quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O Beato Anchieta e o Teatro brasileiro

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Por Helmer Ézion de Souza

 

 

O Beato José de Anchieta nasceu na Ilha de Tenerife, uma das Ilhas Canárias pertencente à Espanha, em 19 de março de 1534. Estudou na Universidade de Coimbra (Portugal) em meio à efervescência cultural do século XVI (período da pseudo reforma-protestante e do surgimento do iluminismo). Embarcou rumo ao Brasil em 1553 com apenas 19 anos como missionário jesuíta. Ao desembarcar, passou a dedicar parte do seu tempo a estudar tupi e latim a fim de catequizar os índios e instruir os colonos. Com efeito, possuía grande facilidade com línguas; chegou, inclusive, a confeccionar uma gramática tupi. Dessa forma Anchieta ficava como que intermediador entre os nativos, os demais missionários e a corte, sendo assim quase que um diplomata, o que lhe valia grande estima por parte de todos (algo difícil de se conseguir devido à hostilidade reinante na época entre algumas partes).

Os jesuítas fundaram muitos colégios, o que serviu de base para a evangelização do novo mundo. José de Anchieta trabalhou lecionando nesses institutos, mesmo quando mero seminarista. De fato, sua ordenação só ocorreria em 1566.

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Anchieta valia-se dos seus conhecimentos lingüísticos para  catequização dos nativos. Escreveu diversos poemas, sermões, cartas, e autos (foi muito influenciado por Gil Vicente e o teatro medieval). Os teatros produzidos por Anchieta tinham o objetivo principal de evangelizar, porém os mesmos eram sempre inseridos em festas e/ou acontecimentos, como, por exemplo, a chegada de oficiais da Ordem.

O teatro era escrito e representado em várias línguas, além de ser às vezes inseridos elementos das culturas indígenas para que todos que assistissem entendessem a mensagem. Diz-se que o teatro Anchietano tinha estilo otimista, com constante temática do bem contra o mal (benéfica influência medieval) e presença de várias línguas e adaptações de divindades indígenas. A primeira produção teatral de Anchieta se deu por encomenda de seu superior, o Padre Manoel de Nóbrega para os festejos natalinos, foi o “Auto da Pregação Universal” (1561) que seria apresentado repetidas vezes em toda costa brasileira, sofrendo alterações em cada apresentação. Além deste auto, Anchieta escreveu diversas peças: “Auto de São Sebastião” (1584)/ “Diálogo de P. Pero Dias Mártir”(1585)“Auto de São Lourenço” (1587)/”Dia da Assunção”(1590)/”Recebimento do P. Marcos da Costa”(1596)/”Auto de Santa Ursula”(1595)/”O Auto de São Maurício”(1595)/”Na Visitação de Santa Isabel”(1597)... E vários outros.

Mesmo estando em Leito de Morte ainda escrevia seus autos para atender pedidos da população. Anchieta veio a falecer em 09 de junho de 1597, deixando seu legado e sua forte influência para a formação cultural brasileira.

 

Referências bibliográficas: 

 

- João Paulo II. Carta de João Paulo II aos artistas. N. 167. S. Paulo: Paulinas, 32 pgs.

- QUEVEDO, Luiz González. Manoel da Nóbrega. O enamorado do Brasil. Coleção Heroes, N. 51. São Paulo: Editora Salesiana, 1988. 52 pgs.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Direito e dever de exprimir a opinião

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Por  Prof. Pedro M. da Cruz.
 

“... resisti-lhe francamente, porque era censurável.”(São Paulo – Gal. 2,11)
“...é por meio de nós que o próprio Deus vos exorta.” (2 Cor 5, 20)”
“Tornei-me eu, logo, vosso inimigo, porque vos disse a verdade?” (Gl IV,19)
“Devemos nos apoiar, antes, na autoridade da Igreja do que na de Agostinho, de Jerônimo ou de qualquer outro doutor.”[1]
(S. Tomás de Aquino)
“Não há, portanto, maior caridade para com o próximo que lhe mostrar a verdadeira Igreja.”
(S. Pedro Julião Eymard)
"A Fé corre perigo não somente devido aos assaltos dos que atacam, como pelo silêncio dos que têm o dever de falar" - Cardeal Albino Luciani (Papa João Paulo I)
 
 


Muitas vezes criticados por exprimirmos nossa opinião em matérias referentes à Igreja que amamos, julgamos por bem apresentar aos leitores deste blog o que dizem os Pastores sobre a conveniência ou não dessa iniciativa.
Os papas e bispos, ao mesmo tempo em que se sabem imunes ao erro em determinadas circunstâncias, não se esquecem, todavia, de que certas verdades podem ser maculadas pela ignorância, imprudência, ou mesmo, pela malícia de alguns. [2] Quantos leigos, padres (bispos, inclusive) não foram agentes do erro na história do cristianismo?![3] Ao mesmo tempo, quantos não foram os simples fiéis que souberam assumir sua responsabilidade cristã e, “cum Petro et sub Petro”, levantar a voz contra a heresia [4]. Um número incontável de cristãos não negou o próprio sangue como testemunha de seu amor... Que santa inveja nos toma o coração!
Consultemos, pois, o Código de Direito Canônico:
“Cân. 212 - § 1. Os fiéis, conscientes da própria responsabilidade, estão obrigados a aceitar com obediência cristã o que os sagrados Pastores (Papas e bispos a eles subordinados), como representantes de Cristo, declaram como mestres da fé ou determinam como guias da Igreja. (O grau de assenso requerido é diverso, de acordo com a natureza do ensinamento, tal como declarou o Concílio Vaticano II – LG 25).
§ 2. Os fiéis têm o direito de manifestar aos Pastores da Igreja as próprias necessidades, principalmente espirituais, e os próprios anseios.
§ 3. De acordo com a ciência, a competência e o prestígio de que gozam, têm o direito e, às vezes, até o dever de manifestar aos Pastores sagrados a própria opinião sobre o que afeta o bem da Igreja e, ressalvando a integridade da fé e dos costumes e a reverencia para com os Pastores, e levando em conta a utilidade comum e a dignidade das pessoas, dêem a conhecer essa sua opinião também aos outros fiéis.”
(Nota: O negrito é nosso. O que está em parênteses foi retirado do próprio documento.)
Confirmados pelas palavras de nossos Pastores, não só redobramos o fervor de nosso trabalho, como, também, convocamos todos os irmãos, afim de que possamos, pelas preces, sacrifícios e ações públicas (junto e submetidos à hierarquia), alcançar maior fruto em nosso apostolado.
Quem ama a Igreja luta por sua glória; ou, o amor não se mostra pelos atos. Está para nascer o filho que, dizendo-se justo, não sofra pela honra de sua mãe; ora, isto seria um absurdo! Amar a Igreja Católica é sentir com ela à imagem de Maria aos pés da Cruz.
 
