sexta-feira, 6 de março de 2009

Especial Quaresma: Esmola

Santa Isabel, rainha de Hungria, Edward Blair Leighton 

Santa Isabel, Rainha de Hungria - Edward Blair Leighton

 

MENSAGEM DE SUA SANTIDADE
O PAPA BENTO XVI
PARA A QUARESMA DE 2008

«Cristo fez-Se pobre por vós» (cf. 2 Cor 8, 9)

Queridos irmãos e irmãs!

1. Todos os anos, a Quaresma oferece-nos uma providencial ocasião para aprofundar o sentido e o valor do nosso ser de cristãos, e estimula-nos a redescobrir a misericórdia de Deus a fim de nos tornarmos, por nossa vez, mais misericordiosos para com os irmãos. No tempo quaresmal, a Igreja tem o cuidado de propor alguns compromissos específicos que ajudem, concretamente, os fiéis neste processo de renovação interior: tais são a oração, o jejum e a esmola. Este ano, na habitual Mensagem quaresmal, desejo deter-me sobre a prática da esmola, que representa uma forma concreta de socorrer quem se encontra em necessidade e, ao mesmo tempo, uma prática ascética para se libertar da afeição aos bens terrenos. Jesus declara, de maneira peremptória, quão forte é a atracção das riquezas materiais e como deve ser clara a nossa decisão de não as idolatrar, quando afirma: «Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Lc 16, 13). A esmola ajuda-nos a vencer esta incessante tentação, educando-nos para ir ao encontro das necessidades do próximo e partilhar com os outros aquilo que, por bondade divina, possuímos. Tal é a finalidade das colectas especiais para os pobres, que são promovidas em muitas partes do mundo durante a Quaresma. Desta forma, a purificação interior é corroborada por um gesto de comunhão eclesial, como acontecia já na Igreja primitiva. São Paulo fala disto mesmo quando, nas suas Cartas, se refere à colecta para a comunidade de Jerusalém (cf. 2 Cor 8-9; Rm 15, 25-27).

2. Segundo o ensinamento evangélico, não somos proprietários mas administradores dos bens que possuímos: assim, estes não devem ser considerados propriedade exclusiva, mas meios através dos quais o Senhor chama cada um de nós a fazer-se intermediário da sua providência junto do próximo. Como recorda o Catecismo da Igreja Católica, os bens materiais possuem um valor social, exigido pelo princípio do seu destino universal (cf. n. 2403).

É evidente, no Evangelho, a admoestação que Jesus faz a quem possui e usa só para si as riquezas terrenas. À vista das multidões carentes de tudo, que passam fome, adquirem o tom de forte reprovação estas palavras de São João: «Aquele que tiver bens deste mundo e vir o seu irmão sofrer necessidade, mas lhe fechar o seu coração, como pode estar nele o amor de Deus?» (1 Jo 3, 17). Entretanto, este apelo à partilha ressoa, com maior eloquência, nos Países cuja população é composta, na sua maioria, por cristãos, porque é ainda mais grave a sua responsabilidade face às multidões que penam na indigência e no abandono. Socorrê-las é um dever de justiça, ainda antes de ser um gesto de caridade.

3. O Evangelho ressalta uma característica típica da esmola cristã: deve ficar escondida. «Que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita», diz Jesus, «a fim de que a tua esmola permaneça em segredo» (Mt 6, 3-4). E, pouco antes, tinha dito que não devemos vangloriar-nos das nossas boas acções, para não corrermos o risco de ficar privados da recompensa celeste (cf. Mt 6, 1-2). A preocupação do discípulo é que tudo seja para a maior glória de Deus. Jesus admoesta: «Brilhe a vossa luz diante dos homens de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem vosso Pai que está nos Céus» (Mt 5, 16). Portanto, tudo deve ser realizado para glória de Deus, e não nossa. Queridos irmãos e irmãs, que esta consciência acompanhe cada gesto de ajuda ao próximo evitando que se transforme num meio nos pormos em destaque. Se, ao praticarmos uma boa acção, não tivermos como finalidade a glória de Deus e o verdadeiro bem dos irmãos, mas visarmos antes uma compensação de interesse pessoal ou simplesmente de louvor, colocamo-nos fora da lógica evangélica. Na moderna sociedade da imagem, é preciso redobrar de atenção, dado que esta tentação é frequente. A esmola evangélica não é simples filantropia: trata-se antes de uma expressão concreta da caridade, virtude teologal que exige a conversão interior ao amor de Deus e dos irmãos, à imitação de Jesus Cristo, que, ao morrer na cruz, Se entregou totalmente por nós. Como não agradecer a Deus por tantas pessoas que no silêncio, longe dos reflectores da sociedade mediática, realizam com este espírito generosas acções de apoio ao próximo em dificuldade? De pouco serve dar os próprios bens aos outros, se o coração se ensoberbece com isso: tal é o motivo por que não procura um reconhecimento humano para as obras de misericórdia realizadas quem sabe que Deus «vê no segredo» e no segredo recompensará.

4. Convidando-nos a ver a esmola com um olhar mais profundo que transcenda a dimensão meramente material, a Escritura ensina-nos que há mais alegria em dar do que em receber (cf. Act 20, 35). Quando agimos com amor, exprimimos a verdade do nosso ser: de facto, fomos criados a fim de vivermos não para nós próprios, mas para Deus e para os irmãos (cf. 2 Cor 5, 15). Todas as vezes que por amor de Deus partilhamos os nossos bens com o próximo necessitado, experimentamos que a plenitude de vida provém do amor e tudo nos retorna como bênção sob forma de paz, satisfação interior e alegria. O Pai celeste recompensa as nossas esmolas com a sua alegria. Mais ainda: São Pedro cita, entre os frutos espirituais da esmola, o perdão dos pecados. «A caridade – escreve ele – cobre a multidão dos pecados» (1 Pd 4, 8). Como se repete com frequência na liturgia quaresmal, Deus oferece-nos, a nós pecadores, a possibilidade de sermos perdoados. O facto de partilhar com os pobres o que possuímos, predispõe-nos para recebermos tal dom. Penso, neste momento, em quantos experimentam o peso do mal praticado e, por isso mesmo, se sentem longe de Deus, receosos e quase incapazes de recorrer a Ele. A esmola, aproximando-nos dos outros, aproxima-nos de Deus também e pode tornar-se instrumento de autêntica conversão e reconciliação com Ele e com os irmãos.

5. A esmola educa para a generosidade do amor. São José Bento Cottolengo costumava recomendar: «Nunca conteis as moedas que dais, porque eu sempre digo: se ao dar a esmola a mão esquerda não há de saber o que faz a direita, também a direita não deve saber ela mesma o que faz » (Detti e pensieri, Edilibri, n. 201). A este propósito, é muito significativo o episódio evangélico da viúva que, da sua pobreza, lança no tesouro do templo «tudo o que tinha para viver» (Mc 12, 44). A sua pequena e insignificante moeda tornou-se um símbolo eloquente: esta viúva dá a Deus não o supérfluo, não tanto o que tem como sobretudo aquilo que é; entrega-se totalmente a si mesma.

Este episódio comovedor está inserido na descrição dos dias que precedem imediatamente a paixão e morte de Jesus, o Qual, como observa São Paulo, fez-Se pobre para nos enriquecer pela sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9); entregou-Se totalmente por nós. A Quaresma, nomeadamente através da prática da esmola, impele-nos a seguir o seu exemplo. Na sua escola, podemos aprender a fazer da nossa vida um dom total; imitando-O, conseguimos tornar-nos disponíveis para dar não tanto algo do que possuímos, mas darmo-nos a nós próprios. Não se resume porventura todo o Evangelho no único mandamento da caridade? A prática quaresmal da esmola torna-se, portanto, um meio para aprofundar a nossa vocação cristã. Quando se oferece gratuitamente a si mesmo, o cristão testemunha que não é a riqueza material que dita as leis da existência, mas o amor. Deste modo, o que dá valor à esmola é o amor, que inspira formas diversas de doação, segundo as possibilidades e as condições de cada um.

6. Queridos irmãos e irmãs, a Quaresma convida-nos a «treinar-nos» espiritualmente, nomeadamente através da prática da esmola, para crescermos na caridade e nos pobres reconhecermos o próprio Cristo. Nos Actos dos Apóstolos, conta-se que o apóstolo Pedro disse ao coxo que pedia esmola à porta do templo: «Não tenho ouro nem prata, mas vou dar-te o que tenho: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda» (Act 3, 6). Com a esmola, oferecemos algo de material, sinal do dom maior que podemos oferecer aos outros com o anúncio e o testemunho de Cristo, em cujo nome temos a vida verdadeira. Que este período se caracterize, portanto, por um esforço pessoal e comunitário de adesão a Cristo para sermos testemunhas do seu amor. Maria, Mãe e Serva fiel do Senhor, ajude os crentes a regerem o «combate espiritual» da Quaresma armados com a oração, o jejum e a prática da esmola, para chegarem às celebrações das Festas Pascais renovados no espírito. Com estes votos, de bom grado concedo a todos a Bênção Apostólica.

