (limitado, contingente... – e não poderia ser de outro modo, pois sendo criatura jamais possuiria a característica de “Absoluto”, própria da divindade), vem ao seu encontro, primeiro pelo “livro da Natureza”, depois pelo “livro Revelado”. O fato é que o primeiro encontro – no livro da Natureza (aqui o termo “Natureza” entendido de forma ampla, filosófica) - gera no homem uma série de moções interiores que o predispõe, com o auxilio de muitos outros meios, a graças superiores. Comumente não temos valorizado este “primeiro amor” que, a pesar de inferior ao “amor perfeito” da união sobrenatural, não deixa de ser indispensável, por que é parte de um processo natural querido por Deus.
[6] Negamos, obviamente, toda idéia errônea de panteísmo e gnose.
[7] Pensemos aqui no bem que faria às crianças e jovens o contato com a arte em sua expressão mais ordenada e sadia. O teatro, a música, a dança, a pintura, a fotografia... Enfim, tudo poderia ser um meio eficaz de elevação da mente a Deus, ou, até mesmo, de uma potencializarão de reações conhecidas em direção a um fim predeterminado, como, por exemplo, a comoção do indivíduo perante realidades que conduzem a reflexões de interesse.Afirmamos é que tudo deve ser usado para a maior glória de Deus, salvação das almas e exaltação da Santa Igreja.
[8] At. 17, 27
[9] Rom. 8, 22.
[10] Rom. 1,20
[11] Rom. 2,15
[12] Rom. 1,19
[13] At. 17, 30

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

D. Rifan: A Diversidade Litúrgica

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Por Prof. Pedro M. da Cruz
 
“Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção.” (S. Tomás de Aquino)
“Estamos falando do rito em latim tal e qual foi promulgado pelo Santo Padre Paulo VI e aprovado pelos seus sucessores.”
Conservamos a Tradição e a Liturgia tradicional, em união com a Hierarquia e o Magistério vivo...”
 
 
Vemos atualmente em certos grupos uma posição indevida perante o Magistério Vivo da Igreja Católica. É muito de se lastimar, pois, o Papa e os bispos a ele submetidos, são os legítimos representantes de Cristo, Nosso Senhor.
Dom Rifan nos apresenta abaixo sua visão pessoal enquanto bispo (assim como, o posicionamento oficial da Administração Apostólica São João Maria Vianney) sobre vários assuntos ligados a Igreja e a Liturgia. No mais, Aconselhamos a leitura completa de sua Orientação Pastoral.
Maria Santíssima, rogai por nós!
 
