sexta-feira, 30 de maio de 2008

O que é ser Católico

Em síntese: O que é ser católico? A Igreja pode ensinar algo de errado? Devemos obedecer o que ela diz? Porque tantos católicos não obedecem integralmente à Igreja? O seguinte artigo procura responder estas questões.
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Católicos!?

"Mas quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?" (Lc 18, 8b)


No dia 06 de maio do presente ano (2007), o jornal Folha de São Paulo divulgou uma recente pesquisa feita pelo seu instituto Datafolha, que revela a opinião dos católicos brasileiros a respeito de temas polêmicos da atualidade, além de questões atinentes à fé da Igreja[1]. O resultado foi assombroso, mas não inesperado: a maioria dos católicos do país está em profunda discordância com o que pensa a Igreja, ou seja, a maioria dos católicos não são de fato, católicos.
A pesquisa começa nos mostrando que o percentual de católicos no país continua caindo. Dos anteriores 75% da população, os católicos agora não somam senão 64%, ou seja, uma vertiginosa queda de 11% em 13 anos. O estado do Rio de Janeiro já não tem maioria católica, se comparado o índice de católicos contra o índice de adeptos de outras religiões em conjunto.[2]
Sem dúvida, a queda no número dos praticantes do catolicismo é um fato bastante grave e preocupante para todos nós filhos da Igreja. Mas tal fato é, de certa forma, um “mal menor” se for comparado com a incoerência entre fé e vida demonstrada na pesquisa pelos que se afirmam praticantes. Primeiramente, ser católico é, antes de tudo, professar integralmente tudo o que a Igreja crê como divinamente revelado. Dentre estas verdades, uma há que sustenta todas as outras, a de que a Igreja é a “coluna e sustentáculo da verdade”, sendo impossível errar em tudo o que define em matéria de fé ou de costumes. Daí seguir a Igreja é estar com a verdade.[3]
Dessa forma, não se pode admitir um católico que crê na reencarnação. Das duas uma: ou se é católico, ou se acredita na reencarnação![4]
A pesquisa supracitada tem um importante papel, sobretudo para o corpo eclesiástico da Igreja: definir o perfil predominante dos seus crentes e, na medida do possível, tentar entender as razões que os levaram a se distanciarem da pureza e integridade da Sagrada Doutrina. Examinemos alguns pontos da pesquisa.
O instituto de pesquisa, antes de apresentar os dados, nos diz que “os católicos, de modo geral, têm posição parecida com a da população em geral”. Eis a primeira incoerência, pois, por dever da fé que professam, os católicos deveriam rechaçar o que pensam as pessoas em geral - quando o que estas pensam está em contradição com a fé da Igreja -, como no caso analisado. Mas o que constatamos é justamente o contrário. A maioria dos católicos caiu num tão grande grau de relativismo que já não se distinguem do ordinário das pessoas, em outras palavras, o católico, que por princípio deveria se diferenciar da maioria do povo por se posicionar firmemente baseado nos princípios que regem sua santa fé (como a defesa à vida, à castidade, entre outros), já não cumpre o seu sagrado dever de ser luz do mundo para iluminar as trevas dos erros e dos vícios.[5]
O primeiro dado revelado é que absurdos 94 % dos católicos são favoráveis ao uso da camisinha. Podemos atribuir dois fatores diretos para isso: 1- os católicos não querem viver a castidade e assim, se vêem condicionados a fazer uso de preservativos;
2 – os católicos ainda são em sua maioria enganados pelo nosso governo atual, que de forma covarde mente para a população, dizendo que a camisinha impede a transmissão da AIDS, fato que é cientificamente comprovado ser falso.[6]
Em seguida, a pesquisa nos mostra que 71% dos católicos são favoráveis ao divórcio e 56% são favoráveis ao direito de se casar mais de uma vez no religioso. Instáveis, superficiais e imaturos, os próprios relacionamentos de hoje são a justificativa da estatística apresentada.
Quanto à adoção de crianças por casais homossexuais, 43% dos católicos são a favor, 42 % são favoráveis à legalização da união entre pessoas do mesmo sexo e 36% concordam com a eutanásia. Dados que revelam o relativismo religioso que permeia a vida de muitos filhos da Igreja que, não reconhecendo nela a voz de Cristo, se enveredam numa vivência de fé viciada, onde se escolhe para crer e viver do catolicismo apenas aquilo que convém ou agrada ao gosto subjetivo. Lembro aqui as oportunas palavras do nosso sábio Papa Bento XVI, enquanto Cardeal Ratzinger, na Missa “Pro Eligendo Pontifice” :
“Enquanto o relativismo, isto é, deixar-se levar ‘aqui e além por qualquer vento de doutrina’, aparece como a única atitude à altura dos tempos hodiernos. Vai-se constituindo uma ditadura do relativismo que nada reconhece como definitivo e que deixa como última medida apenas o próprio eu e as suas vontades.
Ao contrário, nós, temos outra medida: o Filho de Deus, o verdadeiro homem. É ele a medida do verdadeiro humanismo. ‘Adulta’ não é uma fé que segue as ondas da moda e a última novidade; adulta e madura é uma fé profundamente radicada na amizade com Cristo. É esta amizade que nos abre a tudo o que é bom e nos dá o critério para discernir entre verdadeiro e falso, entre engano e verdade.”[7]
Diante desses trágicos resultados, somos levados quase que automaticamente a indagar o que pode ter levado tantos católicos a se distanciarem tanto do que prega a Igreja. Ouso tentar indicar duas causas possíveis.
Primeiro, esta crise foi causada pela falta de conhecimento da própria fé que os católicos comumente apresentam. Ora, ninguém ama aquilo que não conhece. Assim, o católico que não procura se aprofundar nas verdades de sua Igreja, na beleza dos sacramentos, na coerência da Moral, na sabedoria das Escrituras, não irá amá-las. Pelo contrário, irá muitas vezes criticar acidamente tudo isso, devido ao fato de não entender o porquê de nada[8]. Esta falta de instrução catequética muitas vezes inicia-se já na habitualmente falha catequese de 1ª Comunhão, cresce num lar sem ou com pouca evangelização, e se alimenta continuamente de homilias superficiais e espiritualmente estéreis, que não alimentam os fiéis com a verdade do Evangelho. Resultado: na falta da verdade, os católicos vão à busca de outros ideais: optam por seguir a vontade própria e se contaminam com doutrinas como o esoterismo, o agnosticismo, o protestantismo, o socialismo, o hedonismo, o utilitarismo, o niilismo etc.
Segundo, os católicos, em sua maioria não fizeram ainda uma profunda experiência pessoal com Jesus. Chamo experiência pessoal uma dedicação prática de seguir os Mandamentos de Deus, baseada numa profunda amizade com Cristo.[9] Estas duas causas, separadas e intercaladas entre si, constituem as principais razões para a dissonância entre a voz da Igreja e a vida do povo. È claro que há ainda alguns que, mesmo conhecendo a palavra da Igreja e/ou tendo feito uma experiência pessoal com Deus, acabam se decidindo por trilhar o caminho da “porta larga”, renunciando seguir o caminho de Cristo por medo, apego aos prazeres terrenos ou falta de boa vontade. Mas ao mesmo tempo muitos dos que estão na superfície da fé nela mergulhariam com afinco se a conhecessem e a experimentassem.
Sobretudo falta, concomitante com os aspectos já mencionados, exemplos vivos e atuais de santidade no meio da nossa sociedade. A santidade é sem dúvida, a melhor forma de fazer as pessoas seguir a Cristo. É o mais eficaz meio de evangelização. Cito aqui dois trechos de uma conferência proferida pelo Cardeal José Saraiva Martins:
“Os Santos observa o Papa (João Paulo II) "preservam a Igreja da mediocridade". A tentação e os convites à mediocridade nunca faltaram, nem mesmo nos nossos dias. Antes, num contexto de crescente indiferença religiosa, de uma certa desorientação de valores, mesmo em campo ético, e de invasão de tantos ídolos, os crentes podem ser levados, na sua vida de fé, a fáceis compromissos, a opções nem sempre em perfeita sintonia com o Evangelho; a ajoelhar-se, de certo modo, perante os novos ídolos, e a viver assim uma vida cristã medíocre. Contra um tal perigo da mediocridade, sempre ameaçador, o testemunho dos Santos é, sem dúvida, o antídoto mais eficaz.”
“Particularmente significativas são, a propósito, as palavras do Beato Cardeal Schuster, Arcebispo de Milão: "As pessoas, (...) diante da santidade, ainda crêem, ainda se ajoelham, ainda rezam. Se passa um Santo, seja vivo ou morto, todos lhe correm atrás. Foi assim com Don Orione, e assim com Dom Calábria: o demónio não teme os nossos campos de desporto, os nossos cinemas; teme a nossa santidade. Abençoo-vos. Sede santos" (Citado por Bernardo Citterio, em: I miei sette Cardinali, Centro Ambrosiano, 2002, pág. 61).” [10]
Façamos cada um de nós a parte que nos cabe para que todos os católicos possam cada vez mais viver coerentemente com o que a Igreja nos apresenta. E confiemos à infinita misericórdia de Nosso Senhor Jesus Cristo todas as almas dos pecadores do mundo, as quais o Senhor não hesitou em derramar seu Preciosíssimo Sangue para sua salvação eterna.