Vaticano, 30 de Outubro de 2007.

BENEDICTUS PP. XVI

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domingo, 15 de fevereiro de 2009

"Vinde a Mim e não temais, porque Eu vos amo!"

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Revelações do Coração de Jesus à Sóror Josefa Menéndez

 

Ah! Se as almas soubessem como as espero cheio de misericórdia! Sou o Amor dos amores! E não posso descansar senão perdoando!

Estou sempre esperando com amor que as almas venham a Mim! Venham!... Atirem-se nos meus Braços! Não tenham medo! Conheço o fundo das almas, suas paixões, sua atração pelo mundo e pelos prazeres. Sei, desde toda a eternidade, quantas almas me hão de encher o Coração de amargura e que, para grande número, meus sofrimentos e meus sangue serão inúteis! Mas, como as amei, assim as amo... Não é o pecado que mais fere meu Coração... O que O despedaça é não quererem as almas refugiar-se em Mim depois de o terem cometido. Sim, desejo perdoar e quero que minhas almas escolhidas dêem a conhecer ao mundo como meu Coração, transbordando de amor e de misericórdia, espera os pecadores.

Queria também mostrar às almas que nunca lhes recuso a minha graça, nem mesmo quando estão carregadas dos mais graves pecados, e que não as separo então daquelas que amo com predileção. Guardo-as todas no meu Coração, para dar a cada uma os socorros que o seu estado reclama. Queria dar-lhes a compreender que não é pelo fato de estarem em pecado mortal que devem afastar-se de Mim. Não julgue que já não há remédio para elas e que nunca mais serão amadas como o foram outrora! Não, pobres almas, não são estes os sentimentos de um Deus que derramou todo o seu sangue por vós.

Vinde a Mim e não temais, porque Eu vos amo! Purificar-vos-ei no meu sangue e vos tornareis mais brancas que a neve. Os vossos pecados serão mergulhados nas águas da minha misericórdia e não será possível arrancar do meu Coração o amor que vos tenho.

Vós, que estais mergulhados no mal e que há mais ou menos tempo viveis errantes e fugitivos por causa de vossos crimes... se os pecados de que sois culpados vos endureceram e cegaram o coração; se, para satisfazerdes às vossas paixões, caístes nos piores escândalos... ah! Quando vossa alma reconhecer o seu estado, e os motivos ou os cúmplices de vossas faltas vos abandonarem não deixeis que de vós se apodere o desespero. Enquanto tiver o homem um sopro de vida, poderá ainda recorrer à misericórdia e implorar perdão. Vosso Deus não consentirá que vossa alma seja presa do inferno.

Pelo contrário, deseja, e com ardor, que d’Ele vos aproximeis para vos perdoar. Se não ousais falar-Lhe, dirigi para Ele vossos olhares e os suspiros do vosso coração e em breve vereis que sua mão bondosa e paternal vos conduz à fonte do Perdão e da Vida!

Desejo que as almas creiam na minha misericórdia, esperem tudo da minha bondade e não duvidem nunca do meu perdão. Sou Deus, mas Deus de amor! Sou Pai, mas Pai que ama com ternura e não com severidade.

Meu Coração é infinitamente sábio, mas também infinitamente santo, e como conhece a miséria e a fragilidade humanas, inclina-se para os pobres pecadores com misericórdia infinita. Amo as almas depois que cometeram o primeiro pecado, se vêm pedir humildemente perdão. Amo-as ainda, quando choraram o segundo pecado e, se isso se repetir, não digo um bilhão de vezes, mas milhões de bilhões. Amo-as e perdôo-lhes sempre, e lavo no mesmo sangue o último como o primeiro pecado!

Não me canso das almas, e o meu Coração sempre espera que venham refugiar-se n´Ele, por mais miseráveis que sejam. Não tem um pai mais cuidado com filho que é doente, do que com os que têm boa saúde? Para com este filho, não são maiores as suas delicadezas e a sua solicitude. Assim também o meu Coração derrama sobre os pecadores, com mais liberalidade do que sobre os justos, a sua compaixão e a sua ternura.

Dêem-me o seu amor e nunca desconfiem do meu, e sobretudo me dêem a sua confiança e não duvidem da minha misericórdia. É fácil esperar tudo do meu Coração".

Fonte: livro Apelo ao Amor – Mensagem do Coração de Jesus ao mundo e sua mensageira, Soror Josefa Menéndez, Editora Santa Maria, Rio de Janeiro, passim.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Ação de graças após a Santa Comunhão

rezando

Por Santo Afonso de Ligório

 

5. DA AÇÃO DE GRAÇAS.

10. — Depois de ter comungado, procurai entreter-vos com Jesus Cristo o mais que puderdes. — O bem-aventurado João d’Ávila dizia que é preciso apreciar muito o tempo que segue a comunhão, porque é um tempo favorável para adquirir tesouros de graças. — Sta. Maria Madalena de Pazzi igualmente dizia: “O tempo que segue a comunhão é o mais pre-cioso que temos nesta vida; é o momento mais oportuno para tratar com Deus e para nos inflamar de seu santo amor. Então, não temos necessidade de mestres nem de livros; porque Jesus Cristo mesmo nos ensina como devemos amá-lo80. — Sta. Teresa também afirmava: “Depois da comunhão, não percamos ocasião tão própria para negociar. Sua divina Majestade não costuma pagar mal a hospitalidade e bom agasalho com que é recebido”81. — Em outro lugar, a mesma Santa deixou escrito que Jesus Cristo depois da comunhão, se estabelece na alma como em um trono de graças, e parece dizer-lhe então, como ao cego de nascimento: Que queres que te faça?82 Alma querida, dize agora o que desejas de mim, pois eu vim expressamente para te conceder as graças quem me pedires.

No sentir de muitos autores graves, como Cajetado, Soares, Gonet, Valencia, De Lugo e outros, enquanto duram as espécies sacramentais na pessoa que comungou, quanto mais esta se mantém unida com Jesus Cristo e aumenta os bons atos, tanto mais nela cresce o fruto e o amor divino; visto que este celeste alimento opera por si mesmo na alma efeitos idênticos aos que produz o alimento terreno, o qual quanto mais dura no corpo, tanto maior nutrição e vigor lhe influi e comunica. Muitas religiosas comungam freqüentemente e tiram pouco fruto, porque pouco se entretém com Jesus Cristo. — Disse um dia o Senhor a Sta. Margarida de Cortona: “Eu trato como me tratam”.

Portanto, quando comungardes, se não fordes constrangida a fazer alguma outra coisa para cumprir um dever de obediência e de caridade, esforçai-vos por conversar com Jesus Cristo, ao menos meia hora. Digo ao menos, porque o tempo próprio seria uma hora. Não deixeis, então, de exercitar-vos em atos fervorosos de bom acolhimento, de agradecimento, de amor, de arrependimento, de oferecimento de vós mesmos e do que vos pertence; mas, sobretudo, ocupai-vos em pedir graças a Jesus Cristo, e especi-almente a perseverança e o seu santo amor. Nisto precisamente consiste aquele negociar de que fala Sta. Teresa. — Se vosso espírito se achar árido e distraído, servi-vos de algum livro, que vos sugira afetos devotos para com Deus. Durante todo o resto do dia, deveis continuar a ficar mais recolhida em o Senhor. — S. Luiz Gonzaga, depois da comunhão, consagrava três dias a dar graças a Jesus Cristo. Se tiverdes a felicidade de comungar mais vezes, não deveis ser menos recolhida; ao contrário, quanto mais vezes receberdes a comunhão, tanto maior cuidado devereis ter de ficar unida com Nosso Senhor.

Fonte: livro "A VERDADEIRA ESPOSA DE JESUS CRISTO", 1922, vol. II, p. 274-276.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Mortos pelos calvinistas por não negarem a fé na Presença real de Jesus no Santíssimo Sacramento

Gorkum

N. do E.: Mantivemos a grafia da fonte original, cujo português obedece as regras do ano vigente (1937)

 

Os Martyres de Gorkum (sec. XVI)

 

Quando, no século XVI, as heresias de Luthero e Calvino conseguiram entrada na Hollanda, lá, como na Allemanha e na Suissa, foram causadoras de graves disturbios. Os Calvinistas rebellaram-se contra o governo do rei Philippe II e, chefiados pelo príncipe de Orange, tomaram à força armada algumas cidades, entra estas a cidade de Gorkum.