§ 4. Critérios e limites a serem observados:
“Falamos acima[1] sobre os verdadeiros e sadios motivos que levaram e levam grande número de católicos ao legítimo amor e preferência pela riqueza litúrgica do rito tradicional e, portanto, à sua conservação.” (Entenda-se, “Rito de São Pio V”, a também chamada “Missa em Latim”)
“Mas, há que se reconhecer e lamentar que, às vezes, em sua adesão e resistência, fizeram-se críticas ilegítimas à reforma litúrgica e se foi além dos limites permitidos pela doutrina católica.”
image Cita-se, por exemplo, a afirmação falsa, segundo o autor, de que seis teólogos protestantes (foto) teriam participado na elaboração dos novos textos litúrgicos, comprometendo assim a pureza da doutrina católica. A Santa Sé respondeu oficialmente (25/02/76) que, como certos protestantes haviam expresso em 1965 o desejo de acompanhar os trabalhos da Comissão Pontifícia, [2] em agosto de 1966, seis teólogos protestantes foram admitidos como simples observadores,[3] mas que esses observadores não participaram na elaboração dos textos do novo Missal. O que - conclui Dom Rifan - finalizaria a questão.
Muitas vezes, na ânsia de defender coisas corretas e sob pressão dos ataques dos opositores, mesmo com reta intenção podem-se cometer erros e exageros que, após um período de maior reflexão, devem ser retificados e corrigidos. São Pio X comentava que no calor da batalha é difícil medir a precisão e o alcance dos golpes. Daí acontecerem faltas ou excessos, compreensíveis, mas incorretos. Erros podem ser compreendidos e explicados, mas não justificados. Santo Tomás de Aquino nos ensina: ‘Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção. ’[4]
Por essa razão, em carta ao Papa de 15/8/2001, os sacerdotes da antiga União Sacerdotal São João Maria Vianney, agora constituída pelo Papa em Administração Apostólica, escreveram: ‘E se, por acaso, no calor da batalha em defesa da verdade católica, cometemos algum erro ou causamos algum desgosto a Vossa Santidade, embora a nossa intenção tenha sido sempre a de servir à Santa Igreja, humildemente suplicamos o seu paternal perdão. ’
É preciso sempre ajustar a prática com os princípios que defendemos. Se reconhecemos as autoridades da Igreja é preciso respeitá-las como tais, sem jamais, ao atacar os erros, desprestigiá-las. Se houve algum erro ou exagero no passado quanto a isso, não há nada de mais em corrigir o erro. Os princípios, a adesão às verdades da nossa Fé e a rejeição aos erros condenados pela Igreja continuam os mesmos. O que é preciso é evitar as generalizações, ampliações e atribuições indevidas e injustas. A justiça e a caridade, mesmo no combate, são imprescindíveis. Se houve alguma falha também nesse ponto, corrigir-se não é nenhum desdouro. Afinal, errar é humano, perdoar é divino, corrigir-se é cristão e perseverar no erro é diabólico.
O objetivo da presente Orientação Pastoral não é arrefecer a luta contra o modernismo ou outras heresias que procuram se infiltrar na Santa Igreja de Deus, muito menos compactuar com quaisquer erros que sejam, mas sim fazer com que o nosso ataque seja eficaz, baseado na verdade, na justiça e na honestidade. Caso contrário, seria inócuo, prejudicial e até ofensivo a Deus, Nosso Senhor, e à sua Igreja. Só assim estaremos contribuindo realmente com a hierarquia da Igreja nesse combate contra o mal...”
“Assim, jamais se pode usar a adesão à liturgia tradicional em espírito de contestação à autoridade da Igreja ou de rompimento de comunhão. Há que se conservar a adesão à tradição litúrgica sem pecar contra a sã doutrina do Magistério e sem jamais ofender a comunhão eclesial. Como escrevi na minha primeira mensagem pastoral de 5 de janeiro de 2003: ‘Conservamos a Tradição e a Liturgia tradicional, em união com a Hierarquia e o Magistério vivo da Igreja, e não em contraposição a eles.’”
“... limites, impostos pela teologia católica às reservas e críticas, nos impedem, por exemplo, de dizer que o Novus Ordo Missae, a Missa promulgada pelo Santo Padre Paulo VI, seja heterodoxa ou não católica. A sua promulgação (forma, no sentido filosófico) é a garantia contra qualquer irregularidade doutrinal que pudesse ter havido na sua confecção (matéria), embora ela possa ser melhorada na sua expressão litúrgica. E é a sua promulgação oficial, e não o modo de sua confecção, que a torna um documento do Magistério da Igreja.”
image “... ato verdadeiramente do Magistério e que merece a assistência do Espírito Santo, é o texto em sua plena formulação objetiva, promulgado pelo Papa, não interessando a opinião particular que tenham podido sustentar Mons. Aníbal Bugnini (foto) ou os membros do Consilium. Casos semelhantes já ocorreram na história, quando o redator de uma encíclica papal emitiu opinião interpretativa da encíclica que discordava do texto formulado objetivamente e promulgado pelo papa, único evidentemente válido como ato do magistério, não importando a idéia do redator.”
“Quem considerasse a Nova Missa, em si mesma, como inválida, sacrílega, heterodoxa ou não católica, pecaminosa e, portanto, ilegítima, deveria tirar as lógicas conseqüências teológicas dessa posição e aplica-la ao Papa e a todo o Episcopado residente no mundo, isto é, a toda a Igreja docente: ou seja, sustentar que a Igreja oficialmente tenha promulgado, conserve a décadas e ofereça todos os dias a Deus um culto ilegítimo e pecaminoso – proposição reprovada pelo Magistério – e que, portanto, as portas do Inferno tenham prevalecido contra ela, o que seria uma heresia. Ou então estaria adotando o princípio sectário de que só ele e os que pensam como ele são a Igreja e que fora deles não há salvação, o que seria outra heresia. Essas posições não podem ser aceitas por um católico, nem na teoria nem na prática.
Fique, portanto, bem claro, por tudo quanto aqui estamos ensinando, que, embora tenhamos como rito próprio da nossa Administração Apostólica a Missa no rito romano tradicional, uma participação de algum fiel ou uma concelebração de algum dos nossos sacerdotes ou de seu Bispo, em uma Missa num rito promulgado oficialmente pela hierarquia da Igreja, por ela determinado como legítimo e por ela adotado, como é a Missa celebrada no Rito Romano atual, não pode ser considerada como sendo algo de mau nem passível da menor crítica. Nem isso significa a perda da nossa identidade litúrgica, mas sim uma ocasional e oportuna demonstração de comunhão com os Bispos, sacerdotes e fiéis, apesar da diferença de rito.
Não se pode negar o fato objetivo de que hoje o rito de Paulo VI é o Rito oficial da Igreja latina, celebrado pelo papa e por todo o Episcopado Católico. Ninguém pode ser católico se mantendo numa atitude de recusa de comunhão com o papa e com o Episcopado Católico. De fato, a Igreja define como cismático aquele que recusa se submeter ao Romano Pontífice ou se manter em comunhão cós os outros membros da Igreja a ele sujeitos (Cânom 751). Ora, se recusar continua e explicitamente a participar de toda e qualquer Missa no rito celebrado pelo Papa e por todos os Bispos da Igreja, pela razão de julgar esse rito, em si mesmo, incompatível com a Fé ou pecaminoso, representa uma recusa formal de comunhão com o papa e com o Episcopado católico.”
 