Paulo Oliveira

Referências bibliográficas:


[1] Http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=444
[2] Http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=447
[3] Cito aqui um trecho do belo Catecismo de São Pio X:
“174) Pode enganar-Se a Igreja nas coisas que nos propõe para crermos?
Não. Nas coisas que nos propõe para crer, a Igreja não pode enganar-Se, porque,
segundo a promessa de Jesus Cristo, é sempre assistida pelo Espírito Santo.
175) A Igreja Católica é então infalível?
Sim, a Igreja Católica é infalível. Por isso aqueles que rejeitam as suas definições,
perdem a fé, e fazem-se hereges.” Cf. também Catecismo da Igreja Católica, parágs. 553 e 881 e os textos do Concílio Vaticano I, que promulgou o dogma da infalibilidade papal (www.montfort.org.br/index.php?secao=documentos&subsecao=concilios&artigo=vaticano1&lang=bra).
[4] A propósito, a pesquisa usada nos diz que 44% dos católicos acreditam totalmente na reencarnação (http://datafolha.folha.uol.com.br/po/ver_po.php?session=446); cf. também Catecismo da Igreja Católica, parágrafo 1013.
[5] Nesse sentido, cf. Mt 5,14-16; Catecismo da Igreja Católica, parágrafs. 904 e 905.
[6] Cf. texto “As provas científicas das falhas da camisinha” (http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=FAMILIA&id=fam0002).
[7]Http://www.vatican.va/gpII/documents/homily-pro-eligendo-pontifice_20050418_po.html
[8] Lembremos aqui o recente fenômeno do “Código Da Vinci”, que cresceu graças ao desconhecimento das pessoas de fundamentais verdades históricas.
[9] Lembro aqui um recente trecho de um pronunciamento do Papa Bento XVI aos bispos do Brasil: “É necessário, portanto, encaminhar a atividade apostólica como uma verdadeira missão dentro do rebanho que constitui a Igreja Católica no Brasil, promovendo uma evangelização metódica e capilar em vista de uma adesão pessoal e comunitária a Cristo” (www.zenit.org/portuguese/visualizza.phtml?sid=107461)
[10]www.vatican.va/roman_curia/congregations/csaints/documents/rc_con_csaints_doc_20040301_martins-santita_po.html

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Testemunho de conversão de um grande assassino

Da experiência do perdão de Deus ao martírio


A história da conversão e da morte de “O Sapo” mostra a força transformadora da experiência do amor e do perdão de Deus.

Na lápide da sua sepultura, no cemitério da prisão das Ilhas Marias, estão gravadas estas palavras:

José Rodríguez, “O Sapo”. Famoso delinqüente, morreu cristãmente, convertido pelo Pe. Trampitas, seu grande amigo, quem pediu que o sepultassem ao seu lado.

O Sapo era um assassino confesso. Ninguém sabia quantas mortes carregava nas costas. Segundo as várias versões, o número oscilava entre 120 e 220. Em todas as prisões por onde passava era o chefão das gangues mais violentas. Por isso, era ao mesmo tempo odiado e temido.

Quando se encontrava na prisão das Ilhas Marias, morreu seu amigo, “o Chassi”, depois de ter confessado com o Pe. Trampitas e receber os sacramentos. O Pe. Trampitas foi um jesuíta que trabalhou como capelão durante 25 anos e se tornou um personagem famoso na história do presídio. Um dia, quando ele estava rezando junto ao túmulo do Chassi, veio também o Sapo para visitar a sepultura do amigo. O Padre conversou com ele dizendo-lhe que seu amigo estava com Deus, porque todos os seus pecados lhe tinham sido perdoados. Depois de um tempo de conversa, o Padre disse-lhe que Deus lhe oferecia seu perdão e seu amor também a ele. O Sapo, porém, respondeu-lhe não acreditar que Deus pudesse perdoar tantas maldades, tantos crimes e tantas mortes quantas ele tinha cometido: “Como Deus pode perdoar-me tudo o que fiz, sem pedir-me nada em troca?”. Trampinas explicou-lhe que o perdão de Deus é sempre maior que os nossos pecados. A única condição posta por Deus para perdoar-nos é a de abrir-se ao seu amor, arrepender-se dos pecados cometidos e prometer-lhe “nunca mais voltar a matar”. Depois de uma longa conversa, o Sapo, que dizia nunca ter-se ajoelhado diante de ninguém, confessou, de joelhos, seu pecados junto ao túmulo do amigo e prometeu a Deus nunca mais matar.

O Pe. Trampinas, para ajudar os penitentes a levarem uma vida sacramental, costumava pôr como penitência uma coroa de 6, 8 ou 12 comunhões, sendo cada comunhão uma estrela da coroa. Ao Sapo pôs-lhe como penitência uma coroa de 6 estrelas. Mas ele reclamou dizendo que era um grande pecador e pediu uma coroa com 12 estrelas. Durante os 11 dias seguintes foi à missa e comungou, sendo por isso objeto dos comentários e das gozações por parte dos outros presos. No dia em que deveria completar a coroa com a duodécima estrela, aconteceu o inesperado.

Os presos das outras gangues odiavam o Sapo com ódio mortal. Os que saíam diariamente para o trabalho com ele armaram-lhe uma cilada para matá-lo. Um deles ficou encarregado de dizer-lhe que devia ir a tal lugar determinado para consertar um motor. E o Sapo foi. A única explicação que eu encontro para o fato de um assassino tão experimentado ter caído nessa armadilha, é que depois de ter experimentado a misericórdia de Deus, tornara-se um homem novo, manso, misericordioso e puro de coração. Quando chegou ao lugar marcado, viu-se rodeado por um bando de homens da gangue adversária. Observando o código de honra não escrito, disseram-lhe: “Sapo, defende-te, porque chegou a tua hora”. Eles sabiam que alguns morreriam, mas ele morreria também. O Sapo, no entanto, não quis defender-se e respondeu-lhes: “Prometi a Deus que nunca mais voltaria matar”. Interpretando a resposta como um ardil para ganhar tempo, os seus inimigos voltaram a repetir que se defendesse porque ia morrer. Mas o Sapo continuou repetindo a mesma frase: “Prometi a Deus que nunca mais voltaria matar”. E repetindo-a, sem um único gesto de violência nem de defesa de sua parte, foi assassinado a golpes de picareta, enxada e pedras. Depois de ter feito a experiência de ser amado e perdoado por Deus, diante da opção: matar de novo ou ser morto, escolheu ser assassinado. Na verdade, não foi somente assassinado; foi martirizado. Foi um mártir da fé no amor e na misericórdia de Deus.

A amizade que uniu tão profundamente o Pe. Trampitas e o Sapo, durou só onze dias: desde o dia da confissão até o dia da morte. Mas foi uma amizade que venceu a morte. A estrela da última comunhão, que faltava na coroa do Sapo, foi completada na mesa do banquete do Reino. O Pe. Trampitas morreu em 1990 e, conforme tinha pedido, foi enterrado entre seus queridos amigos os presos...ao lado de “o Sapo”.