O governador retirou-se para o castello, em companhia de alguns catholicos, dois parochos, onze frades franciscanos e mais sacerdotes seculares. Os calvinistas tomaram posse da cidade e forçaram o castello à rendição. Esta se effectuou, sob a condição de garantir a todos livre egresso. Os Calvinistas, porém, desprezaram esta combinação e aprisionaram o commandante, todos os clérigos e dois cidadãos, dos quaes um foi enforcado immediatamente.

Os sacerdotes eram de preferência alvo do furor calvinista. Máos tratos revezavam com ameaças de morte, e finalmente foram todos mettidos num calabouço subterraneo. No dia de sexta-feira, lhes deram carne a comer. Querendo elles, porém, observar a abstinencia, tiveram de supportar toda a sorte de injurias e soffrimentos. Empurravam-nos, puxavam-lhes as orelhas, davam-lhes pontadas com a lança, ultrajavam-nos e lançavam-lhes em rosto as maiores infamias. Ergueram em sua presença uma forca, ameaçando-os com a morte, si não quizessem negar a fé no Santíssimo Sacramento. Ao Vigario Pe. Nicoláo van Poppel um dos bandidos pôz a arma na testa e berrou aos ouvidos: “Anda, Padre! Como é? Tantas vezes declarastes no pulpito, que estavas prompto a dar a vida pela fé. Pois então, dize! Estás mesmo disposto?” O Padre respondeu: “ Dou a minha vida com muito prazer, si é em testemunho da minha fé e principalmente do artigo por vós rejeitado, o da presença real de Jesus no Santíssimo Sacramento”. Perguntado pelos thesouros, que suppunham estarem escondidos no Castello, Padre Nicoláo não soube dar informações a respeito. O calvinista lançou-lhe então uma corda ao pescoço, puxou-o de um lado para o outro, até que cahiu como morto.

Chegára a vez dos franciscanos. Ao frei Nicasio Pick puzeram o proprio cordão ao pescoço, arrastaram-no á porta do carcere. Lá chegado, metteram a corda por cima da porta e puxando com força, suspenderam a victima a altura consideravel, para immediatamente a deixarem cahir. Isto praticamente com um prazer infame. Afinal a corda rebentou e o pobre padre cahiu pesadamente ao chão, sem dar signal de vida. Para verificar si estava vivo ou morto, os soldados trouxeram velas, queimaram-lhe a testa, o nariz, as palpebras, as orelhas, a boca e finalmente a língua.

Como o Padre não désse mais signal de vida, deram-lhe ponta-pés e disseram com ar de desprezo: “É um frade, que importa?” Mas o Padre não estava morto, tanto que no dia seguinte os bandidos tiveram a satisfação de poder continuar as crueldades.

Durante toda a noite os Padres estiveram entregues à sanha d’aquelles demonios em figura humana. Não havia nada, que abrandasse o furor dos endiabrados hereges. Davam bofetadas nos religiosos, com tanta força e brutalidade, que lhes corria o sangue do nariz e da boca. O Padre Willehad, um veneravel ancião de noventa annos, repetia a cada bofetada que recebia, a jaculatória: ”Deus seja louvado!” Os algozes, sentindo-se fatigados de tanto bater, ajoelharam-se deante dos Padres e entre risos de escarneo, arremedavam a confissão, proferindo nesta occasião obscenidades e blasphemias horríveis e asqueirosissimas.

Em outra occasião, amarraram os religiosos dois a dois e obrigaram-nos a andarem em fila, imitando procissão e a cantar o “Te Deum” e tudo isto sob a algazarra satanica da soldadesca desenfreada. Depois puzeram dados nas mãos da victimas para assim, à guiza de jogo, tirar a sorte quem delles primeiro havia de subir à forca. O Padre Guardião exclamou: “Não se faz mistér de jogo, estou prompto, porque já passei por esta delicia”.

Os catholicos de Gorkum envidaram todos os esforços para libertar os prisioneiros. Para este fim, dirigiram uma petição ao príncipe Orange. Os calvinistas, suspeitando qualquer reacção, tiraram aos franciscanos o habito e despacharam-nos, com os outros sacerdotes, na noite de 5 a 6 de julho, para Briel, à residencia do clerophobo conde Lumm Von Marc.

A penna nega-se a fazer a descripção de tudo que aqulles religiosos tiveram de soffrer, dos verdugos e do populacho fanatico. Em Dordrecht estava à espera do navio, que devia levá-los até Briel. Antes do embarque, um bando de calvinistas arrastou os martyres a um lugar perto do rio, onde estava apparelhada uma forca. Como cães raivosos, atiraram-se sobre as pobres victimas e o ar encheu-se de insultos e vituperios como estes: “Eis, ahi vossa Egreja! Ide, rezae a vossa Missa”. Em seguida obrigaram-nos a passarem três vezes em volta da forca, sendo a ultima vez com os joelhos no chão, sob o canto da “Salve Rainha”. Enquanto os religiosos se puzeram a obedecer a esta ordem ridicula e estapafurdia, choviam-lhes bengaladas e pedradas às costas. O Padre Vigario Jeronymo de Weert, vendo estas indignidades, não mais se conteve e disse: “Que estou presenciando? Estive entre turcos e infiéis, mas coisa egual a esta nunca vi!”

Finalmente o triste cortejo chegou a Briel. Lá o esperava o conde Lumm, com dois pregadores da seita e alguns magistrados. Todos se empenharam para conseguir dos prisioneiros a renuncia à fé, em particular ao dogma da real presença de Jesus Christo no Santissimo Sacramento. Foram baldados os esforços. Os martyres unanimemente rejeitaram as propostas feitas e preferiram continuar na prisão. O carcere que os recebeu, era uma pocilga immundissima.

Uma ordem do príncipe de Orange, de pôr em liberdade os prisioneiros, não foi cumprida. O conde Lumm, embriagado de odio e vinho, mandou-os levar, alta noite, às ruínas do convento Rugen, que pouco antes tinha sido incendiado pelos calvinistas.

Restára ainda o celleiro. O Padre Guardião foi lá mesmo enforcado, depois de ter animado os irmãos à constancia.Depois d’elle, foram estrangulados todos os companheiros. O fanatismo calvinista nem respeitou os cadaveres dos martyres. Cortaram-lhes o nariz, as orelhas e levaram-nos como trophéos de victoria nos capacetes e chaphéos. Os catholicos resgataram por muito dinheiro os corpos dos santos irmãos e transportaram-nos para Bruxellas.

Clemente X beatificou-os em 1674 e Pio IX elevou-os à categoria de Santos, no anno de 1867. A memória é celebrada na Egreja no dia 9 de julho.

Eis os nomes dos gloriosos martyres de Gorkum:

Leonardo van Vecchel, Nicoláo Poppel, vigario de Gorkum; Godofredo van Duynen e João van Oosterwych (agostiniano); João de Colonia (O.P), vigario de Hoornaer; Adriano van Hilvarenbeek e Jacob Lakops (O. Praem); André Vouters, vigario de Heynoert; Frei Jeronymo van Weert; Frei Theodoro van Emden; Frei Willehad; Frei Nicasio; Frei Godofredo Mervellan; Frei Antonio de Weert; Frei Antonio de Honar; Frei Francisco Rodes; Frei Pedro de Asca.


Fonte: livro “Na Luz perpétua”, 1937, vol. II, Pe. João Baptista Lehmann, p. 29-31.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Reflexões em torno do axioma: “Fora da Igreja não há salvação”

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Por R. G. Santos

 

Em meio a mentalidade atual, marcada pelo relativismo [1] e, assim, pela aversão às verdades objetivas, surgem falsas intelecções e concepções da realidade que querem se fazer valer por si mesmas, como verdadeiros “dogmas”. Dentre estas errôneas intelecções da realidade, que abarcam todo o vasto e complexo campo do ser e agir do homem, iremos nos deter de modo específico na esfera religiosa.

Nesta, tem-se dado largas a “idéias” (falsas, diga-se de passagem) do tipo “religião não salva ninguém”, “o que vale é o amor no coração”, “tanto faz ser católico ou ser protestante ”, “o importante é crer em Deus”, e etc. E as pessoas, se deixando dominar por esta verdadeira “cultura e indústria do relativismo”, acabam aclamando e “dogmatizando”, mesmo que imperceptivelmente, tais noções. E assim, “de requinte em requinte”, como diria doutor Plínio Correa de Oliveira [2], as verdades imutáveis de Cristo Rei vão sendo esquecidas e também ignoradas. De modo especial, uma destas verdades, devido aos já citados motivos acima descritos, vem sendo “ocultada” espetacularmente pela “hodiernidade”.  Trata-se do axioma “fora da Igreja (Católica) não há salvação.” Iremos nos deter na explicitação deste, que, por ser tão fundamental no Cristianismo, é talvez o mais combatido pela “indústria do relativismo” e dos menos compreendidos pelas pessoas.