Sobre a reforma litúrgica, disse o Papa João Paulo II: ‘... alguns acolheram os novos livros com certa indiferença...; outros, o que é muito de se lamentar, se apegaram de maneira unilateral e exclusiva às formas litúrgicas anteriores, consideradas por alguns destes como a única garantia de segurança na Fé. Outros, finalmente, promoveram inovaçõesimage fantasiosas, afastando-se das normas dadas pela autoridade da Sé Apostólica ou pelos Bispos, perturbando assim a unidade da Igreja e a piedade dos fiéis, em contraste, às vezes, com os dados da Fé. [5]

“... isso não vem significar absolutamente que estejamos aprovando abusos e profanações que ocorrem até com certa freqüência em missas celebradas no novo rito. Estamos falando do rito em latim tal e qual foi promulgado pelo Santo Padre Paulo VI e aprovado pelos seus sucessores. E uma eventual participação em missas do novo rito não significa aprovação de quaisquer abusos lamentados pelo Papa, que ali possam ocorrer.
“O nosso propósito, sim, é combater aqui o equívoco doutrinário dos que consideram a nova Missa, como foi promulgada oficialmente pela hierarquia da Igreja, como sendo pecaminosa e, portanto, impossível de ser assistida sem se cometer pecado, atacando violentamente os que, em determinadas circunstâncias, dela participam, como se tivessem cometido uma ofensa a Deus.”
“Há infelizmente alguns que pensam que o único motivo para se celebrar ou assistir à Missa no rito tradicional é o fato de a Nova Missa ser inválida ou heterodoxa e, portanto, ilícita. Ora, os muitos sérios e graves motivos que demos acima são suficientes para a nossa adesão à Missa tradicional como nos concedeu a santa sé, sem necessitar recorrer a esse argumento que, aliás, seria falso e injusto. E só a verdade e a justiça devem ser a nossa norma nesta luta. Somente a verdade nos fará livres. Caso contrário estaríamos açoitando o ar.
Bem acertadamente escreveu um escritor católico da atualidade, Dr. Michael Davies, grande defensor da Missa tradicional e de grande renome nos meios tradicionalistas: ‘Alegações têm sido feitas dentro do movimento tradicionalista de que a Nova Missa não foi apropriadamente promulgada conforme as normas do Direito Canônico, de que ela não é a Missa oficial da Igreja católica, de que assistindo a ela não se cumpre o preceito dominical, de que ela é ruim, má, ou mesmo intrinsecamente má. Visto que o Papa Paulo VI era um verdadeiro papa, e que o Missal de 1970 constitui o que é conhecido como uma lei disciplinaria universal, tais alegações são completamente insustentáveis em vista da doutrina da indefectibilidade da Igreja. Nenhum papa verdadeiro poderia impor ou mesmo autorizar para o uso universal um rito litúrgico que fosse em si mesmo prejudicial aos fiéis...”
“Há infelizmente alguns que pensam que o único motivo para se celebrar ou assistir à Missa no rito tradicional é o fato de a Nova Missa ser inválida ou heterodoxa e, portanto, ilícita.” (Dom Rifan)
 
(Nota: Retiramos várias citações do texto. Tomamos, inclusive, a liberdade de sublinharmos e usarmos do negrito e itálico de acordo com nossa preferência)
 