Fonte: livro "A parábola do Pai Misericordioso", Pe. Álvaro Barreiro, SJ.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Regras de Vida Cristã

Por Santo Afonso Maria de Ligório
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Este texto foi publicado por Santo Afonso em 1757, no final do seu “Breve tratado sobre necessidade da oração, sua eficácia e as condições com que deve ser feita”. Nós o apresentamos aqui como sugestão que, feitas as devidas adaptações, ainda continua válido para uma regra de vida cristã.
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I. De manhã, ao levantar, fazer os atos indicados na página seguinte. Todos os dias fazer meia hora de oração mental e pelos menos um quarto de hora de leitura de algum livro espiritual. Participar da Missa. Fazer a visita ao Santíssimo Sacramento e à Mãe de Deus. Rezar o rosário. À noite, fazer o exame de consciência, ato de arrependimento, os atos cristãos e rezar a Ladainha de Nossa Senhora.
II. Confessar-se e comungar pelo menos semanalmente e até mais vezes, se o Diretor Espiritual o Permitir (nota do Blog: na época da redação, a Sagrada Comunhão, por diversos motivos, era recebida com uma freqüência menor do que atualmente; hoje, recomenda a Igreja que os fiéis comunguem, se possível for, todos os dias[Catecismo da Igreja Católica § 1389]).
III. Escolher um bom confessor, instruído e piedoso; seguir suas orientações tanto no tocante aos atos de devoção, como nas questões importantes; não abandoná-lo sem motivo grave.
IV. Evitar a ociosidade, as más companhias, as conversas inconvenientes e, principalmente, as ocasiões de pecado, especialmente quando há perigo para a castidade.
V. Nas tentações, principalmente nas impuras, fazer logo Sinal da Cruz e invocar os nomes de Jesus e Maria, enquanto durar a tentação.
VI. Se cometer algum pecado, arrepender logo e resolver emendar-se. Se o pecado for grave, confessar-se o quanto antes.
VII. Sempre que possível ouvir as pregações; pertencer a alguma irmandade ou grupo, ali procurando apenas a salvação eterna.
VIII. Para honrar a Maria Santíssima, jejuar nos sábados e na vigília de suas festas, fazendo ao mesmo tempo alguma outra mortificação corporal conforme o conselho do diretor espiritual. Fazer a novena para as festas de Maria, do Natal, de Pentecostes e do próprio padroeiro.
Nas situações desagradáveis, doenças, perdas, perseguições, conformar-se com a vontade de Deus e ficar em paz dizendo, “Assim Deus quer, assim seja!”.
Todos os anos fazer os Exercicios Espirituais em alguma casa religiosa ou algum lugar retirado. Ou, pelo menos, fazê-lo em casa mesmo, dedicando-se o mais possível à oração, as leituras espirituais e ao silêncio. Do mesmo modo fazer um dia de Retiro cada mês, evitando as conversas e recebendo a Eucaristia.

Atos Cristãos para cada dia

De manhã, ao levantar-se, tendo feito o Sinal da Cruz, faça os seguintes atos de adoração, de amor, de agradecimento, de propósito e de súplica:
I. Meu Deus, eu vos adoro e vos amo com todo o meu ser.
II. Agradeço todos os vossos benefícios, especialmente o de meu terdes conservado nesta noite.
III. Eu vos ofereço as minhas ações e os sofrimentos deste dia, em união com as ações e os sofrimentos de Jesus e de Maria, com a intenção de ganhar todas as indulgências que puder.
IV. Proponho-me fugir de todos os pecados, especialmente de... (é bom fazer um propósito particular quanto ao defeito em que mais se cai). Nos contratempos quero conformar-me sempre à vossa vontade. Meu Jesus, guardai-me; Maria, protegei-me sob o vosso manto. Pai Eterno, ajudai-me por amor de Jesus e de Maria. Meu Anjo da Guarda, meus Santos padroeiros, acompanhai-me. Reze depois o Pai-Nosso, a Ave-Maria, o Credo, e Três Ave-marias em honra da pureza de Nossa Senhora.
Ao começar um trabalho, estudo, ou qualquer outra ocupação, diga: ”Senhor, eu vos ofereço este meu esforço”. Às refeições: “Meu Deus, seja tudo para a vossa glória. Abençoai-me para que não caia em nenhuma falta”. Depois das refeições: “Agradeço, Senhor, para que não caia em nenhuma falta”. Depois das refeições: “Agradeço, Senhor, o benefício que fizestes a quem vos ofendeu. Ao soar das horas: “Jesus, eu vos amo. “Não permitais que me separe de vós”. Nos contratempos: “Senhor, assim também eu quero”. Nas tentações repita freqüentemente o nome de Jesus e de Maria. Tendo cometido alguma falta: “Senhor, eu me arrependo porque ofendi a vós, bondade infinita. Não quero fazê-lo novamente”. Se houver pecado grave, confessar-se logo.
À noite, antes de se deitar, agradeça a Deus as graças recebidas: faça o exame de consciência, o ato de arrependimento e os atos do cristão.

Modo prático de fazer oração mental

(Nota do Blog: pode-se usar para meditação na oração mental textos de espiritualidade, como a Imitação de Cristo e, sobretudo, a Sagrada Escritura)


Como preparação, diga:
I. Meu Deus, Creio que estais aqui presente. Eu vos adoro com todo o meu ser.
II. Senhor, mereceria estar agora no inferno; arrependo-me de vos haver ofendido, perdoai-me.
III. Pai eterno, por amor de Jesus e de Maria, iluminai-me. Depois, recomende-se a Maria Santíssima com uma Ave-Maria, recomende-se a São José, ao Anjo da Guarda, ao Santo Padroeiro.
Agora leia a Meditação; vá interrompendo a leitura sempre que encontrar uma passagem que tenha um significado maior para você. Faça atos de humildade, de agradecimento e, principalmente, de arrependimento e de amor. Diga: “Senhor, fazei de mim o que quiserdes, ajudai-me a conhecer o que quereis de mim; quero fazer o que vos agrada. Ore muito, pedindo a Deus a perseverança, o amor, a luz, a força para fazer sempre a vontade divina, a graça de orar sempre.
Antes de terminar a oração, faça um propósito particular, de evitar alguma falha mais freqüente. Termine com um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Nunca deixe de recomendar a Deus as Almas do Purgatório e os pecadores.

Fonte: Livro "A Oração", S. Afonso de Ligório, p. 105-109

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Isabellas

Extraído da Revista Catolicismo (www.catolicismo.com.br)

O Brasil inteiro está chocado com a brutal e trágica morte da menina Isabella, mas incontáveis Isabellas são assassinadas diariamente em clínicas de aborto

Paulo Roberto Campos

A opinião pública encontra-se estarrecida com o monstruoso fato ocorrido no dia 29 de março último: uma menininha, de apenas cinco anos, jogada do 6º andar de um prédio; seu corpo ficou espatifado no solo.

Nestes últimos dias, jornais, revistas, rádios, TVs e sites estiveram abarrotados de reportagens sobre esse sinistro acontecimento na capital paulista. Realmente, todos qualificam tal crime como monstruoso, e todos se perguntam: Quem matou Isabella Nardoni? Quem praticou tamanha crueldade? Por que?

Tremenda insensatez – inexplicável incoerência

Nesse caso, seria clamoroso não denunciar uma atitude de flagrante incoerência da mídia e de incontáveis pessoas. Refiro-me àquelas que, com toda razão, estão chocadíssimas com o assassinato da menina, mas que não ficam chocadas com o não menos brutal assassinato de crianças ainda no ventre materno. É incompreensível que muitas pessoas, horrorizadas com a morte de Isabella, sejam favoráveis ao aborto, portanto à eliminação de pequenas e inocentes “Isabellas”, que nem sequer viram a luz do dia.

Quantas “Isabellas” são diariamente assassinadas do modo mais desumano que se possa imaginar! Extirpar uma vida humana será sempre gravíssimo crime, não importando a idade da vítima: aos 80, 50 ou cinco anos; ou alguns meses ou dias, até mesmo algumas horas.

Ah! se um dia jornais, revistas, rádios, TVs e sites estiverem repletos de comentários contra assassinatos de bebês indefesos no útero materno, seria um acontecimento memorável! Seria um evento importante para a restauração da civilização, neste mundo neobárbaro e neopagão em que vivemos.

Oxalá, proximamente, o Brasil inteiro — que se encontra horrorizado com o caso Isabella — viesse a se comover profundamente também com as incontáveis vítimas do aborto. Assim como se deseja a condenação dos responsáveis pela morte dessa criança, também se exija a condenação dos responsáveis pela matança de crianças ainda no ventre de suas mães. A condenação não só da genitora que se submete a um aborto, mas igualmente daqueles que colaboram na execução do ato, como médicos, enfermeiras, parentes, etc.

Ambos são crimes hediondos. Ambos devem ser lamentados profundamente, e não podem ficar impunes.

“Estão se queixando do cheiro de carne humana queimada”

Recente artigo de Carlos Heitor Cony (“Folha de S. Paulo”, 11-4-08), muito apropriadamente intitulado Uma história repugnante, relata a pesquisa realizada por dois jornalistas ingleses, Michel Litchfield e Susan Kentish, sobre a “indústria do aborto” em Londres. Eles investigaram o que se passava nas clínicas abortivas, após a legalização do aborto na Inglaterra (com o “Abortion Act”, de 1967), e gravavam as conversas com os médicos. Com base na pesquisa, escreveram a clássica obra “Babies for Burning” (Bebês para queimar), editado pela Serpentine Press, de Londres.

Aqueles que desejarem adquirir tal obra em português, a encontrarão publicada pelas Edições Paulinas (São Paulo, 1985), com o título: Bebês para queimar: a indústria do aborto na Inglaterra.

O referido artigo pode ser lido na íntegra em:

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1104200842.htm. Aqui transcrevo apenas alguns trechos:

“Os autores souberam, por meio de informações esparsas, que a indústria do aborto, como qualquer indústria moderna, tinha uma linha de subprodutos: a venda de fetos humanos para as fábricas de cosméticos. [...]