Mãe Imaculada, rogai por nós!
 

[1] S. Tomás – Summa Theologica, II-II, q. 10, a.12.
[2] Todavia, não podemos cair em generalizações indevidas: “É certo que o Concílio Vaticano I definiu que o Magistério do Romano Pontífice é infalível em determinadas condições... Seria absurdo, no entanto, daí concluir que o Papa erra sempre que não faz uso de sua prerrogativa de infalibilidade. Pelo contrario, devemos supor que ele acerte, porquanto normalmente age com prudência e não emite sua opinião antes de muito ponderar. Sem falar nas graças especiais com que o assiste o Espírito Santo. (D. Mayer – Carta Pastoral sobre a preservação da fé e dos bons costumes, V)
[3] “Na verdade a Igreja sofreu cruelmente da parte dos tiranos, que pelo martírio lhe arrebataram tantos fiéis; depois sofreu ainda mais cruelmente da parte dos hereges, que com o veneno do erro infeccionaram muitos dos seus súditos; mas o seu maior sofrimento, a sua maior perseguição é a que lhe advém dos seus filhos, desses eclesiásticos indignos, que por seus escândalos dilaceram as entranhas maternais!” - (Santo Afonso de Ligório, “SELVA”)
[4] O Papa Bento XVI, quando ainda Cardeal disse: “É possível e até necessário criticar os ensinamentos do Papa se não estiver suficientemente baseados na Escritura e no Credo, ou seja, na fé da Igreja Universal”. (O Novo Povo de Deus, S. Paulo, Paulinas, Pag. 174).

sábado, 4 de dezembro de 2010

A Igreja e a Verdade

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Concílio Vaticano I
 
 
Breve escrito contra alguns desvios modernos, mostrando que a Igreja enquanto instituição infalível não pode cair em erro. Demonstra que ao longo dos séculos vários foram os membros da hierarquia que defenderam pessoalmente doutrinas heréticas, sem no entanto poderem macular a infalibilidade da Esposa do Cordeiro.
 
 

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Idade Média e o atual declínio na arte da leitura - M. Adler

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Monge copista

 

 

Na baixa Idade Média, por exemplo, existiram homens que liam melhor do que os melhores leitores de hoje. Por outro lado, é verdade que poucos homens sabiam ler, que havia poucos livros, e que êsses homens dependiam da leitura como fonte de aprendizado, mais do que nós. O fato, entretanto, é que dominavam os livros de valor, como nós não dominamos nada, hoje em dia. É provável que não respeitemos livro algum, como êles respeitavam a Bíblia, o Alcorão ou o Talmude: um texto de Aristóteles, um diálogo de Platão, ou as Institutas de Justiniano. De qualquer modo, desenvolveram a arte de ler a um ponto que não foi por ela atingido, nem antes, nem depois.

Devemos acabar com nossos tolos preconceitos sôbre a Idade Média, e considerar os homens que escreveram exegeses das Escrituras, explicações de Justiniano, e comentários de Aristóteles, como os mais perfeitos modelos da arte de ler. Essas explicações e comentários não eram nem condensações, nem resumos. Eram leituras analíticas e interpretativas de um texto de valor. Na verdade, poderia confessar que muito do que sei sôbre leituras, aprendi examinando os comentários medievais. As regras que vou aconselhar são simplesmente uma fórmula do método que segui, ao observar o professor medieval lendo um livro com seus alunos.

Comparada com o esplendor dos séculos XII e XIII, a era atual se parece muito mais com a idade das trevas dos séculos VI e VII. Então, as bibliotecas tinham sido queimadas ou fechadas. Havia poucos livros de valor e menos leitores ainda. Enquanto que hoje há mais livros e bibliotecas do que nunca, na História da humanidade. De um certo modo, também, há mais homens capazes de ler. Mas, na verdadeira acepção do têrmo, isto não é exato. Tratando-se de ler, para compreender, as bibliotecas poderiam ser fechadas e as tipografias destruídas.

 

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Livro: A Arte de Ler - Como adquirir uma educação liberal
Autor: Mortimer J. Adler
Tradução de Inês Fortes de Oliveira
Rio de Janeiro
Livraria AGIR Editora - 1954
Páginas: 82 e 83 - "A falência das escolas"

Renovação Carismática: Falaram os Bispos!

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Por  Prof. Pedro M. da Cruz.
 
 
“Não se interrompa a Oração Eucarística (...) com aplausos, vivas, procissões, hinos de louvor eucarístico e outras manifestações...” (pg. 22)
“... evite-se alimentar um clima de exaltação da emoção e do sentimento.” (pg. 25)
“Os carismas (...) não devem ser temerariamente pedidos nem se ter a presunção de possuí-los.” (pg. 27)
 
 
Os senhores Bispos do Brasil escreveram anos atrás um documento à “Renovação Carismática Católica” (RCC) pretendendo evitar, por parte deste movimento, deturpações e atitudes parciais que dificultam a comunhão da Igreja. [1]
O objetivo era claro: “corrigir o que for necessário” [2], pois, as várias associações de fiéis na Igreja precisam manter a responsabilidade de professar a fé Católica no seu conteúdo integral, como bem afirmara o saudoso Papa João Paulo II (cf. Christifideles Laici).
Ao utilizar métodos próprios - afirmam os Bispos - a RCC deve manter-se dentro da doutrina da fé e da grande comunhão do Corpo Místico; enfim, não pode destoar daquilo que é essencial à Tradição. Ora, esta postura do episcopado brasileiro faz-nos recordar aquela exortação de São Pio X a membros da Igreja que sem um sólido conhecimento de filosofia e teologia, mas embebidos das teorias envenenadas dos inimigos da Igreja, vangloriavam-se, desprezando e transgredindo toda moderação necessária. (Pascendi, S. Pio X).
Cremos ser este um dos motivos por que a CNBB tenha determinado à Renovação Carismática que submetesse seus livros de estudos e de formação doutrinal à aprovação eclesiástica[3], para que se evitassem os flagrantes desvios já observados por muitos estudiosos e membros da hierarquia eclesiástica.
Em seu parágrafo 35 o documento por nós apresentado foi obrigado a ressaltar os perigos de falsas interpretações de textos bíblicos por parte de líderes da RCC. Com efeito, não estaria havendo uma “reta leitura” da Palavra de Deus. Pode-se perceber que, ainda hoje, tem-se caído, ordinariamente, tanto no fundamentalismo[4] quanto no intimismo[5]. Ora, isso conduz o leitor desprevenido a fazer o texto bíblico afirmar aquilo que, na verdade, não era a intenção dos autores sagrados. [6]
 