Referência Bibliográfica:
Orientação Pastoral. O Magistério Vivo da Igreja. Dom Fernando Arêas Rifan. Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney. Pg.: 28-37

[1] Como se pode conferir no fim desta apresentação estes parágrafos foram retirados duma Orientação Pastoral do Senhor Bispo Dom Fernando Arêas Rifam, onde o mesmo trata sobre o Magistério Vivo da Igreja, mas, também, sobre a relação da Administração Apostólica por ele administrada com a autoridade suprema da Igreja.
[2] Consilium – composto de 2 presidentes, 58 membros, 121 consultores e 73 conselheiros, todos católicos...
[3] Como também o Papa Beato Pio IX convidara, em 1868, todos os cristãos cismáticos e protestantes para assistirem o Concílio Vaticano I.
[4] Santo Tomás de Aquino, Decem praec. 6 (cf. CIC 1759)
[5] Carta Apostólica Vigesimus Quintus Annus, 4/ 12/ 1988, n.11
“Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção.” (S. Tomás de Aquino)
“Estamos falando do rito em latim tal e qual foi promulgado pelo Santo Padre Paulo VI e aprovado pelos seus sucessores.”
Conservamos a Tradição e a Liturgia tradicional, em união com a Hierarquia e o Magistério vivo...”
 

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Testemunhas de Jeová e Dom das Línguas

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Por Prof. Pedro M. da Cruz
 
 
“... não se incentive a chamada oração em línguas e nunca se fale em línguas sem que haja intérprete.”
(Documento da CNBB) [1]
“Se vossa língua só profere palavras ininteligíveis, como se compreenderá o que dizeis? Sereis como quem fala ao vento.” (S. Paulo - I Cor. 14,9).
 
É curioso, mas, algumas vezes, os próprios hereges nos surpreendem com certas posturas doutrinais de suas seitas.
Esta é mais uma artimanha do Maligno que, ao apresentar determinada verdade em meio às loucuras que a cerca, procura, deste modo, dar ao grupo absurdo que a defende (neste caso, as auto-intituladas “Testemunhas de Jeová”[2]) um ar de ortodoxia e veracidade que, no fundo, não possuem. É fácil perceber que o demônio tem lutado de todos os modos contra a verdade, até mesmo defendendo-a para melhor destruí-la, se possível fosse.
Que Nossa Senhora nos defenda contra as jogadas de Satanás. E, finalmente, que ela alcance de Deus a graça da conversão para todos os homens que vivem iludidos pela mentira.
Urge notar que o chamado “dom das línguas” tem sido, de muitos modos, um “cavalo de tróia” nas mãos do inimigo infernal, inclusive, entre muitos filhos incautos da Igreja Católica...
 
Texto das “Testemunhas de Jeová” (Sic.)
 
Falar em Línguas. É da parte de Deus?
 
“Será que falar em línguas como se faz em algumas igrejas hoje é realmente da parte de Deus? Para responder a essa pergunta, será de ajuda examinar como era o dom milagroso de línguas entre os cristãos do primeiro século.
 
Eles ‘principiaram a falar em línguas diferentes’ 
 
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A Bíblia fala de homens e mulheres que receberam a capacidade de falar línguas que nunca haviam aprendido. Isso aconteceu pela primeira vez em Jerusalém, no dia do Pentecostes de 33 EC, poucas semanas após a morte de Jesus Cristo. Naquele dia, cerca de 120 discípulos de Jesus ‘ficaram cheios de espírito santo[3] e principiaram a falar em línguas diferentes’. Visitantes de outros países ficaram perplexos, ‘porque cada um os ouvia falar no seu próprio idioma. ’
A Bíblia menciona outros seguidores de Jesus que tinham essa capacidade notável. Por exemplo, com a ajuda do espírito santo, o apóstolo Paulo podia falar muitas línguas. (Atos 19,6; I Corintios 12, 10, 28; 14,18). Mas qualquer dom do espírito santo de Deus logicamente deveria ter um objetivo válido. Então, qual era o objetivo de se falar em línguas nos tempos bíblicos?
 
Sinal de apoio divino 
 
Quando Paulo escreveu à congregação cristã de Corinto, que pelo visto tinha pessoas que falavam em línguas, ele explicou que ‘as línguas eram um sinal para os incrédulos, ou seja, para os que não eram cristãos. ’ Assim, junto com outros dons milagrosos, falar em línguas era uma indicação de que a recém-formada congregação cristã tinha a aprovação e o apoio de Deus...” 
 