Antes de mais nada é necessário ressaltar que Cristo fundou a Igreja,  seu “corpo Místico”(Cf. Col I, 18); e lhe deu uma dimensão visível (institucional) e invisível[3] alem de características próprias[4], pelas quais pudesse ser claramente identificada.  Conferiu seu governo nesta terra a um chefe, também visível, S. Pedro, “pedra sobre a qual Cristo edificou sua Igreja” (Cf. Mat XVI, 18) e, na dependência deste, instituiu também o “colégio apostólico”, composto pelos demais apóstolos. Assim sendo, ensina-nos o Apóstolo das Gentes que, no que se refere à salvação, Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens (Cf. I Tim II, 5). Se a Igreja é o Corpo Místico de Cristo, logo, para além de Cristo e de seu Corpo Místico, não pode existir salvação.  Neste sentido, quando o Santo Evangelho nos diz que Nosso Senhor Jesus Cristo é o caminho (Cf. Jo XIV, 6), entendemos que, por ser dEle seu Corpo Místico, a Igreja Católica é a única que nos conduz a salvação. Explicitando esta doutrina, o Catecismo da Igreja Católica ensina-nos que “(...) a Igreja é o redil, do qual Cristo é a única e necessária porta” (P. 216, Par. 754).

Segundo Pascucci, para que a salvação se propagasse aos homens “(...) quis [Cristo] instituir uma sociedade, onde precisamente pudessem os homens encontrar os meios de conseguir a salvação eterna. A tal sociedade chamou-lhe Igreja...” (p. 62). Ainda segundo Pascucci, é a Igreja “(...) a sociedade dos verdadeiros Cristãos, isto é, dos batizados, que professam a fé e a doutrina de Jesus Cristo, participam dos seus sacramentos e obedecem aos pastores por Ele estabelecidos” (p. 63).  Apesar de não deixar de exorcizar uma linguagem “ligeiramente” progressista em sua obra, também Battistini aceita e explicita a verdade sobre a Igreja de Cristo; que de acordo com sua reflexão é “(...) sinal de salvação: quem pertence a Igreja de Jesus, quem é membro vivo da Igreja está salvo, pois a Igreja [Católica] é Cristo continuado no tempo...”(p. 87). Falando ainda da verdadeira Igreja, Batistini conclui que “a Igreja Católica resplandece no mundo como único sinal divino de salvação” (p. 87). Por sua vez, e para lançar mais um foco de luz sobre esta nossa reflexão acerca da Santa Igreja, Negromonte afirma que a Igreja é caminho único para a comunhão com a Divindade quando diz que “o nosso contato direto não é com Deus, nem com Cristo, mas com a Igreja; unidos a Ela, unidos a Cristo, unidos a Deus...” (p. 9).  Mayer avança um pouco mais em sua reflexão acerca da Verdadeira Igreja de Cristo quando afirma que todos têm o dever de nela entrarem. Assim, diz ele que “entre os preceitos divinos, está a obrigação de ingressar na Igreja Católica, instituída por Jesus Cristo como o meio único de salvação para todos os homens” (p. 296).

Fundamentando-se assim nas evidências extraídas da Divina revelação, a Igreja definiu esta Verdade de fé, ou dogma [5] de que, por vontade de Cristo, seu divino fundador, fora dela não há salvação. Diante deste dado real da revelação e de sua difícil aceitação e intelecção na atualidade, surgem até naturalmente, poderíamos dizer, algumas duvidas acerca do correto entendimento deste axioma: Mas como se explica em pormenores esta doutrina? Se só se salvam os que pertencem à Igreja Católica, os que dela não forem membros visíveis estão invariavelmente destinados a eterna danação? Respondendo a estas questões, e explicitando pormenorizadamente este dogma, ensina-nos o Catecismo que “toda a salvação vem de Cristo–cabeça através da Igreja que é seu corpo...” (par. 846, pg. 243). Ensina-nos ainda o Catecismo, citando o Concílio Vaticano II, que “(...) não podem salvar-se aqueles que, sabendo que a Igreja Católica foi fundada por Deus através de Jesus Cristo como instituição necessária, apesar disso não quiserem nela entrar, ou então perseverar” (par. 846, p. 244).   Dando continuidade ao ensinamento do dogma, diz o catecismo ainda que

aqueles, portanto, que sem culpa ignoram o Evangelho de Cristo e da sua Igreja, mas buscam a Deus com coração sincero e tentam, sob o influxo da Graça, cumprir por obras a sua vontade conhecida através do ditame da consciência, podem conseguir a salvação eterna” (Par. 847, p. 244). [negrito nosso]

Chegamos aqui a um ponto interessante nesta reflexão. Alguém, ao fazer uma leitura superficial desta ultima citação poderia pensar: “Então, segundo a doutrina ensinada pelo catecismo, os que sem culpa ignoram a Igreja de Cristo podem se salvar sem estar de algum modo unidos a Igreja Católica.” Ledo engano. Fazer tal interpretação seria forçar inadvertidamente o texto do catecismo. Quando o catecismo põe a possibilidade de salvação eterna aos que andam involuntária e inconscientemente no erro, é porque estes, se se salvarem, será unicamente pelos méritos de Cristo, e por derivação lógica, por meio da união, misteriosa, mas real, com seu corpo Místico. 

Os que andam no erro involuntário e numa ignorância invencível acerca da verdadeira Igreja de Cristo se salvam (ou podem se salvar) por pertencerem à alma da Igreja [6]. Segundo Pascucci

“aqueles que (...) estão no erro invencível, mas observam a própria religião de boa fé e se esforçam por agradar a Deus, segundo os lumes da consciência individual, podem pertencer à alma da Igreja e salvar-se, ou porque são efetivamente batizados ou porque têm implícito o desejo do batismo no ato de caridade que os dispõe a fazer o que Deus reclame deles” (p. 76). [negrito nosso]

Assim, quem se salva é por estar invariavelmente unido a Igreja, de uma forma ou de outra. Também Devivier aceita e expõe mais detidamente esta doutrina:

Se, com efeito, a verdadeira religião, a religião de Jesus Cristo é obrigatória para todos os homens, e, se esta religião, a única, é professada e ensinada só pela Igreja católica, apostólica, romana, força é reconhecer que fora desta Igreja não há salvação, e que ninguém pode alcançar o céu sem a ela de algum modo pertencer. Não é, portanto, a Igreja que há de ser acusada por falar assim; se algum fosse digno de censura, seria o seu divino Fundador, que tornou a sua religião indispensável para todos”(negrito nosso)[7].

 

O mais recente pronunciamento do magistério da Igreja sobre o assunto, a Declaração Dominus Iesus, da Congregação Para a Doutrina da Fé é esclarecedor. Diz a Dominus Iesus que “(...) deve crer-se firmemente que a Igreja, peregrina na terra, é necessária a salvação” (n. 20, p.39). E arremata magistralmente, contra qualquer irenismo e pregação mitigadora da verdade, que

 

“(...) Seria (...) contrário à fé Católica considerar a Igreja como um caminho de salvação ao lado dos constituídos pelas outras religiões, como se estes fossem complementares à Igreja, ou até substancialmente equivalentes à mesma...” (n.21, p. 41).[negrito nosso]

 

Tendo exposto mais detalhadamente esta verdade de Fé, podemos chegar às seguintes conclusões: É difícil dizer quem, embora não pertencendo ao corpo pertença, contudo, à alma da Igreja. Só o Senhor sabe e conhece aqueles que serão salvos. De acordo ainda com tudo o que acima foi exposto, podemos afirmar como Pascucci, que “(...) ninguém vai para o inferno sem culpa própria; (...) que Deus nos quer a todos salvos e a todos liberaliza a graça santificante...”(p. 76). Acerca do merecimento da condenação eterna, Devivier afirma que

 

“Ninguém, pois, se perde senão por culpa sua, menosprezando a lei, a qual, porém, não obriga senão depois de conhecida ou promulgada, pois não obriga em consciência a quem a desconhece. E, por isso é que o Senhor só depois de haver dito aos apóstolos: “Ide por toda a terra e ensinai o Evangelho a toda a gente”, é que acrescentou: “Quem não crer será condenado”. Supõe, pois, conhecer-se a verdade, quando se incorre em condenação por causa da incredulidade”[negrito nosso][8].

 

Esta, portanto, é uma tentativa modesta de explicitação da doutrina católica acerca da necessidade da pertença a Igreja para a salvação, sem pretender aqui esgotar tema tão amplo e rico. Doutrina esta que é tão combatida e banalizada atualmente pela já citada cosmovisão relativista, e portanto errônea, da realidade. Fujamos das vãs opiniões e reflexões dos inimigos de Cristo e de sua Igreja e nos apeguemos à verdade sempre. Afinal Cristo é a verdade (Cf. Jo XIV, 6).