Questões Particulares da Renovação Carismática
 
Ao abordarem no documento determinadas “Questões Particulares” da RCC, os senhores Bispos foram taxativos em sua explanação: “Alguns temas necessitamimage de maior aprofundamento teológico”. Citam, em seguida, não só a expressão ambígua “Batismo no Espírito Santo”, como também, o chamado dom de “orar e falar em línguas”; terminam, enfim, por se referirem ao estranho “Repouso no  Espírito”, assim como, aos tão mal compreendidos “poder do mal” e “exorcismo”, entre outras coisas.
Porém, ao terminarem suas explanações, não se furtam a afirmar categoricamente:
“Como é difícil discernir, na prática, entre inspiração do Espírito Santo e os apelos do animador do grupo reunido, não se incentive a chamada oração em línguas e nunca se fale em línguas sem que haja intérprete. (...) Em assembléias, grupos de oração, retiros e outras reuniões evite-se a prática do assim chamado ‘Repouso no Espírito’.[7]
Recorda, também, a CNBB, que o exorcismo deve ser praticado de acordo com as normas estabelecidas pelo Código de Direito Canônico (Cân. 1172) “Por isso seja afastada a prática, onde houver, do exorcismo exercido por conta própria.” [8]
Finalmente, essas são palavras conclusivas dos senhores Bispos em sua exortação: “As orientações aqui oferecidas são expressão da solicitude pastoral com que o episcopado brasileiro acompanha a RCC (...) mas também mostrando sua preocupação com os desvios ocorridos, que são prejudiciais para a RCC e para toda a Igreja.”.
“A experiência religioso-cristã não se realiza em mera experiência subjetiva, mas no encontro com a Palavra de Deus confiada ao Magistério e à Tradição da Igreja...” (pg. 24)
“Diante das pessoas que teriam carismas especiais, o juízo sobre sua autenticidade e seu ordenado exercício compete aos pastores da Igreja.” (pg. 27)
 
Maria, Mãe da Igreja, rogai por nós!
 
Referência Bibliográfica:
Documentos da CNBB, N. 53. Orientações Pastorais sobre a Renovação Carismática Católica. (34º Reunião Ordinária do Conselho Permanente/ 94. Brasília, DF, 22 a 25 de novembro de 1994.). 32 pgs.

[1] Documentos da CNBB, N. 53. Orientações Pastorais sobre a Renovação Carismática Católica. (34º Reunião Ordinária do Conselho Permanente/ 94. Brasília, DF, 22 a 25 de novembro de 1994.). Pg. 8.
[2] Ibidem, pg. 17.
[3] Ibidem, pg. 19.
[4] Não respeitar, por exemplo, o contexto histórico dos textos nem, muito menos, as contribuições das ciências bíblicas, entre outras coisas.
[5] Por exemplo, o fato de muitíssimos “carismáticos” interpretarem as Sagradas Escrituras de modo subjetivo e até “mágico”.
[6] Ibidem, pg. 20.
[7] Ibidem, pg. 29-30.
[8] Ibidem, pg. 30.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Catolicismo Versus Espiritismo - segunda parte

Kardec II
 
 
Por Prof. Pedro M. da Cruz
 
“Estai sempre prontos a responder a todos aqueles que pedirem a razão de vossa fé.”
(IPd.3,15)
 
 
O Espiritismo nega radicalmente os fundamentos da Doutrina Cristã. É urgentíssimo que tomemos consciência desta verdade.
Como havíamos prometido, apresentamos abaixo uma lista de antagonismos entre o pensamento espírita e os ensinamentos do catolicismo.
Essas informações foram retiradas dum pequeno livro do Frei Boaventura, O.F.M. Esperamos que sirva positivamente aos amigos e colaboradores deste auspicioso blog.
 
***
 
O católico crê que os livros da Sagrada Escritura foram inspirados por Deus e que, por isso, não podem ter erros em questões de fé e mora; o espírita declara que a Bíblia está cheia de erros e contradições e que nunca foi inspirada por Deus.”
O católico crê que o Papa, sucessor de S. Pedro, é infalível sempre que, com sua suprema autoridade, decide solenemente questões de fé ou moral; o espírita proclama que os papas só espalharam o erro e a incredulidade”.
O católico crê que Jesus instituiu uma Igreja com o fim de continuar através dos séculos Sua obra de santificação dos homens; o espírita declara que até a vinda de Allan Kardec (foto)  a obra de Cristo estava perdida e inutilizada”.
O católico crê que Jesus nos ensinou todas as verdades religiosas necessárias e suficientes para a nossa eterna salvação; o espírita proclama que o Espiritismo é a Terceira Revelação, destinada a retificar e mesmo substituir o Evangelho de Cristo”.
O católico crê que em Deus há uma só natureza e Três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; o espírita nega este augusto e fundamental mistério da Santíssima Trindade.”
O católico crê que Maria Santíssima é Mãe de Deus (isto é, de Cristo que é Deus) e por isso imaculada, sempre virgem e assunta ao céu em corpo e alma; o espírita nega e ridiculariza todos os privilégios da excelsa Mãe de Jesus”.
O católico crê que Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho Unigênito de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Deus igual ao Pai e ao Espírito Santo; o espírita nega esta verdade fundamental da fé Cristã e dogmatiza que Cristo era apenas um grande médium, nada mais”.
O católico crê que Cristo veio para salvar e remir a humanidade por sua vida, paixão e morte na cruz; o espírita dogmatiza que Jesus não é nosso Redentor, mas que apenas veio para ensinar algumas verdades e isso mesmo ainda de um modo obscuro e incerto e que cada um precisa de redimir-se a si mesmo.”
O católico crê que o filho de Adão nasce sem os dons da graça com que Deus adornara generosamente a natureza humana, isto é, que nascemos todos com o pecado original; o espírita dogmatiza que Deus assim seria injusto e por isso nega o pecado original.”
O católico crê que é pelo Batismo que o homem deve iniciar sua santificação; o espírita nega que Jesus mandou se batizassem todos os homens para a remissão dos pecados e infusão da vida sobrenatural”.
O católico crê que Jesus está verdadeiramente presente no Pão Eucarístico, para ser o alimento da nossa vida sobrenatural; o espírita ridiculariza a Eucaristia como pura ‘pantomina e palhaçada do Catolicismo’”.
imagesO católico crê que o homem vive uma só vez sobre a terra e que desta única existência depende a vida eterna; o espírita dogmatiza que a gente nasce, vive, morre, renasce e ainda progride continuamente”.
O católico crê que depois da morte o homem deve comparecer perante Deus e prestar contas de sua vida; o espírita dogmatiza que este juízo particular é pura fantasia e imaginação.”
O católico crê na existência de um estado e lugar, chamado Purgatório, onde se purificam as almas dos justos que morreram com pecados leves não arrependidos ou com castigos temporais não satisfeitos; o espírita decreta que este Purgatório não existe, mas foi inventado pela Igreja para ganhar dinheiro.”
Finalmente, o espírita nega não somente a eternidade do inferno e a ressurreição da carne, como também a própria “Parusia (Segunda vinda de Cristo, Nosso Senhor), além de promover a chamada “evocação dos mortos”, prática vivamente condenada pela Sagrada Escritura.
Ó Maria, virgem imaculada, rogai por nós.
 