Meio de divulgar as boas novas
 
“No início de seu ministério, Jesus instruiu seus discípulos a pregar as boas novas do Reino de Deus apenas aos Judeus. Por causa disso, os discípulos praticamente só pregavam em lugares em que a maioria dos habitantes eram judeus. Mas isso logo mudaria.
Poucos dias depois de morrer e ser ressuscitado, em 33 EC, Jesus ordenou a seus seguidores que ‘fizessem discípulos de pessoas de todas as nações. ’ Ele também lhes disse para serem suas testemunhas ‘até à parte mais distante da terra’. Para que as boas novas tivessem esse alcance, eles precisariam falar muitas outras línguas além do Hebraico.
No entanto, muitos daqueles primeiros cristãos eram ‘indoutos e comuns’ (Atos 4, 13). Então, como eles poderiam pregar em lugares distantes onde se falavam idiomas de que talvez nem sequer tivessem ouvido falar? O espírito santo concedeu a alguns desses fiéis pregadores o dom milagroso de pregar com fluência em idiomas que eles nunca tinham aprendido.”
“Será que o atual costume de falar em línguas (sic.) é um meio usado para pregar as boas novas a quem fala outro idioma? Lembre-se que aquelas pessoas em Jerusalém no dia de pentecostes de 33 EC eram de vários lugares, e elas entenderam claramente as línguas que os discípulos falaram de modo milagroso. Em contraste, os que falam em línguas hoje (sic.) em geral pronunciam palavras que ninguém entende.
Fica claro que o atual costume de falar em línguas é muito diferente do dom do espírito santo dado aos primeiros seguidores de Jesus.”
(N.B.: O negrito é nosso)
 
Fonte: Revista, “A Sentinela. Anunciando o Reino de Jeová”. 01/10/ 2010. Pág. 29.
 
Como pudemos constatar até mesmo as auto–intituladas “Testemunhas de Jeová” - apesar de seus escorregões - tem uma visão contrária ao pentecostalismo moderno. É uma luz em meio às trevas da heresia que domina aquela seita anticristã. Roguemos a Deus para que Ele possa esclarecê-la em todos os pontos onde haja divergência com a única Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo: Católica, Apostólica e mil vezes! Romana.
É uma pena que alguns membros da RCC não tenham percebido o que os próprios inimigos do catolicismo conseguiram averiguar...
Não é de se admirar, portanto, que essa situação - ainda em seus primórdios mais discretos - tenha deixado o grande São Pio X tão impressionado com o fato da desinformação reinante em nosso tempo. Ele, como pontífice e pastor exemplar que era, chegou ao ponto de criticar já naquela época, os muitos membros do laicato e clero católico (inclusive bispos) que, sem um sólido conhecimento de filosofia e teologia, mas embebidos das teorias envenenadas dos inimigos da Igreja, vangloriavam-se, desprezando e transgredindo toda moderação necessária. (Pascendi, Séc. XX).
Sim, repitamos: O Papa Pio X chegara ao ponto de criticar, não somente leigos, mas, também, padres e bispos afogados no erro de nossos adversários. Exatamente como se dá em nossos dias...
 
“Não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja.”
(S. Pio X, sobre membros do clero católico - Pascendi).
 
Santíssima Virgem, rogai por nós nestes tempos de crise!
 

[1] Documentos da CNBB. Orientações Pastorais sobre a Renovação Carismática Católica. N. 53. São Paulo: Paulinas, 1994. 31 pgs. Lê-se na conclusão do documento a manifesta preocupação dos Bispos com os desvios ocorridos na chamada Renovação Carismática “... que são prejudiciais para a RCC e para toda a Igreja” (conf. pg. 31).
[2] Seita fundada por Charles Taze-Russel (1852-1916).
Depois da frustrada previsão da segunda vinda de Cristo, por parte dos adventistas, para 1843-1844, Russel (de família presbiteriana) “descobriu” que caberia a ele apresentar o verdadeiro sentido das escrituras. Propôs, então, a segunda vinda de Cristo para 1914. Bom, nós do blog acreditamos que o mesmo tenha se equivocado... (risos)
[3] Aqui o nome “Espírito Santo” é escrito com iniciais minúsculas pela seita das “Testemunhas de Jeová”, pois, negam, absurdamente, que o Espírito Santo seja uma pessoa Divina. De fato, negando a Trindade, negam a divindade do próprio Jesus Cristo, e, por fim, afirmam ser o Espírito Santo uma simples “força ativa invisível que Deus usa para realizar seu propósito e expressar sua vontade...”