 

Notas:

 

[1] Esta é, infelizmente, uma forte tendência do homem, mais acentuada na “hodiernidade”. A este respeito, cabe citar aqui um providente constatação do Papa João Paulo II acerca do relativismo atual, na Encíclica Veritatis Splendor, numero 1: “(...) Abandonando-se ao relativismo e ao ceticismo (...) ele[o homem “hodierno”] vai à procura de uma ilusória liberdade fora da própria verdade.”

[2] Fundador da Sociedade de defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP)

[3] Pascucci elucida bem a distinção entre dimensão visível e invisível da Igreja. Enquanto esta se caracteriza por ser “sobrenatural no fim a colimar, que é a vida eterna, e nos meios que nos conferem a graça...”(P. 63); aquela pode ser facilmente reconhecida por ser uma instituição. Esta instituição é, por vontade divina, desigual e hierárquica.

[4] São elas, a Unidade, a Santidade, a Catolicidade e a Apostolicidade. Por estas características podemos distinguir a Verdadeira Igreja de Cristo no mundo; visto que a Verdadeira Igreja conserva em si inseparavelmente todas elas.

[5] Verdade revelada e como tal, proposta pela Igreja para a anuência religiosa dos fiéis. O dogma é uma verdade superior, porem não contrária a razão. Sobre sua importância, diz Dom Mayer: “(...) O dogma é tão fundamental à Religião Cristã, que todos devem dele ter noção clara e exata.” (P. 4).

[6] Segundo Pascucci, a alma da Igreja “(...) é aquilo que a vivifica e lhe faz produzir obras sobrenaturais, dignas da vida eterna, como a graça santificante e os dons do Espírito Santo.” (p. 75)

[7] DEVIVIER, W. Fora da Igreja não há salvação. PERMANÊNCIA Internet

Disponível em: http://www.permanencia.org.br/revista/atualidades/fora.htm#[1]

 

[8] Idem

 

 

Referencias:

BATTISTINI, Frei. A Igreja do Deus Vivo – Curso básico popular sobre a verdadeira Igreja. Petrópolis: Vozes (38ª edição), 2008

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Edições Loyola, 1993

CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ.  Declaração Dominus Iesus. São Paulo: Paulinas, 2000

DEVIVIER, W. Fora da Igreja não há salvação. PERMANÊNCIA Internet

Disponível em: http://www.permanencia.org.br/revista/atualidades/fora.htm#[1]

Acessado em: 10/12/08

 

JOÃO PAULO II. Carta Encíclica “Veritatis Splendor”. São Paulo: Paulinas, 1993

 

MAYER, Dom Antonio de castro. Por um Cristianismo autêntico. São Paulo: Ed. Vera Cruz, 1971

 

NEGROMONTE, Pe. Álvaro. A doutrina Viva. Petrópolis: Vozes, 1938

 

PASCUCCI, Mons. Francisco. Doutrina Cristã. Rio de janeiro: Editora ABC, 1939

 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Entre jardins e grutas tenebrosas...

Jardins do Vaticano

(O texto que vai abaixo deveria ter sido publicado no último Natal, o que não aconteceu por diversos imprevistos. Ainda assim, julgamos conveniente publicá-lo agora, cabendo ao leitor apenas contextualizar sua mensagem espiritual)


Por Prof. Pedro M. da Cruz



Um Rei extraordinário em seu trono de marfim revestido de ouro fino (1), cercado por milhares de cavaleiros, servido em taças do mais nobre metal; protegido em seu palácio de cedro e cipreste maravilhosamente combinado com o cristal mais límpido. Cantos, festas, banquetes ... assim imaginavam, iludidos em sua ignorância e orgulho, muitos dos que esperavam o “ Rei dos Judeus” (2). Entretanto, quão impenetráveis são os juízos do Altíssimo e inexploráveis os seus caminhos. Quem pode compreender os insondáveis pensamentos de Deus ?!(3) Indo à procura do Salvador, chamado, mesmo pelos anjos de “Senhor” (4), o que encontraram os pastores? Maria, José e um menino deitado num cocho onde se servia comida aos animais (5).Que Mistério desconsertante! Uma criança pobre, envolta em faixas numa gruta escura e suja, rodeada por animais, velada pelo olhar virginal de sua boníssima mãe – mas que mãe!- e protegida pela virtude do pai – e que pai! - tão justo e casto. “ O mistério por seu próprio segredo, provoca veneração.”(6)

O filho de Deus descera dos céus e deste não sentira saudades, pois sua Mãe, com sublimes encantos, compensava aqueles esplendores celestiais (7). Em Maria Santíssima aquela virgindade, pureza e graça sobrenaturais, propagavam uma luz tão radiosa e imponderável, que somente Nosso Senhor podia abarcá-la em sua totalidade. Ela era aos seus olhos, e numa medida só a Ele perceptível, seu amor, como também seu jardim de delícias toda bela e graciosa (8).

Temos ante os olhos duas realidades tão verdadeiras quanto paradoxais: uma exterior e natural, ao alcance de todo e qualquer observador; outra, por sua vez, interior e mística, da qual são capazes somente aqueles que tem um coração dilatado pela graça. O olhar superficial pararia nas chamadas injustiças, mesquinharias, loucuras e fracassos, presentes na pobreza de Belém; porém, aos olhares profundos e místicos, descortina-se todo um oceano de infinitas torrentes da sabedoria divina, uma vez que ali se encontram grandeza, glória, esplendor e majestade; realidades espirituais secretamente veladas.

Este é um caminho do Senhor! Esconder pérolas preciosas em campos desvalorizados, a fim de que somente os puros e ousados possam encontrá-las; oculta em fatos, à primeira vista ordinários, verdadeiros tesouros jamais concebíveis em toda sua riqueza. De fato, é exatamente assim que se dá nas coisas de Deus. Entrando, pelas brechas da vida, nos mais recônditos cantos da alma humana, ascende ali um lume de verdade !!! Quiçá para aquecer-se naquele lugar mórbido e sombrio, ausente da graça... E vai, pouco a pouco, fixando aqui e acolá pequenas tochas de virtudes nos corredores escuros, secretamente interiores, inacessíveis aos outros mortais, na esperança de que aquele deserto de infelicidade ceda lugar a um vergel estupendo, povoado de maravilhas. O homem é, deste modo, sempre “desejo” diante da outra realidade mística infinitamente vasta porque divina; isso para não ocorre r que “saciado o apetite, calce aos pés o favo de mel.” (9) Desejando e saciando-se ininterruptamente o homem é sempre busca e gozo num Deus imenso, permanecendo, muitas vezes sem o perceber, numa oração constante, como bem solicitou o grande São Paulo de Tarso (10). Esta verdade não poderia passar de spercebida ao Santo Bispo de Hipona que em sua vida de mortificações e penitências escrevera “O teu próprio desejo é a tua Oração: e o contínuo desejo é uma constante oração.” (11)

Por fim, depois de havermos rapidamente percebido a confusão dos que encontraram a Sagrada família em Belém, a sublime realidade escondida por detrás da pobreza que envolveu a vinda do Messias, e cogitado, mesmo que modestamente, sobre o mistério da ação Divina, detenhamo-nos num ponto de particular luminosidade, antes de encerrarmos nossa singela meditação.

Porque quis Nosso Senhor nascer exatamente num Estábulo, numa gruta? Porque ?! Quem pode compreender os pensamentos do Senhor em toda sua altura? Nestes abismos, quanto mais se lançam os homens mais profundos eles ficam. Não poderia o Pai Celestial, haver preparado ao seu amado filho unigênito ao menos uma casinha, mesmo que fosse humilíssima? Sim ! Poderia. Mas não o fez. Somente uma gruta sombria marcada por sua feiúra poderia prefigurar tão acertadamente as almas às quais o menino Jesus havia sido enviado. A Gruta suja, fétida, desconfortável, em meio à noite, povoada de animais ... é uma imagem gritante da alma humana decaída após o Pecado Original, agravada por tantas faltas cotidianas e povoada por vícios, traumas, angústias, sofrimentos os mais variados. Ali queria encontrar abrigo o Salvador, porque de fato “não são os sãos que precisam de médico, mas sim os doentes.” (12)


A Virgem Maria distinguia-se entre os outros seres humanos como um Lírio puríssimo entre os espinhos (13); por isso, era compreensível que o Verbo Encarnado viesse primeiramente a ela em seu seio Castíssimo. Cumpria-se assim, devidamente, a Justiça. Eis aqui, caro leitor, um dos motivos sublimes de o Bem-amado haver decido antes de tudo ao dulcíssimo jardim de sua alma virginal e imaculada; aos canteiros perfumados de suas virtudes elevadíssimas. Com este ato singular, exaltava, primeiramente, a Nova Eva, já que a Antiga Eva também havia tido a primazia entre os seres humanos, porém no tocante ao castigo reparador. Além do que - reconheçamos - o Novo Adão desejava colher os Lírios das fidelidades marianas... (14). Enterrava deste modo o antigo ato adâmico que colhera o fruto da desobediência daquela que era o extremo oposto da Virgem Mãe de Deus. Eis o que queria o Divino Redentor, antes mesmo de vir às grutas fétidas e infrutíferas das almas restantes.