Bibliografia:
BOAVENTURA, Frei. Por que o Católico não pode ser Espírita. X Edição. Petrópolis: Vozes, 1957. Pg. 8

sábado, 13 de novembro de 2010

A Profissão do Médico - Tihamer Toth

3 licoes de anatomia

Lição de Anatomia - Rembrant

 

 

Queres ser médico? Ainda que demos razão a Schiller, quando diz que “Das Leben ist Güter höchstes nicht”, “não é a vida do maior dos bens” (A Noiva de Messina, IV, 10), concedo que, entre os tesouros terrestres, a vida e a saúde ocupam a primeira plana. E o médico procura conservar e preservar de todo o perigo êsse tesouro. É bela a tarefa de socorrer os enfermos. Um bom médico pode salvar seu próximo de muitos sofrimentos corporais, de males e misérias múltiplas. Neste ponto, a vocação do sacerdote e a do médico são semelhantes; querem ambos socorrer a humanidade padecente: espiritualmente um, o outro corporalmente. Mas, além do auxílio físico, um médico de alma nobre pode fazer também muito bem espiritual. Não se contentará com um rápido exame; receitará um remédio, mas achará também boas palavras para consolar e animar o seu doente. E, se vir que a ciência humana nada mais pode para salvá-lo, avisá-lo-á que se prepare para o final ajuste de contas, e que fortifique a sua alma pelos sacramentos da Igreja.

Quantas almas quebrantadas pela luta, quantos corações gelados, completamente arrefecidos, podem ser reconduzidos a Deus, no último momento, pelo tato e pela bondade de um piedoso médico! E, por outro lado, a miséria indizível que um médico encontra a cada passo tem, muitas vêzes, o dom de dirigir os seus próprios pensamentos para as coisas eternas. Sente sempre um bom médico aquilo que um confrade de Wiesbaden inscreveu na parede do seu consultório:

Gott ist der Arzt, ich bin ein Knecht,

Gefällt’s Ihm wohl, so mach’ ich’s recht.

O médico é só Deus; e eu, mero criado;

Se pois Êle quiser, por mim sereis curado.

Não te quero, entretanto, ocultar certa inquietação que me assalta: entre os médicos, há muito mais indiferentes à religião, ou até declarados descrentes, do que nas outras profissões. Por que tão triste estado de coisa? Será causa a própria medicina, como ciência? Será absolutamente forçoso que perca a fé que se fez médico? Deus nos livre! A palavra de Galeno, príncipe da ciência médica da antiguidade, que estudara a fundo a estrutura maravilhosa do corpo humano, ainda é verdadeira, e verdadeira sempre será: “Glorifiquem outros a seus deuses oferecendo-lhes incenso e sacrificando-lhes animais - ou O glorifico mercê da admiração que sinto pelo autor de um mecanismo tão maravilhoso. Descrevendo o corpo humano, creio cantar um hino à glória de seu Criador”.

Donde vem, então, que tantos médicos sejam descrentes? A causa é que os seus estudos na Universidade estão totalmente vazios de idealismo. Os exercícios de dissecação anatômica prejudicam muito o surto das jovens almas para o ideal. Sem dúvida, os professôres que conhecem o valor duma jovem alma poderiam fàcilmente contrabalançar essa influência pela sua própria fé e por um pouco de tato; mas ai! Somos obrigados a dizer que, em suas lições na Universidade, bom número de professôres manifestaram êles próprios declarado desprêzo à religião e à moral, o que acaba de arrefecer a vida religiosa da jovem geração de médicos. Se o digo, é para que redobres de piedade em face dessa corrente contrária, entre os estudantes de medicina. Não descures jamais os negócios de tua alma! Tanto mais quanto, no curso dos teus estudos, tiveres de ocupar-te exclusivamente do corpo. Uma pessoa que se familiariza com a morte torna-se fàcilmente cínica.

Como um médico descrente há de responder diante de Deus por sua própria vida, isto é lá com êle. O que é certo é não poder a sociedade e o doente confiar num médico que não sente a responsabilidade em face do Eterno Juiz. Como poderia eu confiar no médico materialista e darwinista, que não crê nem em Deus nem na alma, e que pretende, de acôrdo com um colega francês materialista, que o “homem é um tubo digestivo aberto nas duas pontas?”. - Quê! Isso é o homem? Isso e nada mais? Como há de tratar-me semelhante médico? E um médico para quem Deus eterno e a alma não existem tratará com a mesma dedicação os seus doentes ricos e pobres? Não dará êle, em certas circunstâncias, aos seus pacientes conselhos capazes de comprometer a integridade da sua alma, de seus costumes?

No início do século XIX, era médico da Santa Casa o professor da Faculdade de Medicina em Paris, o doutor Récamier. Seu nome era célebre no mundo inteiro. Começava êle cada manhã o seu dia por uma curta oração, após o que lia algumas páginas da Escritura Sagrada. À noite, fazia sua oração em comum com os membros da família. Comungava tôda a semana. Eis o que escreve dêle um colega descrente: “Percebemos um dia, durante uma consulta, que Récamier trazia sôbre si - adivinhem - um rosário! Haveis de imaginar como ficamos estupefatos! Récamier, o sábio professor, a primeira autoridade médica do mundo, o médico dos reis, cujo nome ecoa por tôda a Europa, - Récamier reza o rosário! Quando êle percebeu a nossa admiração, disse em tom perfeitamente natural: “Sim, rezo o meu rosário. Sempre que estou sèriamente inquieto com o estado de um dos meus doentes, tendo esgotado todos os recursos da ciência humana, dirijo-me Àquele que só sabe curar todos os males. E como não tenho tempo para submeter eu mesmo meus pedidos a Deus, contento-me com dizer uma ou duas dezenas do rosário à minha mediadora, a Santíssima Virgem”. Que o mundo diferente na alma de tal médico! E como cumpre o seu dever de maneira diferente!

