São Pio X
Por Prof. Pedro M. da Cruz.
“Sim, infelizmente, há os que parecem querer caminhar de acordo com nossos inimigos, e se esforçam por estabelecer uma aliança entre a luz e as trevas...”
(Beato Pio IX - 1873)
Durante, mais ou menos, os primeiros cinqüenta anos do século XX, o modernismo conseguiu manter-se como uma realidade clandestina no seio da Igreja Católica. Com efeito, muitos pensadores viveram uma espécie de cripto-modernismo visionário; isso os permitia transitar nos meios eclesiásticos esquivando-se, com astúcia, dos direcionamentos papais.
Em 1907, São Pio X já havia levantado a voz contra os perigos que tal pensamento traria para a fé cristã. Num documento seu, de particular interesse para nós, “Pascendi Dominici Gregis”, chegara a firmar que os fautores do erro já não deveriam mais ser procurados entre os inimigos declarados do catolicismo; mas, sim, entre seus próprios membros (por incrível que pareça, além de leigos, padres e, até mesmo, bispos). De acordo com o Pontífice, o fato de eles terem a ousadia de se ocultar no interior da Igreja, torna-os duplamente nocivos para o futuro da cristandade.
“Não se afastará, portanto, da verdade quem os tiver como os mais perigosos inimigos da Igreja. Estes, em verdade, como já o dissemos, não fora, mas dentro da Igreja, tramam seus perniciosos conselhos[C1] ...”
Mas, o que é o Modernismo? É, com toda certeza, a síntese das heresias, um corpo uno e compacto das variadas doutrinas errôneas, sejam elas agnósticas, racionalistas, naturalistas e etc. Ele é o fruto não só dum entendimento aberrante e deformado, como também, do orgulho e do apego às novidades. É uma aliança sacrílega entre a filosofia heterodoxa e a fé cristã.
Os seguidores desta corrente de pensamento sempre acreditaram que, um dia (vencidas as resistências anacrônicas do clero dogmático, assim como, as relutâncias do espírito tradicional) a Igreja viria a aceitar seus princípios revolucionários. Por isso, ocultaram-se no interior do catolicismo, ansiosos pelo momento em que Roma iria render-se, finalmente, à sua insistência ideológica.
Organizaram, deste modo, uma espécie de “fraternidade oculta”. Assim, trocavam cópias reservadas de suas especulações e teorias, encontravam-se em congressos internacionais, realizavam debates em segredo, promoviam os pupilos e livros uns dos outros, além de trocarem longas correspondências entre si.
O famoso historiador francês Monseigneur Louis Marie Olivier Duchesne[C2] (membro da fraternidade), escrevia a um de seus companheiros, o diretor da influente École Fénelon de Paris, Pierre Hébert, para que o mesmo agisse com cautela, e não tentasse reforma alguma dos ensinamentos da Igreja Romana. Segundo ele, o único resultado dessas tentativas poderia ser uma provável expulsão do meio católico. Hébert - continuou Duchesne - “devia ensinar aquilo que a Igreja ensina. Mas deixar que a explicação abrisse o caminho em caráter privado”. E, por fim, manifesta a esperança secreta da fraternidade: “Pode ser que, apesar de todas as aparências, um dia o velho edifício eclesiástico se desmorone...”.
Só agora, talvez, possamos entender melhor aquelas palavras da Pascendi que nos dizia: “... confiados em uma consciência falsa, persuadem-se de que é amor pela verdade o que não passa de soberba e obstinação.” (São Pio X)
Teilhard Chardin S.J[C3] , outro cripto-modernista, certa vez, também explicara a um ex-padre Dominicano, que preferia permanecer dentro do catolicismo para continuar a luta desde o interior da própria instituição e não fazer como ele que se afastara. Deste modo, acreditava, era mais eficaz em seus esforços.
Como pudemos perceber, o Modernismo se transformou numa velhaca Sociedade secreta dentro do próprio catolicismo. (Sacrorum antistitum, S. Pio X). [C4] E, se agora já não apresenta as feições de outrora, é porque soube camuflar-se novamente; encontrou renovada guarita, discreta e operosa, tanto em centros de ensino como em púlpitos aparentemente ortodoxos. Se nos inícios a heresia modernista foi subterrânea, atualmente, após tantos anos de experiência, com toda certeza, ela soube fazer-se ainda mais imperceptível em suas reais intenções heterodoxas.
Permanecer na Igreja de Cristo, ocupar altos cargos de influência, e apresentar-se como o “salvador da pátria”, continua sendo, algumas das grandes armas dos Modernistas. “Esses tais são falsos apóstolos, que se disfarçam em apóstolos de Cristo, o que não é de se espantar. Pois, se o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz, parece bem normal que seus ministros se disfarcem em ministros de justiça[C5] .”
Maria Santíssima, Vencedora dos inimigos da Igreja, rogai por nós.
Referência bibliográfica:
São Pio X. Pascendi Dominici Gregis, 8 de Setembro de 1907.
Beato Pio IX. Carta ao presidente e membros do Círculo Santo Ambrósio de Milão, 6 de Março de 1873.
FEDELI, Orlando. Carta a um padre. São Paulo: Véritas, 2006. Pg.67
MARTIN, Malachi. Os Jesuítas. A Companhia de Jesus e a Traição à Igreja Católica. Trad.: Luiz Carlos N. Silva. Rio de Janeiro: Record, 1989. Pg. 243
[C1]São Pio X. Pascendi Dominici Gregis, 8 de Setembro de 1907.
[C2]MARTIN, Malachi. Os Jesuítas. A Companhia de Jesus e a Traição à Igreja Católica. Trad.: Luiz Carlos N. Silva. Rio de janeiro: Record, 1989. Pg. 243
[C3]FEDELI, Orlando. Carta a um padre. São Paulo: Véritas, 2006. Pg.67
[C4]Idem. Pg. 68
[C5] II Cor. 11,14-15
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