Contam os jornalistas: Quando nos encontramos em seu consultório, o ginecologista pediu à sua secretária que saísse da sala. Sentou-se ao lado de Litchfield, o que melhorou a gravação, pois o microfone estava dentro da sua maleta. O médico mostrou uma carta:

— Este é um aviso do Ministério da Saúde – disse, com cara de enfado. As autoridades obrigam a incineração dos fetos... não devemos vendê-los para nada... nem mesmo para a pesquisa científica... Este é o problema....

— Mas eu sei que o senhor vende fetos para uma fábrica de cosméticos e... e estou interessado em fazer uma oferta... também quero comprá-los para a minha indústria...

— Eu quero colaborar com o senhor, mas há problemas... Temos de observar a lei... As pessoas que moram nas vizinhanças estão se queixando do cheiro de carne humana queimada que sai do nosso incinerador. Dizem que cheira como um campo de extermínio nazista durante a guerra.

E continuou: Oficialmente, não sei o que se passa com os fetos. Eles são preparados para serem incinerados, e depois desaparecem. Não sei o que acontece com eles. Desaparecem. É tudo.

— Por quanto o senhor está vendendo?

— Bem, tenho bebês muito grandes. É uma pena jogá-los no incinerador. Há uso melhor para eles. Fazemos muitos abortos tardios, somos especialistas nisso. Faço abortos que outros médicos não fazem. Fetos de sete meses. A lei estipula que o aborto pode ser feito quando o feto tem até 28 semanas. É o limite legal. Se a mãe está pronta para correr o risco, eu estou pronto para fazer a curetagem [método utilizado para desmembrar um nascituro]. Muitos dos bebês que tiro já estão totalmente formados, e vivem um pouco antes de serem mortos. Houve uma manhã em que havia quatro deles, um ao lado do outro, chorando como desesperados. Era uma pena jogá-los no incinerador, porque tinham muita gordura que poderia ser comercializada. Se tivessem sido colocados numa incubadeira, poderiam sobreviver, mas isso aqui não é berçário. Não sou uma pessoa cruel, mas realista. Sou pago para livrar uma mulher de um bebê indesejado, e não estaria desempenhando meu ofício se deixasse um bebê viver. E eles vivem, apesar disso. Tenho tido problemas com as enfermeiras, algumas desmaiam nos primeiros dias”.

"Quem derrama o sangue humano será castigado”

Realmente repugnante! Mas é a realidade de inúmeras clínicas abortivas: nascituros são espatifados, extirpados do ventre materno, incinerados, ou “comercializados”, ou jogados na lata de lixo.

Isabella também foi morta, mas não incinerada ou jogada numa lata de lixo. Felizmente, ela era batizada e teve um enterro digno, graça de que são privados os bebês assassinados por mãos abortistas.

Encerro este artigo com uma passagem da Sagrada Escritura, que se aplica aos assassinos de todos os nascituros, de todas as “Isabellas”: “Quem derrama o sangue humano será castigado pela efusão de seu próprio sangue” (Gen. 9, 6).


Link: http://www.catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=A1D00942-3048-313C-2EC550EEE200A8D8&mes=Maio2008

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Para quem desejar saber mais, selecionamos alguns links sobre aborto:

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Mais de R$ 1 milhão dos cofres públicos patrocinam a Parada Gay de São Paulo

Extraído do site Portal Anjo - www.portalanjo.com

17.05.2008 - Mais uma vez a Parada Gay de São Paulo, a ser realizada no dia 25, conta com patrocínios majoritariamente dos cofres públicos. Apesar de negociações com uma fabricante de refrigerante, uma empresa de crédito e uma companhia aérea, o reforço financeiro vem do incremento em 20% da cota do Ministério do Turismo e em 30% do investimento em infra-estrutura de responsabilidade da Prefeitura. Neste ano, o governo federal reserva R$ 300 mil, ante R$ 250 mil de 2007, e a Prefeitura desembolsa R$ 450 mil, ante R$ 350 mil da edição passada.

O evento vai ter orçamento em torno de R$ 1,070 milhão, já acrescentados os investimentos da Caixa Econômica Federal (R$ 120 mil) e Petrobrás (R$ 200 mil). As empresas públicas reservam os mesmos valores dos recursos destinados à Parada de 2007, quando juntas às esferas de poder municipal e federal aplicaram R$ 920 mil. Por meio da captação da Fun Prime - empresa de organização de eventos -, a Parada recebe também apoio de um fabricante de calçados, uma empresa de cruzeiros e da Federação do Comércio do Estado de São Paulo.

O diretor da Fun Prime, André Guimarães, argumenta que a captação tardia de recursos impossibilitou o fechamento de contratos com grandes empresas privadas. “Infelizmente, o trabalho começou depois do carnaval e deveria ter ocorrido logo após a Parada”, explica. Ele diz que parcerias deixaram de ser firmadas porque as empresas já estão com verbas comprometidas. Segundo Guimarães, estão confirmadas presenças de executivos de multinacionais para observar a Parada e estreitar relacionamentos.

Apesar do atraso na captação, o vice-presidente da Associação da Parada do Orgulho GLBT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transexuais e Travestis), Murilo Sarno, diz que há resistência de “algumas empresas” em associar marcas ao segmento. “Essa é uma mentalidade brasileira, que vai mudar gradativamente. Na Europa, várias companhias privadas entendem como positivo o trabalho com o público gay.”

Atenta ao mercado, a Caixa participa da Parada pela segunda vez. “A Caixa vai ter estandes para vender produtos e vai apresentar a marca nos trios”, explica o coordenador de Marketing, Augusto Ermétio Dias Júnior. E são os negócios também que justificam os recursos federais. “A Parada é um evento que gera alta taxa de ocupação hoteleira e tem visibilidade internacional. É um investimento grande e importante”, diz o secretário nacional de Políticas de Turismo, Airton Pereira.

Para os visitantes voltarem, o chefe da Coordenadoria dos Assuntos da Diversidade Sexual (Cads), Cássio Rodrigo, diz que a Prefeitura vai garantir toda a infra-estrutura: três hospitais de campanha, bolsões de segurança, telecentro para registro de BOs, gradeamento. “Queremos que o público se sinta seguro e volte, para, assim, consolidarmos a Parada como a maior manifestação GLBT do mundo.”

Fonte: O Estado de São Paulo

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Nota do Portal Anjo

Diz na Sagrada Escritura: (leia e reflita)

"Por isso, Deus os entregou aos desejos dos seus corações, à imundície, de modo que desonraram entre si os próprios corpos.
Trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura em vez do Criador, que é bendito pelos séculos. Amém!
Por isso, Deus os entregou a paixões vergonhosas: as suas mulheres mudaram as relações naturais em relações contra a natureza.
Do mesmo modo também os homens, deixando o uso natural da mulher, arderam em desejos uns para com os outros, cometendo homens com homens a torpeza, e recebendo em seus corpos a paga devida ao seu desvario.
Como não se preocupassem em adquirir o conhecimento de Deus, Deus entregou-os aos sentimentos depravados, e daí o seu procedimento indigno.
São repletos de toda espécie de malícia, perversidade, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade.
São difamadores, caluniadores, inimigos de Deus, insolentes, soberbos, altivos, inventores de maldades, rebeldes contra os pais.
São insensatos, desleais, sem coração, sem misericórdia.
Apesar de conhecerem o justo decreto de Deus que considera dignos de morte aqueles que fazem tais coisas, não somente as praticam, como também aplaudem os que as cometem". (RM 1, 24 - 32)

Fonte:www.portalanjo.com/portal_artigos/inicio.php?secao=materia&id=4606

quinta-feira, 15 de maio de 2008

O Homossexualismo segundo o Catecismo da Igreja Católica

CASTIDADE E HOMOSSEXUALIDADE

2357 A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual, exclusiva ou predominante, por pessoas do mesmo sexo. A homossexualidade se reveste de formas muito variáveis ao longo dos séculos e das culturas. Sua gênese psíquica continua amplamente inexplicada. Apoiando-se na Sagrada Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou que "os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados". São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser aprovados.

2358 Um número não negligenciável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente enraizadas. Esta inclinação objetivamente desordenada constitui, para a maioria, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar a vontade de Deus em sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição.