Este é o estado das criaturas que jazem no pecado. “Não há trevas mais densas, nem coisa mais escura e negra: a tudo excede a sua escuridão” (15). A Mãe de Deus era toda de seu Filho e Ele todo dela ! Naquela alma, qual jardim, Ele apascentava entre lírios... Enquanto isso, nas grutas escuras de nossas almas pecadoras Ele deve lutar contra os animais indômitos de nossos vícios e más inclinações. A gruta de Belém é, nesta perspectiva, a prefiguração das almas pecadoras que, apesar de suas limitações, abrem-se gradativamente ao Verbo Encarnado que nos vem pelas mãos maternais de Maria Santíssima. Há nestas moradas interiores, graças ocultas; graças que germinam quase que imperceptivelmente, mas que ali estão, serpenteando, predispondo seu hospedeiro ao lance súbito do amor divino. É bem verdade, o Senhor abusa de nossa ingenuidade, seduzindo-nos. Usa de força para conosco, dominando-nos. É realmente uma luta desigual... (Jeremias 20,7)

Parece-nos ainda ouvir uma oração silenciosa da Rainha dos céus após seu “Fiat” ao Pai Celestial. Perante ela, absorto em profunda veneração, está o Anjo Gabriel, humildemente ajoelhado, a reconhecer a grandeza daquela cujo excelso esplendor arrebata os próprios seres angelicais. Então, no silêncio de sua alma, exala estas palavras gososas: “Entre em seu jardim meu bem amado, prove-lhe os frutos deliciosos.” (16)

Finalmente, peçamos a Nosso Senhor que nos seja possível, ao menos neste Natal, à imagem de sua Mãe Castíssima, apresentarmo-nos quais jardins lacrados, com frutos e flores de virtudes; a fim de que possa dizer-se de nós o que fora escrito pelo Divino Espírito nas Sagradas Escrituras:

“És um Jardim fechado (...) uma fonte selada. (...) És a fonte de meu jardim, uma fonte de água viva, um riacho que corre do Líbano. Levanta-te, vento do norte, vem tu, vento do sul. Sopra no meu Jardim para que se espalhem os meus perfumes. (...) Entro no meu jardim (...) colho a minha mirra e o meu bálsamo, como o meu favo com o meu mel, e bebo o meu vinho com o meu leite. (...) O meu bem amado desceu aos canteiros perfumados, para apascentar em meu jardim e colher os lírios. (...) Eu desci ao jardim das nogueiras para ver a nova vegetação dos vales, e para ver se a vinha crescia e se as romãzeiras estavam em flor.(...)Ó tu que habitas nos jardins, faze-me ouvir a tua voz.” (17)

Oh, Senhor !!! Meu céu, meu tudo. Tens sono? Sim, bem sei que tens... Estás cansado; dorme em paz, dorme enquanto velo com a Virgem teu sono. Descansa de tantos crimes, tantas ofensas, que povoam o mundo; Tu que foste tão agravado, humilhado, esquecido, desprezado. Ninguém faz caso de tuas palavras, das tantas chagas que te cobrem o corpo crucificado. É com dor que reconheço: sois um Rei abandonado... Dorme meu Senhor, dorme meu menino, dorme. Ao menos neste natal, dorme! Mãe - digo-o baixinho, quase sussurrando - enquanto acaricias a fronte perfumada de teu Filho, peça por nós. Temos medo Senhora. Enquanto Ele dorme o mar está revolto. Seguramos dum lado, ferimo-nos de outro, as ondas avançam impiedosas sobre nós. Ai meu Deus!!! Oh meu amor!!! Os homens nos abandonaram também. E quantos caem...quantos! Sorrindo enquanto afogam. É gritando, entre soluços e lágrimas, que suplico: Salva-nos!!! Salva-nos enquanto dormes ...

“...Jesús dormía, como de costumbre.(...) Tal vez no se despierte hasta mi gran retiro de la eternidad; pero esto, en lugar de entristecerme, me causa un contento grándísimo...” (18)


Citações

1 - 1Reis 10,18
2 - Mateus 2,2
3 - Romanos 11,33-34
4 - Lucas 2,11
5 - Lucas 2,16
6 - GRACIAM,Baltasar.A arte da prudência.Trad. Davina Moscoso de Araujo.Coleção Auto- Estima. Rio de Janeiro, Sextante, 2006,93p
7 - QUOIST, M. Poemas para rezar. trad. Lucas Moreira Alvez.25 Edição. São Paulo , Livraria Duas Cidades, 1970 206 p.
8 - Cântico dos cânticos 7,7
9 - Provérbios 27,7
10 - 1Tessalonicenses 5,17. “ Orai sem cessar.”
11 - João Paulo II. Carta Apostólica sobre Santo Agostinho de Hipona. Documentos pontifícios. N.210.Petrópolis, Vozes, 1986.pg.37
12 - Mateus 9,12
13 - Cântico dos cânticos 2,2
14 - Cântico dos cânticos 6,2
15 - DE JESUS, Santa Teresa. Castelo interior ou Moradas. Trad. Carmelitas descalças do convento Santa Teresa. 3 Edição. Edições Paulinas, Rio de Janeiro,1984,pg.26
16 - Cântico dos Cânticos 4,16
17 - Trechos do livro Cânticos dos cânticos retirados dos capítulos IV – VIII. Santo Ambrósio de Milão, falando sobre este livro Bíblico escrevera: “Queres aplicar isso a Cristo? Nada mais agradável . Queres aplicar à tua alma? Nada mais doce.” ( Coleção Patrística. Número 5. Ambrósio de Milão. Tradução: Célia Mariana Franchi Fernandes da Silva. São Paulo, Paulus, 1996.;pg .62 )
18 - LISIEUX, Teresa de. Historia de un alma, manuscritos autobiográficos. Trad. Setién de Jesús María O.C.D. Colección Teresita. Segunda edição. Editorial Monte Carmelo, Burgos, 1978;pg.217.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Deus Pai fala à Santa Catarina - A Divina Providência

Lírio, o qual mandou Jesus que reparássemos (Mt 6, 28-34), de modo a nos convencermos de que o Pai sempre cuida de nós


Desde o início do mundo até agora minha providência cuida e continuará a cuidar das necessidades e salvação dos homens. Realiza tal obra por formas diversas, conforme parecer melhor a mim, médico verdadeiro e justo, ante vossas enfermidades. Umas vezes restituo a saúde, outras vezes apenas a conservo. Para quem a acolhe, minha providência jamais faltará. Experimentá-la-ão aqueles que realmente nela confiarem, sem ficar só em palavras; como aqueles que imploram e clamam com amor, com fé, e não apenas dizendo “Senhor, Senhor” (Mt 7, 21). Não reconheço os que me imploram sem a prática das virtudes, sem a vivência da justiça. Eu te garanto: jamais faltará minha providência para quem nela espera. Somente estará ausente para os que desesperam ou confiam em si mesmos. (...)

A esperança humana é mais ou menos perfeita conforme o amor da pessoa; será igualmente nessa medida que cada um terá a experiência da minha providência. Aqueles que me servem e só em mim confiam, experimentá-la-ão mais profundamente do que as almas cuja esperança se fundamenta em interesses e compensações. (...)

Como podem achar que eu, bondade suprema, lhes deseje o mal nos pequenos acontecimentos da vida, sabendo – através dos grandes acontecimentos (a Criação e a Redenção) – que somente desejo sua santificação?

De todas as coisas cuida minha providência, desde as menores até as maiores. É a providência geral, em favor de todos aqueles que a aceitam. Aos homens, em particular, ajo conforme quero: acontecerá a vida ou a morte, a fome ou a sede, mudanças de posição social, nudez e calor,injúrias, caçoadas e traições. Permito que as pessoas digam e façam tudo isso (...) Permito o mal a fim de que o ofendido prove a sua paciência ou a adquira. (...) Os seguidores do mundo se admirarão, acharão injusto que um inocente morra na água, no fogo, devorado pelas feras ou sob os escombros de uma casa. Tais acontecimentos parecerão estranhos a quem os olha fora da fé. O fiel, que experimentou minha providência (...), não pensará assim. Ele sabe que tudo faço com providência, com a única finalidade de salvar os homens; tudo olha com respeito, não se escandaliza por alguma intervenção minha a seu respeito ou a respeito dos outros; tudo supera com paciência.