 

 

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Livro: O môço educado
Autor: Dom Tihamer Toth
Parte III - No limiar duma carreira
A profissão do médico
Páginas: 200-203
Editora Vozes LTDA.- Petrópolis RJ
IV Edição - 1960
IMPRIMATUR por Comissão Especial do Exmo. e Revmo. Sr. Dom Manoel Pedro da Cunha Cintra, Bispo de Petrópolis. Frei Desidério Kalverkamp, O.F.M. Petrópolis, 21- XII-1959

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Virtudes contraditórias? - B. Bartmann

  JOANADARC

S. Joana D´Arc: harmonia entre o amor e o ódio santo

 

 

Leitura. - Harmonia das perfeições aparentemente opostas da vida de graça. - “A vida dos santos é uma reposta prática ao agnosticismo, que declara inconciliáveis os divinos atributos, pois ela é já nesta terra, a conciliação daquelas perfeições que mais parecem opostas. A graça santificante, de fato, faz-nos participantes da Divindade como tal, ao passo que pela natureza, nos semelhamos a Deus só pelas perfeições comuns de ser, de vida, de inteligência etc. Daqui a razão porque nossa vida sobrenatural deve chegar mediante uma purificação progressiva (vida purgativa) não sòmente ao exercício habitual das diversas virtudes sob a luz da fé (vida iluminativa), mas à fusão das virtudes aparentemente menos conciliáveis e à união íntima com a fonte mesma da santidade (via unitiva). A purificação moral, que destrói em nós todo germe de desordem, corresponde à purificação metafísica que liberta as perfeições absolutas de tôda imperfeição; e como é impossível conceber-se a identificação dos atributos divinos, quando se esquece do os purificar de tôda modalidade imperfeita, assim é impossível efetuar-se, sem mortificação, a verdadeira conexão e harmonia das virtudes na sabedoria e no amor de Deus. A mortificação, aliás, não basta, são ainda necessárias as purificações passivas, obra profundíssima do Espírito Santo em nós.

Na nossa vida sobrenatural há, por isso, e deve haver cada vez mais, certa identificação do conhecimento como o amor, especialmente na contemplação que nos une a Deus: simples olhar pleno de amor sobrenatural (S. th. I-II, 180 aa. 1 e 6). Para se conhecer a Deus de tal modo necessário se faz amá-lo, e todos os que o amam, conhecem-no assim, pelo menos em certos momentos: Carissimi, diligamus nos invicem, quia caritas ex Deo est et omnis qui diligit, ex Deo natus est, et cognoscit Deum. Qui non diligit, non novit Deum, quoniam, Deus caritas est (I Jo 4, 7-8). Não é justaposição da luz à vida, é luz de vida. Ego sum lux mundi; qui sequitur me non ambulat in tenebris, sed habebit lumen vitae ( Jo 8,12) e esta luz de vida promana da vida por essência que é luz: In ipso vita erat, et vita era lux hominum (Jo 1,4).

Como o progredir desta vida sobrenatural, como se vê na alma dos santos, as perfeições que monos conciliáveis parecem unem-se e com isso longe de se destruírem fortalecem-se cada vez mais. Desta forma, o conhecimento e o amor, especulação e prática, ou melhor, a contemplação e a ação compenetram-se cada vez mais ìntimamente. Por isso considera Santo Tomás a vida ativa e a vida puramente contemplativa menos perfeitas que a vida apostólica que une ambas. A exemplo de Jesus Cristo e dos seus discípulos, cumpre seja o apóstolo um contemplativo que oferece aos outros sua contemplação para os salvar. A contemplação deve ser o ponto culminante de sua vida; e em vez de obstacularizar sua atividade apostólica, dever ser-lhe a fonte. Se o apóstolo não se tiver elevado à contemplação, pelo menos em certa medida, sua palavra fica estéril, prega as realidades divinas de maneira muito humana, dá a letra, não o espírito da palavra de Deus. Privado do santo entusiasmo das coisas eternas fica prêso às idéias do momento, em vez de levar as almas ao amor de Deus, procura uma glória vã. A unidade não se fêz no alto, na harmonia da natureza com a graça, mas em baixo, na confusão. Considere-se o apostolado de um S. Domingos, de um S. Vicente Ferrer; que mais íntima unidade de contemplação e de ação pode haver? Com o progresso da vida sobrenatural, na contemplação mesma, cada vez mais concordam entre si a inefabilidade e a certeza, a unidade de vistas e a infinita variedade das aplicações.

Essas oposições ressaltam de modo especial na fé, que é a um só tempo sobrenatural por seu motivo e racional pelos sinais que confirmam a palavra de Deus; obscura e contudo, absolutamente certa; imutável e no entanto livre; contemplativa e praticíssima; guinda-se até os mais sublimes mistérios de Deus e desce aos menores particulares da nossa vida.

Guardada a proporção, dá-se o mesmo com a ciência da fé. A teologia dogmática, moral e mística, são uma única e mesma ciência eminente, “participação da de Deus e dos bem-aventurados” (S. th. I, 1 aa, 2 e 4). A doutrina sagrada trata, na obscuridade da fé, do mesmo objeto contemplativo no céu pelos santos: Deus, as obras que dêle procedem e o regresso das criaturas a Êle. O progresso da teologia deve, portanto, ser mais trabalho de unificação que de extensão; a descoberta de novos documentos e as novas aplicações, embora úteis, fica muito secundária; o importante é aproximarmo-nos do espírito da mesma ciência dos santos, compreendermos cada vez melhor a conexão dos mistérios revelados entre si e, sobretudo, o mistério cuja visão constitui nosso último fim. A teologia tende essencialmente à contemplação, ou deixa de ser uma “participação da ciência de Deus, e dos bem-aventurados” para se tornar uma árida coleção de textos, na qual os mistérios revelados ficam dissociados e onde o Sacramento da Penitência assume a mesma importância que a SS. Trindade.

O verdadeiro progresso não olha para o futuro, mas projeta seu olhar para a eternidade, onde se realiza a unificação do saber. Sob êste aspecto superior, S. Tomás de Aquino, no século XIII, sobrepuja as sumidades de hoje, pois seu sentido teológico foi mais puro e estêve mais próximo da ciência de Deus.

