quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Finalidade da vida humana segundo escolas filosóficas não cristãs

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Revolução Cultural de 68 - Sorbonne, Paris

 

Capítulo I

 

SOLUÇÕES ERRADAS

 

5. - I. O materialismo (1). Negando a existência de tôda a realidade distinta da matéria, não pode o Materialismo admitir nenhum fim ou escopo transcendente à mesma matéria. Podem a êle referir-se não só os velhos erros de muitos antigos (Leucippo, Demócrito, Epicuro, Lucrécio, etc.), mas também o daqueles que atribuem todos os fenômenos da vida (sensibilidade, inteligência, afetos, etc.), às atividades e às fôrças físicas de que são os corpos dotados.

A vida, opinam, ou não tem nenhuma finalidade, ao menos transcendente, ou, se a tem, deve consistir no dinamismo que impele o homem de uma conquista à outra, segundo as condições evolutivas da matéria.

 

imageA forma mais atual e progressiva é representada pelo  Materialismo histórico e dialético de Carlos Marx (foto) no qual se inspira o Comunismo.

Coloca êle o fim supremo da existência na consecução da última e mais profunda aspiração do homem, que consiste, segundo afirma, no equilíbrio de uma ordem social que realize nova participação de bens, no tocante às várias necessidades de todos, através de uma série de lutas entre o capitalismo e o proletariado (cfr. n. 115).

 

II. O positivismo (1), é uma forma mais mitigada do materialismo. É antes um método baseado na experiência e no cálculo matemático, rejeitando como ilusória tôda a idéia metafísica acêrca da natureza e das causas dos sêres materiais ou espirituais.

Várias suas tendências. Único o objetivo: negar tôda finalidade transcendente ao homem e à humanidade.

 

III. O idealismo (2) vai ainda mais longe. Afirma que princípio e fim de tôda atividade humana não podem ser procurados fora do homem, o próprio sujeito da ação. O homem não sòmente conhece, intui e quer, mas cria a normal moral da sua atividade, o juízo último do bem e do mal éticos, porque sòmente êle pode referi-los aos valores universais e ideais que atinge com o seu próprio espírito.

imageTôda realidade moral, pois, tôda norma e todo direito, não têm nenhum objetivo fora do espírito humano. A ética, como também o fim da atividade humana, não passam de produtos da atividade criadora do homem. Numa palavra, existe sòmente uma moralidade do sujeito, subjetiva e transcendental, criada, modelada e determinada pelo Eu (Fichte) ou pela Idéia (Hegel (foto) ou pelo Absoluto (Schelling). Com alguma modificação original, o idealismo é professado na Itália pelas correntes que têm como chefe B. Croce, G. Gentile e U. Espirito.

 

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IV. O existencialismo (1). Como reação ao Idealismo, desde o século passado, com Soren Kierkegaard († 1855),  surgiu o Existencialismo, que é largamente desenvolvido na doutrina de Heidegger (foto), Jaspers, Abbagnano e outros. Filosòficamente, apresenta-se o Existencialismo como adesão à existência concreta do homem individual, existência que constitui a inconfundível personalidade do homem e que está em contraste com a existência superficial, pública, coletiva, sujeita às exigências da sociedade.

Do contraste da existência concreta com a existência superficial, surge aquela angústia da qual o homem é tomado e determinada pelo desejo de emancipar-se, de ser verdadeiramente êle mesmo. Sentir nesta existência autêntica é o meio para encaminhar-se em direção a um futuro de conquistas.

Os existencialistas dão grande importância aos valores éticos e religiosos: de fato, falam do bem e do mal, do dever, da culpa, da fé, da redenção, da oração e até do pecado original.

 

imageVárias e confusas são, na realidade, as tendências dos existencialistas. Enquanto alguns (Heidegger, Sartre  (foto) desprezaram, pelo menos, qualquer finalidade específica da existência e outros (Iaspers, Abbagnano) eliminaram qualquer solução sobrenatural ficando presos à problemática da vida; Gabriel Marcel procurou resolver os problemas da existência, dum ponto de vista construtivo, à luz da fé e da filosofia cristã.

O existencialismo, negando todo valor transcendente, tornando assim impossível a metafísica, base da religião e da Teologia, é reprovado por Pio XII na Encíclica “Humani Generis” (12 de agôsto de 1950).