2359 As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente, da perfeição cristã.

Para saber mais sobre o assunto, clique nos links abaixo:

Bíblia e Homossexualismo
http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=ESTEVAO&id=deb0042


A Psicologia Subjacente das Tendências Homossexuais
http://www.cleofas.com.br/virtual/texto.php?doc=ENTREVISTA&id=ent0019

A Igreja e o Homossexualismo
http://www.veritatis.com.br/article/1580

Angustiado, leitor com tendência homossexual pede ajuda
http://www.veritatis.com.br/article/4979

Católico com tendência homossexual pede auxílio
http://www.veritatis.com.br/article/4918

terça-feira, 13 de maio de 2008

Confiança em Nossa Senhora

Comovente história que testemunha como é grande a ação providencial e amorosa de Nossa Senhora. Que possa tal testemunho inundar-nos de profunda confiança em Maria Santíssima - que é chamada de "Onipotência Suplicante"-,e tudo pode diante de Deus em nosso favor.




Nossa Senhora não o abandonou

Um Bispo da Escócia perdeu-se, certo dia, na floresta. Depois de andar muito tempo sobreveio-lhe a noite. Uma luzinha guiou-o a uma casa pobre, habitada por gente piedosa.
Receberam o hóspede, sem saber quem era, pois o Bispo estava envolvido em grande manto. Esse também não sabia se os habitantes desse lar eram Católicos ou protestantes.
O Senhor Bispo notou que reinava tristeza em casa. Perguntou o que havia. Disse-lhe a dona da casa que o pai, já muito idoso, estava gravemente doente, e o pior era que não queria se convencer de que morreria. Por isso não se preparava para receber a morte.
“Posso vê-lo?” Disse o Bispo.
“De boa vontade,” tornou a senhora. E introduziu o ilustre visitante no quarto do enfermo.
Depois de conversar amigavelmente durante minutos, procurou levá-lo ao pensamento da morte. Mas o bom homem pareceu recuperar todo o vigor e, elevando o corpo da cama exclamou:
“Não, não morrerei!”
“Mas, meu amigo, lembre-se de que todos devemos morrer; e sua moléstia e sua idade...”
“Eu lhe digo que não morrerei. É impossível!” E por mais que o senhor Bispo procurasse persuadi-lo, sempre recebia como resposta: “Não morrerei!”
“Mas, afinal, falou o Bispo, pode dizer-me por que razão não pretende morrer?” A essa pergunta o moribundo pareceu enternecido e, lançando um olhar a seu interlocutor, indagou em tom profundamente comovido:
“O senhor é Católico?”
“Sou,” respondeu o outro.
“Neste caso,” volveu o doente, “posso dizer-lhe por que não morrerei... Desde a minha primeira comunhão nunca deixei de pedir diariamente à Nossa Senhora a graça de não morrer sem ter um Sacerdote à minha cabeceira na hora da morte. Pensa que minha Mãe do Céu poderá deixar de me atender? É impossível!...”
“Então, meu filho,” disse o Bispo, “foi atendido. Quem está a falar-lhe é mais que um Padre. É seu Bispo. A Santíssima Virgem trouxe-me através destas florestas para assisti-lo nos últimos momentos.” E abrindo o manto, fez brilhar os olhos do moribundo a cruz pastoral. Então o bom homem, em transporte de alegria, exclamou:
“Ó Maria! Ó boa Mãe, eu vos agradeço.” E o senhor Bispo confessou-o.
“Agora, sim, creio que vou morrer!”
Minutos depois da absolvição, rodeado de toda família, morreu como um santo.

*Texto retirado da internet, autor desconhecido; na foto, quadro de Nossa Senhora da Confiança

Oração

Lembrai-vos

Lembrai-vos, ó Piíssima Virgem Maria, de que nunca se ouviu dizer, que algum daqueles que tenha recorrido à vossa clemência, implorado a vossa assistência, reclamado o vosso socorro, fosse por vós abandonado.
Animado eu, pois, com igual confiança, a vós, Virgem das Virgens, como Mãe recorro, de vós me valho e gemendo sob o peso de meus pecados, me prosto a vossos pés.
Não desprezeis as minhas súplicas, ó mãe do Verbo de Deus humanado, mas dignai-vos de as ouvir propícia e de me alcançar o que vos rogo.
Amém.


segunda-feira, 12 de maio de 2008

Nietzsche

Por José Lino Currás Nieto

Em síntese: Filósofo cuja influência é marcante em nossos dias, Friedrich Nietzsche é conhecido por sua crítica à moral e à religião, por sua furiosa rebeldia contra os usos estabelecidos, e por sua exaltação do homem que quer valer-se por si mesmo. Aqui oferecemos um breve resumo de sua vida e das suas principais obras e uma curta análise da sua crítica à religião.

NASCIMENTO E PRIMEIROS ESTUDOS

Friedrich Wilhelm Nietzsche nasce em 15 de outubro de 1844 em Rõcken, lugarejo da Saxônia perto de Leipzig. É importante assinalar desde já a tradição eclesiástica dos seus antepassados: não somente o seu pai foi pastor luterano, mas também os seus dois avôs, vários tios e alguns dos seus bisavós.
Quando o pai de Nietzsche morreu, a mãe, a irmã mais velha, Elisabeth, e ele, criança de poucos anos, deixaram Rõcken e mudaram-se para Naumburg. Não longe dessa cidade, na localidade de Pforta, o rapaz conseguiu uma bolsa para fazer os estudos de segundo grau. Na rígida escola daquela cidade, adquiriu os fundamentos da sua formação científica, a base do seu saber humanista e o domínio do latim e do grego. Apaixonou-se pela música, aprendeu a tocar piano e aprimorou a sua grande sensibilidade musical.
Mas ali despertou também o seu espírito rebelde, contestador dos valores recebidos, atitude que não abandonaria nunca. Criticava os métodos pedagógicos porque – pensava – não contribuíam para formar personalidades individuais, mas apenas homens-massa.
Sobretudo, porém, foi nessa época que nasceu nele a repulsa pela religião. Como veremos, o único cristianismo que Nietzsche conheceu foi o luteranismo do norte da Alemanha, ou seja, um cristianismo fortemente protestante nos seus postulados dogmáticos fundamentais: interpretação individual da Sagrada Escritura, desconfiança da razão e forte apelo aos aspectos emocionais como garantia da (que seria a única atitude humana capaz de ocasionar a salvação por parte de Deus), desconfiança radical da liberdade humana e conseqüente descrédito de todos os atos humanos, etc.
Na época do Nietzsche estudante, estava em voga no seio do luteranismo alemão a corrente chamada “protestantismo liberal” que, sob a influência da crítica iluminista do século anterior, chegava na prática a negar a divindade de Cristo e a transformar a religião cristã num conjunto de “bons sentimentos”. Essa atitude religiosa levou muitos pastores a perder a fé ou, pelo menos, a perder de vista a noção de um Deus pessoal. Nos meios populares, menos cultos, vigorava ainda o pietismo tradicional que, sem atacar as verdades básicas – a divindade de Cristo, a Redenção, a Santíssima Trindade –, identificava a fé com o sentimentalismo. Seja como for, o luteranismo em qualquer das suas vertentes será firmemente rejeitado por Nietzsche desde o início e com todas as suas forças.

ESTUDOS EM LEIPZEIG E ENCONTRO COM A FILOSOFIA

Numa confissão biográfica publicada no Ecce Homo, Nietzsche declara que nunca dedicou atenção aos problemas de Deus, da imortalidade da alma, etc. Diz:
“Deus, a imortalidade da alma, a salvação, o além, são puros conceitos aos quais eu não dediquei atenção nem tempo, nem sequer na minha mais tenra juventude, talvez por não ser suficientemente infantil para fazê-lo. Não considerava o ateísmo como um resultado, e menos ainda como um fato; para mim, o ateísmo é uma coisa instintiva. Sou demasiado curioso <...>, demasiado orgulhoso para contentar-me com uma resposta simplória. Deus é uma resposta simplória <...> para nós, os pensadores”(1).
Estas palavras surpreendem se recordarmos o ambiente permeado de religiosidade que rodeou os seus anos de infância e adolescência e o desejo que manifestou inicialmente de ser pastor. Parece que o nosso autor, para dizer o mínimo, interpreta de forma torcida o seu passado. Seja como for, o texto define o seu caráter, não já ateu, mas antiteísta (Nietzsche jamais tenta demonstrar que Deus não existe; quer que não exista, obriga-se a prescindir dEle forçando muitas expressões). Em todo o caso, se a sua recusa de Deus e do cristianismo se consuma na época dos estudos universitários, pode-se duvidar de que alguma vez tenha tido uma autêntica fé em Deus.
Concluídos os estudos em Pforta, abandona a escola para ingressar na Universidade. Conduzido pelo seu amigo Deussen, futuro filósofo e orientalista, dirige-se a Bonn e, em 1864, começa os estudos de Filologia clássica e de Teologia (esta última, mais por desejo da mãe, que desejava que continuasse a tradição eclesiástica familiar, do que por inclinação pessoal). No fim do primeiro semestre, abandona a Teologia e tem por isso o primeiro grande enfrentamento com a mãe.
Em 1865, muda-se para a Universidade de Leipzig, seguindo o professor e amigo Ritschl, nomeado catedrático desse instituto. Sob a sua orientação, entrega-se ao estudo da Antigüidade clássica através da Filologia. Nesse período, teve de incorporar-se ao exército quando rebentou a guerra entre a Prússia e a Áustria (1866), mas sofreu uma queda de cavalo durante a instrução militar e teve de ficar quase imobilizado por seis meses. Só em 1868 pôde prosseguir os estudos.
A dedicação à Filologia não o satisfazia plenamente. A inclinação pela Filosofia nasceu nele como vocação própria por ocasião da descoberta de Schopenhauer, quando num sebo de Leipzig comprou a obra O mundo como vontade e como representação. Leu com tal ardor o filósofo pessimista que este chegou a ser para o jovem estudante o mestre que o conduziu pelos caminhos de um radicalismo negativista e ateu, embora mais tarde viesse a separar-se dele e a criticar duramente muitos dos seus pontos de vista. Juntamente com Schopenhauer, também a obra de Lange, História do materialismo, influiu muito nele; e, sobretudo, as obras de Kant, que o convenceu de que a constituição íntima das coisas é uma ilusão e de que o tempo da metafísica, como conhecimento de uma verdade supra-sensível ou absoluta, teria passado.