O progresso da ação deve trilhar idêntica via e fazer-se especialmente objetivando a qualidade e a unidade, que consiste em se unir cada vez mais o amor de Deus e o do próximo, com o ódio santo do mal; a esperança mais confiante, com o temor filial; a firmeza da justiça com a doçura da misericórdia; a simplicidade da pomba com a prudência da serpente; a mais profunda humildade com a dignidade tôda sobrenatural, que proíbe inclinar-se diante das opiniões do mundo, sempre que opostas ao espírito de Deus. Tôda virtude moral é um justo meio terreno racional entre os excessos e os defeitos da paixão. Tôdas estas harmonias espirituais foram de fato realizadas pela santidade eSLG1minente da Virgem e dos Santos...

A mesma harmonia dos pontos mais difíceis de se  conciliarem, encontramos na Igreja, na qual a caridade mais compassiva e a intransigência doutrinal unem-se no ardor da mesma palpitação, que é o zêlo pela glória de Deus e pela salvação das almas; sabendo ela que não pode fazer o bem sem combater o mal, que não pode evangelizar sem lutar contra a heresia. A misericórdia e a firmeza doutrinal não podem subsistir a não ser unindo-se; pois uma desvinculada da outra, morrem e deixam apenas dois cadáveres: o liberalismo humanitário com sua falsa serenidade e fanatismo com seu falso zêlo. Já se disse: “A Igreja é intransigente nos princípios, porque crê; é tolerante na prática porque ama. Os inimigos da Igreja, ao invés, são tolerantes nos princípios porque não crêem, intransigentes na prática porque não amam”. De um lado a teoria opõe-se à prática, de outro, penetra-a e tudo dispõe com fôrça e suavidade.

A Igreja na terra é essencialmente militante e pacífica; a paz reina no interior do país, a guerra, nas fronteiras. Sòmente os santos sabem exprimir o sentido sobrenatural da batalha que cumpre travar contra a carne, o espírito do mundo e o espírito do mal. Quantas vêzes mostraram a Igreja purificada “pelo fogo das grandes tribulações, trazendo no coração o ouro do amor, o incenso da oração, no espírito e no corpo, a mirra da mortificação! Ela, dizem, é para os pobres e para os pequenos o bom odor de Cristo, um odor de morte para os grandes e soberbos do mundo. Guiada pelo Espírito Santo, a nada se apega, de nada se admira, por nada sente pena; derrama a chuva da palavra divina e da vida eterna; ensina a via estreita de Deus na pura verdade, segundo o Santo Evangelho e não, segundo as máximas do mundo, sem temer mortal algum, por mais poderoso seja; ela maneja a espada de dois gumes da palavra de Deus” (Grignon de Montfort) com a qual distingue o verdadeiro do falso, o bem do mal, e leva às almas a liberdade e à salvação. Seus inimigos mais perspicazes, como Proudhon, no seu fanatismo antireligioso, experimentam a uma sinistra alegria em o proclamar: “A Revolução crê na humanidade; a Igreja crê em Deus, crê nêle mais que qualquer seita, ela é a mais pura, a mais completa, a mais esplêndida manifestação da Essência divina, e sòmente ela sabe adorá-la”.

“A vida de Cristo na sua Igreja e em seus santos é a mais sublime manifestação da harmonia das perfeições divinas que menos parecem poder-se conciliar entre si”. Garrigou-Lagrange, Le divine perfezioni, Libr. F. Ferrari, Roma, 1923, pp. 338-345.

 

 

***

 

 

-Dados da obra-
Livro: Teologia Dogmática Vol. I - Revelação e fé - Deus - A Criação
Autor:Bernardo Bartmann
Terceira Seção: Os atributos de Deus
Capítulo primeiro: Os atributos de Deus em geral
Leitura: Harmonia das perfeições aparentemente opostas da vida de graça
Páginas:188-190
2° Impressão - REIMPRIMATUR São Paulo, 19 de setembro de 1963
Mons. J. Lafayette Álvares
Vigário Geral
Edições Paulinas
NIHIL OBSTAT São Paulo, 25 de janeiro de 1962
Pe. João Roata, S.S.P.
Censor

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Entre maçons e jesuítas...

Allegory of the Jesuits' Missionary Work 


Por  Prof. Pedro M. da Cruz.


“Renunciar a todo o parecer próprio e estar pronto para obedecer cegamente à verdadeira Esposa de Jesus Cristo, Nosso Senhor, isto é, à Santa Igreja Hierárquica, nossa Mãe.”
(Santo Inácio de Loyola)
 
É certo que a Companhia de Jesus - os Jesuítas - fundada por Santo Inácio (1491-1556), deve atuar no mundo como exército em defesa da fé católica. E, de fato, o fez com maestria durante séculos e séculos em estrita obediência ao papado. Porém, essa missão desagradou a muitos homens no decorrer da história... Os inimigos do catolicismo perceberam que atacar os Jesuítas era, em certo sentido, atacar a própria cátedra de São Pedro. Com efeito, o espírito que animava a Companhia de Jesus tornava-a um verdadeiro perigo para os opositores do cristianismo. images
“Além daquele vínculo comum dos três votos, deveremos estar obrigados, por um voto especial, a executar o que quer que o atual e os futuros pontífices romanos nos possam ordenar que se relacione com o progresso das almas e com a propagação da fé...”. (S. Inácio – Fórmula)
Malachi Martin, autor da obra “Os Jesuítas”, dá-nos em seu livro alguns exemplos da heróica e, também, lendária fidelidade dos discípulos de Santo Inácio à autoridade da Igreja. Ainda que hoje, muitos da Sociedade de Jesus nos assustem com posturas pouco ortodoxas, é comum ligarmos a figura de padre jesuíta com outras de austeridade,  cultura e amor à Tradição. Queira Deus que, pela intercessão da Virgem Maria, possamos rever a glória da ordem inaciana, obnubilada por tantos que ousam pretender-se acima do Magistério Eclesiástico.
Antes da leitura do interessante texto de Malachi Martin, relembremos um dos mais belos conselhos de Santo Inácio a seus seguidores:
“Para não nos desviarmos da verdade, devemos sempre estar dispostos a crer que o que nos parece branco é negro, se a Igreja hierárquica assim o decidir[C1] .”
Meu Deus, que bom seria se todos os cristãos fizessem desta regra seu norte...
 