Acêrca do Existencialismo ético, ou seja, da moral da circunstância, Pio XII num discurso aos Congressistas da “Fedération Mondiale des Jeunesses Féminines Catholiques” (18 de abril de 1952), assim se exprime: “A nova ética (adaptada às circunstâncias) dizem os seus autores, é eminentemente “individual”. Na determinação da consciência o homem individual encontra-se diretamente com Deus e diante dÊle delibera sem qualquer intervenção de lei ou autoridade, comunidade, culto, ou confissão. Existe sòmente o Eu do homem e o EU de Deus pessoal. Não do Deus da lei, mas do Deus Pai, ao qual o homem deve unir-se com amor filial. Assim considerado é pois a decisão da consciência um “risco” pessoal, proporcionado ao conhecimento e à avaliação própria em plena sinceridade diante de Deus. Estas duas coisas, a reta intenção e a resposta sincera, são tomadas em consideração por Deus. A ação não lhe importa nada. Assim, a resposta pode ser a de mudar a fé católica por outros princípios, de divorciar-se, de interromper a gestação, de recusar obediência à autoridade competente na família, na Igreja, no Estado, e assim por diante”.

A esta ética oportunista da circunstância, contrapõe o Papa as três seguintes máximas: “A primeira é que, concedamos, Deus quer antes de tudo e sempre a reta intenção. Mas isto não basta. Êle quer também a boa obra. A segunda é que não é permitido fazer o mal para que venha o bem (cfr. Rom 3,8). Mas tal ética opera, talvez, sem atentar a isso, segundo o princípio que o fim santifica os meios. A terceira é que podem dar-se circunstâncias, nas quais o homem, e especialmente o cristão, deve lembrar-se ser necessário sacrificar tudo, mesmo a própria vida para salvar a sua alma” (Cfr. Atti e discorsi di Pio XII, Edizioni Pauline, v. XIV, pág. 137).

 

image V. O pessimismo. Para o pessimismo não existe felicidade. A vida é intoleràvelmente má, sem um objetivo, sem meta a alcançar. É uma dor contínua, fazendo Schopenhauer (foto) e outros consistir o fim do homem, em dela libertar-se, renunciando sobretudo à vontade de viver.

 

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Notas:

(1) Bibl.: A. D. Sertillanges, Les sources de la croyance en Dieu, Paris, 1928; G. Bertola, La morale materialista di Trotzky, in Civitas, A, n. 4 (1952), 21 ss.; R. Lombardi, La dottrina marxista, Roma, 1947; L. Kania, Il bolscevismo e la religione, Roma, 1945; G. Angrisani, Comunismo e giustizia sociale cristiana, Turim-Roma, Marietti, 1949; La filosofia del Comunismo, Atti della Settimana di Studio indetta dalla Pont. Accademia di S. Tommaso nell’aprile 1949.


(1) Bibl.: A. Zacchi, Filosofia della religione, P. I: Dio. II. La negazione, Roma, 1925; G. Zamboni, Il valore scientifico del positivismo di R. Ardigò e della sua conversione, Verona, 1921.

(2) Bibl.: A. Tilgher, Filosofi e moralisti del Novecento, Roma, 1932; A. Guzzo, Idealismo e cristianesimo, Nápoles, 1936-1942, 2 vol.: A. Zacchi, Il nuovo idealismo italiano di B. Croce e di G. Gentile, Roma, 1925: M. Cordovani, Cattolicismo e Idealismo, Milão, 1928: C. Fabro, Idealismo, in EC, vol. VI, 1562 ss.


(1) C. Fabro, Introduzione all’esistenzialismo, Milão, 1943; R. Lombardi, Il clima dell’esistenzialismo, in “Cività Cattolica” 1944; V. M. Kuiper, Aspetti dell’esistenzialismo, in “Acta Pont. Acad. Rom. S. Tomae Aq.” Vol. IX, 1944, pp. 99-123.

 

-Dados da Obra-


Teologia Moral - Compêndio de Moral Católica para o Clero em geral e Leigos
Autor: P. Teodoro da Tôrre Del Greco, O.F.M. Cap.
Doutor em Direito Canônico
Edições Paulinas
Capítulo I - Soluções Erradas
Páginas: 30-34
Ex parte Piae Societatis a Sancto Paulo Ap.
NIHIL OBSTAT
Scti. Pauli, 8-XII-1958
Sac. Joannes Roatta Sup. Provincialis
NIHIL OBSTAT
Sact. Pauli, 25-XII-1958
Mons. J. Lafayette Álvares
Censor
IMPRIMATUR
Scti. Pauli, 25-XII-1958
† Paulus Rolim Loureiro
Ep. Auxil. et Vicarius Generalis
Direitos reservados à Pia Sociedade de São Paulo
Caixa Posta, 8107 - São Paulo 1959
Acabou-se de imprimir em maio de 1959

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