domingo, 28 de outubro de 2012

O Servo de Deus

Deus favorece a muitos com a vocação sacerdotal

                                                                                                                            Por Dom Tihamer Toth



Seria difícil descrever como a idéia do sacerdócio vem a nascer na alma de um estudante. Neste, parece vir do próprio berço; naquele, ela só se apresenta pelos 14 ou 15 anos, e até mais tarde, com maior força, porém.

Noutros ainda, esse maravilhoso desejo de servir a Deus só desperta pouco a pouco talvez ao cabo de um ou dois anos de estudos diferentes. A vocação amadurece lentamente; primeiro, é incerta, como pequena e hesitante pancada à porta, a que o jovem nem sempre dá atenção. Ele próprio ignora o que se passa na alma; tomam-no dificuldades, inquietação e dúvidas.

Depois, a pouco e pouco, principia a ver distintamente a sua missão, ouve claramente o chamado de Deus. Para um, acende-se a graça da vocação como um súbito raio de luz; para outro, amadurece como um fruto; mas o remate é sempre o mesmo; o jovem sente na fronte o ósculo do Redentor, e o seu olhar fixo nele como um chamado, que o enche duma inquietação estranha: “Não sei o que me atrai, não sei o que me chama, mas sei... sinto... que devo ser padre”.

Que é que o atrai para o Sacerdócio? Quase não saberia dizê-lo. Um é todo inflamado de entusiasmo:

“Ah! Como os homens, meus irmãos, são egoístas, frios e pecadores! Quanto bem um padre zeloso pode fazer às almas imortais! Cada dia, almas que poderiam ser salvas, se estivesse junto delas um bom padre, caem presas da condenação. Devo fazer-me padre, sinto-o!”

Aí está um motivo bem nobre.

Outro diz consigo: “Sinto que, na vida profana, minha alma se revelaria fraquíssima. Que há de ser de mim se eu me parecer com esses homens de coração de gelo que não se preocupam com Deus? Eles são tantos! Não, isso não! Como sacerdote, terei talvez menos dificuldade em formar em mim mesmo a imagem de Cristo. Será mais fácil salvar minha alma para a eternidade!”

Essa, também, é uma intenção honesta.


O terceiro pensa _ “Que dignidade, que tarefa sublime fazer-se alguém colaborador de Deus! Quando eu disser missa, o Filho de Deus repousará nas minhas mãos consagradas. Quando eu confessar, almas abatidas ressuscitarão para uma vida nova! Onde quer que eu vá, o que quer que faça, a felicidade e a consolação, a força e a doçura se derramarão sobre os meus passos. Na escuridão moral que sufoca as almas de hoje, quero ser uma alma cheia de sol, quero inundar de calor, luz e vida todos os que me cercam!” “Glória in excelsis Deo, ET in terra pax hominibus!”

Que vocação a do padre! Aumentar a glória de Deus e aumentar a paz entre os homens! Semear o grão da verdade no mundo enganador, regar com orvalho divino da graça os corações ressequidos, tornar-se um salvador de almas imortais!... A carreira de padre não é fácil, bem o sei. O Senhor sofreu muito no horto de Getsêmani e no Calvário, - sofrerei com Ele! E, nessa profissão, escolherei esta máxima: “Aqui estou para me dar em sacrifício e não para servir a minha própria comodidade! Quero ser padre, alter Christus!”

Esse é um motivo sublime!

Mal o jovem se apresenta com seu projeto perante o pai, irrompe a tempestade.

“Que loucura é essa? O filho de um engenheiro, dum proprietário cheio de haveres, um moço tão bonito, tão ágil, tão cheio de vida, não há de ser padre! Ah! Meu filhos,transtornaram-te a cabeça! Alguém te deu maus conselhos. Olha meu filho, todas as carreiras estão abertas diante de ti. Vê que futuro brilhante te espera na vida! E queres abandonar tudo? Ainda não conheces o mundo e já He queres dar adeus? Não e não! Escolhe a carreira que quiseres, de antemão te dou consentimento. Mas não essa!... Não a de padre!... Isso, não!”

Os pais verdadeiramente piedosos dão graças a Deus, de joelhos, se Ele se digna chamar um de seus filhos a seu serviço; mas não é raro ouvir palavras como essas na boca dum pai inteligente, quando o filho lhe pede os consentimentos. Toma nota, meu filhos, sou o primeiro a dizer-te: por todo o outro do mundo, não te faças padre sem vocação. Vai quebrar pedras ou varrer a rua antes de ser padre sem vocação.

Mas digo-te também: desde que sintas em ti a vocação, o chamado de Cristo, esto fortis ET viriliter age, sê forte e age virilmente. É profundamente triste, realmente que sejas censurado por aqueles de quem terias o direito de esperar auxílio; é preciso, contudo, obedecer antes a Deus que aos homens (At 5,29). É preciso obedecer àquele que disse: “Quem ama seu pai e sua mãe mais do que a mim não é digno de mim” (Mat 18,10).

Entretanto, nesses dias de provação, nunca te esqueças do respeito que deves a teus pais. Pode-se muito bem ter firmeza sem faltar ao respeito. E a tua firmeza alcançará certamente a vitória, se a tua resposta persistir sempre a mesma: “Meu pai, minha mãe, perdoem-me, mas não posso fazer outra coisa. Devo atender ao chamado do Senhor. Faça-se a vontade de Deus, permanecerei em paz”.

Livro: O môço educado

Autor: Dom Tihamer Toth

Parte III – No limiar duma carreira

O Servo de Deus

Páginas: 197-199

Editora Vozes LTDA.- Petrópolis RJ

IV Edição - 1960

IMPRIMATUR por Comissão Especial do Exmo. e Revmo. Sr. Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra, Bispo de Petrópolis. Frei Desidério Kalverkamp, O.F.M. Petrópolis, 21- XII-1959

2 comentários:

Paulo disse...

Texto muitobom para reflexão esse autor sabe apresentar op tema de maneira cativamnte e apresentadoassim de forma de texto pequeno é um agrande ajuda para reflexão.

Anônimo disse...

Que belo texto, escrito por tão bom autor. Rezemos por nossos sacerdotes, para que cumpram a sua vocação de forma correta. Maria Santíssima, ora por nós.