sábado, 1 de janeiro de 2011

Jesus Cristo - Mons. Negromonte

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Não cabe neste livro a história da vida pública de nosso Senhor. Embora tenha sido de três anos apenas, é bastante longa, movimentada e complexa. As poucas noções aprendidas na História Sagrada devem ser completadas com a leitura constante dos Santos Evangelhos e o estudo de uma boa vida de Jesus (1). Mas não podemos deixar de dar aqui, ao menos, uma visão de conjunto. Muitas vezes perguntamos: Como seria Jesus Cristo? A esta pergunta pretendemos responder.

A fisionomia exterior

Só podemos imaginar que Jesus tenha sido homem de extraordinária beleza. Não de uma beleza suave e doce, como nossa Senhora, mas de uma beleza máscula, forte e viril como devem ser os homens em todo o seu esplendor. O salmista tinha profetizado: “Superas em formosura a todos os homens” (Sl 44, 3). A impressão extraordinária que ele causava a todos que o viam havia de ser, em grande parte, devida à sua fisionomia.

Naquele semblante magnífico destacava-se o olhar. Ele mesmo disse que a luz do corpo está no olhar (cfr. Mt 6, 22). A gente imagina que ele teria olhos tranquilos, luminosos e profundos, olhando para os homens com uma expressão e uma força, que os Evangelhos nos deixam entrever. Foi assim que bastou um olhar de Jesus a são Pedro para o que o Apóstolo compreendesse todo o mal da sua negação e saísse a chorá-la amargamente (cfr. Lc 22, 61).

Um homem forte

Jesus não era nem podia ser um homem franzino e doentio. A sua figura denotava um homem de grande vigor físico, como é fácil de ver pelos Evangelhos.

Era um trabalhador infatigável. Levante-se, ainda alta madrugada (Mc 1, 35) e desde a aurora já chama os Apóstolos para o trabalho (Lc 6, 13).

Os seus dias são cheios até alta noite, às vezes sem ter nem tempo de comer (Mc 3, 20). Mesmo enquanto descansa um pouco, trabalha, como no episódio da Samaritana (cfr. Jo 4, 6 e ss). E ainda de noite, ia atender aos que o procuravam (cfr. Jo 3, 2).

Não tinha sequer onde reclinar a cabeça (cfr. Mt 8, 20), vivendo, portanto, em longas e constantes caminhadas através dos caminhos poeirentos ou montanhosos da Judéia e da Galiléia.

Só um homem forte e robusto seria capaz de viver assim.

Um dominador

O Evangelho nos mostra Jesus admiravelmente calmo e imperturbável.

Quando a tempestade se levanta e a barca parece naufragar, os Apóstolos se desorientam, mas Jesus continua calmo e senhor da situação (cfr. Mt 8, 26).

Em face dos inimigos, que lhe propõem questões terríveis para perdê-lo, conserva a mesma serenidade inquebrantável (Mt 22, 18-22).

O próprio demônio não o perturba, nem nas tentações do deserto (Mt 4, 4, 7 e 10) nem nas outras oportunidades em que fazia o espanto dos homens (cfr. Mt 8, 28).

Dominava a todos. Quando pregava, todos reconheciam a sua autoridade, até mesmo os adversários. Os inimigos, por fim, não tinham mais coragem de lhe dirigir perguntas, porque ele os esmagava com suas respostas admiráveis. Os próprios discípulos viam nele uma tão elevada autoridade, reconheciam nele uma tão grande superioridade que, às vezes, não ousavam ao menos interrogá-lo (cfr. Mc 9, 31). Ele vivia no meio do povo, amigo de todos, compadecido de todos, acessível a todos; mas era tal o seu poder de domínio que ninguém lhe ousava tocar (Mt 9, 20) e, embora atraídos por ele, se sentiam também tomados de um respeito, que chegava a ser verdadeiro medo (cfr. Mc 10, 32).

Homem de coragem

Já vimos como se porta Jesus diante da tempestade: os outros tremem apavorados, ele está tranquilo. Os demônios fazem o povo fugir: Jesus os enfrenta e vence.