PROFESSOR EM BASILÉIA. A AMIZADE COM WAGNER

Aos vinte e quatro anos de idade, e sem ter obtido o título de Doutor, foi nomeado professor de Filologia na Universidade de Basiléia, em boa parte devido à ajuda do amigo e professor Ritschl. A Faculdade de Filosofia de Leipzig concedeu-lhe o título de Doutor com base nos trabalhos já publicados, e Nietzsche começou a dar aulas e orientar alunos, apesar de se sentir profundamente insatisfeito naquele ambiente intelectual. Desejava mudar de cátedra e não o conseguia, e viu-se obrigado a converter a Filologia em meio e instrumento para as suas reflexões filosóficas. Os seus cursos nunca chegaram a ter grande aceitação: teve no máximo uma dúzia de alunos, e por vezes apenas dois ouvintes. Em breve, acabou por enxergar claramente que a sua obra pessoal não estava na Filologia, e menos ainda no ensino.
Durante os dez anos que passou em Basiléia, as relações com os colegas não foram demasiado estreitas, em boa parte devido ao seu temperamento solitário e polêmico. Apesar disso, cultivou algumas amizades duradouras com sábios e artistas, principalmente com o teólogo Friedrich Overbeck (1837-1905), professor de História da Igreja em Basiléia, personalidade estranha e complicada, com quem conviveu na mesma casa durante cinco anos e de quem foi amigo e confidente até o fim da vida.
Também foi muito amigo de Richard Wagner (1813-1883), que tinha conhecido em Leipzig em 1868 e por quem logo se sentira atraído. Quando chegou a Basiléia, Wagner vivia retirado na sua casa de campo de Tribschen, junto do lago de Lucerna. Nietzsche ia visitá-lo quase todos os fins de semana, mantendo com o compositor longas conversas sobre filosofia e arte. Ambos coincidiam no desejo de um novo ideal artístico e, sobretudo, de uma total renovação da cultura e da concepção da vida. Nos primeiros tempos dessa amizade, Wagner era rebelde e radical, seguia o panteísmo ateu de Schopenhauer e mantinha contacto com as tendências revolucionárias da esquerda hegeliana, principalmente com Feuerbach(2).
Mas os atritos com Wagner não demoraram. Quando o compositor, já famoso em toda a Alemanha, se transferiu para Bayreuth e inaugurou os festivais musicais, Nietzsche assistiu à audição do Parsifal, mas não a pôde suportar. Wagner, recém-convertido, fazia nessa obra a apologia da fé cristã, abandonando o radicalismo pagão da sua primeira época e aproximando-se do catolicismo. O pensador nunca lhe perdoou que se tivesse “prostrado diante da cruz cristã”, trocando o conceito pagão-clássico da vida pelo ideal de uma cultura cristã-germânica. Assim Wagner, que fora para ele o ideal do super-homem da nova cultura, transformou-se, após a conversão, num “comediante nato”, o representante da decadência alemã. E com a mesma paixão com que antes o elogiava, passou a combatê-lo.


ESCRITOS INICIAIS E CRISES DE SAÚDE

Os escritos iniciais de Nietzsche procedem da sua atividade docente. O primeiro, A origem da tragédia e o espírito da música (1871), foi concebido como uma grande obra sobre a estética dos clássicos gregos, abordando uma multiplicidade de aspectos. Trata-se de um livro inacabado, mas que contém já o esboço de muitas das idéias que desenvolverá posteriormente. Alguns filólogos famosos o atacaram duramente.
Do mesmo período é Considerações intempestivas ou inatuais, publicada por partes entre 1873 e 1876. Também é uma obra incompleta acerca de temas esparsos e polêmicos. Compreende um ataque ao teólogo contemporâneo David Strauss, bem como elogios à última obra de Schopenhauer, A antiga e a nova fé, e a Wagner, então ainda amigo dedicado.
No fim do período de Basiléia, escreve Humano, demasiado humano (1878), qualificado por ele mesmo como “um livro para espíritos livres” e dedicado à memória de Voltaire. É, com efeito, uma obra tipicamente nietzscheana, escrita em fragmentos, pensamentos ou aforismos que têm alguma relação entre si e recebem um título comum. As figuras de referência não são já Schopenhauer e Wagner, mas Descartes e Voltaire. O autor tenta libertar-se de todos os dogmatismos e de todos os preconceitos, e demonstra um profundo desprezo pela metafísica.
Em 1879, é obrigado a renunciar à cátedra de Basiléia por doença. Não se tratava de uma enfermidade nova, mas do agravamento dos sintomas que já experimentava nos tempos dos seus estudos em Pforta: reumatismo e fortes dores de cabeça com crises de cegueira. Pode-se dizer que Nietzsche é um doente crônico desde 1873, porque na sua correspondência queixa-se freqüentemente de vômitos, dores de cabeça e de estômago, depressões e náuseas que o obrigam a ficar de cama. Conta ter sofrido cento e oitenta crises graves só em 1879, o que o levou à beira do desespero.


