segunda-feira, 26 de maio de 2008

Testemunho de conversão de um grande assassino

Da experiência do perdão de Deus ao martírio


A história da conversão e da morte de “O Sapo” mostra a força transformadora da experiência do amor e do perdão de Deus.

Na lápide da sua sepultura, no cemitério da prisão das Ilhas Marias, estão gravadas estas palavras:

José Rodríguez, “O Sapo”. Famoso delinqüente, morreu cristãmente, convertido pelo Pe. Trampitas, seu grande amigo, quem pediu que o sepultassem ao seu lado.

O Sapo era um assassino confesso. Ninguém sabia quantas mortes carregava nas costas. Segundo as várias versões, o número oscilava entre 120 e 220. Em todas as prisões por onde passava era o chefão das gangues mais violentas. Por isso, era ao mesmo tempo odiado e temido.

Quando se encontrava na prisão das Ilhas Marias, morreu seu amigo, “o Chassi”, depois de ter confessado com o Pe. Trampitas e receber os sacramentos. O Pe. Trampitas foi um jesuíta que trabalhou como capelão durante 25 anos e se tornou um personagem famoso na história do presídio. Um dia, quando ele estava rezando junto ao túmulo do Chassi, veio também o Sapo para visitar a sepultura do amigo. O Padre conversou com ele dizendo-lhe que seu amigo estava com Deus, porque todos os seus pecados lhe tinham sido perdoados. Depois de um tempo de conversa, o Padre disse-lhe que Deus lhe oferecia seu perdão e seu amor também a ele. O Sapo, porém, respondeu-lhe não acreditar que Deus pudesse perdoar tantas maldades, tantos crimes e tantas mortes quantas ele tinha cometido: “Como Deus pode perdoar-me tudo o que fiz, sem pedir-me nada em troca?”. Trampinas explicou-lhe que o perdão de Deus é sempre maior que os nossos pecados. A única condição posta por Deus para perdoar-nos é a de abrir-se ao seu amor, arrepender-se dos pecados cometidos e prometer-lhe “nunca mais voltar a matar”. Depois de uma longa conversa, o Sapo, que dizia nunca ter-se ajoelhado diante de ninguém, confessou, de joelhos, seu pecados junto ao túmulo do amigo e prometeu a Deus nunca mais matar.

O Pe. Trampinas, para ajudar os penitentes a levarem uma vida sacramental, costumava pôr como penitência uma coroa de 6, 8 ou 12 comunhões, sendo cada comunhão uma estrela da coroa. Ao Sapo pôs-lhe como penitência uma coroa de 6 estrelas. Mas ele reclamou dizendo que era um grande pecador e pediu uma coroa com 12 estrelas. Durante os 11 dias seguintes foi à missa e comungou, sendo por isso objeto dos comentários e das gozações por parte dos outros presos. No dia em que deveria completar a coroa com a duodécima estrela, aconteceu o inesperado.

Os presos das outras gangues odiavam o Sapo com ódio mortal. Os que saíam diariamente para o trabalho com ele armaram-lhe uma cilada para matá-lo. Um deles ficou encarregado de dizer-lhe que devia ir a tal lugar determinado para consertar um motor. E o Sapo foi. A única explicação que eu encontro para o fato de um assassino tão experimentado ter caído nessa armadilha, é que depois de ter experimentado a misericórdia de Deus, tornara-se um homem novo, manso, misericordioso e puro de coração. Quando chegou ao lugar marcado, viu-se rodeado por um bando de homens da gangue adversária. Observando o código de honra não escrito, disseram-lhe: “Sapo, defende-te, porque chegou a tua hora”. Eles sabiam que alguns morreriam, mas ele morreria também. O Sapo, no entanto, não quis defender-se e respondeu-lhes: “Prometi a Deus que nunca mais voltaria matar”. Interpretando a resposta como um ardil para ganhar tempo, os seus inimigos voltaram a repetir que se defendesse porque ia morrer. Mas o Sapo continuou repetindo a mesma frase: “Prometi a Deus que nunca mais voltaria matar”. E repetindo-a, sem um único gesto de violência nem de defesa de sua parte, foi assassinado a golpes de picareta, enxada e pedras. Depois de ter feito a experiência de ser amado e perdoado por Deus, diante da opção: matar de novo ou ser morto, escolheu ser assassinado. Na verdade, não foi somente assassinado; foi martirizado. Foi um mártir da fé no amor e na misericórdia de Deus.

A amizade que uniu tão profundamente o Pe. Trampitas e o Sapo, durou só onze dias: desde o dia da confissão até o dia da morte. Mas foi uma amizade que venceu a morte. A estrela da última comunhão, que faltava na coroa do Sapo, foi completada na mesa do banquete do Reino. O Pe. Trampitas morreu em 1990 e, conforme tinha pedido, foi enterrado entre seus queridos amigos os presos...ao lado de “o Sapo”.

Fonte: livro "A parábola do Pai Misericordioso", Pe. Álvaro Barreiro, SJ.

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