Minha ação providencial está presente em todos os seres; todos eles lhe são submissos. Pessoas há que consideram o granizo como uma crueldade, assim como as tempestades, os raios, quando os deixo cair sobre o corpo de alguém e dizem que não providenciei pela incolumidade da pessoa. Embora tais pessoas julguem o contrário, o que realizo em tais casos é livras alguém da morte eterna.

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Fonte: Santa Catarina de Sena, livro "O Diálogo", p. 304-307.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Análise e propostas de Bento XVI diante da crise econômica


Apresentadas em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz

Por Jesús Colina

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 16 de dezembro de 2008 (ZENIT.org).- A obsessão dos agentes financeiros por conseguir elevadíssimos lucros no curto prazo é algo perigoso para todos, começando pelos próprios interessados, denuncia Bento XVI.

O Papa fez uma análise do papel das finanças no atual panorama econômico na mensagem escrita por ocasião do Dia Mundial da Paz (1º de janeiro de 2009), que nesta ocasião leva por tema: «Combater a pobreza, construir a paz» e que é publicada em uma crise financeira e econômica global em precedentes.

A crise

«Uma atividade financeira confinada no breve e brevíssimo prazo torna-se perigosa para todos, inclusivamente para quem consegue beneficiar dela durante as fases de euforia financeira», adverte o Santo Padre.


Bento XVI, que considera que o combate à pobreza deve levar em conta necessariamente o contexto da globalização, não condena a atividade financeira, e mais, lhe atribui um papel importante para a promoção do desenvolvimento.

«A função objetivamente mais importante do mercado financeiro, que é a de sustentar a longo prazo a possibilidade de investimentos e consequentemente de desenvolvimento, aparece hoje muito frágil: sofre as consequências negativas de um sistema de transações financeiras – a nível nacional e global – baseadas sobre uma lógica de brevíssimo prazo, que busca o incremento do valor das actividades financeiras e se concentra na gestão técnica das diversas formas de risco.

Segundo o Papa, «a recente crise demonstra como a atividade financeira seja às vezes guiada por lógicas puramente auto-referenciais e desprovidas de consideração pelo bem comum a longo prazo».

«O nivelamento dos objectivos dos operadores financeiros globais para o brevíssimo prazo reduz a capacidade de o mercado financeiro realizar a sua função de ponte entre o presente e o futuro: apoio à criação de novas oportunidades de produção e de trabalho a longo prazo».

Propostas

Neste contexto, o Papa considera que é necessário um «quadro jurídico eficaz para a economia» que permita «à comunidade internacional e especialmente aos países pobres individuarem e actuarem soluções coordenadas para enfrentar os referidos problemas».

O Santo Padre exige «estímulos para se criarem instituições eficientes e participativas, bem como apoios para lutar contra a criminalidade e promover uma cultura da legalidade».

Agora, Bento XVI alerta perante «as políticas marcadamente assistencialistas» por considerar que é inegável que «estão na origem de muitos fracassos na ajuda aos países pobres».

O Papa considera que nesta busca de soluções é importante ter em conta o justo e necessário valor do lucro, inclusive na «luta contra a fome e a pobreza absoluta».

«Deste ponto de vista, seja banida a ilusão de que uma política de pura redistribuição da riqueza existente possa resolver o problema de maneira definitiva».

Com efeito, assinala, «o valor da riqueza depende em medida determinante da capacidade de criar rendimento presente e futuro».

Por isso, assegura, «a criação de valor surge como um elo imprescindível, que se há- de ter em conta se se quer lutar contra a pobreza material de modo eficaz e duradouro».

Uma questão de valores

Na primeira jornada dos trabalhos do último Sínodo dos Bispos (Cf. Zenit, 6 de outubro de 2008), o Papa falou da crise, em particular da queda de grandes bancos.

«Sobre a areia constrói quem constrói só sobre as coisas visíveis e tangíveis, sobre o êxito, sobre a carreira, sobre o dinheiro. Aparentemente estas são as verdadeiras realidades. Mas tudo isto um dia passará», assegurou.

A mensagem de Bento XVI por ocasião do Dia Mundial da Paz foi apresentada pelo cardeal Renato R. Martino, presidente do Conselho Pontifício para as Comunicações, como um «aperitivo» da próxima encíclica social que deve ser publicada no início de 2009.

ZP08121612 - 16-12-2008
Permalink: http://www.zenit.org/article-20352?l=portuguese

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A TODOS UM FELIZ NATAL!

A Natividade Mística - Sandro Botticelli

DO SERMÃO DE TEÓDOTO DE ANCIRA BISPO, PARA O DIA DO NATAL DO SENHOR


Veio o Senhor de todos sob a forma de servo


Veio o Senhor de todos sob a forma de servo, revestido de pobreza, de modo a não afugentar os que buscava. Em terra incerta, escolhendo um lugar desconhecido para nascer, foi dado à luz por uma Virgem pobre, na pobreza total, para que pelo silêncio cativasse os homens que vinha salvar. Pois se tivesse nascido na glória, rodeado de muitas riquezas, diriam, sem dúvida, os infiéis, que a transformação da terra fora obra do dinheiro. Se tivesse escolhido Roma, a maior cidade, atribuiriam ao poder dos seus cidadãos a mudança do mundo.

Se fosse filho do imperador, atribuiriam ao poder tal benefício. Se fosse filho de um legislador, atribuiriam-no às leis. Mas que fez ele? Escolheu tudo o que é pobre e vil, tudo que há de mais medíocre e obscuro, para sabermos que só a divindade transformou a terra. Por isto, escolheu uma mãe pobre, uma pátria ainda mais pobre, fazendo-se pobre de bens terrenos.

Isto te é mostrado pelo presépio. Como não havia um berço para reclinar o Senhor, foi colocado numa manjedoura, e sua indigência das coisas mais necessárias tornou-se uma ótima profecia. Foi assim posto na manjedoura para anunciar que se fazia alimento até mesmo dos irracionais. Pois o Verbo, Filho de Deus, nascendo pobre e jazendo num presépio, atrai a si os ricos e os pobres, os eloqüentes e os incultos.

Vede, portanto, como a indigência se tornou profecia, e a pobreza mostrou ser acessível a todos aquele que por nós se fez pobre. Ninguém se deteve por medo das esplêndidas riquezas do Cristo, nem a imponência do poder impediu alguém de se aproximar dele; mas apareceu pobre e comum, oferecendo-se a si mesmo para salvar a todos.

No presépio, o Verbo de Deus se manifesta corporalmente, a fim de que tanto os seres racionais como os irracionais possam participar do alimento da salvação. Penso ser isto que o profeta proclamava, quando falava do mistério do presépio: O boi conhece o seu dono, e o jumento, a manjedoura de seu senhor; mas Israel é incapaz de conhecer, o meu povo não pode entender (Is 1,3). Fez-se pobre por nós aquele que é rico, tornando facilmente perceptível a todos a salvação do Verbo de Deus. Também Paulo o indica, ao escrever: Por causa de vós se fez pobre, embora fosse rico, para vos enriquecer com a sua pobreza (2Cor 8,9).

Mas quem era esse que enriquecia? E de que enriquecia? Como ele se fez pobre por nós? Quem é, dizei-me, que, sendo rico, se fez pobre por minha pobreza? Pensas que foi o homem que apareceu? Mas este nunca se tornou rico, nascido que foi pobre e de pais pobres. Quem era, pois, e de que enriquecia esse rico que por causa de nós se fez pobre? A resposta é: Deus enriquece a criatura. Foi Deus mesmo quem se fez pobre, fazendo sua a pobreza daquele que se podia ver. Pois ele é rico pela divindade, e por causa de nós se fez pobre.


(Ofício das Leituras - Edit. Schwartz, ACO t. 3,1,157-159)



segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

A imoralidade do governo Lula: Ministro da Saúde gastará 40 milhões de reais em lubrificante para sexo anal

 

Abaixo a ditadura gay, a Bolsa-Boiola e o KY do Temporão

Hugo Studart

O ministro da Saúde enlouqueceu de vez. Falta verba para comprar medicamentos para hemofílicos e para bolsas de coletas de sangue. Mas Temporão mandou comprar 15 milhões de lubrificantes KY para distribuir aos gays. Vai torrar cerca de R$ 40 milhões no dia 22 de dezembro. Recentemente, o ministro mandou distribuir pênis de borracha e uma cartilha ensinando as técnicas mais prazeirosas do sexo anal. É a Bolsa-Boiola. Temporão está confundindo a defesa da liberdade de opção sexual com boa administração do dinheiro público. Sucumbiu à “Gaystapo”, as patrulhas do movimento GLS. Chegou a hora de reagirmos contra as loucuras desse ministro.