A VIDA ERRANTE PELA EUROPA. NOVOS ESCRITOS

Ao demitir-se da Universidade na qualidade de catedrático, passa a receber da cidade de Basiléia uma pensão anual que será a base do seu sustento econômico nos anos vindouros e lhe permitirá dedicar-se unicamente a refletir e escrever. Começa então uma vida errante de uma cidade para outra, à procura de um clima benéfico para a sua saúde delicada. A partir desse momento, dividirá o seu tempo entre a riviera italiana ou francesa no inverno, Veneza na primavera e as montanhas da Suíça no verão, sobretudo a região do Alto Engadin, e curtas estadias com a família, em Naumburg.
Em Gênova termina Aurora (1881), amontoado de 574 aforismos sobre temas díspares, ligados por um fundo comum: a sua revolta contra a moral e o cristianismo que sustenta essa moral.
No verão do mesmo ano, caminhando à beira de um lago suíço, experimenta o que considera a “grande revelação”: a inspiração do “Zaratustra” e a idéia do “eterno retorno”, motivos dos livros posteriores. Em 1882, publica A gaia ciência, como continuação de Aurora, também em forma de aforismos, com um fundo radical e destrutivo de todos os valores vigentes. Nesta obra iniciam-se os temas da “morte de Deus” e do eterno retorno, que desenvolverá mais em Assim falou Zaratustra.
Prosseguindo nessa vida solitária, errante e doente, em abril de 1882 conhece Lou Andreas Salomé em Roma. Lou Salomé era uma jovem judia russa, ex-amante do poeta Rilke, atéia, discípula apaixonada de Freud e autora de várias obras. A sintonia entre ambos entusiasma Nietzsche, que, sem pensar muito, a pede em casamento. Surpreendida, Lou recusa amavelmente. Seguem-se diversos encontros com ela e com o amigo comum, Paul Rée, ao longo de viagens pela Suíça e Alemanha, e um novo pedido de casamento. A jovem russa recusa de novo (acabará por casar-se com Paul Rée), e separa-se definitivamente de Nietzsche em Leipzig. Depois dessa ruptura, Nietzsche tem fortes períodos de depressão e de desejos suicidas. São desse tempo alguns breves escritos fortemente antifeministas.
A primeira grande obra deste último período é Assim falou Zaratustra, que se vale do nome e da figura do profeta persa. Consta de quatro partes, escritas ao longo dos anos 1883 e 1885 entre a Itália e a Suíça. Trata-se de uma obra enigmática, composta de uma série de discursos do “profeta” acerca de temas muito variados, justapostos em confusa desordem e invariavelmente terminados com a fórmula “assim falou Zaratustra”. Nietzsche põe na boca de Zaratustra a proclamação da “morte de Deus”, do “eterno retorno de todas as coisas” e da aparição do super-homem, com a destruição de todos os valores sociais e morais vigentes até então.
Ninguém põe em dúvida a originalidade e a força poética desta obra, ou a energia expressiva de muitos dos seus pensamentos. Mas também é inegável que estamos diante de um Zaratustra bufão e histriônico, que delata o desequilíbrio mental do autor. Nietzsche exaltou este livro como uma obra-cume da literatura universal, chamada a substituir a Bíblia; em 1884, escrevia por exemplo a um amigo:
“Com este Zaratustra, acredito ter levado à perfeição o idioma alemão. Depois de Lutero e de Goethe, era preciso dar um terceiro passo”(3).
Quanto ao fundo filosófico, a obra segue a mesma linha de pensamento dos trabalhos anteriores, embora cada vez mais radical e explícita.
Nos anos seguintes, Nietzsche procura oferecer a sua filosofia ao mundo, pois considerava o Zaratustra apenas como “o vestíbulo” das suas idéias. No inverno de 1886, conclui em Nice Para além do bem e do mal. Prelúdio de uma filosofia do porvir, uma obra sombria, hipercrítica, pensada como um segundo volume para o Humano, demasiado humano. Nela prossegue com a sua crítica da religião, da filosofia, da política e, sobretudo, da moral.
No ano seguinte, 1887, conclui A genealogia da moral. Um escrito polêmico, que compreende três breves dissertações nas quais desenvolve a teoria, iniciada na obra anterior, da “moral dos escravos” e da “moral dos senhores”.
À medida que passam os anos, a sua paixão crítica torna-se mais violenta. Escreve e lucubra sem cessar, febrilmente, antecipando já o fim da sua vida lúcida. Em 1888, escreve O caso Wagner, O ocaso dos ídolos, Nietzsche contra Wagner e, principalmente, O Anticristo, ensaio de uma crítica do cristianismo, obra panfletária, para concluir com o Ecce Homo, um relato autobiográfico e confissão ao contrário, ou seja, uma defesa e exaltação de si próprio.
Os meses do outono de 1888 são também os últimos da sua vida consciente. Vivendo em Turim, esgotado e com crises nervosas, decide redigir uma suposta obra definitiva em quatro volumes, ordenando as anotações que vinha fazendo desde 1885. Se nunca fora capaz de escrever uma obra sistemática, menos ainda agora, em pleno período de prostração física e mental. Apenas deixou uma volumosa coleção de 1066 aforismos que intitulou A vontade de poder. Ensaio de uma transmutação de todos os valores, que seria publicada depois da sua morte.
A vida consciente de Nietzsche termina em 1889, após claros sintomas de desvario mental: esquece o seu domicílio, redige curtos bilhetes assinados como “Dionisos” ou “O Crucificado”, e a sua personalidade esfacela-se. No dia 3 de janeiro de 1889, cai sem sentidos numa rua de Turim; é trasladado semi-inconsciente para Basiléia e, na clínica psiquiátrica da Universidade, diagnosticam-lhe uma “paralisia mental progressiva” (sic), causa de loucura. Passa uns tempos na casa da mãe, em Naumburg, e quando ela morre, em 1897, é levado para Weimar, para perto da irmã. Morre a 25 de agosto de 1900 sem ter recuperado a razão, e é sepultado em Rõcken, a cidade onde nasceu.


A CRÍTICA À RELIGIÃO

A violenta crítica de Nietzsche à religião procede das suas leituras e reflexões sobre a situação cultural da Europa que ele conheceu, e, fundamentalmente – embora ele mesmo não o reconheça –, das suas raízes luteranas. Muitos autores assinalam que é precisamente a fúria dos seus ataques o que revela um autêntico pânico diante do que ele sabe ser realidade, mas que se recusa a priori a admitir(4).
Em A genealogia da moral(5), sugere que a idéia de Deus teria sido originada pelo medo: o medo primitivo dos antepassados e do seu poder teria levado gradualmente à transfiguração desses antepassados em deuses. Porém, o que verdadeiramente não tolera não é um deus qualquer, mas a noção do Deus cristão:
“Um Deus onisciente e onipotente que não se empenha em que as suas intenções sejam compreendidas pelas suas criaturas – poderá por acaso ser um Deus de bondade? Um Deus que, durante milhares de anos, tem permitido que continuem à solta inumeráveis dúvidas e escrúpulos, como se não tivessem importância para a salvação da humanidade, e que, no entanto, anuncia as mais terríveis conseqüências para todo aquele que interprete mal a sua verdade – não seria um Deus cruel?”(6).
Este texto, ao qual seria fácil acrescentar muitos outros do mesmo teor, deixa à mostra a raiz religiosa protestante de Nietzsche. Prescindindo do fato de que Deus sempre dá aos homens os meios de conhecerem a verdade, a sua alusão a “terríveis conseqüências” é tudo, menos católica.
Nietzsche não conheceu o conteúdo pleno da Revelação tal como é transmitida pela Igreja Católica, e, pelos seus escritos, fica claro que o seu estudo das religiões foi muito superficial. A severidade luterana, a sua desconfiança da liberdade, o temor servil de um Deus que tanto pode salvar como condenar, sempre arbitrariamente, subjaz com força nessas afirmações indignadas. Aqui não há o menor sinal da frutuosa interligação entre a fé e a razão que João Paulo II pôs de relevo com tanta profundidade e oportunidade na Encíclica Fides et ratio (7); aqui o homem lida com um Deus que não é considerado Pai, um Deus em quem não se confia, um Deus temido, não amado. Ora, não são poucos os sofrimentos que derivam, para Nietzsche como para qualquer homem, de uma noção equivocada de Deus.


A MORTE DE DEUS

Mas a principal objeção do pensador contra Deus é que seria contrário à vida como afirmação de si própria, como vontade de poder. Essa é a razão mais profunda, a verdadeira causa: para o homem poder afirmar a sua vida em todo o seu poder e liberdade, para ser capaz de elaborar valores e de vivê-los, é, segundo Nietzsche, absolutamente necessário suprimir Deus do horizonte, de forma a garantir que não mais influa nessa vida que é absolutamente nossa.
Para que a vida seja nossa, Deus não pode agir. Por isso, trata-se não apenas de esquecê-lo, mas de aniquilá-lo, de matá-lo. Já em A gaia ciência o escritor fala dos horizontes abertos pela notícia:
“Deus está morto; os nossos corações transbordam de gratidão, de admiração, de pressentimento e de expectativa. O horizonte aparece, finalmente, mais uma vez aberto, mesmo que tenhamos de admitir que não é brilhante; os nossos navios podem, por fim, sair para o mar, enfrentando qualquer perigo; todo o risco está agora ao alcance daquele que for prudente; o mar, o nosso mar, está novamente aberto diante de nós, e talvez nunca tenha existido um mar aberto dessa natureza” (8).
A notícia de que “Deus está morto” significa para Nietzsche, sem dúvida, que a vida está desprovida de um sentido claramente determinado. Daí a sua satisfação: podemos inventar os nossos próprios valores, podemos exercer ao máximo a vontade de poder, estamos a sós com o nosso risco e a nossa liberdade; somos, finalmente, homens.
Os que acreditam em Deus desprezam a vida, são decadentes e blasfemos da terra:
“Aconselho-vos, meus irmãos, a manter-vos fiéis à terra e a não acreditar naqueles que vos falam em esperanças para além da terra. Esses homens são envenenadores, quer o saibam, quer não”(9).
A afirmação de que Deus “morreu”, de que “foi assassinado” pelos homens, traz como conseqüência o desabamento de todos os valores nos quais a Europa se tinha baseado até então, e o pensador tem consciência disso. Zaratustra-Nietzsche anuncia uma revolução como jamais houve na História, uma terrível convulsão nos espíritos que abrirá passagem a uma nova ordem no mundo, comandada pelo fim das religiões e especialmente do cristianismo, criador de escravos e daquilo que ele chama “a moral do rebanho” (satisfeita, tranqüila e saciada na sua mediocridade). A morte de Deus, embora provoque esse apocalipse total, anuncia também o advento dos homens superiores, criadores eles mesmos dos seus valores, simbolizados na figura do super-homem.
Como já dissemos, é inútil tentar encontrar uma sistematização nestes pensamentos; até certo ponto, é possível falar de um fio que os une, mas apenas fragmentariamente, inserido aqui e ali nas suas obras. Esse fio é precisamente, mais do que o ateísmo, o antiteísmo de Nietzsche, radical e indiscutido desde os anos da Universidade: crer em Deus significa permitir que Outro me guie, me diga o que devo fazer, dite as leis da minha vida, marque o rumo dos meus passos. O nosso pensador dirá que isso me anula como pessoa, que me impede de viver a minha vida, de tomar as minhas próprias decisões e de criar os meus próprios valores.
A influência da única filosofia que ele conheceu, o racionalismo que vai de Descartes a Schopenhauer, passando por Kant e Hegel, aparece aqui em todo o seu vigor e reflete o problema mais profundo que Nietzsche enfrenta: se sou eu quem cria os valores, se, para viver dignamente, sou eu que devo decidir o que é verdadeiro e o que é falso, sem recorrer a nenhuma referência exterior nem superior a mim, isto é, se não podemos falar de transcendência (conceito que lhe provocava arrepios de indignação), então Deus torna-se inimigo da minha vida, de qualquer vida, e deve ser, não apenas esquecido, mas morto. Matar Deus é afirmar a minha vida, vida que eu perderia se acreditasse nEle.
Não há um único argumento nos escritos do pensador alemão dedicado a tentar demonstrar que Deus não exista. Para ele, trata-se de um axioma, e um axioma certamente arbitrário: tornado deus para si próprio, Nietzsche-Zaratustra “revela” o dogma da inexistência de Deus com autoridade autoconferida.

