quarta-feira, 30 de junho de 2010

Como o demônio age em nossas vidas? - Mons. Amorth

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Que espécie de incômodos é que o demônio pode causar aos homens, enquanto vivos? Não é fácil encontrar obras que tratem de tal tema porque não existe, entre outras coisas, uma linguagem comum, aceite unanimemente. Por isso vou-me esforçar por precisar o sentido dos termos que irei empregar aqui e nos outros capítulos do meu livro.

Há uma acção vulgar do demônio que toca a todos os homens: consiste em os atrair para o mal. O próprio Jesus aceitou a nossa condição humana, deixando-Se tentar por Satanás. Não falarei agora desta acção nefasta do diabo por que, embora seja importante, prefiro descrever a acção extraordinária de Satanás, isto é, aquela que Deus lhe consente somente em determinados casos.

Esta acção pode assumir cinco formas deferentes.

1°- Os sofrimentos físicos causados por Satanás externamente. Estes são os fenômenos que lemos em tantas vidas de santos. Sabemos como S. Paulo da Cruz, o St°. Cura de Ars, o Pe. Pio e tantos outros foram feridos, flagelados, sovados por demônios. Não me alongarei sobre este tipo de acção porque nestes casos, como as vítimas não estando sujeitas a uma influência interna do demônio, não têm necessidade de recorrer a exorcismos. São pessoas conscientes da situação que intervêm pela oração. Prefiro descrever as outras quatro formas de acção, que interessam derectamente aos exorcistas.

2°- A possessão diabólica. É o tormento mais grave e surge quando o demônio toma posse de um corpo (não de uma alma), fazendo-o agir ou falar como ele quer, não podendo a vítima resistir e não sendo moralmente responsável por isso. Esta forma de acção é também a que mais se presta a fenômenos sensacionalistas do tipo daqueles que se vêem no filme “O Exorcista” ou do tipo dos sinais mais espectaculares indicados no ritual: falar línguas desconhecidas, demonstrar uma força anormal, revelar coisas escondidas.

O Evangelho dá-nos um exemplo com o possesso de Gerasa. É preciso compreender, que existe toda uma gama de possessões, apresentando grandes diferenças quanto à sua gravidade e aos seus sintomas. Seria um grande erro fixar-se num único modelo. Entre tantos pacientes, exorcizei duas pessoas totalmente possessas que durante a sessão de exorcismo estavam perfeitamente imóveis, sem dizer uma única palavra. Poderia citar vários exemplos de possessão com fenomenologias muito diferentes.

3°- A vexação diabólica designa distúrbios e doenças muito graves ou menos graves que, embora não cheguem à possessão, ocasionam uma perda de consciência, acompanhadas de actos ou de articulação de palavras de que a vítima não é responsável. A Bíblia fornece-nimageos alguns exemplos. Job (foto) não era vítima de uma possessão  diabólica mas os seus filhos, os seus bens e a sua saúde foram duramente afectadas. Também a mulher encurvada e o surdo mudo curados por Jesus, não tinham uma possessão diabólica total, mas a presença de um demônio estava na origem dos seus problemas físicos. S. Paulo não era com certeza um endemoninhado, contudo era vítima de uma vexação diabólica que consistia num distúrbio maléfico: “E para que a grandeza das revelações me não enobrecessem, foi-me dado um espinho na carne (tratava-se evidentemente de um mal físico), um anjo de Satanás para me esbofetear” (2 Cor 12, 7); não há dúvida de que a origem deste mal era maléfica.

As possessões ainda hoje são muito raras; contudo, os exorcistas deparam-se com um grande número de pessoas feridas pelo demônio na saúde, nos bens, no trabalho, na vida afectiva... É preciso ficar claro que o facto de diagnosticar a origem maléfica destes males (isto é, de saber se se trata de uma causa maléfica ou não) e de a curar, não é de modo nenhum mais simples do que o de diagnosticar e curar as verdadeiras possessões; pode ser diferente o nível de gravidade, mas não a dificuldade em interpretar o fenômeno, nem o tempo necessário para o curar.

4°- A obsessão diabólica. Trata-se de ataques de improviso, por vezes contínuos, de pensamentos obsessivos podendo ir até ao racionalmente absurdo; mas de tal modo que a vítima não tem capacidade para se libertar. Por causa disto, a pessoa cativa vive num contínuo estado de prostração, de desespero, de tentação de suicídio. As obsessões também influem quase sempre sobre os sonhos. Dir-me-ão que se trata de estados mórbidos, da competência da psiquiatria. Todos os outros fenômenos também se podem explicar pela psiquiatria, pela parapsicologia ou ciências similares; no entanto, existem casos que escapam totalmente a estas ciências e que revelam, pelo contrário, sintomas concretos de causas maléficas ou presenças maléficas. Só um trabalho teórico e prático permite aprender a distinguir estas diferenças.

5°- Falemos por fim das infestações diabólicas: da causas, dos objectos, dos animais. Não me vou deter sobre este tema, uma vez que vou fazer alusão a ele ao longo do livro. Basta frisar o sentido de que dou ao termo infestação; prefiro não o aplicar às pessoas, em relação às quais prefiro utilizar os termos: possessão, vexação, obsessão.

Como é que nos podemos defender contra todos estes males possíveis? Diga-se de imediato que, e muito embora a consideremos uma norma imperfeita, os exorcismos só são necessários, em rigor, segundo o Ritual, para os casos de possessão diabólica propriamente dita. Ora nós, os exorcistas, na realidade ocupamo-nos de todos os casos de influência maléfica. No entanto, para os outros casos que não sejam os de possessão, deveriam bastar os meios de graça comuns: a oração, os sacramentos, a caridade, a vida cristã, o perdão das ofensas, o constante recurso ao Senhor, à Virgem Maria, aos santos e aos anjos.

 

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Livro: Um exorcista conta-nos
Paginas: 38-41
Capítulo: O poder de Satanás (Pág. 31- 42)
Autor: Pe. Gabriele Amorth
Título original: Un esorcista reconta
Tradução: Maria de São José Sousa
Nada obsta: Lisboa, 8 de Julho de 1996 - P. Doutor José Manuel dos Santos Ferreira
Pode imprimir-se: Lisboa, 9 de Julho de 1996 - Cônego Orlando Leitão, vigário-geral adjunto.

Um comentário:

Santos disse...

Gostei do texto!