Os seus inimigos não descansam. Não podendo diminuir o seu prestígio diante do povo, os fariseus mandam agentes para o prender (Jo 7, 32): Jesus os enfrenta, e eles nada fazem. Tomam pedras para o matarem (Jo 10, 31), Jesus nem pestaneja diante deles. Atiram-se indignados contra ele (Lc 4, 30), e ele, em vez de fugir, passa corajosamente pelo meio deles. Aconselham-no a fugir, porque Herodes quer matá-lo (Lc 13, 31). Ele responde chamando ao rei de “raposo” e dizendo que continuará a sua missão até o fim.

Eram sem dúvida por causa dessas coisas que o povo tanto o admirava, porque o povo gosta dos homens dominadores e de coragem.

A bondade de Jesus

Era extremamente bom.

Compadecia-se dos que sofriam, a ponto de multiplicar o pão para saciar os famintos no deserto (Mt 15, 32) e ressuscitar o morto para consolar a pobre mãe chorosa (Lc 7, 14). São inúmeras as curas que fez, para aliviar os padecimentos humanos.

O povo humilde lhe despertava vivos sentimentos de piedade (cfr. Mt 9, 36; Mc 8, 2). Chama os que sofrem e estão sendo oprimidos, prometendo aliviá-los (Mt 11, 28). Atrai os pequeninos, e repreende os Apóstolos porque os afastam (Mc 10, 14). Trata os pecadores com especial carinho, dizendo mesmo que eles precisam de mais cuidados, porque são doentes (Mt 9, 12). Tem os seus amigos particulares, aos quais quer tanto bem a ponto de chorar quando eles morrem (Jo 11, 35).

Mas a bondade de Jesus não é uma bondade mole e complacente com o mal. Diante da hipocrisia, ele desencadeia as suas repressões severíssimas (Mt 23, 14 ss) Ao ver o desrespeito pelo templo, toma o chicote e expulsa decididamente os profanadores (Mc 11, 15). Quando Pedro se opõe à sua missão, ele o repele, chamando-o de Satanás (Mt 4, 10).

Um decidido

Esta energia do Mestre bem nos mostra a sua decisão. Desde menino que ele foi assim. Quando nossa Senhora o encontrou no templo entre os doutores da lei, e perguntou por que ele tinha feito aquilo, a resposta foi esta: “Não sabeis que é necessário que me ocupe das coisas de meu Pai?” (Lc 2, 49).

Mais tarde, quando chamar os seus discípulos, a primeira coisa que exigirá deles é esta decisão pronta e heróica às vezes. “Deixa que os mortos enterrem os seus mortos” (Mt 8, 22). E chama com uma tal decisão que eles deixam tudo, para segui-lo (Mt 1, 16; Mc 1, 20).

Tem apenas 12 Apóstolos, mas se esses não quiserem crer nas suas palavras, podem ir-se embora: “E vós também não me quereis abandonar?” (Jo 6, 68).

Quando Jesus decidiu uma coisa, ninguém se lhe oponha, porque já está decidido. Ele sabe o que quer, e sabe admiravelmente querer. É por isto que ele podia ensinar a seus discípulos: “Seja o teu sim, sim, e o teu não, não” (Mt 5, 37).

Com semelhante modo de agir, ele ama os que sabem ser decididos e lhes promete enorme recompensa (Mt 19, 28), mas se entristece ao ver homens indecisos (Mc 10, 23).

O grande prestígio

Vinha de tudo isto o imenso prestígio de Cristo no meio do povo, dos discípulos e dos próprios inimigos.

A sua vida era realmente misteriosa e incompreensível. Cheio de misericórdia com os pecadores, mas terrível na sua cólera contra os fariseus e os hipócritas. Obediente à autoridade, chamara de raposo ao próprio rei. Atrai as criancinhas, conversa com os homens simples e as mulherzinhas do povo, mas infunde nos que o cercam um tal respeito que chega a ser verdadeiro temor (Mc 9, 5; 4, 40; 9, 31).

A todos dava a impressão de ser um homem diferente dos outros homens. A sua superioridade era reconhecida até dos inimigos (Mc 12, 14).

Causava maravilha o seu modo de viver. Ele multiplicara o pão para alimentar o povo, mas deixava os Apóstolos padecer fome. Cura doentes e ressuscita mortos, mas se cansa a ponto de dormir ao relento e repousar ao longo dos caminhos. Quando quis dinheiro para pagar o imposto, fê-lo tirar da boca de um peixe; mas vivia das esmolas que lhe davam. Em face da sua vida de pobre, os seus milagres são um verdadeiro mistério; mas em vista dos seus milagres, a sua vida é realmente incompreensível.