REFERÊNCIAS

(1) Ecce Homo, Edições de Ouro, São Paulo, s.d., “Por que sou tão discreto”, II, 1.
(2) Ludwig Feuerbach (1804-1872), filósofo, escreveu A essência do cristianismo e Lições sobre a essência da religião. Nessas obras, afirma que as realidades fundamentais e originárias são a natureza e o homem concreto; um dos seus aforismos prediletos era: “O homem é o que come” (em alemão: Der Mensch ist <é> was er isst ). Qualquer realidade espiritual, Deus incluído, não seria senão uma pálida imagem, um reflexo apagado da natureza. Algumas idéias de Feuerbach foram copiadas e posteriormente desenvolvidas por Marx.
(3) Cit. em Frederick Copleston, Nietzsche, filósofo da cultura, Tavares Martins, Porto, 1972, pág. 186.
(4) Cfr., entre outros, Frederick Copleston, op. cit., e Rüdiger Safranski, Nietzsche, biografia de uma tragédia, Geração Editorial, São Paulo, 2001, passim.
(5) A genealogia da moral, Publicações Europa-América, Lisboa, 1978, págs. 106-108.
(6) Aurora, Publicações Europa-América, Lisboa, 1978, afor. 91.
(7) Cfr. João Paulo II, Carta Encíclica Fides et ratio, 14.09.1998.
(8) A gaia ciência, Abril, São Paulo, 1983, afor. 343.
(9) Assim falou Zaratustra, Abril, São Paulo, 1983, pág. 7.

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sexta-feira, 9 de maio de 2008

A Beleza dos Paramentos Litúrgicos

Quarta-Feira de Cinzas: o Papa e dois Cardeais-Diáconos com Vestes Diaconais


Fonte: http://fotoscatolicas.blogspot.com/2008/02/quarta-feira-de-cinzas-o-papa-e-dois.html

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Moda e comportamento entre adolescentes e pré-adolescentes


Uma geração candidata a objeto sexual


Extraído do "Washington Post"
Por Patricia Dalton



Minha filha de
23 anos disse: "Vocês não vão acreditar como a Victoria's Secret está estranha: toda em vermelho e preto, com um monte de manequins que parecem estrelas pornô." Alguns vendedores ficaram tão ofendidos com a vitrine que ameaçaram boicotar a loja; outros somente torceram o nariz. Tenho escutado variações sobre esse mesmo tema cada vez mais freqüentemente no meu escritório. As mães se dizem incomodadas com as roupas ousadas que suas filhas adolescentes e pré-adolescentes estão usando, dentro e fora de casa. Na verdade, conflitos sobre a vestimenta é o que os leva a ir para a terapia familiar. As próprias filhas podem ser imperiosas ou mal-humoradas, mas quase todas empregam a desculpa de que "todo mundo faz isso". E realmente uma grande quantidade de meninas está fazendo isso. Antes, as mulheres reclamavam de serem reduzidas a objetos sexuais. Hoje, suas filhas estão se candidatando a ser objetos sexuais. E apesar de os pais demonstrarem desaprovação, normalmente eles não conseguem tomar nenhuma atitude. Com isso, eles colocam inadvertidamente as mulheres em risco ao permitir que pulem a "meninice". Quando uma filha sai dessa fase diretamente para a fase mulher, ela está interpretando um papel em vez de aprender gradualmente a viver sua própria vida. Essas meninas podem parecer completas, mas não são. Muitas vezes, há uma menina perdida ali. Quem defende estilos provocativos de se vestir pegou carona na mensagem liberal dos anos 60 e a levou um pouco além. Eles vêem quem demonstra não gostar do sexualmente explícito como repressores e antiquados. Uma jovem mulher me disse: "É quase politicamente incorreto dizer que algo é inapropriado." Uma das visões mais irritantes hoje em dia é a de garotas com biquínis pequenos na piscina, ou andando por aí com calças de cintura baixa e tops, ou de salto e vestidos provocativos, às vezes completas com maquiagem e jóias. E isso não acontece só nos recitais de dança. Pode ser visto diariamente. O tempo passou, hein? As Lennon Sisters e Gidget - grupos adolescentes americanos dos anos 60 - da nossa meninice estão a anos-luz das atuais Britney Spears e Lindsay Lohan, dois atuais ícones femininos da música e do cinema. A ponte entre essas duas gerações de estrelas foi Madonna - antes de ela ter filhos e dar um jeito nas suas apresentações. Em algum momento das décadas passadas, enquanto nós, adultos, não estávamos olhando, a classe sumiu e a vulgaridade assumiu. Volte algumas décadas atrás (se você tem idade o suficiente) até o surgimento da pílula, o primeiro método confiável de controle de natalidade. O que testemunhamos hoje em dia é o desmoronamento da subseqüente revolução sexual. Foi-se o medo da gravidez indesejada. Em conjunto, veio a assimilação de que problemas sexuais eram o resultado da repressão e que relaxar as restrições e a estrutura permitiria a todos viver em uma espécie de utopia sexual. Bem, a chamada utopia está aqui e as mulheres mais velhas têm razões para ficar alarmadas com os perigos que as jovens mulheres estão trazendo para si mesmas. Essas garotas certamente são tratadas como objetos assim como em qualquer geração anterior. É um tratamento pré-liberação disfarçado de pós-liberação. "Voltem antes que seja muito tarde!", queremos alertá-la. Porque o que as espera com este comportamento não é o Príncipe Encantado. O mais provável é que se encontrem solitárias e arrependidas. Por alguma razão, no entanto, muitas mulheres adultas não conseguem seguir os instintos nos quais confiaram durante séculos para se protegerem e às filhas. Não há mais padrões comuns de vestimenta e comportamento que os pais, as escolas e a sociedade costumavam fortalecer em conjunto. Na minha faculdade, por exemplo, usávamos uniforme; a saia tinha que tocar no chão quando nos agachávamos - e os professores verificavam! Deixaram os pais sozinhos para discutir isso, da cabeça aos pés, com suas filhas adolescentes. As mães que vêm ao meu consultório muitas vezes expressam dúvida sobre seu próprio julgamento, sem saber onde colocar limite quando suas filhas se vestem de forma provocativa. Enquanto isso, as meninas admitem abertamente que apenas reproduzem o que vêem na mídia. Uma jovem me disse que adorava o seriado da televisão Sex and the City, mas sabia que ele "contribuía" para o problema. Outro seriado, Desperate Housewives, também. Quando vejo crianças vestidas como "vamps", lembro das palavras da escritora Marie Winn no seu livro de 1981, Children Without Childhood (Crianças sem Infância): "A idade da proteção acabou". Ela descreveu a pesquisa do especialista austríaco em comportamento animal Konrad Lorenz sobre o que ele chamou de características neotênicas nos jovens de várias espécies e o objetivo a que servem. Nas crianças, essas características englobam cabeças e olhos desproporcionais e proporções corporais pequenas e arredondadas. Lorenz supõe, por hipótese, que essas características funcionam como "mecanismos de liberação" internos. Elas provocam ou nutrem respostas protetoras dos adultos. Os pais - às vezes, sem perceber - colocam suas filhas em risco quando camuflam essas características ao permitir que se vistam como adultos. Esse tipo de vestimenta leva a criança a imitar comportamentos da mulher adulta que ela ainda não entende. Isso pode causar um curto-circuito no desenvolvimento normal. Pode também encorajar crianças mais velhas e adultos a se relacionar com essas jovens como seres sexuais, às vezes, com conseqüências trágicas.

*Patricia Dalton é psicóloga em Boston - Estados Unidos

Fonte: http://www.acea.org.br/verartigo.php?id=10