Capítulo IX
O caráter da Sociedade
 
“O segundo acontecimento que testou o caráter jesuítico foi a supressão formal da Sociedade de Jesus por um ato aficial de um papa, Clemente XIV. Na percepção tardia da história, o historiador de hoje tem pouca dificuldade em destacar os fatos proeminentes do acontecimento daquilo que ainda continua sendo intrigante e problemático.
Não há dúvida, na cabeça de ninguém, de que o impulso e a determinação de varrer a Sociedade de Jesus da face da terra tiveram apoio e intercessão muito fortes de poderosos membros da corte papal em Roma; apesar disso, porém, a estocada imediata e irresistível contra os jesuítas partiu direta e principalmente e, como se viu, com sucesso, dos inimigos não-clericais, leigos, dos jesuítas.
Os atacantes da linha de frente foram os membros da família real dos Bourbon – todos católicos romanos – que ocupavam os tronos da Espanha, de Portugal, da França, de Nápoles e da Sicília. O trono dos Habsburg da Áustria acompanhou os Bourbon, devido ao medo de ser excluído dos parceiros em casamentos reais. (...) Também é historicamente certo que a ‘família’ tinha feito o ‘pacto’, como era chamado: um acordo entre eles para agirem em uníssono em assuntos que afetassem a todos. Por algum motivo, a existência da Sociedade de Jesus afetava a todos, garantiam eles, de forma adversa. Eles tinham que se livrar da Sociedade. Os ganhos econômicos ou financeiros da ‘família’ com uma supressão geral da Sociedade foram insignificantes. Da mesma forma, não houve nenhum ganho político substancial com aquela supressão. Resta-nos o desejado triunfo de alguma ideologia como fator instigante por trás da determinação da ‘família’ (...) O último elemento do que ainda continua um enigma histórico é proporcionado pela maçonaria européia no contexto do iluminismo europeu na década de 1700. Naquela época, os estadistas mais poderosos pertenciam necessariamente à loja maçônica. É certo que os principais consultores junto aos príncipes do Bourbon eram membros ardorosos da loja maçônica. O marquês de Pombal, consultor real de Portugal; o conde de Aranha, ocupando o mesmo cargo na Espanha; o ministro de Tillot e o duque de Choiseul, na França; o príncipe von Kaunitz e Gerard von Swieten na corte de Habsburg de Maria Teresa da Áustria. São nomes que já não significam coisa alguma para nós, os modernos, mas constavam e ainda constam das listas de membros maçônicos em lugar de honra. Cada um daqueles homens ocupava um cargo de confiança no governo, e cada qual desejava declaradamente a morte da Sociedade. Eles viam nos jesuítas ‘os inimigos jurados da maçonaria’, os ’mais astutos inimigos da tolerância’ e ‘os piores corruptores da liberdade’. O ódio contra os jesuítas era intenso e, quanto às palavras, nobre: ‘Reconheço os esforços que eles os jesuítas fizeram’ escreveu Choiseul a José da Áustria, ‘para espalhar a escuridão pela superfície da Terra e para dominar e confundir a Europa, do cabo Finisterra ao Mar do Norte. ’
O maior tom patético naqueles últimos anos da Sociedade pré-Supressão é dado pelos próprios jesuítas: segundo cartas e documentos da época, vê-se claramente que eles sabiam quem se empenhava em eliminá-los.
Não há dúvida de que o papado via na maçonaria européia um inimigo mortal, e por uma razão muito boa. Em 1735, se não antes, as principais lojas maçônicas européias eram inimigos jurados da jurisdição papal centralizada e dos ensinamentos dogmáticos católicos romanos. Os objetivos gerais da maçonaria como tal, a partir do segundo terço do século XVIII, eram fundados em várias premissas inaceitáveis para o catolicismo: Jesus não era Deus; não havia céu ou inferno; não havia Trindade de pessoas divinas – só o Grande Arquiteto do Cosmo, ele mesmo fazendo parte daquele cosmo; os seres humanos eram aperfeiçoáveis durante suas vidas nesta Terra. O que arruinava a cultura humana e pervertia a civilização era a alegada autoridade da Igreja Romana.
Essa transformação da maçonaria de associação originalmente de crentes cristãos num corpo de homens resolutamente opostos à antiga fé da Europa foi efetuada, principalmente, pela nova onda de descobertas científicas. Naquele ‘Século das Luzes’, os homens chegaram à conclusão de que a inteligência humana era infalível, que a revelação já não era necessária, e que só as desinibidas investigações e pesquisas humanas eram necessárias à felicidade humana.
Toda uma galáxia de brilhantes pensadores e hábeis escritores surgiu defendendo essa nova atitude – La Mettrie, Diderot, d’Alambert, Montesquieu, Helvécio, la Chalotais, Voltaire, Barão d’Holbach. O Iluminismo invadia, agora, os salões das pessoas de destaque na sociedade, as reuniões reais, as reuniões de chefes de partidos políticos, e assembléias de universidades. A Igreja Romana, o papa romano e a Sociedade de Jesus foram estigmatizados desde o início como os três grandes obstáculos ao precioso Iluminismo.
Por essa razão, Clemente XII (1730-40) condenou a maçonaria como incompatível com o catolicismo e penalizou com a excomunhão todos os católicos que entrassem para as lojas maçônicas. (...) Seria ridículo alguém negar que o zelo maçônico daqueles em íntimo contato com os príncipes de Bourbon na qualidade de consultores não visava incapacitar o papado ao acabar com a sua arma mais potente, a Sociedade de Jesus.
A razão ideológica, portanto, para se livrar dos jesuítas estava presente. Não há necessidade de supor que uma trama formal foi maquinada e que conspiradores juraram sigilosamente acabar com a Sociedade de Jesus. Todos aqueles líderes do Iluminismo eram membros da loja maçônica, bem como membros destacados da classe dominante em seus círculos políticos, financeiros, literários e sociais. Quer se reunissem na loja maçônica de Paris, chamada de ‘Nas Nove Irmãs’, na loja de Madri chamada ‘Espadas Cruzadas’, quer em jantares oficiais ou reuniões financeiras, todos pensavam da mesma maneira, como ‘Irmãos da Pirâmide’. O irmão Pombal, o irmão Choiseul, o irmão Kaunitz enviavam mensagens uns aos outros e aos demais irmãos sobre a necessidade de atacar o papado através dos jesuítas.
Os jesuítas estavam demasiado cientes do que estava acontecendo para não sentirem o cheiro de sua morte que se aproximava nos fortes ventos que já tinham começado a soprar contra seu Instituto. (...) Pombal começou, em  Portugal, o rolo da destruição. Entre 1759 e 17611.expulsao_jesuitas1, todos os jesuítas que estavam em Portugal e seus domínios de além mar foram presos, transportados por navios da marinha real, e depositados nas costas dos estados papais da Itália. Todas as propriedades dos Jesuítas – casas, igrejas, colégios - foram confiscados.
Agora era a vez da França. Grave erro de julgamento tático por parte dos jesuítas deu a seus inimigos vigilantes de lá a chance que estavam procurando (...) Uns meros seis anos depois, numa só noite entre 2 e 3 de abril de 1767, todas as casas, colégios, residências e igrejas pertencentes aos Jesuítas em toda a Espanha e nos domínios espanhóis na América foram invadidas por tropas reais espanholas. Cerca de 6.000 jesuítas foram presos, amontoados como arenques nos porões de navios de guerra espanhóis, e transportados para os estados papais da Itália, onde foram descortesmente despejados nas praias, estivessem eles, vivos, morrendo ou já mortos. Toda a operação espanhola, que exigiu mais de catorze meses de planejamento, foi um triunfo do segredo burocrático e da precisão militar.
Pouco depois, os reinos dos Bourbon de Nápoles e Parma fizeram o mesmo e, ainda mais tarde, a Áustria também. Todos expulsaram os jesuítas e confiscaram seus bens. Só restava, agora, a Sociedade ser liquidada pelo papado.
Quando um conclave papal de cardeais se reuniu em 1769 para eleger um novo papa, a ‘família’ dos Bourbon deixou claro que só aceitaria como papa alguém que garantisse liquidar os jesuítas. O cardeal Lorenzo Ganganelli deu sua garantia quanto a isso aos embaixadores das cortes reais de Suas Majestades. Foi eleito como papa Clemente XIV.
Foi exercida, então, uma pressão direta sobre o papa Clemente XIV para que cumprisse a promessa que fizera como condição para receber o apoio dos príncipes Bourbon à sua eleição. Ele acabou concordando, fechando o seminário da Sociedade em Roma em 1772, depois todas as casas e igrejas nos estados papais e, finalmente, divulgando um documento papal intitulado Dominus ac Redemptor, em 21 de julho de 1773, que eliminava por completo a Sociedade de Jesus. (...) Não podia haver dúvidas quanto à obediência ao édito papal. A simples obediência de execução foi imposta pela força das armas. Mas os jesuítas praticavam a obediência de vontade. Aceitaram, fiéis até mesmo naquela situação extrema ao caráter de sua Sociedade, a extinção; não fingiram ser ainda uma Ordem de homens chamada Sociedade de Jesus.” (Pg. 192 à 196)
(O negrito é nosso)
P.S.: Somente em 7 de agosto de 1814, o papa Pio VII restaurou formalmente a Sociedade de Jesus na Igreja universal. O fato é que, dois soberanos, Catarina de Rússia e Frederico da Prússia, recusaram-se a promulgar o decreto do papa Clemente XIV na época da extinção da Ordem. Legalmente, portanto, e canonicamente, a Ordem não foi extinta em nenhum desses dois territórios. Nesses lugares os Jesuítas puderam manter acesa a chama da congregação. Esperaram, operosa e obedientemente, o próximo lance da sabedoria divina que lhes veio pelo supracitado papa Pio VII.
Referência bibliográfica:
MARTIN, Malachi. Os Jesuítas. A Companhia de Jesus e a Traição à Igreja Católica. Trad.: Luiz Carlos N. Silva. Rio de janeiro: Record, 1989. 463 pgs.