No capitulo seguinte, provaremos que este homem é também verdadeiro Deus; mas, mesmo diante do povo que não sabia que ele era Deus, o seu prestígio era tão grande que fazia as máguas e a inveja dos seus adversários. 

 

Para viver a Doutrina

 

A humanidade vive voltada para Jesus Cristo. Ele é o “sinal de contradição” (Lc 2, 34), a quem os homens amam ou odeiam. Mas nós devemos amá-lo, admirá-lo, segui-lo.

Para isto, precisamos de conhecer a Jesus. A sua vida está nos Evangelhos. Ler e estudar os Evangelhos é uma obrigação. É uma necessidade. Só assim, a figura de Jesus terá aos nossos olhos as suas verdadeiras proporções. Quanto melhor o conhecermos, tanto mais o amaremos.

Uma literatura mal intencionada costuma apresentar nosso Senhor como “o doce e meigo Rabi da Galiléia”, uma figura suave e afeminada. Repilamos esta literatura. O verdadeiro Jesus era de uma bondade infinita, porém másculo, corajoso, decidido, amigo dos pecadores, mas inimigo irreconciliável do mal.

Para Jesus devem ser os nossos entusiasmos, o nosso ardor, a nossa admiração. Ele é o nosso herói, o nosso ideal, o nosso Senhor.

 

***

 

  N. do E.: alguns acentos foram acrescentados ao texto original para melhor adaptá-lo à ortografia atual.

 

 

Livro: A Doutrina Viva - para o curso secundário
Autor: P. A. Negromonte
Editora "Vozes" - Petrópolis - Est. do Rio
Páginas: 72 - 79
NIHIL OBSTAT. Petrópoli, die Juanuarii MCMXXXIX. Fr. Fridericus Vier, O.F.M. Censor.
IMPRIMATUR. Por comissão especial do Exmo. e Revmo. Sr. Bispo de Niterói, D. José Pereira Alves. Petrópolis, 10-03-1939. Frei Heliodoro Müller, O.F.M.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Eliot - Medievo, Cultura e Civilização

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T. S. Eliot

 

 

"(...) O ápice da civilização foi alcançado na Idade Média, quando a sociedade, a religião e as artes expressavam um conjunto comum de critérios e valores. Isso não quer dizer que as condições de vida eram melhores então - um item cuja importância deveria ser minimizada - mas que a síntese cultural da Idade Média simboliza um ideal de comunidade européia. Toda a história posterior representa uma degenerescência desse ideal. O cristianismo se decompõe em nações, a Igreja em heresias e seitas, o conhecimento em especializações, e o fim do processo é que o escritor está pesarosamente observando em seu próprio tempo “a desintegração da cristandade, a deterioração de uma crença comum e de uma cultura comum”." (FRYE apud ASCHER)

 

***

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"À nossa herança cristã devemos muitas coisas além da fé  religiosa. Por meio dela seguimos a evolução de nossas artes, por meio dela temos nossa concepção da Lei romana que tanto fez para moldar o Mundo ocidental, por meio dela temos nossos conceitos de moralidade pública e privada. E por meio dela temos nossos padrões comuns de literatura, nas literaturas da Grécia e de Roma. O mundo ocidental tem sua unidade nessa herança, no Cristianismo e nas antigas civilizações da Grécia, de Roma e de Israel, a partir das quais, devido a dois mil anos de Cristianismo, determinamos a nossa descendência. Não desejo elaborar esse ponto. O que eu quero dizer é que esta unidade nos elementos comuns da cultura, em muitas centúrias, é o verdadeiro vínculo entre nós. Nenhuma organização política e econômica, por mais boa vontade que ela exija, pode suprir o que essa unidade cultural dá. Se dissiparmos ou jogarmos fora nosso patrimônio comum de cultura, então toda a organização e planejamento das mentes mais engenhosas não nos ajudará, ou nos colocará mais juntos."

 

Dados da obra: 

 

Livro: Notas para uma Definição de Cultura                  Autor: T. S. Eliot
Páginas: 13 e 152
O conservadorismo de Eliot - Páginas 9-16
Apêndice: A Unidade da Cultura Européia - Páginas 137-153
Direitos em língua portuguesa reservados à Editora PERSPECTIVA S.A
1° edição (de 1988) - 2° reimpressão - 2008