O Artigo 5 da Constituição garante uma série de direitos fundamentais e inalienáveis, como a liberdade de expressão, de opinião, de credo, de organização política, etc. Não fala da liberdade de opção sexual, mas acredito que devemos respeitá-la por interpretação complacente — ou por simples amor à democracia, aos direitos civis e o respeito ao próximo. Portanto, é dever do Estado proteger as minorias sexuais da discriminação e da violência. Assim como criar políticas próprias de saúde, em especial para o controle da AIDS.

Na quarta-feira 17 de dezembro, o Ministério da Saúde divulgou a última extravagância de seu ministro, José Gomes Temporão — o edital de licitação número 142/2008, para a aquisição de 15 milhões de sachês de gel lubricante à base de água, o conhecidos KY, geralmente usado para facilitar o sexo anal (o edital completo está em link no final deste artigo).

O pregão do KY será às 10 horas da manhã da próxima segunda-feira 22 de dezembro. Tudo muito rápido, para não dar na vista. O Erário deve gastar cerca de R$ 40 milhões, calcula o funcionário do Ministério da Saúde que me forneceu o edital.

Está sendo preparado por um assessor do círculo íntimo de Temporão um outro edital semi-secreto para a compra de 1 bilhão de camisinhas. Os armazéns do ministério estão neste momento abarrotados de preservativos para serem distribuídos à população. Mas Temporão decidiu comprar mais 1 bilhão de camisinhas já lubrificadas. A licitação vai sair do armário na próxima semana. Está programada para o dia 29 de dezembro, no apagar das luzes do ano. Deve consumir outro R$ 1 bilhão dos cofres públicos. Por que tanta pressa? Por que tanto discrição com o dinheiro público?

A fonte das informações acima esclarece que a única prioridade do ministro Temporão é a comunidade gay e o programa DST-Aids. Os hospitais — isso é público — estão derretendo por falta de verba. Falta dinheiro para toda a sorte de medicamentos essenciais. Neste exato instante, por exemplo, faltam nos hospitais públicos bolsa para coleta de sangue e os hemoderivados fatores VIII e IX da coagulação, essenciais para a sobrevivência dos hemofílicos. O dinheiro está sendo desviado para KY, camisinhas e pênis de borracha.

Recentemente, Temporão mandou comprar e distribuir pênis de borracha para usar em educação sexual e cartilhas ensinando as melhores técnicas de penetração anal entre parceiros do mesmo sexo. Ninguém entendeu direito o que a didática do prazer tem a ver com prevenção à Aids. Agora, ao aparecer com o pregão do KY e de outro bilhão de camisinhas, Temporão está instituindo o Bolsa-Boiola.

Legislando em causa própria?

Não acredito, em hipótese alguma, que Temporão esteja legislando em causa própria. Nesse caso, seria prevaricação.

Vale lembrar que Roma teve grandes imperadores bissexuais, como Júlio César e Otávio Augusto, ou mesmo homossexuais convictos, como Adriano. Também teve governantes como Heliogábalo, que usava sua condição de gay para legislar em causa própria. No poder, Heliogábalo perdeu o equilíbrio emocional, passou a se vestir de mulher até chegar ao desplante de entregar todo o poder do império a um de seus favoritos, um escravo! Heliogábalo fez tantas loucuras usando o dinheiro público para proteger seus prazeres que ele e seu amante acabaram trucidados.

Não há nenhum indício de que Temporão esteja prevaricando. Entretanto, como Heliogábalo, ele anda muito mal assessorado. Afinal, desde quando se previne Aids ajudando os gays a praticar uma penetração anal mais prazerosa? E não me venham com a falácia de suposta homofobia. Estamos aqui discutindo tão-somente a boa gestão do dinheiro dos nossos impostos.

Gestão Transviada

Recentemente, Temporão baixou uma norma mandando o SUS fazer cirurgia de mudança de sexo para os travestis. Com direito a dois anos de acompanhamento psicológico para o transexual e para sua família, que está perdendo um filho, apesar de estar ganhando uma filha.

Falta dinheiro para transplantes. Falta dinheiro para cirurgias plásticas corretivas, como para crianças queimadas. Ninguém opta por necessitar de um coração, uma córnea, ou por deformar o corpo com o fogo. Os gays, por sua vez, insistem em dizer que o homossexualismo não seria uma distorção psicológica, mas sim uma opção, uma orientação. Se fosse uma psicopatia, então o Estado teria por dever dar tratamento. Mas é uma opção. Os travestis optaram por ser assim.

Então porque o Estado precisa pagar dois anos de tratamento psicológico para os transexuais e seus pais? Se Temporão fosse um ministro sério, ofereceria acompanhamento psicológico também para os pais daquele garoto de três anos que morreu baleado pela PM do Rio — cujo policial assassino dias atrás foi absolvido pela Justiça. Eles não optaram por perder o filho, morto por um agente do Estado. Eles, sim, precisam de acompanhamento psicológico com dinheiro público.

Manifesto contra a Gaystapo

A explicação mais plausível para essas opções de Temporão é que ele seja um ministro incompetente. Um fraco. Está sucumbindo ao lobby do Movimento GLS. Houve um tempo em que os homossexuais eram agredidos nas ruas. Depois passaram a ser apenas discriminados em seus empregos. Então surgiram movimentos em defesa dos direitos dos gays, lésbicas e assemelhados.

Organizaram as paradas gays, instituíram o tal Dia do Orgulho Gay, mobilizaram simpatizantes, fizeram lobby nos três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário, por direitos justos e legítimos, como plano de saúde para companheiros do mesmo sexo. Ao fim, os movimentos gays deram uma enorme contribuição para a lapidação das instituições democráticas e o Estado de Direito.

Os gays mobilizados, enfim, têm sido tão importantes nesta virada de século para a afirmação dos princípios fundamentais da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, quanto o movimento sindical o foi em priscas eras.

Ocorre que de uns tempos para cá, pelo menos no Brasil, o que era um movimento está se transformando numa patrulha ideológica. As campanhas contra a discriminação se transformaram em pressão para que os adolescentes assumam suas porções femininas (ou masculinas, no caso das garotas). Está virando anomalia amar homens e mulheres —agora só se pode amar “pessoas”.

De vítimas, os gays estão se transformando em agressores. Se alguém acredita que ser gay não é o normal, que o normal é ser hetero, é logo taxado de homófobo. Tal qual Hitler com sua Gestapo, estão criando uma Patrulha do Pensamento, a Gaystapo.

Exagero? Homofobia? Ora, ora, lembro-me de um caso exemplar ocorrido meses atrás com o então-presidente da Eletrobrás, Valter Cardeal. Ele é o homem de confiança da ministra Dilma Roussef no setor elétrico. Pois foram pedir R$ 2 milhões ao presidente de Furnas, Luis Paulo Conde, para o patrocínio da Parada Gay do Rio de Janeiro. Conde, titubeante, até pensou em dar o dinheiro. Mas Cardeal vetou.

Ora, desde quando uma estatal elétrica tem a ver com opção sexual? Se está sobrando dinheiro em Furnas, que patrocine escolas e postos de saúde para os desabrigados das barragens e outras vítimas sociais de suas ações predatória. Isso é o certo. Que patrocinem ações de recuperação do meio ambiente — ou até mesmo ONGs ou seminários ambientais. Quem tem que patrocinar parada gay é a Johnson&Johnson, fabricante do KY do do Jontex, a Ambev ou a companhia marítima dona dos transatlânticos Eugenio C e Eugenio G.

Pois Valter Cardeal, num rasgo de sensatez, vetou a concessão da verba. Publiquei esse fato na imprensa. No dia seguinte, Cardeal foi alvo de passeadas, ameaças de processo e até de representação da Comissão de Direitos Humanos da OAB. A Gaystapo agiu rápido, implacável como os nazistas. Cardeal foi obrigado a pedir desculpas, voltou atrás e deu dinheiro para os gays. Foi um erro.

É provável que Temporão não esteja prevaricando, mas apenas sucumbindo à Gaystapo. É um ministro fraquinho, incompetente. Qualquer que seja a opção, é hora dos cidadãos que pagam impostos se manifestarem, de exigirem seriedade na gestão das verbas da Saúde. Instituir o Bolsa-Boiola é uma idéia que nem o imperador Heliogábalo teve o desplante de fazer.

Para ver o edital do pregão n.°142/2008, clique aqui.

Fonte: Hugo Studart

Divulgação: www.juliosevero.com