[C1]MONTEIRO, Pe. Alexandrino. Exercícios de Santo Inácio de Loiola. Petrópolis, RJ: Vozes, 1959. Pg. 333.

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Sou católico, posso ser espírita?

Kardec
Kardec


Por  Prof. Pedro M. da Cruz.





“Todo aquele que nega o Filho não tem o Pai.”
(IJo. 2,23)
 
“As marcas do Cristo podem ser vistas naqueles que perdoam de forma aprimorada. Ninguém jamais conseguiu ofender a Jesus.”
“Falemos da felicidade, pensemos nela, porém, procuremos viver ‘o Cristo em nós’, para que essa felicidade não seja utópica”.
“Deixa que tua palavra tenha o reflexo da palavra do Cristo. Deixa que os teus pensamentos irradiem os pensamentos do Mestre... e que, realmente, o Messias, em ti, seja motivo de glória.”
 
(MAIA, João N. Gotas de Paz. 5 Ed. Belo Horizonte: Editora Espírita Cristã Fonte Viva (sic.), 1993. Respectivamente, páginas 87,102 e 118)
 
Palavras profundas...
Sensatas...
Porém, que armadilha!
Tudo o que vem do Espiritismo merece cuidado; pois, são “lobos” disfarçados...
Quantos têm caído nas teias do kardecismo por se deixarem levar pela lábia traiçoeira e maliciosa dos inimigos da fé cristã.
Vejamos:
Quem é o “cristo espírita”? Com toda certeza, não é o mesmo apresentado pelo catolicismo. Sobre esta triste possibilidade, já nos falara a própria Bíblia Sagrada [C1] que dissera: “Quando se aproxima de vós alguém pregando um outro Jesus, diferente daquele que vos temos anunciado, de boa mente o aceitais.”
De fato, o “cristo espírita” não é tido como Deus (pelo menos no sentido dado comumente a este termo). Para eles, Nosso Senhor seria apenas um espírito de luz, um ser evoluído:
“O católico crê que Jesus Cristo é verdadeiramente o Filho Unigênito de Deus, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, Deus igual ao Pai e ao Espírito Santo; o espírita nega esta verdade fundamental da fé Cristã e dogmatiza que Cristo era apenas um grande médium[C2] ...”
Por isso, quando falam das “marcas do Cristo”, do “Cristo em nós”, da “palavra do Cristo”... referem-se a esse ser estranho e fictício que não se encaixa nas categorias bíblicas e ofende a fé católica. Longe de nós, portanto, deixar que suas idéias sejam irradiadas. Os “‘pensamentos do Mestre espírita” são contrários ao cristianismo.
Talvez, numa postagem futura, poderemos apresentar outros muitos desencontros entre a Doutrina Espírita e os ensinamentos da Igreja Católica. Isso só fortaleceria a resposta implícita neste texto à pergunta inicial de nosso artigo: um católico jamais poderá filiar-se ao espiritismo sob pena de cair em erros gravíssimos, além de colocar em perigo a salvação eterna de sua própria alma.
Maria Santíssima, rogai por nós.
 
✠ ✠ ✠
 
Referência bibliográfica:
BOAVENTURA, Frei. Por que o Católico não pode ser Espírita. X Ed. Petrópolis: Vozes, 1957.16 pgs.
MAIA, João N. Gotas de Paz. 5 Ed. Belo Horizonte: Editora Espírita Cristâ Fonte Viva, 1993. 128 pgs.

[C1] IICor.11,4
[C2] BOAVENTURA, Frei. Por que o Católico não pode ser Espírita. X Edição. Petrópolis: Vozes, 1957. Pg. 8